Não colecionava figurinhas desde que era adolescente. Mas certo domingo o álbum da Copa veio junto com o Estadão, e minha esposa me convenceu a completá-lo para o nosso filho de 5 meses.
Algumas coisas não mudaram: a troca de figurinhas é uma atividade parecida com o escambo (troca de mercadorias por mercadorias), tipicamente descrita em livros-texto de Macro e Economia Monetária. Nessa situação, é necessário alcançar a tal da "dupla coincidência de desejos" para que haja uma transação. No caso, se você tem uma figurinha repetida do Jordi Alba e quer a do Fernando Gago, precisa achar alguém que tenha uma repetida do Gago e precise da figurinha do Alba.
Quando estávamos começando o álbum, eu e minha esposa fomos a um local (no interior de São Paulo) em que as pessoas se reúnem para trocar figurinhas. Notamos que algumas pessoas estavam comprando e vendendo também. Um cara me perguntou se eu queria comprar. Eu imediatamente disse que não, pois esperava que iria me cobrar algo como R$1 por figurinha (o pacote com 5 unidades custa R$1). Mas o preço de mercado no local era R$0,20, ou seja, o mesmo preço da banca.
Isso é de fato estranho. Eu esperaria que o preço fosse mais alto. Ao comprar direto de uma pessoa e não da banca, você elimina o risco de tirar repetidas. Sim, tem um jeito de pedir as figurinhas direto da Panini (editora do álbum), ao preço de R$0,20 por unidade, o que limita o preço de mercado. Mas para isso tem o custo do frete e da espera, de modo que o preço deveria ser um pouco acima dos R$0,20.
Em tese o preço poderia ser até menor, pois quem tem várias repetidas estaria disposto a receber menos que R$0,20 para se livrar do estoque. Porém, é mais plausível que isso ocorra quando a Copa se aproximar, e a chance de troca de figurinhas se tornar cada vez menos provável.
Em tese o preço poderia ser até menor, pois quem tem várias repetidas estaria disposto a receber menos que R$0,20 para se livrar do estoque. Porém, é mais plausível que isso ocorra quando a Copa se aproximar, e a chance de troca de figurinhas se tornar cada vez menos provável.
(Isso foi no interior de São Paulo, não sei como funciona em outros lugares. Favor comentar.)
No caso, não acho que as pessoas estavam querendo lucrar com a compra e venda de figurinhas. Na verdade, a única coisa que o dinheiro estava fazendo era cumprir uma de suas funções principais: prevenir a necessidade de dupla coincidência de desejos nas trocas (escrevi um post sobre esse tópico há alguns meses).
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Tem uma coisa que mudou muito ao longo dos anos: a tecnologia (email, redes sociais) tem ajudado a integrar mercados de figurinhas, ao permitir que as pessoas se encontrem com mais facilidade. Talvez por conta disso emergiram pontos de encontro em que centenas de pessoas se reúnem para trocar figurinhas. A foto abaixo mostra um desses pontos de encontro no Shopping Eldorado, em São Paulo.
À primeira vista, isso me pareceu ser ruim para o produtor desse mercado, dado que uma pessoa precisará comprar menos pacotes para completar o álbum. Mas há um segundo efeito: como ficou mais fácil completar o álbum, mais pessoas podem optar por fazê-lo, elevando a demanda e beneficiando o produtor.
Hoje no rádio ouvi que a Panini incentiva essa integração de mercados, ao disponibilizar um aplicativo de celular em que as pessoas listam suas figurinhas repetidas e as que faltam, e podem compartilhar essa informação com seus amigos. Ao que tudo indica, o segundo efeito acima é de fato importante.
Bateu saudades de a infância, mauro.
ResponderExcluirAqui no Rio está acontecendo um pouco diferente, tem pessoas cobrando até 6 reais pela figurinha do Neymar por exemplo.
ResponderExcluirNo meu caso, que já completei o álbum, tenho vendido minhas repetidas por 0,20.