terça-feira, 28 de outubro de 2014

5 observações sobre os resultados das eleições


Alívio ou frustração. Esses parecem ser os sentimentos que predominam de forma excludente entre os eleitores. Findado o "show da democracia", Dilma Rousseff venceu Aécio Neves por cerca de três milhões e meio de votos. Foi muito pouco, como já era esperado nessa que se desenhou como uma das eleições presidenciais mais competitivas e emocionantes da história das eleições diretas no Brasil. 

Primeiras reações
Com a divulgação dos resultados, "civis" nas redes sociais e jornalistas especializados em políticas nos grandes canais de televisão começaram a fazer interpretações intringuantes. Um comentarista de um grande canal "culpou" Minas Gerais pelo derrota de Aécio Neves. Não faltou também gente bisonhamente defendendo a divisão do país em dois quase que seguindo a distribuição binária de estados em que venceu cada candidato -- como se as marcas do subdesenvolvimento na história do país fosse responsabilidade exclusiva das escolhas dos eleitores de uma ou outra região.

Aproveito para compilar algumas reflexões sobre os resultados e apontar algumas curiosidades nos resultados que me parecem ter passado desapercebidas. Aí vai:

1. Pesquisas de opinião: "In science we (should) trust"



Muito descrédito recaiu sobre os institutos de pesquisa. Foi um tanto compreensível dado o tamanho do erro nas estimativas do primeiro turno -- as pesquisas de intenção de voto apontavam que Aécio (Dilma) teria 26% (44%) dos votos válidos, tendo tido, de fato, 33,55% (41,59%). O que foi pouco comentado é que essas pesquisas de intenção sempre exibem erros relativamente grandes em relação aos resultados do primeiro turno -- em geral são erros não-amostrais, em grande parte produzidos por "erro" na hora de votar devido ao número maior de candidatos a ser escolhido -- mas tendem a cravar o resultado com impressionante precisão estatística no segundo turno. E não foi diferente nessa eleição: as sondagens de Ibope e Datafolha na última semana falavam em percentuais que acabaram sendo muito próximos do percentual de votos obtido por Dilma e Aécio. Estatisticamente, acertaram na lata!

2. Psicologia do eleitor "swing"




Na semana passada escrevi um post onde fiz considerações sobre a psicologia do eleitor "swing" -- os indecisos, os que abstiveram-se no 1º turno e os que votaram branco e nulo. Falei de três efeitos que poderiam atuar sobre esses eleitores: o "efeito underdog" (preferir o candidato que é esperado perder), o efeito "networked bandwagon" (seguir o voto das pessoas indecisas na sua "rede" social uma vez que elas comecem a se decidir) e o efeito "efeito ilusão pivotal" (a crença de que seu voto individual pode ser relevante para determinar o resultado da eleição).

Uma evidência anedótica do segundo efeito foi a declaração pública de voto de alguns jogadores de futebol (Fred e Ronaldinho) na esteira da divulgação do vídeo de Neymar Jr. declarando voto em Aécio.

Dito isto, o efeito que governaria o resultado previsto seria mesmo o terceiro: a "ilusão pivotal". A ideia era a seguinte: se parte desses eleitores "swing" acreditassem que há um empate técnico, desejariam aparecer para votar no segundo turno. O efeito obviamente recairia sobre eleitores dos dois candidatos. Mas o argumento em favor de um efeito final em favor de Aécio provinha da hipótese de que o custo a ser internalizado nessa decisão de se deslocar para o seu distrito eleitoral operaria como uma barreira maior para os eleitores de Dilma. 

O fato que chegamos na sexta com um virtual empate técnico entre os candidatos, criava as condições ideias para testar a previsão, que tinha portanto duas partes: uma parte "qualitativa" (o sinal do efeito: votos "swing" diminuirão) e outra quantitativa (o tamanho do efeito: a mudança de votos terá suficiente para dar a vitória a Aécio Neves). 

Conquanto a segunda parte da previsão tenha miseravelmente falhado, fui olhar os dados dessa e das últimas três eleições e constantei que eles são consistentes com a primeira parte da previsão: embora seja sempre verdade que, do primeiro para o segundo turno, (a) o percentual de votos brancos/nulos se reduz, e (b) o percentual de abstenções aumente, esses movimentos foram diferentes nessa última eleição na direção prevista: as abstenções aumentaram menos e os votos nulos/brancos diminuíram mais (a excessão é a redução de nulos em 2002).

