Em que pese o tamanho relativo de sua economia no mundo, o Brasil é um país isolado com influência internacional praticamente nula. Nada genuinamente brasileiro foi sequer coadjuvante dos desenvolvimentos técnico-científicos que estão por trás do progresso material e sócio-institucional que boa parte do mundo livre vem experimentado ao longo do último século*.
Nada disso deve soar surpreendente. Da mesma mentalidade donde emanam os valores culturais que explicam parte das barreiras econômicas que isolam o Brasil das correntes comerciais e dificultam a atividade empreendedora, também emanam os grilhões ideológicos que mantêm as universidades brasileiras dependentes do dinheiro do contribuinte e fazem delas quinhões de irrelevância acadêmica no cenário internacional.
CABEÇA DE SARDINHA
É verdade que os indicadores de ciência brasileiros têm melhorado. No período de vacas gordas, quando a economia crescia à taxas anualizadas de 5%, o gasto em ciência e tecnologia aumentou e a produção científica brasileira esteve entre as que mais cresceram no mundo (ver gráfico abaixo). Se falou até que o Brasil seria uma “força científica emergente” e há quem se regozije com o fato de o Brasil ser o powerhouse científica da região, responsável que é por mais da metade da produção científica dessa intrigante região que é a América Latina.
Mas a influência brasileira no mercado de “Global science” é ainda bem pequena: os artigos dos pesquisadores brasileiros são relativamente pouco citados e a fatia brasileira na produção científica mundial ainda é de menos de 2% (ver gráfico abaixo). Isso não deveria surpreender quando observa-se que cerca de metade dos artigos brasileiros ainda são escritos em português – provavelmente é mais, dado que muito dos “veículos”de publicação do que é feito nas universidades brasileiras não são capturados pelas bases bibliométricas globais.
INTERNACIONALIZAÇÃO PARA INGLÊS VER?
Em 2011 a revista The Economist publicou um artigo (aqui) comentando do esforço que a FAPESP e algumas universidades paulistas estavam fazendo para atrair as estrelas do mundo científico e pesquisadores de alto calibre em geral do exterior. Anúncios foram publicados na revista Nature oferecendo contratos de dois anos (chamados, em inglês, de fellowships).
De fato, esse papo de internacionalização tem sido ouvido crescentemente na USP. Em 2013, por exemplo, a universidade lançou um programa que visava promover essa internacionalização através, entre outras coisas, da criação de escritórios em vários pontos do globo (Boston, Cingapura, Londres e São Paulo(?)) visando promover a USP e fomentar parcerias (ver matéria aqui). O número de intercambistas parece ter crescido no último ano (1.500 alunos de graduação...em um universo de mais de 55 mil), mas a presença de professores permanentes e alunos regulares de graduação internacionais ainda é praticamente nula.
De qualquer modo, e verdade seja dita, a questão da internacionalização pareça uma preocupação exclusiva das grandes universidades estaduais paulistas, em particular da USP. É um tanto lamentável, mas compreensível, que seja assim.
Digo lamentável porque o sistema federal de universidades absorve a vasta maior parte dos recursos humanos para pesquisa (doutores, pós-graduandos) e tem em suas mãos quase 30 bilhões – pulverizados, obviamente, em mais de 50 instituições (ver dados aqui). E digo compreensível porque as paulistas são as universidades brasileiras que estão em melhores condições de galgarem posições nos rankings acadêmicos de universidades. Elas têm orçamento relativamente grande – a USP, por exemplo, tem mais do que o dobro do orçamento da maior universidade do sistema federal (UFRJ) – e o staff acadêmico dessas instituições responde por metade da produção científica brasileira e ¼ da produção científica originada na América Latina. Além disso, USP e Unicamp são as únicas brasileiras que aparecem nesses rankings internacionais, embora ainda muito longe de figurarem entre as as top 100 – falo obviamente dos rankings que importam, os baseados em pesquisa, ensino e conhecimento, e não o de reputação, que vale bulhufas.
Digo lamentável porque o sistema federal de universidades absorve a vasta maior parte dos recursos humanos para pesquisa (doutores, pós-graduandos) e tem em suas mãos quase 30 bilhões – pulverizados, obviamente, em mais de 50 instituições (ver dados aqui). E digo compreensível porque as paulistas são as universidades brasileiras que estão em melhores condições de galgarem posições nos rankings acadêmicos de universidades. Elas têm orçamento relativamente grande – a USP, por exemplo, tem mais do que o dobro do orçamento da maior universidade do sistema federal (UFRJ) – e o staff acadêmico dessas instituições responde por metade da produção científica brasileira e ¼ da produção científica originada na América Latina. Além disso, USP e Unicamp são as únicas brasileiras que aparecem nesses rankings internacionais, embora ainda muito longe de figurarem entre as as top 100 – falo obviamente dos rankings que importam, os baseados em pesquisa, ensino e conhecimento, e não o de reputação, que vale bulhufas.
De qualquer forma, não está muito claro se essa internacionalização vai conseguir sair do plano das intenções. Essas ações de criar escritórios de relacionamento e aumentar o intercâmbio de alunos são bem intencionadas mas, sozinhas, cumprirão um papel meramente sinalizatório de intenções, que é bom mas insuficiente pra produzir a internacionalização e a subida desejada nos rankings globais de universidades.
DE TABAJARA FC A REAL MADRID DA CIÊNCIA?
Dar um profile verdadeiramente internacional para a USP – ou qualquer outra universidade brasileira – não é muito diferente de criar um time de futebol internacionalmente competitivo: requer dinheiro para construir “facilities” de alto nível (laboratórios, offices, salas) e recrutar os melhores recursos humanos disponíveis (alunos, funcionários e pesquisadores/professores). E a USP, como de resto todas as universidades brasileiras, não tem dinheiro para investir, gastando praticamente toda a dotação orçamentária que recebem com salários.
Não é por acaso que esse post deve ser visto como um complemento do artigo de duas semanas atrás no qual falei das 10 formas da USP ganhar dinheiro: não haverá internacionalização nem subida ao grupo das top 100 alguma se a universidade não se mover na direção de conseguir recursos orçamentários para além daqueles transferidos automaticamente do contribuinte.
Pensando nessas coisas, e assumindo que o desejo de fazer o que precisa ser feito para ver ao menos uma universidade brasileira entre as melhores do mundo é verdadeiramente genuíno, resolvi elaborar uma lista das
10 FORMAS DE TRANSFORMAR A USP NUMA UNIVERSIDADE TOP
Essa é a medida mais crucial. Inglês é a língua franca de comunicação do mundo acadêmico. Em muitas áreas, cerca de 95% das publicações são em língua inglesa. 80% das revistas indexadas no Scopus (base bibliométrica da Elsevier) estão em inglês. Com algumas excessões (francesas, of course!), as top 200 universidades tem o inglês como meio de instrução da maior parte de seus cursos.
