quinta-feira, 19 de junho de 2014

Previsões futebolísticas do jornalismo esportivo


Não é nenhuma novidade que o jornalismo esportivo é uma espécie de terceira divisão do mundo jornalístico: as análises são rasas, cheias de clichês e pouco objetivas.

Less "gut feelings", more science
É uma pena e até curioso. 

Uma pena porque o tópico está provavelmente entre os mais lidos e análises mais "técnicas" e "data-based" seriam certamente mais informativas.

Curioso porque o tema é propício a análises mais rigorosoas. Há inclusive uma rica literatura acadêmica focada na análise estatística dos mais variados esportes; há inclusive "journals" dedicados exclusivamente ao tema, como o  Journal of Sports Science e o Journal of Sports Economics. Mergulhando nessa literatura é possível descobrir, por exemplo, que há bastante evidência empírica de que a "vantagem de jogar em casa" surge da influência da torcida no comportamento dos juízes do jogo -- o que já foi documentado em esportes tão distintos quanto o baseball, o basquete, o rugby e o futebol. Ou seja: ainda que os jornalistas esportivos não produzam suas próprias análises, eles bem que poderiam consumir mais dessa literatura para ilustrar o que escrevem. Wishiful thinking? Em grande parte sim. Mas o site FiveThirtyEight, uma divisão da ESPN, oferece análises baseada em dados não apenas de esportes, mas também de política, economia e tópicos mundanos. Vejam por exemplo aqui as previsões que o algoritmo que eles criaram fazem para a copa do mundo no Brasil.

Frequentistas vs bayesianos
Em época de copa, uma das características mais comuns -- e irritantes-- do que a imprensa esportiva  local escreve são as insinuações de que o presente reproduzirá o passado. Hoje, por exemplo, leio a insinuação de que o Uruguai dificilmente ganhará da Inglaterra (toc, toc) porque "Há 44 anos a seleção [uruguaia] não derrota uma equipe europeia em Copas do Mundo." "Há um tabu a ser superado", diz o repórter

Esses argumentos frequentistas são comuns no jornalismo esportivo; e há até quem veja na demonstração de "cultura esportiva" que essas análises demonstram (admiro quem alocou tempo e memória para hoje saber que times jogaram, onde e qual foi o placar na, digamos,  semi-final na copa do mundo de 1786) uma sinalização de erudição e maior qualidade jornalística esportiva. 

Quem viu os primeiros jogos de equipes como o Brasil, Espanha e Holanda, Alemanha e Argentina, certamente que tem uma distribuição posterior de resultados para essa copa muito diferentes do que uma projeção do passado recente sugeriria. No final, somos mais Bayesianos do que imaginamos.

2 comentários:

  1. Muito interessante. Mas se nem nossa política econômica é evidence-based, pedir que o jornalismo esportivo o seja é wishful thinking mesmo.

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  2. http://two-minutewarning.blogspot.com.br/

    Blog afiliado ao Esporte Interativo que tenta fazer uma análise mais séria e fundamentada do esporte (basquete, baseball e futebol americano, principalmente), em linha com muito do que se faz nos EUA. Recomendo!

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