terça-feira, 29 de julho de 2014

A Década Perdida


O Brasil melhorou ou piorou nesses últimos dez anos de governo petista? 

Embora seja um pergunta de óbvia relevância, as respostas a ela oferecidas na imprensa são quase que invariavelmente ruins. São ruins essencialmente por duas razões. Primeiro porque são feitas sob lupas ideológico-partidárias. E invariavelmente essas lupas focam apenas nas dimensões que favorecem um veredito apriorístico. Segundo porque mesmo quando politicamente neutras e lastreadas em dados, essas análises têm dificuldade em dar conta da multidimensionalidade desse tipo de avaliação e de estabelecer um contrafactual -- uma situação de referência de como estaria o Brasil na ausência da "intervenção" cujo efeito se quer analisar e contra a qual o Brasil sob o governo petista será julgado.

Um texto para discussão da PUC-RJ produzido pelos pesquisadores Vinicius Carrasco (PUC), João Manoel Pinho de Mello (Insper) e Isabela Duarte (PUC) procura construir esse contrafactual e, contra ele, avaliar o desempenho de uma série de variáveis sócio-econômicas do Brasil ao longo dos últimos dez anos de governo. O artigo pode ser lido aqui.

Método de controle sintético 
Simulando uma investigação experimental, o artigo trata a chegado do PT ao governo em 2002 como um "tratamento" e procura, usando o método do controle sintético*, construir um Brasil hipotético sem o PT que sirva de "condição de controle". Esse grupo de controle será formado por uma série de países emergentes e esse Brasil hipotético sem o PT (que seria o "Brasil sintético"), como proposto pelo método, será construído a partir de uma combinação convexa das variáveis relevantes dos países com maior similaridade ao Brasil (numa dada dimensão) antes da chegada do PT ao poder. A ideia aqui é que uma combinação de países oferece um contrafactual melhor do que um ou outro.

Conquanto esse tipo de inferência esteja, como qualquer outro método de inferência, sujeita a críticas (é possível argumentar, por exemplo, que as comparações produzidas podem ser sensíveis à extensão do período de pré-intervenção utilizado para eleger os candidatos do grupo de controle a partir do qual será construído o contrafactual sintético), essa é sem dúvida uma das avaliações mais rigorosas do governo petista que foram feitas.

Década perdida



Ao longo do artigo, os autores fazem uma avaliação comparativa de dezenas de variáveis macro e microeconômicas -- de crescimento econômico, passando por geração de energia elétrica, até segurança pública. Em várias dimensões, os resultados mostram que melhoramos, mas menos do que o melhor grupo de comparação. O trecho abaixo me parece resumir bem a mensagem do artigo:
Por que então o nítido aumento na sensação de bem‐estar, refletido em, entre outras coisas, na reeleição do presidente Lula em 2006 e na eleição da presidente Dilma em 2010? Porque os indicadores mostram que o país melhorou. O eleitor típico, mesmo que racional, talvez tenha dificuldade de avaliar o contrafactual. A década foi perdida no contrafactual e não no factual. Portanto, nossos resultados são perfeitamente compatíveis com o sucesso eleitoral do PT na década de 2000. Em suma, crescemos menos e assentamos bases mais frágeis para o futuro do que países similares. Nesse sentido, perdemos a década.

Luz para a "nova direita"

Talvez os autores desejem uma audiência mais acadêmica e qualificada para o texto que produziram. Mas tomo a liberdade de sugerir que o mesmo seja leitura obrigatória (também) das pessoas que, sob os mais diferentes rótulos (liberais, libertários, anarco-capitalistas, conservadores), mas unificados pelo sentimento anti-petista, andam panfletando ativamente contra o Partido dos Trabalhadores na internet.

Não que seja imerecido o "stick" que o PT recebe; nem também que não seja bem-vinda e desejável a promoção das ideias liberais de respeito às liberdades civis, de livre-mercado e de menor intervenção estatal na sociedade. Mas confesso que é um pouco deprimente ver essa bandeira -- forjada dentro de um movimento que defendia o uso da razão (iluminismo) -- ser carregada como uma arma anti-petista cuja munição não emana da análise da evidência empírica, mas simplesmente da repetição cega de mantras liberais -- quase que como uma espécie de culto que replica práticas comuns do movimento simétrico oposto que criticam. Se vai ser anti-esquerda por uma via liberal, que seja com lastro empírico. E os resultados do exercício acima oferecem munição empírica para quem deseja apontar as deficiências dos últimos dez anos de governo.