É verdade que isso é em grande parte pelo simples fato que 70% dessas universidades estão localizadas em países falantes de língua inglesa. Mas ao invés de lamentar a “injustiça” do mundo, que não nos fez ex-colônia inglesa ou fez do inglês,e não o português, a “língua da ciência”, a melhor coisa a fazer é simplesmente adotar o inglês como língua no qual cursos, trabalhos acadêmicos e comunicação escrita oficial será feita. Essa imersão do ambiente de trabalho na língua inglesa vai ajudar – marginalmente que seja – a construir competências sólidas de comunicação e escrita de alunos e pesquisadores, o que, espera-se, contribua para a maior inserção da universidade no cenário internacional.
É verdade que isso é em grande parte pelo simples fato que 70% dessas universidades estão localizadas em países falantes de língua inglesa. Mas ao invés de lamentar a “injustiça” do mundo, que não nos fez ex-colônia inglesa ou fez do inglês,e não o português, a “língua da ciência”, a melhor coisa a fazer é simplesmente adotar o inglês como língua no qual cursos, trabalhos acadêmicos e comunicação escrita oficial será feita. Essa imersão do ambiente de trabalho na língua inglesa vai ajudar – marginalmente que seja – a construir competências sólidas de comunicação e escrita de alunos e pesquisadores, o que, espera-se, contribua para a maior inserção da universidade no cenário internacional.
Claro que isso não pode nem deve ser feito do dia pra noite. A universidade deve definir um período de transição (5/10 anos) ao longo do qual vai treinando seu staff, estimulando a oferta de disciplinas em inglês, e migrando seus sistemas para o outro idioma. Além, é claro, de pontificar junto ao MEC para introduzir instrução em inglês nos currículos escolares logo cedo (eu falo de instrução de cursos inteiros desde cedo, não esses cursos de inglês que nunca saem do verbo to be).
Claro que os nacionalistinhas e matutos com medo de sair da sua “zona de conforto” reclamarão – receosos de que a “identidade nacional” (o que quer que isso signifique) esteja sob ameaça. Mas a verdade crua e nua é que a USP, ou qualquer outra universidade latino-americana, jamais ocupará posições globais de destaque se não derrubar a barreira línguistica.
2. SELEÇÃO DE ESTUDANTES INTERNACIONAIS
Uma universidade de renome internacional é feita de um corpo discente inteligente, criativo, ambicioso e esforçado. Não há razão alguma para acreditar que essas habilidades/traços estejam mais concentradas nas pessoas de uma região do que outra. Logo, o recrutamento de estudantes deve ser o mais global possível. Harvard, Oxford e Cambridge, para citar três das mais distintas universidade do mundo, têm de 10 a 20 por cento de seus estudantes de graduação provenientes de outros países. Os números de alunos internacionais na pós graduação são ainda maiores, chegando em algumas dessas universidades a 64% (e.g., Oxford).
Uma universidade de renome internacional é feita de um corpo discente inteligente, criativo, ambicioso e esforçado. Não há razão alguma para acreditar que essas habilidades/traços estejam mais concentradas nas pessoas de uma região do que outra. Logo, o recrutamento de estudantes deve ser o mais global possível. Harvard, Oxford e Cambridge, para citar três das mais distintas universidade do mundo, têm de 10 a 20 por cento de seus estudantes de graduação provenientes de outros países. Os números de alunos internacionais na pós graduação são ainda maiores, chegando em algumas dessas universidades a 64% (e.g., Oxford).
É óbvio que isso significa mais concorrência, logo, resistência de muitos que sentirão que, na existência dessa influxo externo de candidatos, suas chances de entrar na USP são ainda menores (o que, em termos incondicionais, é mesmo verdade para todos). Mas esse é um dos “preços” que se deve pagar para ter uma universidade global. Mas não se esqueça dos benefícios, que para a região e para o país em geral são enormes: retenção de talentos (brain drain) e criação, através da rede de ex alunos que vai se formando no globo, de uma potencial ampla rede de contratação de mão-de-obra, de comércio e negócios em geral.
Os argumentos aqui são os mesmos que utilizei para justificar a seleção de estudantes internacionais. Se a USP quer se internacionalizar de fato deve passar a recrutar seus professores no chamado “mercado internacional”. Ao invés de editais enterrados nas páginas dos departamentos e jornais oficiais, as unidades devem anunciar as posições abertas em seus departamentos nos jornais científicos internacionais, nas páginas da The Economist, nos sites internacionais de recrutamento, enfim, nos lugarem que darão visibilidade global para as posições.
Tanto mais quanto possível (porque falarão de cotas para brasileiros), a prioridade deve ser a seleção de pesquisadores qualificados e com projetos acadêmicos promissores, como é a seleção de qualquer boa universidade no mundo, independente do país de origem. Isso significa, obviamente, que é preciso abandonar o atual sistema jurássico-francês de seleção – baseado em concurso com prova escrita de nível de graduação e aula-didática, ambos sobre tópico-semi-surpresa e em português – em favor de algo moderno e efetivo, baseado na análise por pares (de dentro da própria universidade e não de outras!) (a) de currículo, (b) de publicações, (c) de agenda de pesquisa (research statement) e (d) de habilidade e clareza oratória avaliadas com base em entrevista e seminário público sobre tema da agenda de pesquisa do candidato, e não com base em aula-monólogo de 45 minutos sobre tópico de manual de graduação e, para adicionar insulto a injúria, com resultado divulgado de forma constrangedora, impolite, e com ares de concurso de carnaval (tipo assim: "Candidato: Dr. X. Nota do Jurado Prof. Dr. Y; Quesito: Prova escrita....Nota (...) 10!!!"). Como diz o Fernando Botelho, se "Harvard não seleciona assim por que nós devemos?". Em suma: é possível recrutar professores de forma rigorosa e transparente sem ser tosco.
