sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Macro apertada e micro cagada dá em quê?


In a recession, boys. Mark my words.

Now, of course there is legitimate uncertainty as to whether these fellas are really going to tighten...

But let us assume they will, please.

After so much fuss yesterday, today I read with amazement that the Treasury is pouring more 20 bi into BNDES. This of course undermines any Central Bank´s effort to curb inflation. But, more importantly, it suggests Dilma has not understood where low growth is coming from, namely, the micro side of the New Fucking Matrix (henceforth, NFM).

Important question: by the time they realize growth rates are not responding to their "orthodox initiaves", what signal will they extract? Probably that the Central Bank should not have tightened !

Important question number 2: what will the electorate infer? Hopefully, that these guys dont know what they are doing.

Important question number 3: will this mean the end of the NFM? Or can it make a come back in 2030????

Jesus, I am out of here.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Malditas commodities

Quando os preços das commodities estavam subindo, argumentava-se que isso era um problema pois comprometia o desempenho da indústria. Em geral, o mecanismo passava pela apreciação cambial, barateamento de produtos manufaturados estrangeiros e consequente perda de competitividade da indústria nacional.

Agora a culpa continua sendo das commodities, mas porque seus preços estão caindo. Em entrevista recente, a presidenta Dilma afirmou:
O Brasil nesse segundo semestre teve recuperação, mas concordo que há um quadro internacional complicado. A indústria de São Paulo sofre a consequência de uma grave depressão no preço das commodities.
Pelo jeito coisas como infraestrutura deficiente, baixa qualificação da força de trabalho, ambiente de negócios são secundárias.


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A ressaca das propostas econômicas


É consenso que esta eleição marcou o ápice da polarização na política recente do Brasil. Os ânimos subiram em ambos os lados, do núcleo da campanha às discussões no Facebook e militantes na rua. No meio desta confusão, muitos temas foram mal abordados e rotulados de forma equivocada. Principalmente os temas relacionados à política econômica. Já uma campanha é um momento marcante para sociedade, boas ideias podem ficar estigmatizadas. Então cabe a nós economistas resgatá-las antes que o estrago seja permanente e nenhum político tenha mais coragem de encampá-las. (Isto também quer dizer que este texto é endereçado a quem não é economista, ou é economista em formação)

Vou começar falando do controle da inflação. Parece óbvia a necessidade de manter a inflação baixa e sob controle, mas a eleição mostrou que esta ideia não está cristalizada na cabeça do eleitor. No discurso eleitoral o governo passou uma ideia de que a inflação está baixa e que combatê-la seria uma estratégia contrária ao desenvolvimento do país. Nada mais equivocado. Uma inflação baixa é uma das condições essenciais para um desenvolvimento equitativo. A inflação é um mecanismo concentrador de renda, pois corrói o poder de compra dos assalariados e de todos que possuem dinheiro à vista. Mais ainda, a perspectiva de alta de inflação traz risco para quem quer comprar ativos denominados em moeda (como títulos da dívida). Isso afeta, por exemplo, a disponibilidade de um banco oferecer um empréstimo.

A campanha governista acusou a oposição de pretender combater a inflação às custas de aumento do desemprego. Por outro lado, a proposta governista seria capaz controlar a inflação sem prejuízo dos empregos (ver link). No entanto, o governo não é capaz de fazer isso. Existem duas ferramentas básicas de controle da inflação, a política fiscal (gastos do governo e arrecadação de impostos) e a política monetária (taxa de juros, compulsório bancário, etc.). Qualquer uma das duas afetam a inflação apenas na medida em que desaquecem o mercado de trabalho. Logo, controlar a inflação sem gerar desemprego é o mesmo que não controlar a inflação. Em teoria uma desinflação poderia ocorrer sem custo de desemprego, com uma autoridade monetária que desfrute de credibilidade (condição 1) num mercado sem rigidez de preços (condição 2). No momento, essas duas condições não são válidas, logo, não rola.

O lado "bom" é que o desemprego sobe apenas quando a inflação está caindo. Quando ela se estabiliza num patamar menor, o emprego volta a um nível “normal” (Boas referências do NBER são esse paper do Ball e esse do Gordon). Ou seja, manter uma inflação baixa não significa ter um desemprego sempre alto mas apenas enquanto a inflação estiver em queda (veja o post do Mauro sobre a taxa de sacrifício). Da mesma forma, ter uma inflação estável e alta não garante emprego de ninguém. Por isso que no longo prazo é sempre melhor ter menos inflação (há um limite pra isso também. Deflação costuma ser ruim, mas esse é um problema remoto). 

Mas e quanto aos outros instrumentos de política econômica? Ao longo dos últimos 4 anos o governo segurou tarifas de setores regulados e reduziu impostos em vários setores, sempre com um olho no bônus gerado pela menor inflação. Mas estas políticas têm efeitos pontuais sobre a inflação e não são capazes de alterar a tendência. Em pouco tempo eles somem. Além do mais, para utilizá-las é preciso ter espaço no orçamento. Não há mais! Há meses o governo não cumpre o superávit primário e nossa dívida está crescendo. Se seguirmos nesse ritmo ela voltará rapidamente a ser um problema (tomara que não cheguemos a isso!). Aí a coisa fica muito pior.

Enfim, não há milagres no controle da inflação. Não deveríamos nos satisfazer com uma taxa estável em 6 ou 6,5%, muito menos tolerar uma taxa ainda maior. Esse ritmo traz custos altos para a sociedade. Como aprendem os alunos de economia no primeiro semestre, há um trade-off e o governo vai ter que escolher. Não dá pra reduzir a inflação sem aumentar o desemprego. É aguardar pra ver.

Cursos pagos na USP: Bom ou ruim?


Foi com certo ar de reprovação que alguns jornais divulgaram esses dias a existências de vários cursos pagos na USP. São mais de 20 mil alunos inscritos nesses cursos -- uns falam em 22 mil, outros em 28 mil. Esperava um tom de lamento, dado que esses números poderiam e, a meu ver, deveriam ser muito maiores.