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* Para quem se interessar pelo método de controle sintético, uma descrição dele pode ser encontrada aquiaqui. Informação sobre pacotes estatísticos que implementam o método pode ser visto aqui.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

O paradoxo do suco


Minha esposa (que também é economista) levantou uma questão interessante. Para fazer um copo de suco de laranja são necessárias entre 3 e 4 laranjas. Mas para fazer um copo de suco de limão precisa-se de apenas um limão. O resto é água, mais um pouco de açúcar ou adoçante. Ou seja, custa mais fazer suco de laranja. Então por que cargas d'água vários restaurantes cobram o mesmo preço para ambos? Em geral, há apenas uma entrada nos cardápios dizendo "sucos", com um único preço.

Pensamos na seguinte história, que tem a ver com custo de menu (e aqui é menu mesmo). Mas não como nos modelos novo-keynesianos, em que há um custo de imprimir um novo catálogo, fazendo com que os preços fiquem parados mesmo na ocorrência de choques (pequenos). Nesse caso, o custo é o de incluir múltiplas linhas no cardápio.

E não é apenas o custo direto de ter páginas adicionais. Imagino que um cardápio muito longo seja confuso e dificulte a vida do estabelecimento em comunicar o principal: informações sobre a comida. Afinal, é a comida que diferencia um restaurante dos outros, e não o suco.

Para essa história fazer sentido, é preciso que o custo de produzir e entregar o produto seja parecido para os sucos de laranja e limão (isso é análogo ao caso dos modelos novo-keynesianos, em que os choques precisam ser pequenos para que o preço permaneça rígido). Em outras palavras, o custo da fruta tem que ser um fator pouco importante em comparação a outros custos como mão de obra, remuneração do capital, energia, aluguel etc. 

***

Outra coisa meio esquisita nesse caso. Água é mais barata que suco em restaurantes. Mas se você pedir limão espremido junto com água, em geral não há acréscimo no preço. Em alguns casos, a quantidade de limão espremido é substancial. Peça, ainda, um pouco de açúcar ou adoçante (que também não têm cobrança extra) e pronto: você tem uma limonada pelo preço da água.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Venda de lugar na fila: a ilegalidade dos "mercados de tempo"?


A Polícia Civil de São Paulo deteve quase trinta pessoas por aplicar golpes nas redondezas do consulado  dos EUA. Algumas foram presas por venderem lugar na fila do consulado. A matéria foi publicada no jornal Folha de São Paulo e pode ser vista aqui.


Free markets are evil
Até onde se sabe, essas transações eram absolutamente voluntárias: quem quisesse enfrentar a fila para tirar o passaporte -- caso da maioria, suspeito -- era livre para assim o fazê-lo. Não é claro qual contravenção estava sendo cometida aqui.

O mais interessante é que os indivíduos presos serão processados por "exercício ilegal da profissão". Digo interessante porque não dá para entender como uma atividade sem representação profissional e para a qual nenhuma certificação de habilidade ou conhecimento específico é exigida, pode ser tipificada como violação de algo que não é.

Ponte imaginária

Hoje no almoço uma colega comentou sobre a construção de uma ponte (para pedestres e bicicletas) entre o Parque Villa Lobos e a USP. Achei muito estranho, pois passo por esse local quase todo dia, e nunca vi nada que indicasse algo do tipo. Suspeitei que fosse mais uma lenda urbana mas resolvi fazer um google. Apareceu uma notícia do G1, ou seja, aparentemente o negócio é sério. Ao ler a matéria, notei o seguinte trecho:
(...) a ciclopassarela deverá ter aproximadamente 500 metros de extensão; a estimativa é que ela fique pronta no início de 2014. [grifo meu]
A notícia é de 12/12/2012. 

Bellman e o restaurante por kilo da FEA


No restaurante por kilo da FEA, a ordem da comida está errada! Seguindo a fila, os acompanhamentos (arroz, feijão, batata, ...) vêm antes das misturas (carne, frango, peixe). Tem que ser o contrário! É a mistura que eu escolho que define o acompanhamento que eu vou pegar! Hoje, depois de colocar arroz e feijão no prato, vi que o peixe tava com uma cara boa. Aí, já era, peixe com feijão não dá. Se a ordem não mudar, vou começar a me servir no sentido contrário. Obrigado, Bellman.

Que Ata !

Sempre cochilo lendo as Atas do Copom. É bem chata a leitura, e repetitiva.
Pois eu ia lendo essa última, às vezes acordado, às vezes não, quando cai no item 31.
Os caras dizem com todas as palavras: "ei, não vou derrubar juro não enquanto inflação não convergir!"

Humm...

Faria sentido subir um pouco mais esse juro aí. Nas minhas estimativas ele está no neutro. Mas prometer não cair já ajuda, até porque a curva inclina e o que importa para demanda é juro longo, de mercado. Ok, Tombini, mas veja lá hein! Não pode reduzir a Selic se a inflação (fingers crossed) em 2016 embicar para 5,5%. Não dá pra dizer "esqueçam o que eu escrevi", beleza chefe?  

