Surgiu recentemente na imprensa uma série de artigos sobre uma suposta rebelião internacional de alunos e professores de economia contra o ensino atual da disciplina nos cursos de graduação. O The Guardian, andou publicando uma sequência de artigos sobre (ver, e.g., esse aqui e esse aqui). O assunto já chegou nas páginas das revistas domésticas (ver artigo na revista Exame aqui).
O Mauro publicou um ótimo artigo ontem, aqui neste blog, sobre como mudanças no posicionamento do ferramental estatístico/econométrico dentro da grade curricular talvez permitissem maior contato, ainda na graduação, com a pesquisa feita na fronteira da disciplina, que é essencialmente de natureza aplicada. A ideia é que isso ajudaria a mitigar a insatisfação com o conteúdo de natureza teórica e para alguns imaterial que domina boa parte da "espinha dorsal" de um bom curso de graduação de economia.
A ideia faz todo o sentido. Não por acaso, foi precisamente este ponto que Mankiw -- o professor de Harvard autor de um dos principais livro-textos introdutórios da disciplina -- levantou em seu blog hoje quando considerando a sugestão de um colega sobre o aumento do conteúdo empírico dos cursos de introdução à economia. Diz ele:
Noah Smith says introductory economics needs to be more empirical. I understand his argument, and have some sympathy with it, but I wonder if the substantial change he seems to be proposing is practical. Economists usually do empirical work with statistical tools that most college freshmen have not yet learned.
We teachers of introductory economics can and should explain where and why economists disagree. That is part of helping students developing their critical thinking skills. But I doubt students are in a position to try to evaluate the competing empirical work that shapes the differing views.
In the end, introductory economics is just that: an introduction to the economist's way of thinking. That means giving students basic concepts--comparative advantage, supply and demand, market efficiency and market failure--that will make them more perceptive readers of the newspaper.
A Revolta dos X-Men
A exigência central do movimento de alunos rebeldes (olha a foto de alguns abaixo para ver porque eu os chamo carinhosamente de "X-Men") demandando um total "shake-up" no ensino da disciplina vai muito além do que um simples aumento do conteúdo empírico do curso. Eles demandam mais pluralidade: teórica, metodológica e interdisciplinar (veja o manifesto mais recente deles aqui)
Por que esse movimento é um grande engano?
Há nas demandas por pluralidade desse movimento, a meu ver, uma tremenda incompreensão.
"Pluralidade" é uma propriedade sistêmica da estrutura de ensino, e não uma característica de cada unidade-componente dessa estrutura. Com isso eu quero simplesmente dizer que é a floresta que tem que ter diversidade, e não cada árvore. Sim, é verdade que diversidade é desejável porque amplia o conjunto de ideias e o espaço de soluções para problemas que enfrentamos. Mas é um completo non sequitur afirmar que isso só pode existir se os currículos cursos de economia abraçarem toda a diversidade que existe dentro da disciplina e ainda um bom tanto da diversidade entre as disciplinas cuja pesquisa intersecciona com a economia. Até mesmo os X-Men sabem que há muito mais sinergia quando você se agrupa academicamente com like-minded people -- sem que isso impeça a existência de um grupo tão ou mais forte com ideias completamente opostas (no filme, o tal dos mutantes). Além disso, e talvez mais importantemente, já há considerável diversidade no ensino da economia -- taí as escolas heterodoxas espalhadas pelo mundo e a própria existência desse movimento para provar o ponto. É verdade que são poucas, mas lidar com essas coisas faz parte da escolhas que fazemos -- hey, todo mundo gostaria que sua área de pesquisa fosse ubíqua e ensinada em todos os cursos. Mas não é, e a maioria de nós está ok com isso.
O que fazer?
É óbvio que não há problema algum em demandar mudanças no curso. Essas coisas são desejáveis em alguma medida e duvido que exista um único professor de economia que não tenha ao menos um par de sugestões sobre como melhorar o curso e a experiência do aluno médio de graduação com o material ensinado. Entre nós aqui do blog já surgiu inúmeras sugestões: a sugestão do Mauro de adiantar econometria, a criação de áreas de especialização, o aumento de disciplinas "aplicadas", a redução da duração do curso. Mas mudanças em direção à incorporação de várias "abordagens alternativas" que exista enfrenta uma limitação básica que qualquer pessoa que entende o princípio mais fundamental da economia -- o de que existem restrições no mundo que invariavelmente criarão tradeoffs nas escolhas que faremos -- deve ser capaz de compreender, a saber: que não há como acomodar essas demandas sem alongar consideravelmente a duração do curso. Logo, se a duração está dada e queremos incluir "economia neo-schumpeteriana" e "economia marxista-estruturalista-de-raiz" no currículo, teremos que decidir o que vai dele ser removido para dar lugar à essas disciplinas (Micro II? História Econômica? Macro I? Matemática Financeira?) e se essas trocas são mesmo desejáveis.