Ah os sindicatos...
Nem todo mundo tá feliz com isso. Veja por exemplo o que diz o presidente do sindicato dos professores da USP:
"A educação é um direito social, que não se paga", defende Ciro Correia, presidente da entidade. !A universidade é pública. Não pode haver esse conflito de interesses."
Veja a lógica dessas afirmações: é preferível que os cursos fechem, os vinte e tantos mil alunos migrem para outros cursos (possivelmente de qualidade inferior e todos na mão dos capitalistas malvados do setor privado) e a universidade e os professores (que o sindicato diz defender!) percam os trocados que estão todos ganhando com isso -- trocados que a universidade, em particular, usa para fazer manutenção na infraestrutura das salas de aula e dos prédios.

Dá pra levar a sério esses caras? Quer dizer então que devemos taxar mais ainda as pessoas para financiar curso de MBA e especialização, "direitos sociais" segundo o seu Ciro? 

Enfim. são ideias como essa que impedem as universidades brasileiras de realizarem o seu potencial (tem muito estudante e professor bom aqui).

Triconomics: Programa de Rádio sobre Economia


Carlos E. S. Gonçalves (aka Dudu), um dos founding fathers do blog e, junto com Mauro Rodrigues, autor de "Sob a Lupa do Economista", estreia na CBN um programa de rádio sobre economia. Com Alexandre Schwartsman e Luis Gustavo Medina, falará de conjuntura e de "economia do cotidiano".
O link para o aúdio do primeiro programa dos três pode ser encontrado aqui. Detalhes sobre o show abaixo.

Sobre o show
"Afinal, o que é Triconomics? Não se trata de nenhuma charada: três economistas vão se reunir duas vezes por semana para analisar – em profundidade, mas com bom humor e uma pitada de irreverência – o cenário brasileiro. O trio é formado por Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, e Carlos Eduardo Gonçalves, professor-titular da FEA-USP, com a mediação de Luiz Gustavo Medina (o Teco de Hora e Fim de Expediente). No clima de descontração do boletim, no Triconomics, Schwartsman e Gonçalves serão apenas Alex e Dudu.

Toda terça e quinta, ao meio-dia, a CBN vai disponibilizar um podcast de dez minutos do quadro pelo site. A primeira parte chama-se “Call de abertura”, expressão utilizada pelos bancos em suas reuniões, e vai tratar dos principais fatos econômicos; em seguida, vem o “Bestiário”, com as declarações mais polêmicas, ou mesmo inadequadas, que ganharam espaço na mídia; fechando o podcast, “Economia, modo de usar” vai ficar sob a responsabilidade de Carlos Eduardo Gonçalves, mostrando o que está por trás do preço da pipoca ou do custo de uma joia – o economês traduzido para o mundo real. Apesar de ficar disponível primeiro na internet, o Triconomics também tem espaço na programação radiofônica. O “Call de abertura” é um quadro fixo no CBN Brasil, ancorado por Carlos Alberto Sardenberg, e vai ao ar, às terças e quintas, logo após a edição das 13h do Repórter CBN." (Texto da CBN)

Sumário do 1º Programa
Nenhuma ação do governo agora vai impactar no crescimento do PIB de 2014: Efeitos só devem ser sentidos no próximo ano. Segundo os economistas, as políticas equivocadas foram as responsáveis por esse cenário, que não está relacionado com a crise internacional (Fonte: CBN).

terça-feira, 28 de outubro de 2014

5 observações sobre os resultados das eleições


Alívio ou frustração. Esses parecem ser os sentimentos que predominam de forma excludente entre os eleitores. Findado o "show da democracia", Dilma Rousseff venceu Aécio Neves por cerca de três milhões e meio de votos. Foi muito pouco, como já era esperado nessa que se desenhou como uma das eleições presidenciais mais competitivas e emocionantes da história das eleições diretas no Brasil. 

Primeiras reações
Com a divulgação dos resultados, "civis" nas redes sociais e jornalistas especializados em políticas nos grandes canais de televisão começaram a fazer interpretações intringuantes. Um comentarista de um grande canal "culpou" Minas Gerais pelo derrota de Aécio Neves. Não faltou também gente bisonhamente defendendo a divisão do país em dois quase que seguindo a distribuição binária de estados em que venceu cada candidato -- como se as marcas do subdesenvolvimento na história do país fosse responsabilidade exclusiva das escolhas dos eleitores de uma ou outra região.

Aproveito para compilar algumas reflexões sobre os resultados e apontar algumas curiosidades nos resultados que me parecem ter passado desapercebidas. Aí vai:

1. Pesquisas de opinião: "In science we (should) trust"



Muito descrédito recaiu sobre os institutos de pesquisa. Foi um tanto compreensível dado o tamanho do erro nas estimativas do primeiro turno -- as pesquisas de intenção de voto apontavam que Aécio (Dilma) teria 26% (44%) dos votos válidos, tendo tido, de fato, 33,55% (41,59%). O que foi pouco comentado é que essas pesquisas de intenção sempre exibem erros relativamente grandes em relação aos resultados do primeiro turno -- em geral são erros não-amostrais, em grande parte produzidos por "erro" na hora de votar devido ao número maior de candidatos a ser escolhido -- mas tendem a cravar o resultado com impressionante precisão estatística no segundo turno. E não foi diferente nessa eleição: as sondagens de Ibope e Datafolha na última semana falavam em percentuais que acabaram sendo muito próximos do percentual de votos obtido por Dilma e Aécio. Estatisticamente, acertaram na lata!

2. Psicologia do eleitor "swing"




Na semana passada escrevi um post onde fiz considerações sobre a psicologia do eleitor "swing" -- os indecisos, os que abstiveram-se no 1º turno e os que votaram branco e nulo. Falei de três efeitos que poderiam atuar sobre esses eleitores: o "efeito underdog" (preferir o candidato que é esperado perder), o efeito "networked bandwagon" (seguir o voto das pessoas indecisas na sua "rede" social uma vez que elas comecem a se decidir) e o efeito "efeito ilusão pivotal" (a crença de que seu voto individual pode ser relevante para determinar o resultado da eleição).

Uma evidência anedótica do segundo efeito foi a declaração pública de voto de alguns jogadores de futebol (Fred e Ronaldinho) na esteira da divulgação do vídeo de Neymar Jr. declarando voto em Aécio.

