terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O que é um economista decente de esquerda?


Parece uma contradição em termos, mas não é.

Quem faz conta, escreve modelo, pensa em modelo de equilíbrio geral, entende que estática comparativa não pode ser feita mexendo em variável endógena, entende a ideia de identificação empírica e estudou micro de modo decente preenche os requisitos do que eu chamo de  "economista decente".

Mas dentro desse grupo tem os mais de esquerda, que nesse subconjunto não é sinônimo de ser picareta nem heterodoxo. Ser um economista decente de esquerda é: (i) prestar devida atenção a falhas de mercado; (ii) não achar que multiplos equilibrios é uma idiotice teórica, (iii) entender que equilibrio pode ser contexto-específico, (iv) se preocupar com desigualdade dado a importância que as condições iniciais jogam na determinação da renda futura de um indivíduo, (v) entender que o mundo se parece mais com competição monopolística do que com competição perfeita, (vi) saber que as hipóteses em alguns modelos elegantes às vezes são ruins, (vii) tentar aprender também olhando o mundo e não só as contas no Latex, (viii) acreditar em modelos não-walrasianos de search-matching, (ix) não tomar como dada a inexistência de monopsônios no mercado de trabalho; (x) entender que em contextos de interação não repetida racionalidade pode ser uma hipótese complicada, (xi) desconfiar de equivalência-ricardiana, etc. You get the picture (pode escrever em inglês).

Eu, em particular, acho que tem muito neoclássico cego pra essas coisas que acaba sendo mais neobobo do que outra coisa. E o pior de tudo é que eles ajudam os heterodoxos a ganhar espaço na sociedade. É um grande desserviço.

46 comentários:

  1. Isso não é ser de esquerda.

    Esquerda é a postura crítica sobre algo. Por exemplo, a esquerda da economia é o marxismo e o keynesianismo brasileiro, a esquerda da lei da gravidade afirma que as coisas caem pra cima, a esquerda da segurança pública afirma que a criminalidade é responsabilidade da sociedade e não de uma pessoa.

    Entende ? Ser de esquerda é ter uma postura crítica com a racionalidade, a coerência, a honestidade ....

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  2. Boa Dudu.

    Adiciono à sua lista: aceitar uma carga tributária maior com o intuito de corrigir às condições iniciais desiguais, mesmo entendendo a ineficiência decorrente da tributação.

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  3. "Eu, em particular, acho que tem muito neoclássico cego pra essas coisas que acaba sendo mais neobobo do que outra coisa. E o pior de tudo é que eles ajudam os heterodoxos a ganhar espaço na sociedade."

    Acho que você está exagerando a importâcia dos economistas nisso tudo. Não esqueça que passamos anos e anos sob discreta mas intensa doutrinação esquerdóide de todos os lados -- escola, TV, imprensa, igreja.

    É o analfabetismo econômico e o coração e cabeças moles das pessoas que contribui para que economistas heterodoxos ainda existam. E no Brasil, em geral, economistas heterodoxos são todos picaretas. Gente do bem, mas destreinados e ignorantes do que se passa internacionalmente na profissão. Produzidos aos montes pela Unicamp e suas sucursais, tão sempre tentando "capturar" a disciplina pra fazer proselitismo do governo e avançar ideias estaparfúdias sobre "luta de classes", "imperialismo" e como, subvertendo todas as leis econômicas, é possível construir um "mundo sem desigualdade".

    Não sei também se essa associação entre decência e esquerda não é enganadora. Ser bem treinado, o que quase inevitavelmente vai gerar um economista "de direita", é necessário mas não suficiente pra se ter decência profissional.

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  4. E o que seria um bom economista de direita?

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    1. Ele só quis defender o thomas piketty. ahahhahahahahhahah

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  5. acho que quem despreza os pontos acima nao eh um bom economista; nesse sentido so existe bom economista de esquerda. avisa seu amigo robert barro

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    1. Não acredito em equilíbrios múltiplos no mundo real. O Acemoglu também não (tá no livro dele de crescimento). Somos ambos de direita?

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    2. Btw, o que faltou nesse arsenal do bom economista é economia política. Por exemplo, se a falha de governo for maior que a falha de mercado, pode ser melhor conviver com o problema, do que invocar a intervenção.

      Daí o cara deixa de ser de esquerda, acho.