Ainda que decidíssemos que trocar, digamos, Micro I por "economia institucionalista" não é desejável, não se segue daí que essas coisas não mereçam existir e serem ensinadas. Mas o curso de ação mais plausível é que alunos, professores e instituições insatisfeitos com o que é ensinado nos cursos de graduação em economia e convencidos de que o ensino de visões alternativas e de outras metodologias de pesquisa devem fazer parte da caixa de ferramentas do economista, organizem cursos com a estrutura e conteúdo que julgam adequada e suficientemente plural e deixem que o "mercado" (i.e., as pessoas) decida com os pés em que formato de curso votar.
Isso é uma solução mais democrática do que querer convencer "no grito", ou chorando nas colunas de jornal (o Krugman já respondeu aos lamentos dos heterodoxos aqui), que os alunos devam mundialmente serem expostos a abordagens cujas críticas que justificam sua existência o mainstream da profissão já tratou de incorporar.
Ainda que decidíssemos que trocar, digamos, Micro I por "economia institucionalista" não é desejável, não se segue daí que essas coisas não mereçam existir e serem ensinadas. Mas o curso de ação mais plausível é que alunos, professores e instituições insatisfeitos com o que é ensinado nos cursos de graduação em economia e convencidos de que o ensino de visões alternativas e de outras metodologias de pesquisa devem fazer parte da caixa de ferramentas do economista, organizem cursos com a estrutura e conteúdo que julgam adequada e suficientemente plural e deixem que o "mercado" (i.e., as pessoas) decida com os pés em que formato de curso votar.
Isso é uma solução mais democrática do que querer convencer "no grito", ou chorando nas colunas de jornal (o Krugman já respondeu aos lamentos dos heterodoxos aqui), que os alunos devam mundialmente serem expostos a abordagens cujas críticas que justificam sua existência o mainstream da profissão já tratou de incorporar.
Acho que quando algumas pessoas pedem uma mudança no ensino da economia, elas não estão querendo dizer que deve-se dividir a graduação igualmente entre neoclassicos, keynesianos, marxistas, austriacos e etc. Pegando o caso da FEA, acho que o curso de economia é bem variado, temos os dois primeiros anos dedicados a teoria economica, digamos, "mainstream" (com a exceção da crítica do Prof. Mauro, que acho que é muito válida), e depois disso, abre-se (teoricamente) um leque de optativas das mais variadas, desde HPE, Teoria do Valor e as matérias de história, passando pelas mais aplicadas como Saúde, Urbana e Regional, Desigualdade de Renda, etc, e também as de extensão, como Institucional, OI, as macros, etc. Eu não conheço como são os cursos do exterior, nem muito como são os das "concorrentes" como a GV, Insper, etc, mas acho que são mais engessadas nesse sentido. Tinha uma discussão na fea alguns semestres atrás de querer aumentar o numero de obrigatorias e diminuir as eletivas, isso não estaria indo contra o que voce e o Mauro estão falando?
ResponderExcluirQuem falou em dividir igualmente?!? Eles querem pluralidade teórica - leia o manifesto e veja as linhas explicitamente mencionadas (são pelo menos umas 5). E meu ponto é que acomodar essas demandas, para além do que já existe (o que eles obviamente não julgam satisfatório) exigirá que alguma coisa dê o fora da grade.
ExcluirNão entendi como aumentar o núm. de obrigatórias vai de encontro a algo que eu o Mauro tenha dito. De qualquer forma, pessoalmente penso que podia ter um "core" comum (micro, macro, quantitativas e brasileira) e o resto era sequências obrigatórias na área que o sujeito escolhesse (dentro do que o departamento fosse capaz de ofertar obviamente). Mas isso não me parece que vai acontecer nos próximos, sei lá, 300 anos.