A tabela abaixo mostra as diferenças entre os percentuais (de abstenções, nulos e brancos) de primeiro e o segundo turno das últimas quatro eleições. Há evidência, portanto, de que teve um efeito na direção prevista mas sem a intensidade suficiente para mais do compensar outros movimentos que acabaram dando mais votos para Dilma.


3. Boatos de que Aécio estava vencendo eram verdadeiros
Soube de fontes quentes que Aécio estava a frente de Dilma nas horas que anteciparam a divulgação. Em certo momento, quando faltavam cerca de trinta minutos para a divulgação do resultado, dizia-se que Aécio estava com 53%. Havia um clima de euforia entre amigos e conhecidos com quem compartilhei as boas-novas. Quando os resultados apareceram às 20h ficou a dúvida: a fonte estava falando a verdade? O gráfico abaixo mostra que sim: no eyeball, vê-se que Aécio chegou a estar mais de 10 pontos percentuais a frente de Dilma com mais da metade das urnas apuradas (!), com Dilma passando-o apenas com a contagem dos votos do decil final das urnas sendo apuradas. Close call!



4. "Mas e se...": Existe um culpado?




Resultado computado, os que torciam pela vitória do senador procuravam um "culpado". Muitos analistas foram ligeiros em vaticinar MG como o culpado (a diferença foi de cerca de 500 mil votos apenas...). Os que votaram nulo e se abstiveram-se de votar (mais de 25% do eleitorado) foram "culpados" também.

Muitos outros disseram que o culpado era a região Nordeste -- nos estados da região, Dilma teve, de fato, expressivos percentuais de votação; excetuando-se Alagoas, Dilma teve diferenças de mais de 30 pontos percentuais em todos os estados da região (foi de mais de 50 pontos percentuais no Ceará, Maranhão e Piauí.). como já aconteceu no primeiro turno, discursos de ódio contra a região abundam. Até os que votaram nulo e se abstiveram-se de votar (mais de 25% do eleitorado) foram "culpados".

A ideia de geolocalizar a "culpa" pela derrota é no mínimo boba, dado que estamos em um sistema onde o que importa é a contagem nacional de votos, tendo os votos de lugares diferentes rigorosamente a mesma influência no resultado final (diferentemente dos EUA onde o vencedor em cada estado "takes ti all"(votos do estado)).

O tratamento pouco cuidadoso dos dados pode ser, em parte, responsável por essas confusões. Falo especificamente desses mapas binários de votação por estado (pintado de vermelho se Dilma ganhou, e azul se Aécio venceu) que muito aparecem nos jornais (ver o exemplo abaixo com dados do segundo turno dessa eleição). 


O que esses gráficos escondem é que Dilma teve votações expressivas em absolutamente todos os estados (ver gráfico abaixo, da web, com cada estado sendo colorido conforme proporção de tovo obtido por cada candidato). Em Santa Catarina por exemplo, onde Aécio venceu com a maior diferença percentual absoluta, Dilma obteve 35% dos votos válidos. No Rio Grande do Sul, Aécio venceu mas Dilma obteve quase 47% dos votos. Em São Paulo por exemplo, Dilma obteve praticamente 8.5 milhões de votos, metade dos quais seriam mais do que suficientes para ter dado a vitória a Aécio. Ou seja: é sempre possível definir uma aglomeração espacial grande o suficiente para fazer o exercício contrafactual de que, tivessem Dilma tido, sei lá, metade dos votados que obteve, o resultado da corrida presidencial teria sido outro. O exercício é obviamente inútil: Dilma venceu com votos de eleitores de todos os lugares. Period.



5. Quem tem medo da polarização?
A disputa acirrada parece ter deixado muita gente impressionada. Faz sentido. Afinal, nunca experimentamos, desde a abertura, uma eleição tão concorrida como essa. O que não faz absolutamente nenhum sentido é tomar isso como sinal de que há uma divisão no país que justifique falar em segregação. 

Obviamente que essas são reações emocionais de quem está tendo dificuldade de assimilar a verdade: Dilma venceu e o fez dentro das regras do jogo democrático, de modo que o resultado deve ser absolutamente respeitado.