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Deu ZERO

Três equações: IS, Felipe, Regra de Taylor.
Na Felipe e na IS é: PIB - PIB_potencial
PIB_potencial é não observável, estimado via Kalman filtro.
Como juro cai em tendência e PIB também, eu forço um random walk nas equações de estado (se não a estimação cospe uma reversão à média): meto um 0,99 na marra.
Aí me sai o seguinte PIB potencial nos últimos 4 trimestres: ZERO

Cai o juro?

Não deveria.
A inflação em 12 meses ainda está alta, apesar de ter moderado um pouco -- anda perto do teto de 6,5%, parece que não quer sair de lá (o fiscal não deixa ela sair de lá).
E a desaceleração da atividade não tem a ver com politica monetária dura, porque dura ela não está. No máximo neutra. Talvez um pouco frouxa até.
A confiança do empresário faz uma curva com primeira derivada negativa e segunda derivada também negativa. Assustador. Não é juro, é medo, receio de investir num país governado por um pessoal que faz quase tudo errado.
7 de inflação e 1 de crescimento no primeiro ano de Dilma II não me surpreenderia. 7 a 1 é foda.
Antoninho???

Avião vs. carro


Mais um acidente de avião (aqui). Dessa vez, uns 50 mortos. Falam por aí que avião é muito mais seguro do que carro. Mortes por viagem, mortes por distância viajada, qualquer estatística é amplamente favorável aos aviões. Só que eu acho que essas contas são meio capengas. 

Suponho que uma grande parcela dos mortos em acidentes de carro estavam ou bêbados, ou dirigindo em estradas perigosas de noite, ou em alta velocidade, ou algo do tipo. Os aviões, por outro lado, são sempre, ou quase sempre, pilotados por profissionais. Então, se eu não dirijo bêbado, não dirijo em estradas perigosas de noite, não dirijo em alta velocidade, etc., as comparações por aí são no mínimo injustas. Minha chance de morrer num acidente de carro tem que levar em conta que eu dirijo num "safe mode".

Talvez, mesmo controlando para tudo isso, o avião continue mais seguro que o carro. Mas eu gostaria de ver essa conta.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Lula no Show de Calouros

Campanha presidencial de 1989. Como acabar com a inflação? Calote na dívida (faz sentido para aliviar a pressão fiscal), baixar os juros (provavelmente não dá para fazer junto com default na dívida) e reforma agrária (?).

Parte 1



Parte 2



segunda-feira, 21 de julho de 2014

Neymar e a produtividade brasileira


As diferenças de produtividade entre países são gigantescas. Isto é, com uma mesma quantidade de insumo, países ricos geram muito mais produto que países pobres.

Mas o que está por trás disso? Uma possibilidade é que as quantidades observadas de insumo não reflitam exatamente as quantidades efetivamente empregadas na produção. Por exemplo, nos países ricos, o sistema de incentivos é tal que, para uma mesma hora de trabalho, as pessoas fazem mais esforço e portanto produzem mais.

Em uma entrevista recente, Neymar fornece uma pista disso para o caso do futebol brasileiro:
Todos os treinos lá [na Europa] são levados sempre a sério. No Brasil, é diferente. Você treina mais, mas, às vezes, você treina de corpo mole. O brasileiro é assim.
A frase "brasileiro é assim", contudo, é meio estranha. O esforço mais baixo parece ser resultado de um fator intrínseco local, e não da nacionalidade das pessoas. Afinal, quando jogam na Europa, os brasileiros tendem a se adaptar ao regime de menos treinos, porém mais intensos.

Em outra entrevista, Neymar ressalta outra possibilidade para tais diferenças de produtividade, ainda no contexto do futebol: formação deficiente da mão de obra (o equivalente a baixa qualidade da educação):
Quando se está na base… eu aprendi os fundamentos, e eu fazia coisas em casa que no treino não fazia, ou aprendia de maneira errada. Estava conversando com meu pai hoje até, e comentei: "lembra como eu fazia no campinho de casa, de fundamentos e tal", e ele falou: "lembro". Ele foi um dos caras mais importantes da minha vida, melhor que muitos treinadores que tive, aprendi mais com ele em casa do que com muito treinador. A gente acaba aprendendo de forma errada.
Claro, essa discussão não toca na questão fundamental: o que explica essas diferenças de esforço e qualidade educacional (tanto no futebol, como de forma geral)? Não tenho uma resposta para essa pergunta, mais sei que não é "porque o brasileiro é assim".

Fontes: Folha e UOL 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Pobreza e escola pública: o pesadelo de Einstein


Economistas da área de desenvolvimento sempre foram fascinados pelo que chamam de "armadilha da pobreza" -- um círculo vicioso que condena economias a persistirem no subdesenvolvimento.