O ponto da pluralidade é simples: nos primeiros anos, os alunos aprendem o básico das escolas principais e não de suas ramificações: neoclássica , pós keynesiana, estruturalista, marxista e neoschumpeteriana. Após travar conhecimento com as principais estratégias teórico-metodológicas da ciência econômica, o aluno aprofunda seus conhecimentos por livre-escolha ("com os pés", mas sem as correntes que os arrastam!) na corrente que se identificar. O problema do seu 'core comum' é que a micro e a macro que você deve estar pensando são majoritária (ou exclusivamente) neoclássicas. E para a escolha livre não ser distorcida, as provas da anpec devem refletir esta pluralidade (do contrário, todos os que pretendam entrar em uma pós precisarão se aprofundar no único 'core comum'). Roda este modelo 10 anos e vamos ver a distribuição de economistas por corrente teórica após esta mudança. abraço.
ExcluirPós-keynesiano é Keynes e Keynes é macro sem micro, sem gente e restrito a pouquíssimos tópicos. O que pós-keynesianos têm a falar sobre organização industrial, economia da saúde, economia da família, econoia do trabalho, criminalidade, demografia, progresso técnico, etc, etc? Eu te digo: Nada.
ExcluirEstruturalista só o diabo sabe o que é.
Marxista é lixaria ideológica que só se interessa em falar de crise e das contradições do capitalismo que o destruirão e dizer que tudo é conflito de classe. Que enfoque micro e macro sai de um trambolho desses? Nada da "economia marxista" sobreviveu, até porque coletar dados e testar hipóteses nunca foi a praia dessa gente.
Neoschumpeteriana é só sobre P&D, inovação e tecnologia. É um nichinho de OI. Tudo que eles falam já foi incorporado há décadas. O que esses caras têm a ensinar sobre mercados com externalidade e informação assimétrica por exemplo? Nada.
Ou seja: lotar o começo do curso com essas "escolas" iria dar uma formação incompleta e simplesmente fraca. Faria o que no fundo quer esses reformistas de araque: transformar a economia na mesma coisa que foi transformada a sociologia e a educação: plataformas de propaganda e doutrinação esquerdista vestida de "ciência".
Quem acha que econonomia é também uma plataforma de propaganda ideológica, só que com o sinal trocado, é porque não entendeu o seguinte: a disciplina economia respeita as leis da economia. E as leis da economia não são consistentes com as crenças do pessoal de esquerda sobre como o mundo deveria funcionar. Daí porque eles acharem que a disciplina é "pró-mercado" e "anti-pobre", o que é uma grandíssima besteira. Mas você não vai descobrir isso lendo o manual do Mankiw ou outro manual qualquer.
Sérgio, também acho que seria interessante que os alunos pudessem optar e seguir por duas ou três linhas de seu interesse. Gostaria de entender a sua visão pessimista da aplicabilidade de tal política. Na prática muitas pessoas já fazem isso, e já seria muito bom se ao menos houvesse o mínimo de coordenação na formatação da grade nesse sentido (ex: não colocar duas disciplinas da mesma área no mesmo horário, como acontece frequentemente)
ExcluirExcelente texto, Sergio. Acho que, como em tudo, existem incentivos políticos envolvidos nesta aparente "insatisfação de alunos inocentes e honestos". Não digo que não são sinceros, mas sabemos bem que há muitos interesses em jogo. O primeiro deles é o pessoal que perdeu a batalha mas continua tentando recriá-la. Ou seja: o curso tem micro i, micro ii e micro iii. Uma estrutura correta, redonda e que capacita o aluno para o uso da ferramenta (o correto, na minha opinião, é que as historias venham ao final do curso, tal e qual a residencia de medicina vem ao final do curso...graças a Deus!). Querer colocar algo novo significa ter que abrir mão de matérias.
ResponderExcluirConcordo também com a questão da pluralidade: o maior inimigo parece ser o governo, com sua estrutura rígida de grade curricular. Imagino que há interesses de economistas envolvidos nisto também e seria ótimo que o mercado pudesse decidir que estrutura é melhor, mas com tanta regulamentação, temo pelo resultado.
Além disso, atesto que é muito mais fácil falar de, digamos, economia novo-institucional para quem sabe micro, macro e econometria, do que para quem já começou negando o mínimo de conhecimento de um economista.
Sobre a parte empírica: totalmente de acordo. Minha experiência é que isto sempre ajuda. Muitos alunos que querem "pluralismo", contudo, não querem perder seu precioso tempo analisando dados, coletando ou pensando no que fazer com eles. Desejam, isto sim, pensar nos desafios filosóficos, bonitos e mais abstratos do que qualquer modelo com homo economicus (paradoxal e ironicamente). Quando algum aluno chega pedindo ajuda com um tópico empírico e quando ele realmente quer entender o problema, então só a preguiça o impede de fazer um bom trabalho. Claro, uma boa estrutura da faculdade em termos de internet e computadores, softwares ajuda. Também ajuda uma grade que ensine, de fato, estatística e econometria.