Verdade seja dita que logrou a vitória com uma campanha eticamente reprovável, que fez uso do medo -- como quando dizia que a independência do Banco Central era equivalente a colocar banqueiros a decidir preço e salário! -- e que insiste em difundir a cretinice de que ricos, bem-sucedidos, e quem "a direita" do partido estiver, não podem genuinamente desejar a melhoria da renda e da educação das pessoas mais pobres. Mas há quem diga que não há santos e que a "politics of fear" dificilmente vai deixar de ser usada pelos incumbentes, seja de que partido for.

O mais importante aqui é lembrar que essas polarizações são naturais e podem até ser vistas como sinais de maturidade da nossa jovem democracia. Os mapas eleitorais abaixo são ilustrativos desse ponto -- todos mostram níveis razoáveis de polarização entre dois grupos políticos em eleições recentes em países com uma insuspeita tradição democrática (Reino Unido, EUA, Canadá, Itália e França). "Lets embrace" nossa polarização (também) como algo saudável.


Eleições Gerais no Reino Unido 2010

Eleições Presidencias nos EUA/2012

Eleições Gerais no Canadá 2011

Eleições Regionais na Itália 2010


Eleições Presidenciais - 1ºTurno - na França 2012


5. Os eleitores do PT e do PSDB são diferentes?
Dia desses em uma aula de "teoria dos jogos", um aluno me perguntou porque o equilíbrio de Nash não necessariamente envolvia as pessoas jogando as estratégias que maximizam o payoff global delas. Eu disse: "pra que isso fosse o caso (no jogo particular que olhávamos), teríamos que relaxar uma hipótese central para toda a disciplina de economia, e uma que não sei se nos levaria muito longe: a hipótese de que as pessoas que habitam nossos modelos são self-interested". 

Pois bem. Essa história deve parecer boba e auto-evidente para economistas mas ilustra um aspecto (unificador) que se esconde por trás das dezenas de justificativas que foram e serão utilizadas para votar em um candidato ou outro, qual seja: o de que votamos governados pelo interesse próprio (e não há nada errado com isso!). 

Senão vejamos: é ideologia socialistóide ou auto-interesse que faz o estudante universitário, recebedor líquido de transferências (não tem renda própria, logo não paga imposto do próprio bolso) preferir plataformas políticas que advogam mais governo? É desinformação ou auto-interesse que faz o sujeito classe média baixa, do Nordeste ou donde for, que tem (ela, ou seus filhos, ou seus familiares) se beneficiado de vários programas do governo federal (BF, MCMV, FIES, Pronatec, Minha Casa Melhor) preferir a continuidade do governo que massificou esses programas? É ideologia liberalóide ou auto-interesse que faz com que o profissional graduado -- economista, advogado, engenheiro, médico etc, no topo da pirâmide distributiva --, que vê quase metade de sua renda evaporar na forma de tributos com pífio retorno, preferir um governo mais "business-friendly" e com uma mão tributária mais leve? 

A desgraça do analfabetismo econômico é acreditar que há uma inconsistência intrínseca de longo prazo entre as aspirações desses grupos, é deixar que esses discursos ideológicos divisionistas e arcaicos impeçam de enxergar o que o Reverendo William Boetcker disse no seu famoso décalogo: "Você não pode elevar o empregado rebaixando o empregador. Você não pode ajudar o pobre destruindo o rico".

23 comentários:

  1. "Dilma venceu e o fez dentro das regras do jogo democrático"

    Assumindo que a urna eletrônica, reconhecidamente vulnerável a falhas de segurança e cujos responsáveis jamais demonstraram o menor interesse em remendá-las, não tenha sido fraudada. Para deixar claro, alo isso com conhecimento de causa. Depois de ouvir Lula dizer "você não sabe do que somos capazes para vencer essa eleição", ou algo parecido naquele dialeto esquisito que ele fala, e ver os erros das pesquisas no primeiro turno (e mesmo no segundo turno, se for acreditar em alguns institutos de pesquisa menores, porém numerosos), fica difícil engolir a afirmação acima.

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    1. É no mínimo curioso que havendo a possibilidade de o PT fraudar as urnas o partido tenha aceito tomar a sova que tomou em SP e que a oposição não tenha se pronunciado formalmente sobre tal manipulação.

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    2. Também acho Anônimo28 de outubro de 2014 14:24, mas também é verdade que a oposição neste país é fraca, logo não seria surpresa se não se pronunciasse.