Tanto mais quanto possível (porque falarão de cotas para brasileiros), a prioridade deve ser a seleção de pesquisadores qualificados e com projetos acadêmicos promissores, como é a seleção de qualquer boa universidade no mundo, independente do país de origem. Isso significa, obviamente, que é preciso abandonar o atual sistema jurássico-francês de seleção – baseado em concurso com prova escrita de nível de graduação e aula-didática, ambos sobre tópico-semi-surpresa e em português – em favor de algo moderno e efetivo, baseado na análise por pares (de dentro da própria universidade e não de outras!) (a) de currículo, (b) de publicações, (c) de agenda de pesquisa (research statement) e (d) de habilidade e clareza oratória avaliadas com base em entrevista e seminário público sobre tema da agenda de pesquisa do candidato, e não com base em aula-monólogo de 45 minutos sobre tópico de manual de graduação e, para adicionar insulto a injúria, com resultado divulgado de forma constrangedora, impolite, e com ares de concurso de carnaval (tipo assim: "Candidato: Dr. X. Nota do Jurado Prof. Dr. Y; Quesito: Prova escrita....Nota (...) 10!!!"). Como diz o Fernando Botelho, se "Harvard não seleciona assim por que nós devemos?". Em suma: é possível recrutar professores de forma rigorosa e transparente sem ser tosco.
Recrutar no exterior seria provavelmente mais difícil pra umas áreas (e.g. letras, sociologia, jornalismo) do que para outras (economia, matemática, biomédicas), mas montar um staff acadêmico de qualidade requer recrutamento global. Hoje mais de 40% do staff acadêmico das top universidades britânicas são de outros países. Entre no departamento de qualquer área, de qualquer universidade top americana, e você verá que na vasta maior parte deles ao menos 1/5 dos professores é proveniente de outros países.
O clima da região e o espaço de liderança profissional que a USP poderia oferecer para acadêmicos juniores pode servir de atrativo para muitos do hemisfério-norte. Como não tem a reputação internacional de uma universidade top 20 e o clima mais tropical logo não compensará por muito tempo e por si só as agruras típicas de um país subdesenvolvido (violência, burocracia etc), é importante ter dinheiro para atrair e reter esse pessoal aqui.
4. PROGRAMAS DE DUPLA FILIAÇÃO INSTITUCIONAL DE PROFESSORES
A colaboração entre pesquisadores é um dos principais motores da atividade científica atual. As parcerias entre cientistas de vários lugares do mundo trazem inúmeros ganhos: dividem os custos de pesquisa, permitem a execução mais eficiente de tarefas (divisão de trabalho) e, ao trazer junto a expertise de várias pesquisadores, quase certamente melhoram a qualidade do trabalho de pesquisa. Uma forma relativamente barata de facilitar essa cooperação entre os pesquisadores da USP e cientistas internacionais é oferecer “joint appointments” (vagas que permitem múltipla filiação institucional) para professores e professoras provenientes das top universidades sugeridos, com base na complementaridade e expertise que possam oferecer, pelos membros de cada departamento da universidade.
No mesmo espírito do programa de “dupla filiação”, a universidade deveria oferecer um pacote de benefícios (salário, acesso a laboratórios, assistência de pesquisa, suporte técnico etc) para atrair, ainda que por intervalo relativamente pequenos (1 à 4 semestres), pesquisadores de universidades de ponta.
6. ABERTURA DE ESCRITÓRIOS REGIONAIS
É claro que uma estratégia e internacionalização não pode prescindir de ter “embaixadas” espalhadas em todos os continentes; "embaixadas" que possam servir não só para celebrar acordos de parceria acadêmica, mas para capilarizar o recrutamento de estudantes e professores para a universidade. Mas não se iluda: nada disso é eficiente se a universidade não tiver um pacote interessante de benefícios a oferecer. E não adianta também colocar escritórios em Londres, Paris e Nova York. Sem a grana e a reputação de uma Harvard, a melhor estratégia em um primeiro momento é ir atrás de "talentos brutos" com ambições acadêmicas que pode-se encontrar em instituições menos abonadas. Ou seja: desde que requisitos mínimos sejam satisfeitos (de treinamento, habilidade, comunicação etc), é possível que, muito freqüentemente, seja melhor recrutar os melhores estudantes e pesquisadores, sei lá, da Universidade do Cairo do que recrutar pessoas de lugares mais prestigiados que não são os top de seus cohorts e que até poderiam encarar a experiência nos trópicos como uma aventura ou um “gap year” na carreira.
É claro que uma estratégia e internacionalização não pode prescindir de ter “embaixadas” espalhadas em todos os continentes; "embaixadas" que possam servir não só para celebrar acordos de parceria acadêmica, mas para capilarizar o recrutamento de estudantes e professores para a universidade. Mas não se iluda: nada disso é eficiente se a universidade não tiver um pacote interessante de benefícios a oferecer. E não adianta também colocar escritórios em Londres, Paris e Nova York. Sem a grana e a reputação de uma Harvard, a melhor estratégia em um primeiro momento é ir atrás de "talentos brutos" com ambições acadêmicas que pode-se encontrar em instituições menos abonadas. Ou seja: desde que requisitos mínimos sejam satisfeitos (de treinamento, habilidade, comunicação etc), é possível que, muito freqüentemente, seja melhor recrutar os melhores estudantes e pesquisadores, sei lá, da Universidade do Cairo do que recrutar pessoas de lugares mais prestigiados que não são os top de seus cohorts e que até poderiam encarar a experiência nos trópicos como uma aventura ou um “gap year” na carreira.
7. CONSÓRCIOS E GRUPOS INTERNACIONAIS DE UNIVERSIDADES DE PONTA
A entrada nesses consórcios de universidades (e.g. Universitas 21, IARU - International Alliance of Research Universities) facilitaria a difusão de “best practices” adminsitrativas, o compartilhamento de recursos e a promoção de parcerias e convênios para intercâmbio de recursos humanos (estudantes e pesquisadores).
A entrada nesses consórcios de universidades (e.g. Universitas 21, IARU - International Alliance of Research Universities) facilitaria a difusão de “best practices” adminsitrativas, o compartilhamento de recursos e a promoção de parcerias e convênios para intercâmbio de recursos humanos (estudantes e pesquisadores).
Por “engagement internacional” eu quero dizer (a) apresentação de artigos científicos em conferência internacionais de “high profile” (não vale aquelas conferências obscuras na Grécia ou no Havaí), (b) publicações colaborativas em coautoria com pesquisadores internacionais e (c) posições de visitante em universidades de ponta. Estimular os professores da instituição a se envolverem nessas atividades que contribuíram enormemente para elevar o profile internacional da USP – estimular com bônus salarial e reconhecimento institucional, porque ninguém na universidade (como em qualquer outra empresa) é mais criança pra se motivar com a promessa de chocolates e piluritos coloridos de açucar. Nunca é demais repitir: isso deve ser financiado com recursos orçamentários extras, que a universidade vai gerar a partir de suas próprias atividades, e não com a transferência de mais dinheiro do contribuinte, até porque o que têm hoje já está completamente comprometido com pagamento de folha salarial -- como notado no outro post.
