quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Por que não existe direita no Brasil?


Discuti há pouco a questão com um colega, voltando de almoço com cliente em um shopping. Arriscamos algumas hipóteses, mas não chegamos a nada satisfatório.

Disse a ele que proporia a questão no blog para ver se surgiam ideias, seja dos ilustres professores, seja dos leitores.

Fiz a lição de casa. Perguntei ao Google.

A única coisa interessante que apareceu na primeira página de resultados foi uma reportagem da Veja de 2011 – “O Incrível Caso do País sem Direita”.

O tema de nossa conversa surgiu por duas razões:
1. o elevador do shopping tinha ascensorista;
2. o artigo do Clóvis Rossi sobre o surto de pessimismo com relação ao Brasil. Ambos tomamos conhecimento do besteirol por intermédio da incrível aceitação do argumento nas chamadas “mídias sociais”. Diversos amigos nossos "curtiram" a ideia de que o pessimismo é coisa da “classe privilegiada”.
O que isso tem a ver com a pergunta do título?

No Brasil, contratar um ascensorista é “gerar um emprego”. Isso é bom, ponto final. O fato de o trabalho ser improdutivo é mero detalhe. Não há chance de a questão ser debatida serenamente em um debate político. Aqui, poupar trabalho inútil é “destruir” empregos e coisa de quem lucra com a promoção da injustiça.

Este e outros mitos como, por exemplo, as falácias do Clóvis Rossi, “colam” porque batem em ouvidos que são acostumados ao discurso esquerdista mais superficial desde os primeiros anos de escola. Não há pedagogo que não seja marxista no Brasil.

Na matéria da Veja, um político do PSB diz que "oposição à direita é um erro grave porque você tem um país com contradições sociais gravíssimas” – como se a agenda à direita fosse sinônimo de promoção de injustiças.

Possivelmente o político fala a bobagem porque está convencido – não necessariamente por que é mal intencionado. É lógico que há vigaristas que se opõem ao “neoliberalismo e tudo que está aí” porque o discurso funciona em eleições e, uma vez no poder, é deitar e rolar (em sociedade com os pilantras do passado). Várias fortunas amealhadas recentemente tiveram essa origem.

Discordo do colega CESG quando ele diz que os artigos recentes do André Lara Resende e do Gustavo Franco chovem no molhado. O maior problema é que eles não atingem o público que deveriam atingir. Mas têm que ser escritos.

A salvação da lavoura em longo prazo seria investir na formação de pedagogos com noções básicas de economia.  Em curto prazo, o CESG precisa explicar os textos do André Lara Resende e do Gustavo Franco para a Ana Maria Braga – a única que teria capacidade e legitimidade para oferecer ao grande público um contraponto às barbaridades do Clóvis Rossi.

Os políticos também teriam. Mas são todos “de esquerda”.


16 comentários:

  1. Chuto duas razões: primeiro pq partidos no Brasil não são tão associados a valores (são mais pragmáticos, o importante é ganhar) e pq caso surgisse um partido de direita ele seria rapidamente relacionado à ditadura pelos políticos "de esquerda".

    Acho q na vdd ainda tem mais. Aqui nem o empresário é de direita, pq do jeito q tá, mamando no bndes, é o melhor dos mundos!

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  2. Celso, acho que este paper da uma boa explicacao para America Latina em geral pos-80s: (Growing up in a Recession: http://restud.oxfordjournals.org/content/early/2013/12/25/restud.rdt040.short?rss=1)

    "We find that individuals who experienced a recession when young believe that success in life depends more on luck than effort, support more government redistribution, and tend to vote for left-wing parties. "

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  3. Conversando com um grupo de amigos do leste europeu, fiquei impressionado com a visão política deles. Me falaram que é um absurdo ser de esquerda, que não há candidato que se sustente se um candidato se auto-proclamar de esquerda.

    Acho que é possível a partir disso fazer uma analogia com o Brasil. A percepção do brasileiro é a de que a ditadura militar foi um governo de direita(sei que há controvérsias), assim como foi a época comunista para os países do leste europeu. A sequência de fatos desses períodos justificaria essa aversão à esquerda e à direita. (Concentração de renda ligada a um governo de 'direita', por ex.)

    No caso deles, isso ficou claro pra mim quando me falaram a razão de não acreditarem em Deus. Segundo eles, depois de um século de miséria, ditaduras e guerras é mais do que natural ser ateu.

    Não compro totalmente essa história para o Brasil, pq ainda acho que há mais hipocrisia do que ideologia no discurso político das pessoas. A sociedade brasileira é, em geral, conservadora e ainda não entende(ou ignora) boa parte do discurso político-econômico.