      Mas, é o tal negócio, se a gente não consegue confiar nas instituições a esse ponto, a democracia acabou de vez.

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    3. Ora, o PT não iria fazer nada que se entregasse. Eles poderiam fraudar as urnas de forma a obter 100% dos votos no PT e 0% no PSDB, mas aí ficaria muito na cara o que aconteceu. É mais fácil adicionar uns votos em MG, uns votos no RJ, uns votos no nordeste, até atingir a superioridade numérica.

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    4. vi uma reportagem na Band hoje onde técnicos em informática descobriram indícios de fraude em urnas no Rio Grande do Sul. Parece coisa séria. Que medo.

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  2. Fiquei com uma dúvida, a flórida não votou em ninguem? Ou é território neutro do Mickey?

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  3. Onde você encontrou a base do gráfico do item 3?? Precisava desses números.
    Obrigado

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  4. Sérgio,

    O gráfico do item 3 é temporal? Dá pra dizer que foi no Ceará que "virou"?

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    1. Suponho que sim, no sentido que era mais tarde quando tínhamos 50% apurados do que quando tínhamos, sei lá, 25% apurados. De onde esses votos apurados estão vindo não sei (creio que de todo lugar). Logo não creio que dá pra dizer que foi no Ceará que "virou" -- nem me parece que algo do tipo pode ser dito dado que os votos vinham de todo lugar.

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  5. A tentativa de defesa do post anterior no item 2 me parece questionável. A afirmação principal lá era que o sinal do efeito era pró-aécio, ie, que menos eleitores swings implicaria em maior votacao pro psdb. isto não dá pra ver nos dados, só dá pra ver uma coisa razoavelmente óbvia: quanto mais apertada a eleiçao (na percepção pré-eleitoral dos eleitores) maior a probabilidade de votar. Eu dividiria em 3 a afirmacao do post anterior: 1) existe eleicao pivotal e ela é maior quanto mais apertada a eleicao (na percepcao pré-eleitoral), 2) a ilusao pivotal favore o aécio e 3) isso combinado com outros argumentos, vai fazer o aécio ganhar. 1) é uma afirmação não tão excitante. 2) é a afirmacao qualitativa, o sinal do efeito eleitor pivotal favore o aécio, 3) é a afirmação quantitativa.

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    1. Bons pontos.

      Claro que a defesa é questionável! Não estou no business religioso, logo tudo que eu escrever aqui é/deve/pode ser questionado. :)

      Sua divisão faz sentido: você diz (se entendi corretamente) que há evidência de 1, não dá pra saber 2, e 3 não ocorreu. Fair point.

      Creio que muitos apreciam que sem olhar o "microdado" (o que fez cada eleitor no primeiro e no segundo turno), testar hipóteses sobre o comportamento individual do eleitor "ain't a clean business".

      Por exemplo: não dá mesmo pra dizer com 100% de certeza se o efeito "ilusão pivotal" (e os demais) favoreceram Aécio, a menos que o efeito tivesse sido enorme (e.g. abstenção pequena) e a votação da Dilma tivesse ficado praticamente travada no mesmo número do 1 -- em qual caso Aécio teria ganho. O que quis apontar é que os dados são consistentes com o efeito -- que pode ser testado de forma mais limpa em um lab experiment.

      Dito isto, talvez o seguinte posso convencê-lo de que (1) e (2) ocorreram no 2 turno dessa eleição: A votação de Dilma cresceu 26% do 1o. para o 2o. turno. A de Aécio cresceu quase 47%. A soma dos votos ganhos pelos dois (pouco mais de 27 milhões) é maior do que os votos nos demais candidatos no 1 turno. Isso sinaliza, sob certas hipóteses (que a vasta maioria dos que votaram no 1 turno nos demais candidatos fizeram uma escolha entre os dois no 2 turno), que Aécio provavelmente ganhou proporcionalmente mais desses votos nulos/brancos do 1 turno que viraram válidos no 2 turno, bem como das pessoas que iriam abster-se no 2 turno não tivesse a "ilusão pivotal" kicked in.

      Lembro, de qualquer forma, que o argumento pra 2 era teórico e simples: o eleitor médio de Aécio podia arcar com o custo de não se abster novamente (tem o custo de oportunidade, admitidamente maior, mas é possível fazer o ponto que o benefício do resultado era pra esse sujeito maior também); não que o da Dilma não pudesse, mas o faria em proporção menor.