Dito isto, o efeito que governaria o resultado previsto seria mesmo o terceiro: a "ilusão pivotal". A ideia era a seguinte: se parte desses eleitores "swing" acreditassem que há um empate técnico, desejariam aparecer para votar no segundo turno. O efeito obviamente recairia sobre eleitores dos dois candidatos. Mas o argumento em favor de um efeito final em favor de Aécio provinha da hipótese de que o custo a ser internalizado nessa decisão de se deslocar para o seu distrito eleitoral operaria como uma barreira maior para os eleitores de Dilma. 

O fato que chegamos na sexta com um virtual empate técnico entre os candidatos, criava as condições ideias para testar a previsão, que tinha portanto duas partes: uma parte "qualitativa" (o sinal do efeito: votos "swing" diminuirão) e outra quantitativa (o tamanho do efeito: a mudança de votos terá suficiente para dar a vitória a Aécio Neves). 

Conquanto a segunda parte da previsão tenha miseravelmente falhado, fui olhar os dados dessa e das últimas três eleições e constantei que eles são consistentes com a primeira parte da previsão: embora seja sempre verdade que, do primeiro para o segundo turno, (a) o percentual de votos brancos/nulos se reduz, e (b) o percentual de abstenções aumente, esses movimentos foram diferentes nessa última eleição na direção prevista: as abstenções aumentaram menos e os votos nulos/brancos diminuíram mais (a excessão é a redução de nulos em 2002).

A tabela abaixo mostra as diferenças entre os percentuais (de abstenções, nulos e brancos) de primeiro e o segundo turno das últimas quatro eleições. Há evidência, portanto, de que teve um efeito na direção prevista mas sem a intensidade suficiente para mais do compensar outros movimentos que acabaram dando mais votos para Dilma.


3. Boatos de que Aécio estava vencendo eram verdadeiros
Soube de fontes quentes que Aécio estava a frente de Dilma nas horas que anteciparam a divulgação. Em certo momento, quando faltavam cerca de trinta minutos para a divulgação do resultado, dizia-se que Aécio estava com 53%. Havia um clima de euforia entre amigos e conhecidos com quem compartilhei as boas-novas. Quando os resultados apareceram às 20h ficou a dúvida: a fonte estava falando a verdade? O gráfico abaixo mostra que sim: no eyeball, vê-se que Aécio chegou a estar mais de 10 pontos percentuais a frente de Dilma com mais da metade das urnas apuradas (!), com Dilma passando-o apenas com a contagem dos votos do decil final das urnas sendo apuradas. Close call!



4. "Mas e se...": Existe um culpado?




Resultado computado, os que torciam pela vitória do senador procuravam um "culpado". Muitos analistas foram ligeiros em vaticinar MG como o culpado (a diferença foi de cerca de 500 mil votos apenas...). Os que votaram nulo e se abstiveram-se de votar (mais de 25% do eleitorado) foram "culpados" também.

Muitos outros disseram que o culpado era a região Nordeste -- nos estados da região, Dilma teve, de fato, expressivos percentuais de votação; excetuando-se Alagoas, Dilma teve diferenças de mais de 30 pontos percentuais em todos os estados da região (foi de mais de 50 pontos percentuais no Ceará, Maranhão e Piauí.). como já aconteceu no primeiro turno, discursos de ódio contra a região abundam. Até os que votaram nulo e se abstiveram-se de votar (mais de 25% do eleitorado) foram "culpados".

A ideia de geolocalizar a "culpa" pela derrota é no mínimo boba, dado que estamos em um sistema onde o que importa é a contagem nacional de votos, tendo os votos de lugares diferentes rigorosamente a mesma influência no resultado final (diferentemente dos EUA onde o vencedor em cada estado "takes ti all"(votos do estado)).

O tratamento pouco cuidadoso dos dados pode ser, em parte, responsável por essas confusões. Falo especificamente desses mapas binários de votação por estado (pintado de vermelho se Dilma ganhou, e azul se Aécio venceu) que muito aparecem nos jornais (ver o exemplo abaixo com dados do segundo turno dessa eleição). 


O que esses gráficos escondem é que Dilma teve votações expressivas em absolutamente todos os estados (ver gráfico abaixo, da web, com cada estado sendo colorido conforme proporção de tovo obtido por cada candidato). Em Santa Catarina por exemplo, onde Aécio venceu com a maior diferença percentual absoluta, Dilma obteve 35% dos votos válidos. No Rio Grande do Sul, Aécio venceu mas Dilma obteve quase 47% dos votos. Em São Paulo por exemplo, Dilma obteve praticamente 8.5 milhões de votos, metade dos quais seriam mais do que suficientes para ter dado a vitória a Aécio. Ou seja: é sempre possível definir uma aglomeração espacial grande o suficiente para fazer o exercício contrafactual de que, tivessem Dilma tido, sei lá, metade dos votados que obteve, o resultado da corrida presidencial teria sido outro. O exercício é obviamente inútil: Dilma venceu com votos de eleitores de todos os lugares. Period.



5. Quem tem medo da polarização?
A disputa acirrada parece ter deixado muita gente impressionada. Faz sentido. Afinal, nunca experimentamos, desde a abertura, uma eleição tão concorrida como essa. O que não faz absolutamente nenhum sentido é tomar isso como sinal de que há uma divisão no país que justifique falar em segregação. 

Obviamente que essas são reações emocionais de quem está tendo dificuldade de assimilar a verdade: Dilma venceu e o fez dentro das regras do jogo democrático, de modo que o resultado deve ser absolutamente respeitado.

Verdade seja dita que logrou a vitória com uma campanha eticamente reprovável, que fez uso do medo -- como quando dizia que a independência do Banco Central era equivalente a colocar banqueiros a decidir preço e salário! -- e que insiste em difundir a cretinice de que ricos, bem-sucedidos, e quem "a direita" do partido estiver, não podem genuinamente desejar a melhoria da renda e da educação das pessoas mais pobres. Mas há quem diga que não há santos e que a "politics of fear" dificilmente vai deixar de ser usada pelos incumbentes, seja de que partido for.

O mais importante aqui é lembrar que essas polarizações são naturais e podem até ser vistas como sinais de maturidade da nossa jovem democracia. Os mapas eleitorais abaixo são ilustrativos desse ponto -- todos mostram níveis razoáveis de polarização entre dois grupos políticos em eleições recentes em países com uma insuspeita tradição democrática (Reino Unido, EUA, Canadá, Itália e França). "Lets embrace" nossa polarização (também) como algo saudável.