Há todo uma família de modelos econômicos tentando reproduzir esse tipo de dinâmica perversa. Os mecanismos são os mais variados: falta de crédito, escassez de oportunidades de diversificação de risco, tributos pesados e regressivos, infraestrutura capenga, benefícios sociais que incentivam a permanência na pobreza, disparidade de crescimento populacional e renda, condições iniciais ruins. E, claro, dificuldades à acumulação de capital humano, como por exemplo, uma sistema educacional deficiente. 

A escola pública brasileira: O anti-toque de Midas
Poucos sistemas públicos de educação (público no sentido de financiamento, não de acesso) fornecem melhor ilustração de como uma educação ruim pode funcionar como uma poderosa máquina de pobreza do que o brasileiro. Há abundante evidência de que a escola pública brasileira tem falhado miseravelmente na missão de ensinar ao menos competências básicas aos seus alunos e alunas (no que é mais vital: língua portuguesa, ciências e matemática); não é exagero dizer que as pessoas de origem desafortunada que por essa escola passaram, dificilmente se encontrarão em situação diferente ao longo de sua vida adulta -- uma situação que frequentemente se perpetua na geração seguinte. Não que a conclusão do ensino médio apenas, por melhor que fosse, garantisse o acesso a postos de trabalho com remuneração relativamente elevada. Mas o problema não é apenas que a escola pública oferece instrução aquém do que seria desejável; ela está funcionando como uma verdadeira máquina de destruição de capital humano.

Analfabetos funcionais
Uma evidência desse efeito atrofiante da escola pública pode ser visto no que foi noticiado hoje. Segundo o último levantamento do Todos pela Educação, há falhas terríveis no processo de alfabetização das crianças: apenas 30% dos alunos no terceiro ano do ensino fundamental sabem ler e escrever (a matéria pode ser vista aqui). Há uma matéria ilustrativa do Bom Dia Brasil mostrando alguns dos erros que esses alunos, alguns com mais de dez anos de idade, ainda cometem (vídeo aqui). 

Nem Einstein escaparia
É como eu costumo dizer aos meus alunos: não há nenhum mecanismo mais poderoso em criar/perpetuar a pobreza do que a escolarização oferecida rede pública de ensino brasileiro. Só casos hiperanômalos (em termos de inteligência, drive e willpower) escapam dessa que é, a rigor, uma tremenda armadilha da pobreza.

De fato, é razoável admitir que indivíduos dotados de elevados níveis de habilidade cognitiva, esforço e motivação intrínseca, conseguissem por conta própria superar essa força destrutiva da escola pública brasileira. O que, mesmo que verdade, não significaria que deixaram de ter todo ou boa parte do seu potencial aprendizado e desenvolvimento cognitivo comprometido. 

A título de ilustração disso, sempre penso que tivesse o jovem Albert Einstein sido educado na escola pública brasileira como hoje está, é certo -- eu imagino -- que ele obteria um cargo bem remunerado e gozaria de mais conforto material do que tinha quando criança (ele era um aluno pobre, falava com pouca fluência e seus professores achavam que sofresse de retardo mental), mas talvez nunca soubéssemos -- pelo menos por ele -- da equivalência entre massa e energia, da constância da velocidade da luz e da relatividade do tempo...


Sistema de vouchers
Já não é mais nenhuma novidade que o sistema público de ensino precisa de uma radical reforma. Eliminar as barreiras que hoje fazem da escola pública essa máquina de atrofiamento intelectual e destruição de "capital humano" terá ao menos dois potenciais benefícios. Um é o de impedir que indivíduos pobres se vejam condenados a pobreza por não terem adquiridos treinamento que os capacitem a serem produtivos e a ocuparem postos bem remunerados de trabalho. O outro -- um mero corolário do primeiro -- é o de ajudar a economia brasileira a aumentar sua produção; aumentando a renda média, é provável que mitiguemos alguns dos nossos problemas sociais também.

Mas como reformar? Esse é um assunto que merece uma discussão muito mais longa do que farei aqui -- envolve discussões sobre a formação dos professores, o desenho dos cursos de pedagogia, a remuneração da carreira, etc. Mas  como várias das deficiências da escola pública derivam-se da natureza estatal do provedor, me parece natural aceitar que tais reformas envolveriam também a transferência da administração das escolas para a iniciativa privada, com a autoridade educacional operando um sistema de certificação, monitoramento e avaliação/ranking das escolas. O poder público, no cumprimento de suas obrigações constitucionais, proveria vouchers (uma espécie de cheque com o fim específico de pagar a anualidade escolar) para as famílias, deixando-as livres para decidirem onde colocar seus filhos. Infelizmente, isso não faz parte, até onde sei, do programa de governo de nenhum candidato ao, ou incumbente de, cargo do poder executivo.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Sugestão de Leitura


Agradeço ao Nakaguma pela indicação. Imperdível para quem quer ser um líder.