Em qualquer universidade decente do mundo é absolutamente normal que alguns professores tenham salários maiores do que outros. Há diferenciação salarial não só entre departamentos (o faculty dos departamentos de medicina ganham em geral mais do que o faculty do departamento de Estudos Culturais e Línguas Modernas) mas dentro de cada departamento também (prêmios nobeis certamente têm maior salário do que seus colegas departamentais sem tal premiação).
Comunistas, sindicalistas e esquerdóides em geral oferecerão enorme resistência a esse tipo de medida – sob o argumento cretino que a ausência de isonomia salarial viola algum tipo de direito humanitário ou prerrogativa do servidor público ou do trabalhador em geral (como se houvesse algum vestígio de justiça em tratar salarialmente igual pessoas com habilidades e produtividades diferentes...). Claro que não dá pra diferenciar salários nominais (a lei do serviço público impede...), mas é possível fazer isso via algum tipo de bonificação.
A importância desse ponto não pode ser minimizada. A isonomia salarial é uma das grandes âncoras que seguram as universidades brasileiras no fundo do barril da mediocridade. Não precisa ser economista e entender de incentivos para perceber que, se um professor que publica 10 papers por ano em top journals recebe de salário a mesma coisa que o professor que publicou nada ou metade disso, o resultado dinâmico dessa estrutura de incentivos só pode ser um: todo mundo racionalmente, ou por autoexpulsão dos professores produtivos ou pela redução coletiva de esforço, converge para o ponto onde o esforço é mínimo.
Sempre falo pra meus colegas ingleses: vocês não escutam falar de pesquisa feita por acadêmicos brasileiros não porque eles sejam intrinsicamente “ruins", mas simplesmente porque, como ser racional que são, respondem aos incentivos existentes – que são todos perversos, porque completamente desalinhados com o objetivo de ser academicamente produtivo.
O ponto aqui é simples: sem diferenciação salarial, a USP, ou qualquer universidade brasileira que almeje renome internacional, nunca terá a flexibilidade necessária para atrair recursos humanos de alto calibre. Eu falo dos professores mas o mesmo vale para funcionários técnicos, cujo suporte é vital para o andamento “suave” dos projetos de pesquisa e demais atividades acadêmicas.
10. CONSÓRCIOS PARA CURSOS E PESQUISA COM "BIG NAME UNIVERSITIES"
A reputação regional de que goza a USP deve ser explorada. Como? Formando consórcios com universidades norte-americanas e inglesas que queiram expandir sua atuação na região (as universidades inglesas foram as primeiras do mundo a estabelecerem campi em outros países. A Universidade de Nottingham, por exemplo, tem campi na China e na Malásia. Em 2009, a universidade de Columbia abriu centros na India e na França e a Universidade de Nova York em Shangai. Há várias outras). Essas alianças devem servir não apenas para entregar serviços de treinamento e educação para os estudantes da região como também para fomentar simpósios de seminários dos pesquisadores das universidades envolvidas em torno de tópicos relevantes para os problemas da região. É um acordo ganha-ganha. A universidade de Monash (AUS) e Warwick (UK) firmaram, em 2011, acordo desse tipo para atuarem na região asiática.
CONCLUSÃO: ISSO VAI ACONTECER?
Já antevejo muitos comentários falando que nada ou quase nada disso vai acontecer. Falarão que existem barreiras legais, que é difícil, que dá muito trabalho, que haverá muito resistência etc, etc, etc. É óbvio que essas coisas são todas verdades. Afinal, muitas das barreiras à essas mudanças estão enraizadas nos valores e na “cultura” que herdamos. Mas "cultura" nenhuma resiste a uma estrutura de incentivos que premie a persecução da excelência e ao prospecto de alcançar, por essa mesma excelência, prestígio e reconhecimento profissional de seus pares em escala global.
Além disso, o que está em jogo aqui é algo que é sabidamente aspirado e de interesse de muitos – de fora e de dentro da universidade –, a saber: que a USP, e um bom número de universidades brasileiras em geral, estejam entre as melhores instituições de ensino e pesquisa do mundo (diria que podemos começar com a meta de estar entre as top 100 em 20 anos).
Há bastante recursos humanos para isso. É apenas lamentável que a burocracia e as regras institucionais que regulam as universidades brasileiras hoje funcionem como gigantescas barreiras a essas mudanças. Mudá-las é custoso mas factível; o que me lembra uma frase famosa do Steve Jobs sobre os “loucos” que mudam o mundo:
“Here’s to the crazy ones.(...) They push the human race forward, and while some may see them as the crazy ones, we see genius, because the ones who are crazy enough to think that they can change the world, are the ones who do”Onde estão os “loucos” de que a USP e as universidades brasileiras precisam?
_______________
* Tem os trabalhos pioneiros em aviação do Santos-Dumont, mas aquilo foi há mais de cem anos; e ele foi educado na França anyways.
Muito bom. Parabéns pelo post.
ResponderExcluirObrigado claudio.
ExcluirBoa parte destes tópicos exigem muito dinheiro. Algumas medidas, tais como a internacionalização de alunos, exige que os interesses da universidade entrem em conflito com os interesses do governo do estado. É inviável atingir metade dessas metas, enquanto a USP for universidade pública estadual, independente de eu ser a favor ou contra. Gostei de alguns pontos, mas como diria a falecida professora da FFLCH, Paula Beiguelman, vamos tentar criar instituições voltadas à nossa realidade, ao invés de copiar as instituições que vem de fora.
ResponderExcluirDesculpe mas esse discurso de "não vamos copiar o que é de fora porqueisso não serve à nossa realidade" é simplesmente cretino. O compromisso subjacente à discussão que o post levanta é com o redesenho da instituição visando transformá-la em uma instituição de renome internacional. Admitindo que o objetivo é nobre e desejável (precisa mesmo convencer alguém que é mais socialmente benéfico, e totalmente de interesse à nossa realidade, ter uma universidade top do que ter uma universidade medíocre? Ou a USP deve servir apenas aos interesses de sua comunidade em oposição aos dos contribuintes? Supondo, claro, que ser uma universidade top joga contra os interesses da comunidade uspiana, o que é obviamente falso), a questão seguinte passa a ser o como. E aí, se alguém herdeiro dessa ideia da Paula Beiguelman, ou qualquer outra pessoa, tiver uma ideia de como fazer isso sem "copiar" nenhuma das práticas das universidade de renome que já estão nesse business há mais de 300 anos, por favor apareça e diga pra gente que ideia é essa.
