segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Sucesso: sorte ou esforço?


Dois fatores podem explicar o sucesso de uma pessoa: esforço e sorte. Políticas redistributivas fazem sentido quando o fator sorte é importante. Por exemplo, antes de nascer, a pessoa não tem certeza se terminará em uma família rica ou pobre. Ao redistribuir renda ex-post, o governo compensa em parte esse risco inicial. Em outras palavras, esse arranjo funciona como um seguro ex-ante.

Mas a redistribuição não vem sem custos. Para implementá-la é preciso arrecadar impostos, os quais distorcem a alocação ótima. Portanto, quando o papel da sorte no sucesso pessoal for limitado, o seguro acima referido não será tão importante, sendo ótimo para a sociedade manter a carga tributária e a redistribuição em níveis mais baixos. 

O problema é: como saber qual a importância de cada um dos fatores? Não conheço muito bem a literatura empírica do assunto, mas imagino que seja muito difícil separar os efeitos. No fim isso pode ser uma questão de opinião ou crença. Se eu acreditar que sorte é mais importante, favorecerei mais impostos e redistribuição. Mas se achar que esforço pessoal é o determinante principal do sucesso, serei contra políticas redistributivas.

paper de Alberto Alesina e George-Marios Angeletos (AER 2005) sugere que essas crenças podem ser auto realizáveis. Particularmente, em uma sociedade na qual se acredita que sorte é o principal determinante, as pessoas votarão por mais redistribuição e os impostos serão elevados. Isso desincentiva os indivíduos a trabalharem com afinco, o que em equilíbrio faz com que o talento pessoal (sorte) seja pouco importante na determinação da desigualdade, confirmando assim a crença inicial.

Para os autores, esse é o caso europeu, em que as pessoas tendem a acreditar que sorte é o fator fundamental, e impostos e redistribuição são mais elevados.

Por outro lado, nos lugares em que se crê que esforço é mais relevante, haverá menos taxação e as pessoas trabalharão duro. Em equilíbrio, isso confere uma importância maior ao componente esforço. Novamente, o resultado é consistente com o que os indivíduos inicialmente acreditavam. Para Alesina e Angeletos, essa situação descreve o caso americano, em que os indivíduos tendem a acreditar mais no esforço pessoal e a taxação é menos pesada.

22 comentários:

  1. Interessante... aqui no Brasil com certeza a sorte possui um peso muito significativo, uma vez que a mobilidade social é muito baixa. O indivíduo que nasce pobre está praticamente condenado a ficar na mesma situação em que nasceu até a morte, ao passo que o que nasce rico dificilmente cairá de nível social. Embora tenham ocorrido avanços nos últimos anos, é uma realidade triste e ainda muito visível no país.

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    1. Quantos contra-exemplos a esta história de "nasceu pobre, morre pobre" são necessàrias para ficar evidente que ela è falsa (controlando pra esforço)?

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    2. A mágica epopeia em que o que nasceu pobre morre rico é uma exceção, em termos estatísticos. QUANTOS não é um argumento, amigão, o que importa não é a quantidade ABSOLUTA de pobres que morreram ricos, mas a relativa

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    3. Para o cara do primeiro comentário, o quanto vc for capaz de dar. Vamos lá, já pode começar. Estou aguardando.

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    4. Howard Schultz, presidente da Starbucks
      Patrimônio: US$ 2 bilhões
      Em entrevista ao site "Mirror", Shchultz afirmou que cresceu em um conjunto habitacional. Sua vida começou a mudar quando ganhou uma bolsa de estudos na University of Northern Michigan e trabalhou em uma loja de Xerox após a graduação.

      Shahid Khan, empresário
      Patrimônio: US$ 3,8 bilhões
      Um dos homens mais ricos da atualidade passou por muitos contratempos quando deixou o Paquistão e foi para os Estados Unidos. Chegou a trabalhar como lavador de pratos enquanto frequentava a University of Illinois.

      Kirk Kerkorian, empresário
      Patrimônio: US$ 3,9 bilhões
      Para ajudar nas contas de casa, Kerkorian abandonou a escola na 8ª série (atual 9º ano) para se tornar boxeador.