Mapas de calor II

Em um post anterior eu tinha colocado a seguinte figura:





Ela mostra o mapa de calor de Fred, em Brasil 1-7 Alemanha. Escrevi que a figura indicava que Fred ficou parado na maior parte do jogo. Apesar de isso ser verdade, não é o que a figura necessariamente sugere. O círculo no centro do campo diz que ele tocou várias vezes na bola ali, basicamente para dar a saída de jogo (depois dos vários gols que o Brasil tomou e no início de um dos tempos). Essa foi sua principal contribuição durante a partida.

Abaixo o mapa de calor do atacante do time perdedor em outra goleada humilhante: Roberto Soldado (jogador do Tottenham Hotspur), em Manchester City 6-0 Tottenham pela Premier League (24/11/2013). Muito semelhante ao de Fred.



terça-feira, 15 de julho de 2014

Onde fui roubado



Vale a pena conferir o site:


Nele, as pessoas podem informar que foram roubadas e fornecer detalhes do roubo, como localização exata, tipo de crime e objetos roubados (incluindo uma estimativa do valor dos mesmos). 

Essas informações podem ser úteis para complementar os dados oficiais, pois várias pessoas deixam de reportar crimes por acreditarem que a polícia não fará nada para solucioná-los. Para a cidade de São Paulo, cerca de 50% dos crimes reportados ao site não tiveram Boletim de Ocorrência.

Claro, tem muita seleção nesse dado também. Uma amostra disso é a distribuição de crimes (reportados ao site) entre os bairros de São Paulo. Abaixo os 10 mais "violentos" (em termos de fração de roubos nos últimos 90 dias):

1 
Pinheiros
3,0%
2 
Consolação
2,6%
3 
Vila Mariana
2,5%
4 
Bela Vista
2,0%
5 
Butantã
1,9%
6 
Ipiranga
1,8%
7 
Liberdade
1,5%
8 
Santo Amaro
1,4%
9 
República
1,2%
10 
Saúde
1,0%


Note que não há nenhum bairro da periferia, onde a violência é conhecidamente mais elevada. Provavelmente, as pessoas estão mais informadas sobre o site nos bairros mais centrais da cidade (ou possuem mais acesso à internet).

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Camisa ganha jogo?


Brasil, Alemanha, Argentina, Itália. Essas são as camisas mais "pesadas" do futebol mundial. Já vi muita gente argumentar que isso às vezes é suficiente para ganhar jogos. Um exemplo seria o time sofrível do Brasil, que conseguiu chegar às semis da Copa de 2014.

Um jeito de recolocar esse argumento é o seguinte: em um embate equilibrado (dois times muito próximos em termos de qualidade), a equipe com camisa mais pesada tem maior probabilidade de terminar vencedora.

Não sei se acredito nessa história -- pode simplesmente ser que essas seleções tenham equipes em média melhores ao longo dos anos. Mas acho que dá para racionalizá-la usando um pouco de teoria econômica.

Suponha que, a priori, acredite-se que seleções mais tradicionais têm de fato vantagem (controlando por qualidade do time). O adversário sem tanta tradição, acreditando nisso, entra no jogo respeitando demais, com medo, menos confiança, sei lá, alguma coisa que prejudique seu desempenho. Isso acaba beneficiando o time com camisa mais pesada, que vence com maior probabilidade. Ao longo dos anos, observa-se que as equipes tradicionais ganham mais jogos, o que confirma a crença inicial.

Ou seja: temos uma profecia auto-realizável.

Nesses casos de profecias auto-realizáveis, há tipicamente múltiplos equilíbrios. Um choque pode levar a outro equilíbrio, no qual a crença inicial é diferente, desfazendo portanto a vantagem do time tradicional. Levar 7 gols em uma semi-final pode ser esse choque.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Mapas de calor

Mapas de calor fornecem uma ideia de como um time de futebol (ou um jogador em particular) ocupou os espaços do campo durante um jogo. As figuras abaixo ilustram a diferença entre Alemanha (esquerda) e Brasil (direita) no massacre da última terça-feira:


Abaixo o mapa de Fred, paradão no centro do campo na maior parte do tempo:


E finalmente, David Luiz, all over the place:



Fonte: babb.telegraph.co.uk. Vale a pena ler o artigo inteiro, que traz mais evidências visuais sobre a tragédia do Mineirão. 

(Agradeço ao Sergio Almeida pela dica).

Técnico estrangeiro na seleção?

Trecho de entrevista de Luiz Felipe Scolari:
Hoje é muito difícil fazer um jogador da seleção jogar no nosso estilo. Eles têm saído cada vez mais cedo do Brasil, aprendem o jeito de jogar dos estrangeiros e quando se apresentam à seleção têm dificuldade para jogar como brasileiros.
Parece-me um bom argumento para contratarmos um técnico estrangeiro.

