No mundo desenvolvido, nos últimos 30 anos a desigualdade vem crescendo a taxas elevadas, principalmente nos EUA.
Em boa parte, isso se explica pelo que os economistas chamam viés a favor de trabalhadores mais qualificados. A causa fundamental dessa alteração na composição da demanda por mão-de-obra ao longo das três últimas décadas é o progresso tecnológico que vem tornando obsoleto o trabalhador menos qualificado. Cada vez mais, as tarefas desempenhadas nos diversos setores da economia exigem competências que só os mais escolarizados possuem, como habilidade para mexer em planilhas de computador, por exemplo. E para piorar, se você não é escolarizado, nem como ascensorista você pode mais ganhar seu sustento, pois os elevadores modernos não precisam de ascensoristas.
O que sai desse diagnóstico em termos de recomendação de politica pública é óbvio: melhorar o capital humano da parte mais desassistida da população. Menos óbvio, claro, é como fazê-lo. O fato dos EUA, país rico e com as melhores universidades do mundo, ter muita dificuldade em melhorar a qualidade das suas escolas fundamental e média, é sinal de que a tarefa é pra lá de complexa.
A explicação tecnológica, contudo, é incompleta. Por dois motivos. Primeiro, o avanço tecnológico é de natureza mundial, enquanto a desigualdade cresceu muito nos EUA e menos em outros países que também se beneficiaram de melhoras tecnológicas. Segundo porque o grande salto de renda deu-se no grupo dos 1% mais ricos. Os 10% mais ricos também melhoraram bem mais que a média, mas muito menos que os 1% mais ricos.
Segundo fator: escala. Um menino lá nos EUA inventa uma coisa chamada Facebook. Ele certamente deve e vai ser remunerado pela sua sacada de alto valor social. O ponto aqui é que essa remuneração vai depender do tamanho do mercado consumidor para o produto que ele inventou. Se for o estado onde ele mora, como era o caso antigamente, a renda dele aumenta, mas nem tanto. Já se for o mundo, como é o caso hoje, a renda sobe de modo estonteante. No segundo caso, claro, a estatística que mede a desigualdade de renda dentro dos EUA reagirá bem mais.
Veja que nesse caso é menos óbvio que se deva fazer algo a respeito -- não conheço pessoa razoável que defenda que o Facebook deveria ser proibido em alguns lugares para que a renda do Zuckerberg não crescesse tanto...
Terceiro, e aqui o debate aqui esquenta, tem a ver com a tendência a uma regulamentação mais solta e a uma capacidade maior dos altos executivos determinarem seus próprios salários mais livremente (enfraquecimento da chamada outrageous constraint pós anos 80, elemento que pode ser importante na determinação de salários em casos onde o problema de agente-principal é mais virulento, como no caso de altos executivos) – explicação que cabe melhor no contexto dos EUA. O Nobel Joseph Stiglitz, por exemplo, argumenta que muita gente no mercado financeiro ganha acima do seu valor social porque a reviravolta na regulamentação (principalmente a frouxidão na necessidade de aporte de capital próprio) possibilitou que investimentos muito arriscados sob o ponto de vista da sociedade – mas que, quando dão certo, remuneram bem quem os faz – crescessem indevidamente. A recomendação é apertar a regulamentação dos bancos e descolar o pagamento dos bônus dos executivos do retorno de curto prazo das instituições financeiras (como, aliás, já vem ocorrendo).
Onde possível, é preciso agir contra a desigualdade. Primeiro porque em boa parte ela advém de condições iniciais muito diferentes entre os indivíduos – quem nasce pobre tem mais dificuldade de cursar uma boa escola ou de inventar um Ipad. Segundo porque desigualdade causa outros males, como criminalidade, por exemplo, que abrange a todos. E terceiro porque ela é politicamente muito perigosa, podendo dar ensejo a experimentos heterodoxos que põem em risco o desenvolvimento econômico ou, em casos mais extremos, até mesmo a Democracia.
Gostaria de saber como tem andado a renda dos 90% da população dos EUA. A desigualdade aumentou porque os ricos bombaram ou a coisa está estagnada? Se o Buffett entrar como colaborador do blog a desigualdade aumenta, mas vocês continuarão muito ricos.
ResponderExcluirI am imensely rich. The others here are not
ExcluirEm queda, na verdade:
ResponderExcluirhttp://krugman.blogs.nytimes.com/2014/03/16/the-wages-of-men/?_php=true&_type=blogs&module=BlogPost-Title&version=Blog%20Main&contentCollection=Opinion&action=Click&pgtype=Blogs®ion=Body&_r=0