Mesmo assim, vejo que muitos alunos não querem aprender nada mesmo e se escondem sob esta capa de "não-aprendo-porque-não-há-pluralismo-e-a-culpa-é-do-professor-de-micro-neoclássico". É uma pena, moralmente falando, e também é uma pena em termos da (de)formação econômica gerada.
No meu mundo, o curso de economia teria a seguinte ordem: teorias, ferramentas e, no final do curso, as historias. Ao longo do processo, contudo, as disciplinas seriam como bons livros-textos: cheias de quadros (aqueles ótimos box 1, box 2, etc do livro do Bernanke, por exemplo) nos quais o aluno iria aprendendo a aplicar o ferramental teórico-estatístico a problemas específicos. No final do curso, claro, você poderia abrir especializações, mas isso dependeria do tamanho do mercado, como disse Adam Smith. Não acho que tenhamos tanta produtividade e capital humano (e tanto mercado) para ter tantas especializações assim, infelizmente.
Na pressa, não revisei meu texto. Ficou confuso, mas eu queria mesmo era parabenizar e agradecer por este texto. É ótimo saber que ainda há com quem ter uma conversa séria sobre o tema.
Claudio, ótimo relato! Obrigado por dividir conosco.
ExcluirO Krugman mandou muito bem nesse texto que vc linkou!
ResponderExcluirO Sergio Almeida é tão educado que foi ingênuo. Sergio, isso dai são alunos de esquerda em centros heterodoxos falando que estão cansados de aprender eficiência do mercado, ganhos de comércio e falhas de governo. Eles querem aprender só aquilo que justifique as políticas que eles gostam a priori.
ResponderExcluirOs alunos da UNESP também andam reclamando do curso, talvez da "enorme" quantidade de ortodoxia (para cada matéria de economia existe outra de heterodoxia ensinada anteriormente negando o que a economia ensina)
Ah, outra grande resposta:
ResponderExcluirhttp://raciocioniosespurios.blogspot.com.br/2014/05/pluralidade-ensino-de-economia-zzz-zzz.html?m=1
Bom, se o livre mercado é quase sempre a forma mais eficiente de alocar recursos, uma mudança na demanda deveria ser acompanhada por uma mudança na oferta. Se os consumidores querem ler Marx, Schumpeter, Galbraith, etc. que se faça a vontades deles, não?
ResponderExcluirNão! Aí oferta e demanda não presta mais. Sou monopolista do saber.
E é óbvio que há viés ideológico em disciplinas sociais como a Economia. Já viu algum neoclássico votar no PSTU? Já viu algum teórico marxista ser a favor do livre comércio internacional? É impossível separar a economia positiva da ideologia de cada um. Vejam o 'Nobel', uma louvação descarada do pensamento conservador (com raríssimas exceções). Mas faz parte, é o que eles gostam e o dinheiro é deles e eles dão pra quem quiser.
Enfim.... deixe de mimimi e entenda o princípio básico de alocação de recursos: oferta e demanda. Você é a oferta apenas. E ponto final.
"Bom, se o livre mercado é quase sempre a forma mais eficiente de alocar recursos, uma mudança na demanda deveria ser acompanhada por uma mudança na oferta"
ExcluirDeslocamento da demanda deslocando a oferta? Kkkkk...Dá pra ver que esse aí não aprendeu nada! Volta pro manual filhão e para de ler Marx!
Erro crasso à parte, é exatamente uma não-solução de mercado que esses heterodoxos de meia tigela querem: que, por lei, todo mundo seja obrigado a ler essas patifarias marxistas, schupeterianas e sei lá mais o que.
A solução de mercado é criar cursos que ofereçam isso. Mas algo me diz que se houvesse demanda de verdade pra isso, esses cursos já existiriam. O que não deve ser novidade, porque esse pessoal grita mas não passa de meia dúzia.
A frase pode não ter ficado clara, mas quando ocorrem mudanças NA curva de demanda, o equilíbrio muda AO LONGO da curva de oferta, ceteris paribus.
ExcluirOu não?