ExcluirOs comentários do Sergio Almeida são excelentes nesse post. Nada mais lúcido, claro e objetivo do que deve ser feito pra melhorar a USP. Mas discursos como esse do anônimo irritam. Os caras preferem se espelhar no medíocre a seguir o caminho do sucesso de universidades de ponta como Harvard. Pqp, será que os caras que ganharam tantos prêmios Nobel, fazem tanta pesquisa de alto gabarito e de tanta representatividade não são muito mais eficientes em representar os interesses da sociedade do que aquilo que representa nosso statuos quo? Parece que tem gente retardada demais nas universidades brasileiras, só pode. E parabéns ao Sergio pelo ótimo post!
ExcluirFundamental para se poder recrutar alunos de graduacao globalmente e, na mesma tacada, obter os recursos necessarios para as outras tarefas elencadas eh a substituicao do sistema de educacao superior gratuita por um generoso sistema de bolsas para alunos brasileiros sem condicoes financeiras (usando dinheiro do erario e mensalidades) e bolsas para alunos brasileiros e estrangeiros baseadas em desempenho academico (usando dinheiro "nao publico" para os estrangeiros).
ResponderExcluirAlias, eh preciso tambem reformular o sistema de selecao para a Universidade para atrair alunos estrangeiros, ja que ninguem vai se abalar da Malasia ate Sao Paulo para prestar Fuvest em Portugues.
ExcluirAcredito que há um outro passo inicial a ser dado, antes de sair chamando europeu e chinês pra cá. Em primeiro lugar, dado nossa posição nos rankings, vamos claramente atrair os piores alunos, aqueles que não entraram nas 250 universidades à nossa frente. Em segundo, Sérgio, você já viu o nível dos intercambistas que circulam na FEA? Bate um papinho com eles qualquer hora. Tudo fanfarrão, pra dizer o mínimo. Brasil pra eles é país do samba, futebol e mulata. [O que em parte reflete a pobreza dos convênios de intercâmbio da FEA]
ExcluirO outro passo seria canalizar os melhores alunos do Brasil para a melhor universidade do Brasil. De novo, conversando com os alunos de graduação da FEA, qual a variedade de sotaques ouvida? Na graduação, é tudo paulistãno, meu (sic!). Contraste grande com os alunos da pós em Economia, que são selecionados através de um exame nacional (ANPEC). Claro, pode-se argumentar que o SE tem as melhores escolas do país, mas certa vez repercutiu na imprensa que uma escola do Piauí foi a primeira no ENEM, ou ganhou alguma olimpíada de matemática. E onde foram parar esses alunos do Piauí? Na UFPI? Isso existe?
Com o ENEM e o Sisu, este processo está em curso nas federais, com uma série de alunos indo de SP para federais no NE. Melhor que a UFAL tenha alunos educados em SP do que alunos educados em AL. Mas, claro, isso traz uma série de problemas, como evasão por conta da frustração de neguinho que estudou no Dante largar a Vila Mariana para mora em.... Maceió! Top 5 das cidades mais violentas do mundo!
Mas peralá! Nós não somos a UFAL em Maceió, nós somos a USP no Zona Oeste (chic!). Logo, temos potencial de atrair os melhores alunos das melhores escolas de todo o Brasil e oferecer uma boa qualidade de vida. E deveriam ser eles, os expatriados estaduais, a ter lugar pra morar no CRUSP.
Resumo da ópera, antes de atrair gringos, a USP precisa aprimorar seu processo de seleção (FUVEST), e a permanência estudantil, de modo a criar maior variedade de sotaques brasileiros aqui. O que Harvard também faz, por sinal: oferece moradias e atrai alunos de todo EUA.
Sem dúvida. Só não acho que essas coisas precisem ser feitas em sequência como se uma excluísse a outra.
ExcluirO ponto é que pra melhorar qualquer universidade precisa aumentar a qualidade do seu intake -- de estudantes, professores e funcionários. E aí qualquer ampliação geográfica do pool donde esse pessoal vai ser "pescado" provavelmente contribuirá com esse objetivo (alguém podia falar que a média da distribuição de "qualidade" - QI, conhecimento etc - é maior no SE. Pode ser verdade mas não importa. Desde que as caudas da distribuição sejam longas em outros lugares (e a local não seja super "gorda"), draw gente de outros lugares iria melhorar a qualidde média do pool selecionado).
Eu discordo do seu primeiro ponto. Acho que seria melhor numa sequência neste ordem: Brasil (sotaques!), América Latina (temos capacidade de atrair argentinos e venezuelanos - coitados!, sem perspectiva alguma em seus países), e depois resto do mundo.
ExcluirA justificativa seria um ajuste estrutural de médio-longo prazo (mais tempo para que mais aulas fossem ministradas em inglês; aumento gradual do nível de alunos para atrair no 3o estágio os melhores alunos-mundo, etc) e também político. Sendo a USP estadual, financiada pelos impostos locais, uma série de questionamentos adviriam da sociedade que a financia (regressivamente, claro, mas esse conceito é desconhecido pela maior parte dos beneficiados). Parte da elite local, que antes tinha vaga assegurada na USP, se veria obrigada a pagar por uma universidade privada ou os custos de envio de seus filhos-alunos para federais em outros estados (via Sisu).
Só para completar o raciocínio, a justificativa política para um ajuste em etapas seria diluir os efeitos "negativos" sobre essa elite, tornando mais viável sua implementação total. Ao final, eles sofrerão (e devem sofrer) todo o relatado acima.
ExcluirJá combinaram isso com a Marxilena Chauí?
ResponderExcluirSergio, isso DEVE acontecer?
ResponderExcluirPense nas universidades como firmas. Por qual motivo seriamos competitivos na produção de ciência?
Acho que rola uma divisão internacional do trabalho científico não?
Várias das sugestões para internacionalização estão relacionados aos aspectos legais e institucionais. Sua sugestão é aplicar um modelo de comércio internacional (como o ricardiano)?
ExcluirBoa questão Marcelo. Eu diria três coisas:
Excluir1. Se por competitivo você entender ser mundialmente top, então a resposta é "não; hoje não somos globalmente competitivos". Mas se por competitivo você entender "potencial de ser top", então a resposta é "sim; hoje somos competitivos" (admito que há certo liberdade poética na minha interpretação do que é ser competitivo). E isso me leva ao segundo ponto.