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    3. voce esta certo, Mauro, mas eu acho mais interessante ver a economia politica como propondo desenhos de mecanismos para atenuar falhas de mercado.

      quanto ao eq.multiplos, por favor leia o que escrevi: nao disse que sempre faz sentido. acho que o Daron nao acredita nele no contexto de crescimento de LP, mas aí nem eu...agora e no caso de debt-crisis? e no caso de statistical-discrimination?

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    4. quis dizer "atenuar falhas de governo", ao inves de pensar que devemos deixar pra la

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    5. Professores,
      mas no "Why Nations Fail" eles dizem que pequenas diferenças institucionais podem levar a enormes diferenças de renda no LP, devido a ciclos virtuosos e viciosos. Eles não supuseram implicitamente que há equilíbrios múltiplos?

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  6. Sabe gente que precisa agradar o pessoal da esquerda?

    PutZ, que raciocínio mais deturpado. Q horror!

    Mauro, dá um jeito no seu amigo. Pelo princípio da indução, vira esquerdista em pouco tempo.

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    1. eu nao quero agradar ninguém, seu idiota. muito menos gente tapada como voce. alias, gente como voce nao tem salvação, vai morrer bitolado, sem saber pensar, rezando cartilhas. azar o seu.

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    2. CESG, ad hominem por quê? Quem xingou você? Percebe a estupidez da sua resposta? E, dizendo "estupidez da sua resposta", não estou dizendo que você é estúpido.

      Tem gente que discorda de você. Não existe economista de esquerda, nem de direita, só economista bom ou ruim, com alguma coisa entre os extremos.

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    3. ad hominem contra ad hominem sim; só sendo muito cínico para dizer que o comentário anônimo não foi ad hominem. releia.

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    4. Do que te xinguei? Seja bem claro, para eu e quem te lê saber por que foi ad hominem.

      De novo, não adianta dizer que foi sem apontar onde está o ad hominem. Ou talvez, vc deva reler e voltar atrás.

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    5. Ah, cínico é ad hominem outea vez. Tem certeza q é ad hominem x ad jominem?

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    6. Por que não entram numa batalha de rap ?
      Vai ser um argumento

      Ad Eminem

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    7. ^^^^
      melhor comentário da história do blog!!

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  7. Tem horas que este blog desanima.

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    1. Relaxa. É modinha. Acabou de ler Piketti e Saez e tá achando que ser de esquerda é legal, daí porque a tentativa de defesa. É só ele ler Barro, Prescott, Lucas, Friedman e afins que logo volta ao normal.

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    2. esses neoclassicos que voce citou eu li com atencao. eles contribuiram muito pra desenvolvimento da teoria. mas voce leu o resto? ou só lê o que é modinha neoclássica? outro bitolado...estamos perdidos...

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    3. CESG, creio que isso que vc chama de neobobos são pessoas que só aceitam a teoria que confirma suas convicções a priori. Ironicamente não muito distantes dos marxobobos, cepalobobos, etc.
      Repare o tom: se você fala algo que o cara discorda, então é pq não tem lido as coisas certas. Pro cidadão falar isso ele obviamente não entende o que é ciência.

      Em tempo: os bitolados sempre são maioria, não está tudo perdido (pelo menos não por isso ,rs).

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    4. Exatamente... o pessoalzinho fica tão deslumbrado por ter entrado no IPE-FEA-USP que se acha mais esperto que todo mundo. "Leia Barro e volte ao normal", que pensamento mais tacanho, e que coisa horrível o IPE-FEA-USP está se tornando (ou se tornou, dependendo da minha fonte).

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    5. "...e que coisa horrível o IPE-FEA-USP está se tornando (ou se tornou, dependendo da minha fonte)."

      Aposto que é "horrível" pra você e suas fontes porque tem cada vez menos espaço pra marxistinhas e outros tipos de picaretas e dinossauros que não fazem a menor ideia do que se passa na disciplina.

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    6. Vc deveria terminar o post contando a historinha de que o desemprego está alto no mundo desenvolvido pq as famílias estão escolhendo lazer por conta dos salários baixos...

      Seus ídolos falam que é isso, então deve ser verdade!