E não sou marxista, nem schumpeteriano, pós-keynesiano, sou neoclássico. Pra mim Mankiw e Varian bastam pra graduação. MAAAAAAAAAAS.... se os alunos demandam aprender outras coisas, o papel do professor ofertante é fornecer essa mercadoria. Preferências não se discutem, se aceitam como são.
Coraçãozinho da xuxa pra você.
"Mas algo me diz que se houvesse demanda de verdade pra isso, esses cursos já existiriam".
ExcluirO que é demanda de verdade? Como querem criar demanda se o produto nem é posto no mercado? Ou os produtos existentes são ruins ou há uma escolha política no sentido de reprimir tais 'produtos' (particularmente, creio que seja uma mistura dos dois).
Acredito que o aluno deveria ter mais opções na graduação (o mínimo de abordagens alternativas), para aí ele fazer certeiramente suas escolhas na pós-graduação. Na pós ninguém é inocente e todo mundo sabe o que quer, agora na graduação não. Os alunos entram com que conhecimento? Se ele é neoclássico (ou defende tão rigidamente esta posição no meio da graduação) é porque ensinaram ele daquela forma e só daquela forma, se é keynesiano o mesmo... (há exceções, mas o movimento predominante é o movimento de manada - os intelectuais ficam reféns de suas posições).
Sou mega a favor de pluralidade, porque me enjoa ver os heterodoxos falando que os ortodoxos são imbecis e os ortodoxos falando que os heterodoxos não sabem de nada.... MAS NÃO HÁ INTERAÇÃO TEÓRICA. Um lado critica o outro lado sem compreender profundamente a fundamentação teórica. Na verdade, é um grande debate político.
Não estou defendendo nenhuma posição, nenhuma. Mas vou a favor de pluralidade: afinal, o que se posicionam tão contra, o que tem a perder?
Gostei do beijinho da xuxa (kkkkkkkkk)
Cara, tem uma matéria no primeiro ano cujo trabalho é acompanhar colunista de jornal; não ler livros (podiam ler algo do Gimabiagi, não?), não ler artigos mais fáceis, mas COLUNA DE JORNAL.
ResponderExcluirhttp://gregmankiw.blogspot.com.br/2014/05/improving-econ-101.html
ResponderExcluirSérgio, você é novo na FEA USP, então talvez não saiba que o curso de Economia já ofereceu muito mais disciplinas eletivas quando gozava de mais professores (o dobro do número atual, para dar uma ordem de grandeza). A redução do quadro de docentes, se por um lado poderia permitir maior "eficiência" no uso de recursos públicos, resultou por outro lado no enxugamento dessa "pluralidade" fora do que poderíamos chamar "núcleo duro" da graduação.
ResponderExcluirO que não se pode negar é que, de fato, há uma disputa intra-departamental. Seu texto carrega a conclusão de que "os incomodados que se mudem". A questão é que, como nós todos provavelmente aprendemos em Microeconomia, as externalidades dependem sempre do ponto de vista. Quem, enfim, tem mais legitimidade para rotular "incomodados", para se impor como ala majoritária dentro do departamento?
O que quero dizer com essa breve digressão é que não se pode querer "exportar" o debate que ocorre dentro de casa. Hoje, ele se trava no momento de abertura de cada concurso de contratação de professores. Antes disso, se trava na definição da grade curricular, porque ela determina o que é obrigatório e prioritário e, com efeito, "condena" o departamento a contratar professores que ofereçam determinadas disciplinas. Em resumo, talvez você não saiba, mas faz pelo menos quatro anos que os representantes discentes tentam influir na verdadeira "guerra demográfica" do departamento, buscando preservar ao máximo o pluralismo de outrora. Tudo isso, devo dizer, dentro da estrita democracia (com a qual, sublinhe-se, alguns professores "dinossáuricos" tem dificuldade em conviver).
É preciso, contudo, sublinhar que as derrotas dos "pluralistas" parecem ser maiores do que suas vitórias. Veja o perfil dos professores que se aposentam em comparação com o dos ingressantes. Tirando raros casos, a maior parte das contratações dos últimos anos se concentrou em "Teoria Econômica" e "Métodos Quantitativos". Aposentados como Eleutério e Ana Maria Bianchi não foram repostos em quantidade proporcional. Nossa sorte é que, por hora, eles seguem lecionando voluntariamente.
Em suma, considerando que já me alonguei em demasia, concluo dizendo que não se deve tratar da questão de forma abstrata quando, na realidade, os problemas reais estão no nosso dia-a-dia.