2. Diferentemente da produção de outros bens (carros, máquinas, alimentos etc), para os quais a disponibilidade de recursos físicos (aço, ferro, terra) dita parte da vantagem competitiva que se tem em produzí-los, ciência é um produto cujo insumo primordial é essencialmente inteligência, criatividade e esforço (mesmo para os mais gênios, a solução de certos problemas demanda que eles sejam atacados com persistência..), e não há razão nenhuma para acreditar que esses "insumos" estão -- pelo menos em seu estado mais bruto -- em maior disponibilidade no hemisfério norte do que no hemisfério sul. Eu sei que o fato que os pesquisadores "do norte" são responsáveis pelo grosso da produção científica hoje parece evidência em contrário do que digo; mas um dos pontos principais do post é que a estrutura distorcida de incentivos que hoje temos "in place" está, em boa medida, "confounding"/mascarando a qualidade relativa da produção científica desses lugares.
3. Se você quer mesmo invocar o framework do modelo basicão de comércio para justificar que talvez não seja eficiente que tentemos produzir ciência, eu diria para você que talvez esse modelo dite exatamente que devamos nos especializar mais na produção de ciência. Senão vejamos: qual o custo de oportunidade que temos de produzir uma "unidade" extra de ciência? Eu diria que é relativamente baixo dado que não somos muito produtivos em quase nada. Compara isso agora com o custo de oportunidade de oportunidade dos EUA de produzir essa mesma "unidade" extra de ciência. Eu diria que o custo de oportunidade deles é maior -- o tempo de um PhD americano, tudo mais constante, seria muito mais produtivo se empregado em outros setores do que o tempo do PhD brasileiro. Ou seja: é como se o Brasil estivesse operando em um ponto da fronteira de possibilidades de produção que é mais distante da especialização completa em ciência do que é no "norte". Logo -- e aceitando esse "framework" -- devíamos nos especializar mais na produção de ciência; não porque temos uma vantagem absoluta -- que não temos -- mas porque hoje temos uma vantagem comparativa.
Não, minha sugestão é que pode não ser interessante a USP virar Harvard, pode não ser economicamente eficiente.
ResponderExcluirTem vários meios de pensar nisso, seja por comércio internacional, economias externas de escala, economias de aglomeração....
Marcelo,
ExcluirNão precisa ser igual a Harvard. Mas dá para sonhar com o top 50.
Pode ser até top 10 dependendo da quantidade de subsídio público. O que eu me pergunto não é a possibilidade e sim a eficiência alocativa.
ExcluirDuas coisas:
Excluir1. O Mauro está certo. O ponto todo aqui é "tirarmos" mais da estrutura e dos recursos existentes na USP, de modo a melhorar nossa posição no ranking (top 100 em 20 anos estaria bom).
2. Sei lá se tem eficiência alocativa. Essa é uma conta de equilíbrio geral com muitos termos que zeus sabe o resultado. Mas considerando que (1) a existência da USP com um orçamento de 4 bilhões deve ser tratada como um dado, e (2) que uma universidade top tem uma série de efeitos positivos de spillovers sobre a economia e a sociedade em geral, eu diria que tentar redesenhar a estrutura de incentivos e a instituição em geral para promover um uso mais eficiente dos recursos existentes, é a melhor estratégia disponível.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirTalvez um bom começo seja criar métodos mais sérios para contratação de professores.
ResponderExcluirVou ter que concordar com o comentário: "Já combinaram isso com a Marxilena Chauí?"
ResponderExcluirAcho que você passou por cima de uma discussão política fenomenal (a privatização da USP) por supor a existência de um consenso. Esse tema não tem como ignorar o debate ideológico entre "Direita x Esquerda".
Espero que veja como uma critica construtiva, mas ou você escreveu o texto para ganhar aplausos da direita, ou foi muita ingenuidade de sua parte achar que a esquerda concordaria com a visão de "melhorar a universidade por meio da privatização" e/ou "vamos acreditar que tudo que os países dominantes passam academicamente como uma verdade para nós é para o nosso bem".
Independente da visão ideológica, é consenso que a USP pode e deve melhorar, certo?
ExcluirCESG, além de incentivos, punições...
Eu posso nao ter entendido o texto, mas eu nao vi nenhuma mencao no sentido de privatizar a USP. A USP pode e DEVE continuar a ser publica e isso nao eh incongruente com as propostas acima. Eu sempre tenho a impressao que no Brasil as pessoas tem uma falsa impressao de que Universidade publica tem que ser completamente financiada pelo governo e ser gratuita para os alunos. Nos EUA temos diversos exemplos de Universidades de ponta que sao publicas, mantem seu carater publico mas sao financiadas (parcialmente) por doacoes e por parcerias e nao sao gratuitas, por exemplo, Univ. of Michigan, Ohio State, o fantastico sistema UC etc.
ExcluirAo anonimo 21.03,
ExcluirTrês observações:
1. Sim: eu passei por cima dessa "discussao política fenomenal" sobre privatização porque absolutamente nada do que foi proposto -- nesse post ou mesmo no outro sobre as "10 formas da USP ganhar dinheiro" -- envolve a privatização da USP.
2. O compromisso meu e em geral de quem endossa boa parte do que foi discutivo é com o resultado -- e não como a implementação de uma visão do mundo. Logo, se há evidência que o modelo de administraçào universitária das universidades "dos países dominantes" produz uma instituição mais eficiente (que forma mais e melhores alunos, que produz ciência de impacto, que contribui para resolver os problemas da sociedade e a ajudar responder as perguntas importantes), então eu não vejo porque ficar de frescurites ideológicas para simplesmente adotar tal modelo. Lembro que quem banca a USP é o contribuinte -- muitos dos quais, se beneficiam pouco ou quase nada da universidade. E do ponto de vista desse sujeito, que vai ter seu dinheiro repassado para a USP de qualquer forma, a melhor coisa que a comunidade universitária, sobretudo os que estão genuinamente preocupados com essa coletividade que banca a USP e dela pouco usufrui, é reformar a instituição de forma a trazer o maior retorno de cada 1 R$ de imposto que cai no orçamento da universidade -- pouco importando aí se essa reforma é inspirada no desenho das instituições universitárias de "países dominantes" ou não.
Se você, ou qualquer outra pessoa, tiver evidência de que o desenho institucional/modelo de administração da universidade do seu coração (Universidade de Havana, Kim Il-sung University...escolha a que quiser) é mais provável (em relação ao modelo dos "países dominantes") de melhorar a posição da USP nos rankings internacionais (isto é, aumentar a qualidade do seu "produto" e assim melhorar o retorno do dinheiro que o contribuinte entrega pra ela), por favor seja bem vindo a nos apresentar essa evidência.