Eleições Gerais no Reino Unido 2010

Eleições Presidencias nos EUA/2012

Eleições Gerais no Canadá 2011

Eleições Regionais na Itália 2010


Eleições Presidenciais - 1ºTurno - na França 2012


5. Os eleitores do PT e do PSDB são diferentes?
Dia desses em uma aula de "teoria dos jogos", um aluno me perguntou porque o equilíbrio de Nash não necessariamente envolvia as pessoas jogando as estratégias que maximizam o payoff global delas. Eu disse: "pra que isso fosse o caso (no jogo particular que olhávamos), teríamos que relaxar uma hipótese central para toda a disciplina de economia, e uma que não sei se nos levaria muito longe: a hipótese de que as pessoas que habitam nossos modelos são self-interested". 

Pois bem. Essa história deve parecer boba e auto-evidente para economistas mas ilustra um aspecto (unificador) que se esconde por trás das dezenas de justificativas que foram e serão utilizadas para votar em um candidato ou outro, qual seja: o de que votamos governados pelo interesse próprio (e não há nada errado com isso!). 

Senão vejamos: é ideologia socialistóide ou auto-interesse que faz o estudante universitário, recebedor líquido de transferências (não tem renda própria, logo não paga imposto do próprio bolso) preferir plataformas políticas que advogam mais governo? É desinformação ou auto-interesse que faz o sujeito classe média baixa, do Nordeste ou donde for, que tem (ela, ou seus filhos, ou seus familiares) se beneficiado de vários programas do governo federal (BF, MCMV, FIES, Pronatec, Minha Casa Melhor) preferir a continuidade do governo que massificou esses programas? É ideologia liberalóide ou auto-interesse que faz com que o profissional graduado -- economista, advogado, engenheiro, médico etc, no topo da pirâmide distributiva --, que vê quase metade de sua renda evaporar na forma de tributos com pífio retorno, preferir um governo mais "business-friendly" e com uma mão tributária mais leve? 

A desgraça do analfabetismo econômico é acreditar que há uma inconsistência intrínseca de longo prazo entre as aspirações desses grupos, é deixar que esses discursos ideológicos divisionistas e arcaicos impeçam de enxergar o que o Reverendo William Boetcker disse no seu famoso décalogo: "Você não pode elevar o empregado rebaixando o empregador. Você não pode ajudar o pobre destruindo o rico".

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Bizarrices da academia


Buscando papers aleatórios na web, trombei com este. Basicamente, a contribuição do artigo é ser o primeiro com quatro co-autores com o mesmo sobrenome -- Goodman, Goodman, Goodman and Goodman (2014). Só isso. Abaixo o abstract:
We explore the phenomenon of coauthorship by economists who share a surname. Prior research has included at most three economist coauthors who share a surname. Ours is the first paper to have four economist coauthors who share a surname, as well as the first where such coauthors are unrelated by marriage, blood or current campus.
E são todos pesquisadores sérios: um dos Goodman é de Harvard, outro de Maryland, o terceiro do Fed, e o quarto de Wayne State.

Pior: está forthcoming no Economic Inquiry.

Aliás, o próprio Economic Inquiry já tinha publicado um paper empírico do James Heckman, acerca do efeito de orações sobre o comportamento de Deus (aqui).

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Os indecisos já se decidiram



Estão dizendo por aí que os indecisos vão determinar o resultado da eleição.

Mas de acordo com esse artigo da revista Science, quem se declara indeciso já se decidiu. Apenas ainda não sabe disso.

O artigo faz um experimento bem legal. No fim de 2007, houve na Itália, em Vicenza, um plebiscito que decidiria sobre a expansão de uma base militar americana na região. Alguns diziam que votariam a favor, outros contra, e outros tantos se declaravam indecisos.

Os pesquisadores então colocaram os indecisos na frente de um computador que passava diversas imagens muito rapidamente, uma atrás da outra. A cada imagem, de supetão, sem tempo pra pensar, as pessoas tinham que apertar uma tecla "+", se gostavam daquilo, ou uma tecla "-", se não gostavam daquilo.

No meio de imagens sortidas havia fotos relacionadas a temas militares. Os pesquisadores então separaram as pessoas em 2 grupos: o grupo daquelas que apertaram mais "+" para as imagens militares e o grupo daquelas que apertaram mais "-". Depois disso, eles viram se o grupo ao qual a pessoa foi alocada poderia prever o voto que ela deu na hora do plebiscito. O resultado foi surpreendente. O poder de previsão foi de 99%.

Se eu fosse dono de um instituto de pesquisa, eu faria um experimento desse com uma amostra representativa dos indecisos aqui no Brasil.

Dilma e a razão de sacrifício


O livro de Macro de graduação do Blanchard tem um exemplo do custo da desinflação nos Estados Unidos na década de 1980 (Volcker). Especificamente, entre 1979 e 1985, a inflação caiu de 13,3 para 3,8%. Nesse período, por conta da contração monetária, a taxa de desemprego permaneceu bem alta, chegando próxima a 10%.

Uma forma comum de calcular o custo da desinflação é pela razão de sacrifício. Basicamente, ao longo de cada ano de um período de desinflação, computa-se a diferença entre a taxa de desemprego observada e a taxa de desemprego de longo prazo (suposta igual a 6% para os Estados Unidos). Somam-se então esses desvios ao longo do período de desinflação, sendo essa soma chamada de desemprego acumulado. A razão de sacrifício é o desemprego acumulado dividido pela variação na taxa de inflação no período. 

Nas contas do Blanchard, a razão de sacrifício foi de 1,32 entre 1980 e 1985, que corresponde ao período de desinflação.

No debate presidencial do SBT, Dilma fez uma afirmação acerca do efeito sobre desemprego de uma redução brusca na inflação, como proposta por Aécio (aqui). Especificamente, ela disse que, se a taxa de inflação fosse reduzida para 3%, a taxa de desemprego iria para 15%. Com base nesses números, dá para calcular a eventual taxa de sacrifício.

Suponha: (i) o eventual ajuste será realizado em um único ano, (ii) a taxa de desemprego de longo prazo é igual à atual (5%), e (iii) a taxa de inflação corrente é 6,5%. Nesse caso, a taxa de sacrifício de Dilma é (15%-5%)/(6,5%-3%) = 2,85.