Anonimo 21:55:
ExcluirDevo ter me expressado mal. Não quis dizer que que os "incomodados devem se mudar". Quis dizer que os incomodados com a pouca pluralidade do currículo de graduação devem se organizar para montar o curso que julgam ideal (dentro ou não de uma faculdade de economia). É só uma sugestão. Porque no fim cada um faz como acha adequado.
E meu ponto é sobre o debate internacional sobre o tema -- nada tem a ver com as "disputas intra-departamentais" que você diz existir (me soa belicoso chamar de disputa o que é um mera divergência, coisa que vai fatalmente existir em qualquer grupo numeroso e heterogêneo em várias dimensões. Mas enfim..).
Sobre as mudanças, não sei você, mas eu encaro as coisas assim: uma instituição precisa se renovar (de ideias, não de rostos) pra não sucumbir. Um dia serei "dinoussaúrico" (depois do doutorado, estamos todos numa lenta marcha rumo à obsolescência) e aceitarei o fato com graça porque sei que isso é natural e desejável. Espero não morder minha língua e ser como meu avô...sempre se lamentando que o mundo não é mais como era no passado e que as mudanças são sempre pra pior.
Então a FEA está aposentando Eleutérios e contratando Economistas Quantitativos ?
ExcluirObrigado pela informação, vou colocar o IPE-USP entre minhas preferências para a ANPEC. Sempre tive receio com a quantidade de heterodoxo (leia-se pseudocientista) no IPE, mas é bom saber que estão todos perecendo com o tempo.
Pelo que um aluno do CAVC que participa dessas discussões me falou, os últimos concursos não deixam dúvida: é só uma questão de tempo pra que esse pessoal heterodoxo seja apenas uma página virada da história do IPE-USP. Mas parece que a disputa que o anônimo falou acima não é entre heterodoxo e ortodoxos, novos e velhos. É entre professores sérios e pikaretiz.
ExcluirSe os professores se engajassem em ouvir os estudantes e trocassem a famigerada disciplina de "Análise da Conjuntura Econômica" por algo mais sério, ao menos a insatisfação dos alunos da USP com seu curso poderia ser mitigada, sem a exigência de se mexer na estrutura da graduação para ensinar Estatística mais cedo (que não é uma idéia ruim em-si, mas que simbolizaria uma mudança grande de difícil costura política).
ResponderExcluirFato é que um aluno recém-formado na USP, mesmo fazendo dez disciplinas optativas de Macroeconomia, sai do curso sem conhecer as variáveis de interesse que os economistas usam no seu dia-a-dia. Digo por experiência própria: nunca aprendi na FEA sobre indicadores como produção industrial, PMI, nem sobre os diferentes índices de inflação que existem. Tudo sempre se reduziu a um "Y", a um "P", sem saber como tudo se mensura na prática.
Uma sugestão que coloco é extinguir "Análise da Conjuntura" (que só serve para professores picaretas fingirem que cumprem sua carga didática) e criar uma "Introdução à Economia" mais robusta. Nas duas horas semanais que seriam adicionadas ao curso introdutório, seria muito legal se o professor mandasse os alunos lerem as atas de Bancos Centrais do mundo (não precisa se restringir ao Brasil; pode mandar ler do México, do Chile, qualquer BC "sério"). O objetivo do docente seria, em termos gerais, "destrinchar" cada um desses textos, familiarizando o estudante com os mesmos, apresentando o regime de metas, etc. Como as atas são publicadas com uma periodicidade curta, o professor poderia acompanhar o desenvolvimento da política monetária de um país específico, refletindo sobre como se toma decisões diante de diversos cenários econômicos.
Mesmo que o calouro não entenda mais do que um terço daquele conteúdo, ao menos ele saberá quais são os termos utilizados, qual é o debate em questão. Quando aquela tia chata perguntar no jantar de Natal sobre a inflação, ele poderá mostrar que aprendeu alguma coisa concreta. Depois, ao chegar nas disciplinas mais avançadas de Macroeconomia, o aluno saberá que todas aquelas variáveis tem uma contrapartida empírica, e estará mais preparado para absorver o conteúdo teórico.
Imagine um curso desses ministrado pelo CESG? Seria "orgásmico" para um calouro. Anotem aí. Não tem erro.
Ah! Cliquem nesse link para verem a minuta do Banxico (Banco de México). É um texto muito claro, didático: http://tinyurl.com/banxico-minuta
Marx é pra fracassados.
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