Fonte: esportes.estadao.com.br

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Um olhar "gringo" sobre a derrota brasileira


Interessante ver a reação dos estrangeiros sobre a derrota brasileira para a Alemanha. Segue uma coleção de comentários populares ao artigo sobre o jogo na BBC:

"The most impressive thing about this German side?
Not Klose becoming top scorer....
Not the clinical finishing.....
Not the incredible football which made Brazil look ordinary.
It was their reaction in the last 10 minutes when they conceded. The game was won an hour ago but they were FURIOUS at losing their clean sheet.
Professionalism personified."

"Mourinho may have done the deal of the century selling David Luiz to PSG for £50 million. Was at fault for some of the goals, made dangerous tackles and constantly elbowed the German players in the face all night. What an abysmal player."

"At least England fans generally know we are mediocre and the group stage exit wasn't a huge surprise. Everyone (mainly the BBC) had been hyping up Brazil, saying it was their 'destiny' to win the World Cup on home soil, despite their cynical, dirty play and not much else. It's like finally, Germany served some natural justice. Brazil were a fraud, and never worthy of an semi-final spot."

"Germany;
No mega media stars
No self-aggrandizing, self-appointed fashion icons with stupid haircuts
No prima donnas
No stupid, undignified dancing celebrations
No self-mutilating, tattoo festooned look-at-me idiots
No diving or fouling (... well maybe some)
Just a good team"

"Brazil have been absolutely rubbish all tournament. They act like a bunch of prima donnas but have done absolutely nothing to back all that nonsense up. They walked into the World Cup thinking that they had already won and have been completely humiliated as a result. They've let their country down and only have themselves to blame. I hope Germany win, great team, great country."

"Not entirely sure how Germany managed to beat Brazil. All the Brazil players passionately sung their anthem, whereas half of the Germans didn't bother singing at all. Perhaps it has more to do with ability and tactics after all."

"The biggest shock is how so many journalists are now - now! - telling us how rubbish this Brazil team were. A lot of us have been saying that since the Confed cup last year. Despite winning, that tournament showed (most of us, but not the journalists!) how poor Brazil now were."

"Brazil were undeserving of a semi-final place and karma has finally caught up with them. The referee was also very generous not to send David Luiz off for more elbowing and not to book Hulk, Oscar and Maicon for embarrassing dives. If there is such a thing as the opposite of captain's performance then Luiz displayed it last night! You don't get much for £40m these days..."

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Expectativas e atividade econômica

As expectativas dos produtores e dos investidores estão em queda livre. Uma curva com segunda derivada negativa. A atividade econômica -- hard data -- também anda cambaleante. Produção e comércio enfraquecendo bem na alta frequência. Duas teses: as expectativas ruins derivam de uma atividade real desanimadora. Ou: as expectativas ruins causam menos investimento, menos consumo, menos produção. Acho que é a segunda. Primeiro porque econometricamente os testes indicam ser essa a precedência temporal. Segundo, e mais importante: se fosse a primeira historia, por que diabos a atividade estaria despencando pra começar a brincadeira??? O juro só agora chega ao neutro, a politica fiscal segue expansionista, e choque externo acentuando-se no período recente não se vê.

Mataram a confiança, e isso causou a queda na atividade.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Expectativas

A Copa é um sucesso entre os gringos. Um levantamento feito pelo UOL junto a jornalistas estrangeiros revela que 38,5% acreditam que a atual edição do Mundial é a melhor de todos os tempos (veja aqui a matéria).

A mesma matéria cita o pesquisador europeu David Ranc, dizendo que a organização da Copa é melhor que a dos Jogos Olímpicos de Londres (2012):
Foram meses, se não anos, de notícias negativas sobre a Copa do Mundo de 2014. Antes de o evento começar, prometeram caos absoluto no Brasil. Os estádios não estariam prontos a tempo, e os espectadores deviam ser impedidos de viajar para as cidades porque a infraestrutura não estaria pronta ou porque os brasileiros não deixariam de protestar. Muitos comentários classificaram brasileiros como preguiçosos, não patrióticos e não confiáveis. E a menos que eu esteja enganado, nada disso aconteceu até agora.
Será que essa percepção vem do fato de as expectativas iniciais serem muito baixas (como muita coisa em Economia, o que importa é o desvio em relação ao inicialmente esperado)? Se esse for o caso, há uma vantagem em deixar tudo para a última hora.

terça-feira, 1 de julho de 2014

O Facebook está certo ou errado?


Tornou-se público nos últimos dias que o Facebook fez, secretamente, alguns experimentos com seus usuários. Durante o período de uma semana em Janeiro de 2012, usuários da rede social fizeram parte de um estudo que investigava como a exposição a emoções positivas ou negativas afetavam o conteúdo do que esses usuários posteriormente postavam. O estudo foi feito em parceria  com professores da Universidade de Cornell e Califórnia em San Francisco e envolveu cerca de 689 mil usuários. 