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    7. Quem não repete como papagaio o que dizem "Barro, Prescott, Lucas, Friedman" é "marxistinha" ou "não tem ideia do que se passa na disciplina"?
      Amigo, economia não é religião. Não precisa aderir a um dos lados incondicionalmente.
      E não reduza tudo que um autor fala a uma dimensão

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    8. ^

      Volta pra Unicamp / UFRJ

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    9. Argumentação impecável!!

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  8. Em resumo, desconfiar de todos os dogmas e pressupostos da teoria "básica". Isso pra mim é honestidade intelectual.

    Se, ainda assim, as propostas de """esquerda""" não resolvem, aí o cara pode dizer que essas propostas custam mais que o benefício, e ele volta à boa e velha "oferta e demanda" pura, e vira direita. Entendi assim.

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  9. Respostas
    1. O Krugman foi um dos mais brilhantes economistas da geracao dele. O problema eh q no journal quem escreve n eh o economista Krugman, mas uma personagem radical e histerica. Ate os papers recentes dele n sao muito ruins, mas tem muito pouco a ver com o q ele escreve no jornal. E sim, ele eh d esquerda.

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  10. krugman é gênio, e é de "esquerda".
    mas virou um xaropeta anti-republicano, infelizmente

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  11. Esse post me lembrou desse cara aqui (cai como uma luva) :-)

    http://www.youtube.com/watch?v=7VE6PNwmr9g

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  12. Dudu, em primeiro lugar, eu devo dizer que gosto do seu jeito escrachado de falar aqui e nas aulas. Coisas "certinhas" são chatas d+.
    Mas neste caso, eu acho que não comprei seu ponto. Pq economias de direita que vê centenas de evidências em favor de, digamos, rigidez de preço e diz que ela não existe não pode ser "de direita". Talvez ele seja "cego" ou "picareta/orgulhoso" por não admitir que sua teoria não era adequada. Ou porque simplesmente ainda não foi convencido da existência de uma "força aleatória" (Calvo) que faz com que os preços fiquem rígidos -- ou seja, não aceitou o argumento contrário à sua proposição.

    Talvez um economista "de esquerda" seja aquele que acredite que valha a pena admitir um período de "furo" no equilíbrio paretiano, mas até que um novo equilíbrio seja atingido. Por exemplo, aceitar uma política de transferência de renda dos "não-muito pobres" aos "muito pobres" para que os últimos melhorem de situação até um ponto em que tal transferência não seja mais necessária, seja por oferta de serviços públicos direcionados ou o que quer que seja. Para um economista "de direita", aceitar que exista gente se ferrando para melhorar a situação dos outros soa-me contraditório, ao menos para a literatura que você citou, pois estes modelos não admitem tal "heterogeneidade de agentes".

    Bom, não sei se consegui ser claro...

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    1. A questão não é e nunca foi se rigidez de preços existe. A questão é: Por que um agente otimizador mantem os preços rígidos e de que forma ele os mantem ?

      A questão garoto, é microfundamento.

      Coisa que muito keynesiobobo resiste em engolir.

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    2. Eq paretiano nao esta definido em nenhum lugar, talvez vc queira refletir mais sobre isso. E modelos d redistribuicao sao usados por economistas o tempo todo. Dynamic Mirrlees eh usado o tempo todo pra isso. Soh nao eh eq competitivo. Da pra usar eq competitivo com agentes mercados incompletos pra falar disso tb. Tem uns 5 modelos estabelecidos pelo menos.

      O foda eh q esses economistas keynesianos brasileiro soh sabem o q eles viram na graduacao e criticam coisas q eram feitas nos anos 60 como se fossem atuais. Pegam o baby RBC e acham q eh isso q nego faz no phd.

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    3. 3 caras falando asneiras, uma pior do que a outra (mas o Marcelo superou todos disparadamente, como sempre).

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    4. "A questão garoto, é microfundamento."

      Defina microfundamento, rapaz.

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  13. Mlk, não defeques pela boca. Tu nem sabe o que ta falando.

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  14. Alias, jah q tao falando do Saez e piketty, apesar deles serem influentes e competentes, tem uns artigos q sao umas piadas. Tem um JPubE 12 q eles fazem um modelo com taxa marginal maior q 1 no topo. Esquerdismo da nisso. Agora, o lucas falar q o custo d ciclo eh um big Mac tb eh exagerado. Ele pelomenos falou q errou. Quero ver o piketty assumir algum erro.

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