Mas e se a taxa de desemprego de longo prazo fosse mais elevada -- por exemplo, 8% -- caso supusermos que a economia está aquecida hoje? A taxa de sacrifício cairia, mas ainda ficaria mais alta que a do Volcker: 2,0.

Os números da Dilma são bem mais elevados do que os da experiência americana. Por que o Brasil seria diferente? Mais rigidez de preços, contratos de trabalho mais longos etc.? Acho que não. Além disso, a desinflação no exercício acima é mais rápida que a do Volcker. E há evidência de que, se o ajuste é rápido, o aumento acumulado no desemprego de curto prazo é menor, por conta do ganho de credibilidade (veja aqui).

Um eventual ajuste provavelmente terá custos em termos de produto e emprego de curto prazo, mas não na magnitude citada por Dilma. Os números parecem estar mais no espírito da política do medo (politics of fear).

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Valor da Petrobras na próxima 2a-feira



Tenho escutado a pergunta: "se a Dilma ganhar, para quanto vai a Petrobras? E se o Aécio ganhar?"

Dado que hoje (20/10), a chance para cada um está ao redor de 50%, o mercado de opção pode dar uma boa ideia.

Comprar uma call e uma put (estratégia chamada "straddle") te coloca numa situação de ganhar $ se o ativo cair muito ou se o ativo subir muito.  De acordo com os preços das opções de hoje, fazendo um straddle você ganha $ se a Petrobras estiver abaixo de R$ 13 ou acima de R$ 23 no dia 17/11 (figura acima).

Ou seja, Petrobras a R$ 13 sob Dilma e a R$ 23 sob Aécio é, grosso modo, o que se espera.

Prevendo o eleitor "swing": Três razões porque Aécio vencerá as eleições


Não é por acaso que as democracias representativas são formas dominantes de governo. Participar de forma direta -- e minimamente decente -- do processo de formulação e voto de políticas públicas e leis em geral demandaria muito tempo de nossas curtas vidas: tempo direto, gasto nos ritos processuais envolvidos em cada uma dessas etapas e tempo indireto, gasto na aquisição das competências e expertise para avaliar e votar de forma informada na variedade de assuntos -- de defesa nacional à regulação econômica -- de que consistem a administração de qualquer sociedade.

Um subproduto, talvez indesejável, dessas formas indiretas de governança é a existência de apatia e pouco engajamento ao processo político por parte de grandes frações do eleitorado. Como há indivíduos dedicados aos (e especializados nos) trâmites do processo de formulação de políticas públicas (nossos "representantes" nos vários níveis de administração), nosso envolvimento tende a se reduzir à escolha desses representantes, o que acontece de forma infrequente o suficiente para que adquirir grandes conjuntos de informação sobre os vários indivíduos que pleiteam representar nossas preferências é simplesmente taxing demais. Resultado: muitos eleitores simplesmente não conseguem expressar mais do que indiferença aos candidatos na disputa eleitoral, frequentemente utilizando "atalhos" ("rules of thumb") para decidirem em quem votar ("o mais bonito", o "incumbente", o "preferido das pesquisas", os "que são apoiados por meus amigos",  etc, etc).

É razoável acreditar que dessa apatira e indiferença surge o fenômeno do "eleitor swing" (swing voter). O "eleitor swing" é o eleitor "independente", o indivíduo sem forte identificação ideológico-partidária, que pode votar em virtualmente qualquer partido. Mais importantemente, é o eleitor que permanece indeciso ao longo de quase toda a campanha, decidindo seu voto nos últimos instantes da campanha eleitoral. 

Partidos e analistas políticos sabem, já há algum tempo, que ganhar o coração e mente desse tipo de eleitor é absolutamente crucial para o resultado da campanha. Foram esses eleitores, por exemplo, que deram uma inesperada vitória para Truman (partido democrático) nas eleições presidenciais americanas de 1948 -- inesperada porque Harry Truman venceu com mais de 15 pontos percentuais de vantagem para o segundo colocado quando as pesquisas de intenção de voto, até os últimos momentos da campanha, apontavam para uma apertada disputa entre ele o candidato do partido republicano, o então governador do estado de Nova York, Thomas Dewey. A vitória foi tão inesperada que até um jornal de Chicago se adiantou aos resultados das urnas, antecipando uma vitória que não aconteceu. 



A Eleição Presidencial no Brasil
Essa indiferença e apatia -- com correspondente efeito no número de eleitores "swing" -- é um fator psicológico crucial para prever o resultado de uma eleição. A razão é simples: eleitores indecisos sempre são uma fração significativa dos votantes. Faltando apenas um mês para as eleições, pesquisas de opinião indicavam que 7% dos eleitores ainda estavam indecisos (ver exemplo aqui). 

É verdade que isso não aparece muito. Mas se considerarmos que os votos brancos e nulos e até mesmo as abstenções, são todos -- ao menos em alguma medida -- expressão dessa apatia com o processo eleitoral, temos aí um "pool" de eleitores "swing" de magnitude impressionante. No primeiro turno dessa eleição presidencial, por exemplo, nada mais do que cerca de 29% dos eleitores se abstiveram (19,40%), votaram em branco (3,85%) ou votaram nulo (5,78%). Fosse um candidato, esse "frankstein da apatia e da indecisão" teria sido o terceiro candidato mais votado.

Quem ganhará o segundo turno?


Como as pesquisas de opinião apontam para um empate técnico entre Aécio e Dilma, não parece um exercício complicado de lógica concluir que o que estou chamando -- com alguma "liberdade poética", é verdade -- de eleitor "swing" será o agente decisório dessas eleições presidenciais. Prever o resultado desse próximo domingo reduz-se, portanto, a entender o seguinte: como decidirá esse eleitor "swing"?

O que aprendi nas incursões que faço na literatura de psicologia social me inclina a acreditar que o vencedor dessa eleição será o candidato do PSDB, Aécio Neves. Três fatores contribuirão para isso:

O efeito "underdog"



O primeiro é o "efeito underdog". O efeito "underdog" é um fenômeno típico de competições -- eleitorais mas não só -- onde os indivíduos, ao perceberem que um dado candidato é o provável vencedor, tendem a dar apoio ao candidato que espera-se perder -- esse tipo de fenômeno seria explicado por  uma espécie de "desejo de ser influente". 