      Oprah Winfrey, empresária e apresentadora de TV
      Patrimônio: US$ 2,9 bilhões
      De origem pobre, Oprah ganhou bolsa de estudos da Tennessee State University e tornou-se a primeira mulher negra a ser correspondente da TV norte-americana, com 19 anos. Em 1983, ela se mudou para Chicago para trabalhar em um talk show, que mais tarde levaria o nome da apresentadora: "The Oprah Winfrey Show".

      John Paul DeJoria, co-fundador da John Paul Mitchell Systems e da Patron Tequila
      Patrimônio: US$ 4 bilhões
      Antes de completar 10 anos, DeJoria já vendia cartões de Natal e jornais para ajudar a família. Ele foi adotado e fez parte de uma gangue antes de entrar para as Forças Armadas. Sua vida começou a mudar quando recebeu um empréstimo de US$ 700 para criar sua marca de cosméticos para cabelos, que vendia de porta em porta, enquanto vivia em seu carro.

      Do Won Chang, fundador da Forever 21
      Patrimônio: US$ 5 bilhões
      Chang e sua esposa, Jin Sook, não tiveram uma mudança fácil da Coreia do Sul para os Estados Unidos, em 1981. Ele teve de trabalhar em três empregos ao mesmo tempo para cobrir as despesas: como faxineiro, frentista e atendente em uma loja de café. A sorte começou a mudar quando ele e sua esposa abriram a primeira loja de roupas em 1984.

      Ralph Lauren, fundador da grife Ralph Lauren
      Patrimônio: US$ 7,7 bilhões
      Um dos mais importantes estilistas do século 20, Lauren já trabalhou como balconista na Brooks Brothers.

      François Pinault, empresário
      Patrimônio: US$ 15 bilhões
      O dono do conglomerado de moda Kering já teve de sair da escola por sofrer intimidação de seus colegas por suas origens humildes, em 1974.

      Leonardo Del Vecchio, fundador e presidente da Luxottica
      Patrimônio: US$ 15 bilhões
      Del Vecchio foi um dos cinco irmãos que foram encaminhados para um orfanato porque a mãe viúva não tinha condições financeiras de cuidar deles. Com o passar dos anos, ele trabalhou em uma fábrica de moldes de autopeças e de armações de óculos, até que, aos 23, Del Vecchio decidiu abrir a própria loja de fabricação de armações de óculos, a Luxottica, que viria a se tornar a maior do mundo.

      Larry Ellison, CEO e fundador da Oracle
      Patrimônio: US$ 41 bilhões
      Nascido no Brooklyn, em Nova York, Ellison foi criado por sua tia em Chicago. Depois que ela morreu, Ellison abandonou a faculdade e se mudou para a Califórnia, onde passou por diversos trabalhos temporários, por oito anos. Ele fundou a Oracle em 1977 e agora é o presidente mais bem pago do mundo.

      Carla Sarni
      A ex-sacoleira que ficou milionária. Empresária vendia água na porta da faculdade construiu império com 160 clínicas odontológicas espalhadas pelo Brasil

      Heloísa Helem Belém de Assis, a Zica
      Começou a trabalhar com 9 anos. Filha do meio na fileira de 13 do pai biscateiro e da mãe lavadeira, Zica começou fazendo entregas de roupa lavada. Antes de pensar em ter um negócio, Zica fez de tudo um pouco, sempre lidando com clientes. Vendeu roupas íntimas e cosméticos de porta em porta, por exemplo. Hoje, ela é dona da Beleza Natural, rede de salões de beleza especializada em cabelos cacheados. Faturou R$ 19 milhões em 2005, último ano em que números oficiais foram divulgados. De 2005 para cá, o número de clientes dobrou – hoje são 70 mil.

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    5. Olha so, com tanta evidencia empirica voce conseguiria convencer ate o mais miseravel dos pobres do interior do Para de que ele tem boas chances de morrer rico!!!!!