Quais as conclusões do experimento? 
O artigo com o resultado do experimento foi publicado na última edição da PNAS, a revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA. Os autores acharam evidência no experimento de que existem algum grau de contágio emocional entre as pessoas mesmo sem interação física, puramente via expressões verbais na rede. O gráfico abaixo mostra os resultados do experimento. Veja que os usuários que estavam no tratamento em que os posts com conteúdo emocional positivo no feed de notícias foram reduzidos (barras da direita), as atualizações de status dessas pessoas tiveram um percentual de palavras negativas relativamente maior. O contrário aconteceu com as atualizações de status do subgrupo que teve conteúdo negativo no seu feed de notícias reduzido.


Os próprios autores reconhecem, entretanto, que o efeito é mínimo, com as pessoas postando uma palavra com conteúdo emocional a menos, por blocos de mil palavras, ao longo da semana de observação. O artigo completo pode ser visto aqui.

Violações éticas?
A questão agora é: o Facebook violou as regras do "Termos de Uso" que seus usuários "assinam" ao aderir à plataforma? Economistas "experimentais" acharão a questão, suspeito, extremamente interessante. A resposta não é óbvia, penso. Antes de dizer o porquê, algumas breves digressões.

Pesquisa com serem humanos
Uma série de pesquisas  médicas desastrosas ao longo dos últimos cinquenta anos deram forma aos códigos de conduta que hoje regulam todo e qualquer tipo de pesquisa envolvendo seres humanos. 

A mais famosa delas é o "Estudo de Tuskegee", no qual cerca de 399 afro-americanos do Alabama com Sífilis, foram intencionalmente não diagnósticados com a doença (a Penicilina ficou disponível nos anos 50...) e até mesmo impedidos de buscar tratamento a fim de que a equipe do Serviço Público de Saúde dos EUA (responsáveis pelo experimento) investigassem as consequências de longo prazo da doença quando não-tratada. A maioria dos "subjects" no grupo de tratamento (i.e., infectados) morreram e várias filhos desses nasceram infectados com a doença. O experimento foi interrompido em 1974 por denúncia de um membro da equipe. O estudo serviu para "raise awareness" da necessidade de proteger seres humanos (anos depois, algumas dessas regras começaram a ser estendidas para pesquisas com animais) de experimentos médicos e de obter o consentimento informado deles e garantir a natureza voluntária da participação nessas pesquisas.

Em 1997, em nome do governo americano, Bill Clinton pediu perdão e indenizou os sobreviventes e familiares das vítimas do experimento de Tuskegee (ver vídeo aqui).

O Relatório Belmont e o início dos Institutional Review Boards (IRBs)
Como diz o provérbio, há males que vêm para bem. Como resposta ao horror do experimento de Tuskegee, o congresso americano aprovou um "National Research Act" e montou uma comissão de ética para pesquisa comportamental e biomédica com seres humanos. Essa comissão produziu o "Relatório Belmont". Esse relatório define uma série de princípios para pesquisa com seres humanos que foi a base de uma série de normas de conduta e criação de "Review Boards" para esse tipo de pesquisa que se tornaram práticas comuns nas universidades e instituições de pesquisa de todo o mundo. O Brasil começa a "catch up" com a prática (a resolução do Ministério da Saúde que trata do assunto é de 1996 e a resolução mais atualizada sobre o assunto é de 2012). Há aqui na FEA/USP, por exemplo, um comitê desse tipo sendo formado. Mas ainda é absolutamente incomum pedir que os pesquisadores brasileiros envolvidos nesse tipo de pesquisa obtenham algum tipo de certificação básica de que conhecem os "guidelines" éticos a serem adotados no desenho da pesquisa, na coleta e no tratamento dos dados resultantes. We'll get there.

Que protocolos éticos pesquisas com seres humanos, como a do Facebook, devem seguir?
Há obviamente pequenas variações nos códigos de conduta para pesquisa com seres humanos de instituição para instituição. Mas há alguns princípios fundamentais comum a todos esses códigos. São princípios que emanam do Relatório Belmont que estudos como esse do Facebook supostamente deveria seguir. Dois deles são importantes para entender se o estudo do Facebok representa uma violação ética:

Princípio do respeito: solicitação de consentimento, divulgação aos participantes da natureza da pesquisa; certificação de compreensão e respeito à natureza voluntária da decisão de participar.

Princípio da beneficência: minimizar riscos e tentar maximizar benefícios dos "subjects" participantes.

Não enrola: o Facebook tá certo ou errado? 
À primeira vista, parece que o Facebook errou feio mesmo: não pediu consentimento para essa pesquisa e fez uma espécie de manipulação sentimental do feed de notícias dos participantes do estudo, expondo-os, argumenta-se, a potenciais danos psicológicos. Mas uma olhada mais detalhada nos "Termos de Uso" da plataforma torna a questão um pouco cinzenta.