Me desculpe Otávio, mas para mim antes de todas as mudanças mencionadas no texto, para que a USP fosse como Havard a primeira coisa que deveria ser feita era a USP ser como Havard em mais um aspecto: ser privada, tanto pela gestão quanto por outros aspectos.Em um sistema sistema em que a faculdade é bancada quase que por impostos e que quem mais sobre com impostos são osais pobres seria justos os brasileiro pagarem a vida inteira por algo que provavelmente nunca vão conseguir entrar para os estrangeiros aqui ficarem de graça e, caso quiserem cursar uma universidade terão que pagar uma segunda vez por uma faculdade? Antes que venham falar de externalidade positiva e que são esquerda e não sei mais o que, já digo que acho que todas as faculdades deveriam ser privadas e que essas externalidades contariam presentes caso a universidade fosse privada.
ExcluirMuito bom artigo, estou de completo acordo. Uma pena que ai em Banania seja um plano completamente utopico.
ResponderExcluirE por que as universidades privadas são ruins no Brasil? Não tem como negar, vocês, economistas neoliberais querem entregar o Brasil nas mãos de quem detém o grande capital. Não estão interessados no desenvolvimento da nação e sim apenas em dinheiro e interesses próprios. Onde já se viu numa nação onde se fala português, querer que os cursos sejam em inglês. Isso é deixar o brasileiro pobre ainda mais longe da educação de ponta do país.
ResponderExcluirA USP não precisa de vocês e se depender de mim, essas suas idéias imperialistas e entreguistas não passarão de um pesadelo. Não passará!!
Do jeito que anda o Brasil tenho dúvidas se essa postagem do anônimo é brincadeira ou não. De todo modo as universidades privadas no Brasil são melhores que as públicas QUANDO recebem alunos do mesmo nível.
ExcluirAlguns pontos interessantes:
1) O grande Capital não existe
2) Desenvolvimento vem com Educação não-Marxista
3) Enquanto o ensino básico for público o pobre vai continuar sim longe da educação de ponta
4) Educação de ponta não é política social e sim produção de ciência
5) Privatizar a USP faria bem aos necessitados
6) Seu pesadelo está apenas começando
Cara, não sei não se é brincadeira/ironia... Ás vezes vc vê de cara, mas esse aí, sei não... Comentando o que ele e o cara que citou o o "debate ideológico entre Direita x Esquerda"
ExcluirBem, de onde vem o dinheiro da USP? Quase que na totalidade, é uma parcela fixa do ICMS. O que é o ICMS? É um imposto sobre mercadorias, e bastante regressivo.
Logo, quem sustenta a USP? É o pobre de SP, que NUNCA vai ter acesso à universidade. Pra ele, seria melhor que a USP não existisse e o governo baixasse o imposto, ou que o dinheiro fosse queimado (eu, particularmente, gosto de uma boa fogueira).
Assim, o net da USP pra sociedade é negativo (quem já teve alguma experiência com educação pública - primário, ginásio, colégio - sabe também que cotas pra pobres não adiantam, o nível de educação da molecada é de sentar e chorar).
A USP existe então pq? Para os pobres bancarem alunos que, na maioria, poderiam bancar sozinhos sua faculdade, mais alguns que sim, conseguiram uma vaga que seria sua única oportunidade de cursar uma faculdade (meu caso), mas que não fazem nenhuma diferença, prática, pra sociedade?
Se for isso, acabem com a USP - ou sigam alguma coisa semelhante ao que o Sérgio está propondo. E o engraçado é que aqueles que defendem "o espírito da universidade pública" não enxergam essa realidade financeira, e não enxergam também que as contribuições que a USP poderia fazer vão muito além de ficar falando sobre livre expressão, gritar "fora governador", e ficar deitado no gramado atrás da Geografia fumando.
Agora para o Sérgio: quão realista são essas propostas? Legal citar o Jobs, mas assim, existe um grupo organizado na USP que busca se organizar? Se sim, como graduado e pós graduado pela FEA, adoraria participar.
Fazer pesquisa não dá lucro. Por isso a Unip não faz. E por isso é um lixo
ExcluirHoje, a USP gasta o dinheirinho suado do povo pra bancar a faculdade de algumas pessoas que não poderiam pagar e fazer alguma pesquisa bem porcamente. Continuo afirmando, o net dela é negativo.
ExcluirPesquisa dá dinheiro? Geralmente, não. Pesquisa é algo bom pra sociedade? Geralmente, sim. Como o Marcelo falou mais acima, dependendo do subsídio, pode ser até top 10. Mas precisa mesmo de subsídio? Pra ser top 10, provavelmente; pra ser top 100, será que ela não consegue se virar um pouquinho?
Alexandre Maruca, avisa pro MIT que pesquisa não dá lucro.
ExcluirE que universidade privada é melhor que as top federais e as estaduais paulistas? Universidades privadas em sua maioria não investem em pesquisas, porque pesquisas demoram para dar lucro, ainda mais com a qualidade de ensino delas. Se não pensassem apenas no lucro, talvez o nível educacional delas fossem um pouquinho melhor.
ExcluirEfegevê, Insper
ExcluirApenas cursos que não demandam uma grande quantia de dinheiro para se fazer pesquisas. Dessas eu já sabia, quero saber de outras áreas do conhecimento, e não apenas de Economia, Administração e Direito.
ExcluirImposto não é vinculado ao gasto. Você acha que pode exigir que seu IPVA vá para as estradas ? A questão do uso do ICMS para a Univ Pública é uma simples questão de gestão financeira, não importa qual o imposto está sendo usado, ou você queria que as despesas do estado fossem cumpridas com IPVA ou ITCMD, únicos impostos que não incidem sobre consumo no estado, mas que têm arrecadação ridícula quando comparada com a do ICMS? O Estado funciona praticamente com base no ICMS, e esta é uma questão de constituição do estado brasileiro, não confunda as coisas.
ResponderExcluirICMS é regressivo?
Excluir9,57% dele vão pra públicas de SP?
É a população mais pobre que banca a USP?
Na minha opinião, é sim, sim e sim.
O desenho dos impostos no Brasil são uma abominação aos olhos do Senhor?
Sim, mas aí quem está confundindo as coisas é vc, querido.
Óbvio que o ICMS é regressivo, como qualquer imposto sobre consumo, mas ele é usado tanto para gastos com as universidades públicas como para a maior parte dos gastos do estado (como construção de metrô, por exemplo). A questão não é que é a população pobre que banca a Usp, é a população pobre que banca o estado, todos os gastos. Está faltando raciocínio lógico por aqui.
ExcluirE metrô é só um pouquinho mais útil pra população que a USP, né?
ExcluirSergio, existe possibilidade de essas ideias dos seus posts serem encaminhadas ao Reitor ou CO como uma tentativa de mostrar esses caminhos para a USP? Acho que seria uma contribuição excepcional. Abriria espaço para mudanças profundas na universidade.