Há uma literatura empírica sobre o assunto, que foi tratado de forma seminal (ver artigo aqui) por Herbert Simon -- um dos economistas/cientista políticos mais brilhantes de sua geração com contribuições em mais de meia dúzia de áreas, da psicologia, passando pela economia, até à computação (Simon ganhou o chamado "Prêmio Nobel em Economia" em 1978).

Pois bem. O fato é que Aécio foi praticamente "written off" da corrida presidencial, tendo sido preterido -- os surveys de intenção de voto sugeriam -- por Marina Silva para ser o adversário de Dilma Roussef no segundo turno. Aécio deu uma "virada" -- seu "vote share" acabou sendo muito maior do que as pesquisas de boca de urna sugeriram -- e se posiciona nas últimas pesquisas divulgadas em empate técnico com a incumbente Dilma Roussef. Muitos desses eleitores indecisos e indiferentes tenderão a votar no "underdog", em Aécio, pelo simples fato -- abominável como soe -- de que ser responsável por um dos maiores "upsets" na história das eleições brasileiras será muito mais prazeroso. 

O efeito "pivotal illusion"


O segundo é o que chamarei de "ilusão pivotal". Ser pivotal em um processo decisório significa simplesmente ser de importância crucial -- no caso, ser um eleitor que "influencia" o resultado da eleição. É claro que ser pivotal é impossível: como qualquer modelo econômico de "eleitor racional" nos dirá, votar é (em certo sentido) irrelevante, dado que o voto individual tem probabilidade praticamente nula de influenciar o resultado final da eleição.

Mas nosso comportamento é frequentemente baseado em crenças e percepções. E a disputa apertada entre os dois candidatos ajuda a criar a percepção de que "cada voto contará", dando origem a ilusão de que será um eleitor "pivotal". Mas por que a existência dessa ilusão favorece ao candidato do PSDB? Explico.

Pouco mais de 27 milhões não compareceram às urnas. Muitos dentro desse contingente não comparecerão mesmo: são eleitores que faleceram mas ainda estão com seus títulos ativos. Mas a vasta maioria desses eleitores são de indivíduos que, a um custo c, poderiam votar na eleição deste domingo. São eleitores que estarão fora de seus domicílios eleitorais -- -- esse c seria portanto, essencialmente, o custo de deslocamento. É claro que a distribuição desse custo é heterogênea -- para alguns significaria ir da capital para o interior; para outros, viajar do Sul/Sudeste para o Centro-Norte/Nordeste (ou vice-versa). Mas minha hipótese é que, ainda que os votos desses eleitores ausentes (e sujeitos à "ilusão pivotal") se distribuam uniformemente entre Aécio e Dilma, são os eleitores do primeiro que tenderão a aparecer em maior proporção nesse segundo turno. A razão é simples: internalizar o custo de deslocamento será proporcionalmente mais fácil para o eleitor típico do candidato do PSDB -- veja que não se trata aqui de repetir a besteira que só pobres/só ricos votam num e noutro, mas apenas notar que as pesquisas mostram que os indivíduos de maior renda estão proporcionalmente mais inclinados a votar no candidato da oposição. Em suma: a "ilusão pivotal" diminuirá o número de abstenções e a maior fatia desses votos, por questões econômicas, irá para Aécio -- uma adição que será crucial para o resultado da eleição.

Uma ilustração desse ponto são os dados na tabela logo abaixo. Eles mostram a votação de Aécio e Dilma no primeiro turno entre os eleitores que votaram em trânsito -- eleitores que podem ser vistos como uma "proxy", admitidamente imperfeita, do que seria o voto do eleitor que absteve-se no 1º turno, decidisse ele/ela aparecer para votar no 2º turno.


O efeito "networked bandwagon"


O terceiro é o que chamarei de "networked bandwagon effect" -- uma espécie de "todos pulando no mesmo carro/onda". Comecemos observando o seguinte: povoamos nossas redes sociais de pessoas semelhantes a nós mesmos em muitas dimensões. É razoável admitir, portanto, que os sujeitos genuinamente indecisos estão também cercados de indivíduos indecisos. Ou seja: o eleitor indeciso está numa "network" de eleitores indecisos. Uma vez que um ou mais indivíduos (os "nós" da rede) dessa rede comecem a decidir seu voto, esses eleitores tenderão a "contaminar" outros eleitores indecisos em sua rede (que "pularão na onda"). É claro que a força e magnitude desse efeito depende (1) do momento em que essa decisão é feita (se for feita no último segundo, seu efeito é nulo) e (2) da "topologia" dessa rede -- quantos mais links cruzados, maior e mais rápido tende a ser esse efeito (em oposição à uma rede "flat" onde cada indivíduo tem poucas conexões).

Obviamente que a estrutura em rede de conexões sociais pode favorecer qualquer dos dois candidatos dependendo da opção dos primeiros "nós" a mudarem de status (de "indeciso" para "decidido"). Mas meu argumento é que os dois efeitos acima contribuiriam para que esse voto fosse em favor do candidato do PSDB, de modo que as redes de indecisos fizessem um "swing" majoritariamente em favor dele.



É a presença desses três efeitos -- mais salientes em eleições "mais disputadas" como essa -- que torna difícil a tarefa dos institutos de pesquisa de prever corretamente os resultados.

Conclusão
Aécio vencerá (salvo alguma declaração -- verbal ou não -- desastrada no próximo debate).

Gangnam Style

Isso já é antigo -- até porque a febre do PSY já passou há algum tempo -- mas achei divertido. The Economist estimou o que poderia ser construído com o tempo que as pessoas gastaram assistindo ao vídeo de Gangnam Style no Youtube -- 2 bilhões de visualizações, de um vídeo de 4:12 minutos, o que dá mais de 140 milhões de horas. Abaixo o gráfico da The Economist, dando exemplos do que poderia ser feito:


Para os puristas de sempre, calma... A conta acima é quase que uma brincadeira. Por exemplo, não leva em conta qual a perda de deslocar um trabalhador de escritório para construir um porta aviões, nem diferenças na produtividade do trabalho, etc. Além disso, muitas das pessoas assistindo ao vídeo são crianças.

Mas ilustra o ganho de bem estar do vídeo de PSY. E que as restrições a esse tipo de produto -- que são normalmente defendidas por se tratar de cultura de baixa qualidade -- são realmente custosas. 