Na seção "Como usamos as informações que recebemos", o Facebook deixa claro que, ao aderir aos termos de uso da rede, o usuário está consentindo com o uso de dados para fins de pesquisa. Essa sessão deixa claro os vários usos que podem vir a ser feitos com seus dados.

Códigos éticos de conduta em pesquisas experimentais frequentemente estabelecem que o "consentimento informado" deve envolver a divulgação para os potenciais participantes (a) do procedimento de pesquisa, (b) do propósito e (c) dos riscos e benefícios potenciais envolvidos. É possível argumentar que o consentimento implícito na adesão aos "Termos e Uso"do Facebook não provê esse tipo de informação, que varia de experimento para experimento -- e o Facebook "roda" experimentos em sua plataforma todo o tempo. Mas aí entra uma complicação comum na questão da obtenção do consentimento: e se a divulgação dessas informações destruir a validade da pesquisa (por causa, por exemplo, do chamado "Hawthorne effect")?

Riscos mínimos
Quando a provisão de "consentimento informado" ameaça a validade do estudo, é comum que um consentimento mais fraco, que apenas indica aos participantes que eles podem estar participando de uma pesquisa -- como especificado nos Termos de Uso do Facebook --, seja aceitável desde que:

(1) a divulgação apenas parcial de detalhes da pesquisa seja realmente necessária para a consecução de seus objetivos científicos;

(2) não existem riscos aos participantes que sejam "mais do que mínimo" -- o que é geralmente interpretado como significando que a probabilidade de danos físicos e psicológicos ao participar do estudo não é maior do que aquela encontrada normalmente nas nossas atividades diárias.

(3) existem planos para divulgar os resultados aos participantes.

No harm, no foul
Minha avaliação é que o experimento em debate no Facebook não cometeu nenhuma violação das normas de conduta que geralmente são requeridas para esse tipo de pesquisa. Por três razões:

Primeiro que é aceitável que os "Termos de Uso" da rede já configurem como consentimento informado suficiente para experimentos desse tipo.

Segundo que a pesquisa claramente não envolve risco mais do que mínimo. É verdade que o experimento envolvia algo mais do que a simples coleta de dados; envolvia controlar o conteúdo emocional do feed de notícias de seus usuários a fim de testar se o "sinal emocional" desse conteúdo afetava na mesma direção o "sinal emocional" do que o usuário postava na sua atualização de status. O argumento dos pesquisadores e do Facebook era de que a pesquisa ajudaria a entender o impacto emocional do Facebook e como a exposição a conteúdo negativo afeta a permanência/uso dos usuários na/da rede.

É possível fazer o ponto que o Facebook não tem informações médicas sobre seus usuários e que no meio desses 700 mil participantes houvesse "indivíduos vulneráveis" (deprimidos, suicidas, psicóticos etc), para os os quais a exposição a notícias emocionalmente negativas poderia "disparar" ações de consequências nefastas para si mesmo e para outrem. Mas essa parece uma conjectura de improvável veracidade dado que os filtros aplicados sobre o feed de notícias das pessoas nessa pesquisa envolviam simplesmente a omissão de posts com mais ou menos positividade emocional que entrariam no feed de notícias delas de qualquer forma. Seria difícil comprar, portanto, a tese de que isso expôs os participantes do experimento a algum risco que já não estivesse presente no uso da plataforma mesmo na ausência da intervenção experimental.

Terceiro que os resultados foram divulgados e os usuários e o próprio Facebook podem agora se beneficiar desses resultados -- optando por "filtros emocionais" tanto de notícias quanto de conteúdo comercial que podem vir a serem criados. Não que potenciais benefícios da pesquisa justifique não obter o devido consentimento informado das pessoas que participam desse tipo de pesquisa, mas não me parece que os experimentos administrados pelo Facebook ofereçam risco que tornem anti-ético a não adoção de procedimentos mais detalhados de obtenção desse consentimento para além do que o usuário já é informado nos "Termos de uso" do serviço.

Auge e declínio do Facebook
Mesmo que não tenha cometido nenhuma violação ética e que "rode" experimentos todo o tempo em sua plataforma, o fato é que os usuários não ficarão felizes com a ideia -- agora mais pública do que nunca -- de que são "ratos de laboratório". Talvez a empresa deve-se adotar procedimentos para tornar mais explícito a participação em certos experimentos. Me parece que o risco de invalidar um ou outro estudo é mais aceitável e menos custoso do que se deparar com a crítica que agora recai sobre ela e os riscos de aumentar o que muitos dizem ser inevitável nesse ramo: o abandono dos usuários e eventual "morte" da plataforma.