ResponderExcluirO Problema é que isso está fora do debate atual. O Debate do momento é se devemos imitar Maduro ou Kichner.
ExcluirSe a USP resolver dar atenção para isso (duvido), para cada um desses 10 pontos será criar uma comissão. Daí sabemos o que vai acontecer.
ExcluirMauro, como seria isso? Os professores encaminhariam as propostas para o Reitor? Creio que deveria iniciar em algum ponto, correto? Acho que seria uma oportunidade muito boa para tentar mudar a mentalidade na gestão da universidade, ainda mais num período de vacas magras. Acho que a visão dos economistas poderia oxigenar e muito a forma de angariar recursos pra universidade.
ExcluirVou reiterar meu comentario acima, ninguem propos privatizar a USP, ao menos por enquanto, nessa discussao. Publica eh diferente de gratuita e diferente de 100% financiada pelo governo. Em relacao aos cursos em ingles e ter a lingua oficial como ingles eu particularmente discordo. A lingua de instrucao na graduacao deve ser o portugues como regra e, se houver a possibilidade e demanda, cursos podem ser ofertados em ingles, especialmente na pos. Com relacao a pesquisa ser publicada em ingles, essa eh uma necessidade da academia atual (mas que nao impede que copias traduziadas sejam disponibilizadas no site da USP.
ResponderExcluirNa Unicamp já existem disciplinas de pós em inglês, pelo menos na Computação.
ResponderExcluirDois comentários:
ResponderExcluir1. Da mesma forma que deve haver incentivos à pesquisa, deve haver punição caso o professor não desempenhe. Não publicou, baixa salário ou manda embora. Aqui também aprendemos com a academia internacional (a tal da tenure track). E já há instrumentos para isso: o professor fica em um estágio probatório por seis anos a partir de sua contratação. O departamento pode sugerir pelo menos mudança de regime caso a pessoa não esteja se dedicando a pesquisa, ou publicando nada ou só coisa irrelevante.
2. Não sei se concordo que o inglês deva ser adotado por todo mundo. Em algumas áreas, é bem possível que a literatura relevante esteja em outras línguas. Mas pelo menos a USP poderia deixar que seus departamentos fizessem esse tipo de escolha. Há um grande orgulho em dizer que a USP é autônoma, mas a USP dá muito pouca autonomia a seus departamentos ou unidades.
Com relação aos incentivos, ainda na USP você corre o risco de encontrar um colega no corredor e ouvir dele o seguinte:
ResponderExcluirSe você se contenta em viver de salário, sorte sua!
Parabéns pelo artigo! Ambicioso! Assim como tudo que se almeja melhora deve ser. Considero oportuno ás questões e não compreendo que entraves legais possa ser uma barreira, principalmente, se forem analisadas por juristas ou pela sua mudança. Além disso, não concordei com todas ás hipóteses, mas ressalto sua importância e abrangência.
ResponderExcluirParabéns!
Excelente post, este e o outro sobre maneiras da USP levantar dinheiro. Assino embaixo de tudo que foi proposto.
ResponderExcluirPutz, Sérgio, mas será que você teria sido contratado se vigorassem os novos critérios sugeridos?! Capaz de um coreano ter roubado sua vaga!
ResponderExcluirBoa pergunta. Mas não sei. Tem sempre gente melhor do que você (se eu fosse imbatível eu estaria no MIT/Harvard, e talvez nem assim eu seria...), de modo que dependendo da concorrência sim: eu (e qualquer um que está no departamento) podia não ter sido contratado nesse esquema. Faz parte da vida, não?
ExcluirMas veja, eu penso que não devia ter tenure nem estabilidade (um estrutura de incentivos estranha que parece servir apenas para proteger quem não trabalha; não vejo trabalho que precise de proteção pra justificar estabilidade), de modo que um coreano ou outra pessoa qualquer deveria sempre ser uma ameaça à minha posição. Individualmente podemos não gostar de concorrência (não deve ser o caso de quem está na academia...) mas ela faz wonders pelo "sistema".
Foi só brincadeirinha, hein! Que bom que você racionalizou a questão! A questão da estabilidade é essencial no debate. Certa vez, comentando com uma professora de outra unidade a possível proposta de extensão da aposentadoria compulsória (de 70 para 75 anos, por exemplo), ela reagiu com pavor, e disse: cruz credo! Assim a gente não vai se livrar nunca de certas pessoas!
ExcluirMuito bom o post (assim como o post das 10 formas para USP ganhar dinheiro)!
ResponderExcluirPensando em tempo investido vs resultado, no entanto, eu tenho a impressão que é melhor começar uma universidade privada nova do zero para atingir tal objetivo (ou investir em faculdades existentes como Insper ou FGV).
Sou Uspiano com orgulho. Mas as barreiras políticas e, acima de tudo, as culturais (tanto da maioria dos alunos e professores como da sociedade em geral), me parecem intransponíveis.
FGV e Insper são Institutos ou fundações centradas na área de negócios, Insper possui uns 3 cursos enquanto GV uns 8 - Não dá pra comparar pequenos "colleges" focados em uma só área com menos de 10 cursos com grandes universidades de pesquisa como a USP que possui mais de 100 cursos em todas as áreas do conhecimento!
ExcluirInteressante que você tenha omitido a medida mais importante para uma universidade pública como a USP, virar uma Harvard, que é privada: acabar com a estabilidade do serviço público!! Ou seja: contratos CLT de duração determinada para todos os professores, com exceção de para um grupo bem pequeno, que por enorme mérito vai ter a tal de estabilidade. Sem isso, vai continuar medíocre. E remunerar diferencialmente vai gerar mil distorções políticas, os amigos dos amigos, etc. é que vão receber o bônus. Ou você não sabia disso?
ResponderExcluirO perfil que você descreve é de uma universidade de pesquisa. A USP quer se ver como universidade de pesquisa , mas é uma universidade de massa , voltada a formar quadros para o mercado. Seria necessario criar nova instituição ( pessoalmente, pensaria num Sao Paulo Institute of Technilogy) com esse novo desenho.
ResponderExcluirParabéns pelo post. Alguns pontos eu já havia pensado. Mas outros foram interessantes. Vou encaminhar a turma da UNICAMP.
ResponderExcluirE não se diga que não temos recursos Top. Conquanto nossas Universidades não ingressem no mercado mundial de conhecimento, há centenas de brasileiros Top recrutados por grandes universidades como Harvard e Oxford. Não seria este um tópico importante a ser incluído na lista; segurar por aqui nossos melhores cérebros?
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