Link para a matéria da The Economist aqui. Aliás, a revista também está vendendo camisetas com o gráfico acima.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Piketty

Apresentação de Thomas Piketty, no TED.


Algumas observações:

1. Se você não conseguir entendê-lo por causa do sotaque, tem uma versão com legendas aqui.

2. Engraçado uma apresentação sobre desigualdade de riqueza (e seus problemas) ser patrocinada pela Rolex.

3. O ponto de Piketty é que o aumento da desigualdade está associado à diferença entre r (a taxa de retorno do capital) e g (taxa de crescimento do PIB). Daron Acemoglu e James Robinson têm um paper recente, em que não encontram correlação nenhuma entre r - g e índices de desigualdade para um painel de países (aqui).

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A pirataria vai acabar com o mercado editorial?


No último domingo, o Estadão publicou um texto interessante sobre o efeito da pirataria digital no mercado editorial (aqui).  Para minha surpresa, entre as editoras a reclamação não é geral. Sim, tem aquela galera que argumenta que a pirataria desincentiva a produção de livros, dado que os autores deixam de ser remunerados pelo esforço quando seus trabalhos são distribuídos ilegalmente pela internet.

Minha impressão é que, exceto pelos Paulos Coelhos da vida, poucos autores ficam ricos escrevendo livros no Brasil (talvez o principal payoff seja simplesmente publicar e ter o trabalho lido pelas pessoas). Nesse sentido, não acredito que a pirataria terá um efeito como o descrito acima. Um mecanismo mais plausível pode ser o seguinte: a pirataria reduz a lucratividade no setor editorial e, com isso, provavelmente menos livros serão editados. Com a maior dificuldade para publicar, alguns autores podem desistir da empreitada.

O argumento é justo, mas tem outro lado: o efeito divulgação, o qual contribui para elevar a demanda no setor. Especificamente, a pirataria permite que os leitores tenham acesso mais fácil à obra, e possam ter uma ideia do conteúdo. Isso pode incentivá-los a comprar o livro (convenhamos, a cópia digital e a cópia física não são exatamente substitutos perfeitos). Na matéria do Estadão, Paulo Rocco ilustra bem esse efeito:
Percebo nessa meninada uma adoração pelo livro como objeto de colecionador. Assim, quando eles não resistem e baixam algum arquivo ilegal, é normalmente para ter uma ideia de como é a trama - algo como, em uma livraria, ler a orelha e os primeiros capítulos do volume para ter a certeza da escolha.
O efeito divulgação pode ainda propiciar outras fontes de renda para o autor (por exemplo, palestras). Esse efeito é análogo ao do mercado fonográfico, em que músicos têm seu trabalho divulgado com a ajuda da pirataria, tornado-os mais conhecidos, e estimulando a demanda por shows. Igor Cortez tem um trabalho interessante nesse tema, achando evidências de que acesso a pirataria está associado a uma diminuição na demanda por CDs, mas a um aumento na demanda por shows (aqui). 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Jean Tirole, Prêmio Nobel de Economia de 2014



Há algumas décadas o Prof. Jean Tirole é um dos economistas mais influentes da academia internacional. Uma posição obtida como fruto da sua extensa, ampla e profunda agenda de pesquisa. Os dois campos citados na premiação, de regulação e organização industrial são realmente onde suas contribuições foram mais impactantes. 

Na organização industrial, Tirole esteve na fronteira do movimento que incorporou as contribuições da teoria dos jogos à análise de mercados com concorrência imperfeita (onde existem poucas empresas). Dentro deste campo, suas contribuições são muito variadas. Ele produziu artigos seminais em inovação, barreiras à entrada, restrições verticais e mais recentemente em economia de redes. Também elaborou o Livro “The Theory of Industrial Organization” que teve um papel na estruturação deste campo. Publicado em 1988, na sua versão em inglês, o livro permanece até hoje como a referência básica deste campo. Esta, aliás, é outra faceta do laureado. Sua capacidade de síntese produziu diversos outros livros que resistem ao tempo como referências para estudantes de economia.

Na área de Regulação, Tirole trabalhou intensamente com Jean-Jacques Laffont, que faleceu de forma prematura em 2004. Regulação trata do funcionamento de setores onde, pela existência de retorno a escala, o monopólio natural é a estrutura de mercado mais eficiente. Em tais mercados a regulação é a estratégia viável para evitar que estes monopólios obtenham lucros extraordinários cobrando preços muito elevados, em prejuízo dos consumidores. Antes das contribuições de Laffont e Tirole, a regulação tradicionalmente funcionava com contratos de compensação de custos, onde o governo remunera os custos apresentados pela empresa adicionando uma margem de lucro considerada justa. O trabalho de Laffont e Tirole foi o de analisar o papel dos incentivos existentes nos contratos e suas implicações para o funcionamento destes setores. Eles mostraram que, na presença de assimetria de informação, os contratos de compensação de custos geram incentivos para empresas inflarem seus custos, onerando os serviços prestados. Laffont e Tirole apontaram para o redesenho dos contratos com objetivo de prover incentivos à redução de custos, que em última instância poderiam ser revertidos aos consumidores. Seus trabalhos reforçaram o desenvolvimento de contratos de regulação via price cap (limite de preço) tão difundidos atualmente ao redor do mundo. 

Nesta agenda, o papel de Jean-Jacques Laffont foi possivelmente mais relevante que o de Tirole, como ele próprio reconheceu em sua declaração após ser informado da premiação “I am more than aware of the key role he (Laffont) played in what is happening to me today.” Se estivesse vivo, certamente Laffont estaria dividindo este prêmio com o Tirole.

Não obstante a importância destas contribuições merecedoras de um prêmio Nobel, Tirole tem trabalhos fundamentais em diversas outras áreas. Teoria dos Jogos, Teoria dos contratos (incentivos), Finanças, Macroeconomia, Finanças internacionais, Economia política e em Psicologia aplicada à economia contam com contribuições seminais dele. Para ter-se uma ideia, consultando o nome Jean Tirole no Google Scholar temos que chegar à impressionante décima segunda página de resultados de pesquisa para encontrar um artigo seu que possua menos de 100 citações. Contemplando a sua obra temos a impressão de observar um indivíduo extremamente inteligente que planta sementes em diversas áreas da economia, mas sem exaurir toda a agenda de pesquisa do campo. Desta forma seu trabalho sempre abre espaço para novos desenvolvimentos. Por isso Jean Tirole é tão influente. É praticamente inconcebível que alguém tenha completado seu doutorado em economia nos últimos 20 anos sem ter contato com o trabalho dele.

