O pessoal de instituições, capitaneados pelo Daron Acemoglu, montou na última década e meia uma bela sequência de artigos mostrando que instituições importam muito para explicar desenvolvimento econômico. Antes deles, é fato, teve uma onda de papers mostrando correlações fortes entre qualidade institucional e desenvolvimento. Mas foi esse pessoal que foi escavar instrumentos para tratar o problema óbvio e sério de endogeneidade (possibilidade de renda mais alta causando melhores instituições).
O resultado: instrumentalizando qualidade das instituições de hoje com características exógenas do passado -- por exemplo, mortalidade de colonizadores alta indicando instituições iniciais de exploração (direitos de propriedade frágeis), mortalidade baixa indicando instituições inclusivas -- os dados continuaram a sinalizar qualidade institucional como a coisa mais importante para explicar diferencial de nível de desenvolvimento.
O debate parecia findo.
Mas em 2004 o Ed Glaeser e co-autores disseram: "pera aí!" Os colonizadores nos locais com baixa mortalidade ficaram. Sim, eles construíram instituições melhores do que as construídas nos locais onde o pessoal não ficou e só explorou, mas além disso eles FICARAM. E isso significa que o capital humano deles ficou também! Então pode bem ser capital humano, meus caros. Certo?
Sim, a principio certíssimo.
Mas...
Mas o foda é o seguinte: nas regressões CROSS-COUNTRY com capital humano lá dentro, a taxa de "retorno minceriana" que sai dos coeficientes estimados é bizarra: 25% ao ano. Isso fica muito além, muito mesmo, do estimado com dados microeconométricos -- em torno de 8%.
Cheira a quê? Cheira a viés de variável omitida...
Bom, no paper do NBER dessa semana, o Acemoglu e seus colegas mostram que se você instrumentaliza capital humano, o retorno minceriano das regressões macro cai bastante, cai justamente para perto dos valores estimados nas regressões micro. Como eles instrumentalizam? Usando dados de localidades de alguns países (controlam por efeito-fixo do pais, então sobram apenas as variações dentro do país mesmo), eles olham para quantidade de missões protestantes e pegam a variação do capital humano entre localidades devida apenas a variações nessas missões. A ideia é que os protestantes investiam muito em capital humano, construíam escolas, etc, mas não focando em crescimento, e nem faziam isso nos locais mais promissores em termos econômicos. Eles queriam é que as pessoas pudessem ler a Bíblia por elas mesmas. E isso soa bem exógeno a crescimento, não?
Pois é, ao fim e ao cabo, Instituições continuam na frente na corrida. A altíssima taxa de retorno do capital humano nas regressões macro tradicionais vem em boa medida (2/3) da endogeneidade do capital humano à qualidade institucional...
Pergunta de quem tá com preguiça de usar o google: essa não é a idéia daquele paper do Sascha Becker, "Was Weber Wrong?" ?
ResponderExcluiryep..
ResponderExcluirUma coisa que esqueci de comentar: como capital humano é medido com menos erro que instituições, mas é correlacionado com instituições, por esses dois negos numa regressão sempre favorece o beta do capital humano
ResponderExcluiróptimo post digassi de passagi
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