terça-feira, 26 de agosto de 2014

A Miséria da Educação na América Latina


O jornal Estadão comentou, em editorial, o relatório do Banco Mundial sobre o estado calamitoso da educação na América Latina. O relatório está baseado em um conjunto inédito de dados envolvendo mais de 3.000 escolas e 15 mil salas de aulas em sete países da região. O relatório (em inglês) pode ser visto aqui. Do editorial:

Segundo o relatório, a maioria dos Professores de Educação básica na região tem baixo domínio técnico das disciplinas que ensinam, adota práticas pedagógicas ineficazes, faz uso limitado das novas tecnologias da informação, não consegue manter os Alunos interessados nas aulas e dedica apenas 65% de sua carga horária para atividades didáticas. O tempo restante é gasto com atividades administrativas.

Como recrutar bons professores?
Há muita informação interessante no relatório. Mas me chamou particularmente atenção o gráfico abaixo. Ele compila o que seriam as principais "forças" de atração de, e motivação para excelência em performance, dos professores. A figura é interessante porque fornece uma mapa que pode ser seguido pela pesquisa acadêmica na área interessada na avaliação de impacto de cada um dos elementos nessas classes de incentivos. De fato, o relatório menciona que há muito pouca pesquisa sobre o efeito da maior parte desses mecanismos. O pouco que existe é enormemente enviesado para a investigação dos incentivos financeiros, muito embora -- destaca o relatório (p. 40), as pesquisas em vários países sugerem que as recompensas profissionais são muito mais poderosas em induzir melhor performance dos professores (Canadá e Finlândia seriam ilustrações disso). 

Fica a dica para quem se interessa por "Economia da Educação" e está procurando "gaps" e perguntas "em aberto" na literatura para as quais contribuir. Tenha em mente, todavia, que continuaremos pouco sabendo sobre algumas dessas classes de incentivos porque parece praticamente impossível conseguir dados (experimentais ou não) que permitam alguma inferência causal.


Qual a função de produção do aluno?
Tem um trem curioso na figura acima. Ela está circunscrita à "função de produção" do professor. Isso parece sugerir que o problema central da autoridade educacional -- elevar a performance escolar dos estudantes -- passa exclusivamente pela adoção da combinação correta de "carrot & sticks" capazes de dar uma espécie de "choque" de qualidade no "insumo-professor". Mas e o estudante? O que o motiva a "performar" melhor? Será que existe algo que motiva alunos e induz melhor performance e é mais "cost-effective" do que muitos desses "professional rewards"? Não que essas tecnologias sejam substitutas perfeitas, mas é no mínimo estranho que virtualmente todo o debate sobre educação gire em torno de mecanismo indiretos de promoção de aprendizado e pareça ignorar o principal ator desse processo: o estudante.



3 comentários:

  1. E quando a gente pensa na educação como fonte de rent-seeking para pedagogos e professores?

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  2. Acho que, nesse caso, a idéia de fazer uma análise e propor políticas públicas deve se abster de consider as preferências dos indivíduos constantes.

    Um caminho bom seria justamente mudar as preferências dos alunos e dos pais quanto à educação (por ex: não adianta muita coisa botar o melhor professor pra dar aula se os pais não incentivarem o aluno a fazer lição de casa, todos os dias). Agora como fazer isso, não sei.

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  3. Excelente ponto. Não querendo ser o grumpy old man, mas a sociedade brasileira atual simplesmente não valoriza as coisas que (na minha opinião) deveria valorizar.

    Alguém levantou esse assunto num post anterior, sobre um comentário do Neymar na linha de "brasileiro é isso aí msm". Pq as crianças preferem treinar passinhos (google it) do que estudar? Pq "brasileiro é assim msm?". Sem entender isso, não tem como fazer a educação do país andar. Alguma sugestão de estudo, Sérgio?


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