Francês, Jean Tirole é fruto do sistema de Grand Écoles, onde se formou em engenharia na prestigiada École Polytechnique. Completou seu PhD em economia no Massachusetts Institute of Technology em 1981, onde até hoje é professor visitante regular. Pela influência de Jean-Jacques Laffont, foi trabalhar na Universidade de Toulouse que atualmente possui um dos melhores Departamentos de economia do mundo e certamente o melhor da França.

Jean Tirole ganha o Prêmio Nobel


Acabou de sair:
The Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel 2014 was awarded to Jean Tirole "for his analysis of market power and regulation".
Jean Tirole é o primeiro francês a ganhar o prêmio desde Maurice Allais, em 1988. E, ao contrário da grande maioria dos laureados, não está afiliado a uma instituição americana  -- é professor da Toulouse School of Economics (mas passou pelo MIT nas décadas de 1980 e 1990).

Mais aqui.

domingo, 12 de outubro de 2014

Projeções para o Ebola



O Ebola continua crescendo na África.

Eu, armado de minha hipocondria e de minha econometria, fui dar um googada nas projeções por aí.

Bad news... (as quais, ao que me parece, andam sendo omitidas por aqui...)

Esse paper, recém saído no New England Journal of Medicine (o Econometrica da Medicina), prevê que a coisa na África vai piorar bastante: devemos chegar a 20 mil casos no começo de novembro.

Mas alarmante mesmo é o "worst-case scenario" do Centers for Disease Control and Prevention (CDC): mais de 1,4 milhão de casos no começo de 2015. Veja aqui. A planilha deles para suas próprias simulações está aqui (se vc for paranóico como eu, sugiro que não brinque com ela.)

Boa noite.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Guido vs Armínio

Debate de ontem entre o atual ministro da Fazenda e o ministro em caso de vitória de Aécio, no programa da Miriam Leitão na Globonews.



Quanto custa uma árvore?


Ontem li nos jornais que um juiz concedeu uma liminar embargando o segundo maior empreendimento em construção na cidade de São Paulo -- um complexo de torres residenciais, escritórios, hotel e até um shopping. A notícia pode ser vista aqui.

A notícia merece destaque por três razões.

O algoritmo de Gale-Shapley

Não entendo muito do assunto. Nesse sentido, o vídeo abaixo foi muito útil para mim. Explica de forma bem didática o algoritmo de Gale-Shapley, para fazer emparelhamento (matching) de indivíduos de acordo com suas preferências. Recentemente, Lloyd Shapley inclusive ganhou o prêmio Nobel por suas contribuições na área.



quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Por que restringir o consumo de bebidas alcoólicas pode ser uma má ideia?


Há um par de semanas atrás um jovem foi encontrado morto na raia olímpica da USP. O jovem desapareceu em uma festa dentro do campus universitária na qual compareceram, segundo os organizadores, cerca de cinco mil pessoas (ver notícia aqui).

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Transformação estrutural, serviços e política industrial


Entre o imediato pós-guerra e meados dos anos setenta e início de 1980, a distância entre o produto por trabalhador (e renda per capita) das economias latino-americanas e o dos Estados Unidos caiu substancialmente. Foi um período de acelerada convergência. Após este período, e até anos recentes, a distância aumentou. Entre 1950 e 1980 (ano de "pico" da convergência), o produto por trabalhador brasileiro (em ppp) foi de 16% do americano para 33%, enquanto que no México entre 1950 e 1976 (também o "pico" da convergência), o produto relativo foi de 40% para 60%. Em 2005 a produtividade brasileira era apenas 23% da americana e a mexicana 38%.

domingo, 5 de outubro de 2014

Debate sobre inflação

Debate entre Samuel Pessoa e Nelson Barbosa na TV Estadão.



(Agradeço a um de nossos leitores pela dica.)

sábado, 4 de outubro de 2014

O tempo de TV pode mudar o resultado da eleição?


O pessoal da campanha da Marina está apostando forte no aumento no tempo de TV que ela terá, se eventualmente passar para o segundo turno. Mas isso fará diferença?

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Dilmês

A Folha fez um infográfico com pérolas da nossa presidenta (aqui). Para mim a melhor de todas é a seguinte:
Obras das mais variadas desde obras de mobilidade urbana, como é a solução ali do Largo do Abacaxi, da Via do Abacaxi, Rótula do Abacaxi, que virou, segundo eles, quando eu fui lá inaugurar, uma rota diferente, uma rótula diferente a Rótula do Quiabo, a Rótula que saí abacaxi tranca e o quiabo flui.
A passagem acima faz parte de um discurso dado em Camaçari (BA), em 30/4/2014, na entrega de unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida. O discurso inteiro está aqui.

O fim dos empresários no futebol?



Na semana passada, a FIFA anunciou que proibirá uma prática muito comum no futebol brasileiro: a participação de empresários e grupos de investimento em direitos econômicos de jogadores (veja aqui). Haverá um período de mais ou menos quatro anos de adaptação. Depois disso, só clubes poderão ser donos dos direitos econômicos.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Petistas deveriam votar em Aécio


Pela lógica do Bruno Giovannetti (veja aqui), Marina tem mais chances de ganhar de Dilma do que Aécio, por causa da variação no tempo de TV entre primeiro e segundo turno (que é bem maior para Marina). Tem ainda a transferência de votos: eleitores de Aécio tendem a votar em Marina em um segundo turno contra Dilma; mas esse efeito é provavelmente mais fraco, caso Aécio vá para o segundo turno.

Quanto custa o jeitinho? O caso da bagagem de mão


Sempre achei aeroportos lugares fascinantes para economistas. Dentro deles é possível observar uma boa quantidade de princípios de economia e psicologia social em ação. Dia desses fiz uma viagem com várias escalas e em todos os aeroportos que estive continuava -- como desde sempre -- a observar alguns comportamentos que sempre me pareceram desafiar a racionalidade.

Aécio subiu no Datafolha! Que droga!

A chance da Marina ganhar da Dilma no 2o turno é grande. A chance do Aécio ganhar é miudinha, miudinha.