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  2. E desde quando baixa mobilidade social significa que a sorte supera o esforço ?

    Olhe todas as distorções de mercado no Brasil e todos os favorecimentos políticos antes de falar de sorte e esforço

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    1. Favorecimento político é sorte (no caso, nascer em uma família bem conectada)

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    2. Concordo com o Mauro.
      No quesito mobilidade social, ela indica que o cara não consegue se mover de uma classe para a outra com facilidade. Ou seja, pode-se deduzir que, probabilisticamente, existe alguma coisa que imobiliza a pessoa na situação ruim. Quem é bem sucedido não necessariamente é mais esforçado que o mais pobre. São condições ruins no meio social que dificultam a pessoa melhorar de vida, mesmo sendo muito esforçada.

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    3. "São condições ruins no meio social que dificultam a pessoa melhorar de vida, mesmo sendo muito esforçada."

      É óbvio que o meio dificulta. Mas a natureza não é justa e nunca foi mesmo nos primórdios, que dirá agora depois que a "bola já está rolando" há alguns séculos. De modo que deve ser óbvio e nao causar nenhuma surpresa que pra alcançar um mesmo [Delta Y] de renda/riqueza na vida, o sujeito em condições piores vai ter que fazer tanto mais esforço quanto pior forem suas condições iniciais. Injusto? Provavelmente. Mas lembre-se que até a disposição a fazer esforço (controlando pra condição inicial) é distribuída assimetricamente entre as pessoas. Ou seja: em um mundo com continuidade de gerações e diferenças naturais de esforço, habilidade, força, altura, beleza etc etc, vamos sempre convergir para um mundo de desigualdade de resultados mesmo que tivéssemos partidos todos das mesmas condições iniciais.

      Nunca houve igualdade na história da humanidade, e nem poderia porque a "mãe natureza" não quis. É uma não questão. Uma cortina de fumaça pra esconder o sentimento vil que está verdadeiramente por trás de parte do clamor de muitos por mais igualdade de resultados: a inveja.

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    4. "A natureza não é justa"
      "A mãe natureza não quis"
      "Sentimento vil"
      "A inveja"

      ...

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  3. Mauro, acho um tanto quanto mito essa estoria da taxacao americana nao ser tao pesada. A aliquota marginal eh pesadissima para os mais esforcados/habilidosos (aka ricos). Acho que por esse mesmo motivo a literatura Mirrlees cresceu tanto (em alguns departamentos).

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    1. Isso eu não sei, Schina. Mas gastos sociais (redistribuição) são mais altos na Europa. Dá uma olhada na Fig 1 do paper do Alesina & Angeletos.

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  4. Mauro, existe uma discussão grande sobre se é justa ou não esta distribuição da forma mencionada (que é um pouco da crítica do Nozick ao Rawls). Acho que casa muito bem com seu post, que tá bem legal

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  5. Aí um paper que tenta analisar exatamente isso para o caso brasileiro:

    Bourguignon, Ferreira and Menéndez, "Inequality of Opportunity in Brazil" (2007) - Review of Income and Wealth

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  6. "Isso desincentiva os indivíduos a trabalharem com afinco, o que em equilíbrio faz com que o talento pessoal (sorte) seja pouco importante na determinação da desigualdade, confirmando assim a crença inicial".

    Acho que está errado o trecho "seja pouco importante", o correto não seria "seja mais importante" ?

    Abraço,
    Thiago Caldeira

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  7. Mauro,

    Tem um livro chamado: How Children Succeed: Grit, Curiosity, and the Hidden Power of Character, que é muito legal, que dismitifica um pouco o poder da renda dos pais e do QI da criança na determinação do sucesso.

    Ele se baseia bastante no trabalho do Hecknan (fatores que influenciam o sucesso) que passou a estudar este assunto depois do nobel.

    É surpreendente. Se não for como economista, leia como pai...rs

    Abraço

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  8. "You become what you believe". –Oprah Winfrey

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  9. Não acredito que os escandinavos deem maior crédito ao fator sorte em relação ao esforço...ao contrário.

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