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  4. Não existe direita no Brasil devido à distribuição de renda muito desigual, onde a renda do eleitor mediano é muito menor que a renda média. Neste contexto o eleitor mediano quer um estado generoso porque terá mais benefícios do que será tributado.

    Como a desigualdade está diminuindo no Brasil, a tendência é partidos mais conservadores surgirem e os partidos atuais ficarem mais conservadores.

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    1. Mas e se essa desigualdade tiver sido gerada pelas políticas heterodoxas de esquerda ? Acho que a esquerda no Brasil precede a desigualdade no Brasil em 1 ou 2 décadas.
      O Debate se a inflação era "estrutural" ou devido a políticas fiscais e monetárias já significa que a classe intelectual no brasil estava seriamente debilitada.

      Acho que a questão não é nos perguntarmos por que o Brasil não tem direita, e sim por que a direita política é tão fraca na áfrica e na américa latina ....

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    2. Marcelo, o índice de Gini atingiu o máximo no início dos anos 90, tendo crescido nos 30 anos anteriores já tendo saído de base alta. A inflação contribuiu apenas parcialmente para este aumento.

      A combinação do fim da inflação, expansão da educação e de políticas distributivas iniciada nos anos 90 (previdência para idosos e bolsa família) tem diminuído a desigualdade desde então.

      O fato é que a melhora da distribuição da renda vai criar uma política mais de centro, mais conservadora que a atual.

      O PT, PSDB, PSB, PMDB estão mais ao centro do que estavam a 25 anos atrás. As novas forças (Marina e cia) também estão mais ao centro.

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    3. Eu não discordo de você, o índice de gini realmente mudou nos anos 80 e começo dos anos 90, basicamente o periodo de desequilíbrio inflacionário (e talvez dê pra colocar isso na culpa da heterodoxia nacional)

      Também acho que uma melhor distribuição de renda, aliada a uma melhor educação e maior renda per capita, gera uma classe política menos socialista

      eu apenas discordo de você na desigualdade ter criado um país sem direita, me parece que o enfraquecimento da direita é muito anterior ao aumento da desigualdade social .... possivelmente esta só aumentou desse modo por falta de uma direita que barrasse a distribuição perversa de renda das políticas industriais heterodoxas e da inflação dos anos 80 e 90

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    4. "a esquerda no Brasil precede a desigualdade no Brasil em 1 ou 2 décadas."
      Socorro! Chamem o Renato pro blog!

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  5. Acabei de ler o clovis rossi. Meu deus meu deus

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  6. Vejam a discussão no Painel da Globo News.

    Parte 1: http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news-painel/t/todos-os-videos/v/convidados-debatem-o-padrao-da-politica-brasileira/3046926/

    parte 2: http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news-painel/v/ha-razoes-historicas-para-brasil-nao-ter-partido-de-direita-diz-reinaldo-azevedo/3046924/

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  7. Nao sei o por quê o Clovis Rossi incentiva essa "luta de classes", como se a economia fosse um jogo de soma zero (necessariamente se um ganha o outro perde).

    Comparar dívida pública com bolsa-família ele defecou pela boca. Se comparasse bola-família com o dinheiro do BNDES seria até coerente...

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  8. o Clovis Anta fala como se o governo estivesse fazendo um favor em devolver o dinheiro que lhe foi emprestado.. É.. tem tudo a ver com o bolsa familia mesmo.. meu deus

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  9. Fico feliz que mais pessoas prestaram atenção nesse lixo que o clovis rossi escreveu.

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  10. 1. Samer, darei uma lida no texto, obrigado; Flavio, me falaram desse programa da Globo; darei uma conferida; parece que é com o Bolívar, não?
    2. Legal a analogia com o Leste. A associação da direita com a ditadura aqui deve ser parte da explicação.
    3. Hipocrisia e política andam juntos. Mas é um tanto estranho não ter o partido da privatização que se diz de esquerda. Não ter o cara que tenta explicar para o eleitor mediano os equívocos e combater esse nhem-nhem-nhem da ditadura (o Sarney é o maior parceiro da moçada!!!). É o Clovis Rossi, que teria tempo e espaço para fazer uma análise ainda rala, mas minimamente balanceada, colocar aquele monte de bobagem e os amigos nossos (que não são o eleitor mediano) "curtirem" as abobrinhas.
    4. Por isso fico com a impressão que a coisa vem do berço. Aposto que todo mundo que está comentando aqui tinha um viés "de esquerda" com 15 anos de idade. Eu tinha. Acho que até o Cesg, que era militar antes de virar escritor.
    5. Duzinho, você repetiu minha recomendação para o LP: adotar o Sob A Lupa no jardim da infância. Mas, para o curto prazo, você terá que ir para a AMB. Com a fantasia do corredor X.

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  11. Curiosidade, quais são os textos do G. Franco e A.L Resende citados?

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