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    2. bastante boa resposta, obrigado. o parágrafo:

      "Dito isto, talvez o seguinte posso convencê-lo de que (1) e (2) ocorreram no 2 turno dessa eleição: A votação de Dilma cresceu 26% do 1o. para o 2o. turno. A de Aécio cresceu quase 47%. A soma dos votos ganhos pelos dois (pouco mais de 27 milhões) é maior do que os votos nos demais candidatos no 1 turno. Isso sinaliza, sob certas hipóteses (que a vasta maioria dos que votaram no 1 turno nos demais candidatos fizeram uma escolha entre os dois no 2 turno), que Aécio provavelmente ganhou proporcionalmente mais desses votos nulos/brancos do 1 turno que viraram válidos no 2 turno, bem como das pessoas que iriam abster-se no 2 turno não tivesse a "ilusão pivotal" kicked in."

      quase me convenceu. temos os conjuntos: A: pessoas que votaram em algum candidato no 1o turno mas nao em aécio ou dilma, B: pessoas que votaram branco/nulo ou se abstiveram no 1o turno. Você diz que A+B é menor que C: votos ganhos no segundo turno por aécio ou dilma. Como aécio cresceu mais no segundo turno, então a proporção de eleitores em A e B que mudaram pro aécio deve ser maior que a de eleiores que mudaram pra Dilma. Vamos chamar de p_A a prob de um eleitor em A mudar pro aécio e de p_B a prob de um eleitor em B mudar pro aécio. p'_A é a prob de um eleitor em A mudar pra dilma e p'_B a de um eleitor em B mudar pra dilma. A afirmação (2) é equivalente a p_B > p'_B, isto é, um eleitor em B tem prob maior de mudar pro aécio do que de mudar pra dilma. O fato do aécio ter crescido mais no segundo turno que a dilma implica que p_A*n(A) + p_B*n(B) > 0.5 ( n(A) + n(B) ), onde n(X) é o número de eleitores no conjunto X. Podemos fazer entao simplificar as contas considerando que p_B + p'_B = 1, ie, ou o eleitor muda pro aécio ou ele muda pra dilma, só pra nao aparecer aí outra prob, a dele continuar em B (nem tentei fazer as contas sem essa simplificacao, talvez nao complique muito). Com isso a afirmação (2) fica equivalente a p_B > 0.5. No modelo mental mais simples, p_A = p_B, ie, nao importa se vc está em A ou B, a prob de vc mudar pro Aécio é a mesma. Nesse caso, p_A*n(A) + p_B*n(B) > 0.5 ( n(A) + n(B) ) implica que p_B > 0.5, isto é, o fato do Aécio ter crescido mais no segundo turno implica que a ilusão pivotal o favoreceu. Mas o argumento crucial aqui é que p_A = p_B, o que nao é necessariamente verdade. Pode ser que o ganho do Aécio tenha vindo todo dos eleitores que votaram em outros candidatos no primeiro turno e que os brancos/nulos/abstenções tenham ido todos pra dilma. Improvável, mas consistente com os dados.

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    3. Obrigado pela resposta. Seria ótimo se todo comentário fosse educado e well-thought-out como o seu.

      Só uma observação. Talvez eu não tenha sido claro, mas o que disse foi que C > A. Logo, sob certas hipóteses (que todo mundo em C optou por um ou outro), C contém voto que foi branco/nulo e possivelmente "would-be"-abstenções (o grupo que, com os indecisos, chamei com certa elasticidade de eleitores "swing"). Como a votaçào de Aécio cresceu mais do que a Dilma do 1º pro 2º turno, suponho que Aécio pegou mais voto desse grupo do que da Dilma -- o que seria evidência em favor do que vc chamou de parte B da minha previsão.

      Dito isto, o cenário que vc descreve, se verdade, rejeitaria B de fato. Ele -- esse cenário -- é também uma possibilidade, que só pode ser testada com dados que não temos acesso. Vou ter que dizer "ok, pode ser", mas colocando minhas fichas obviamente no cenário em que Aécio pegou mais "swing voters" do que Dilma -- e não no que ela pegou todos os brancos/nulos/abstenções. Lets agree to disagree :-).

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  6. Aqui temos o mesmo gráfico, temporal:

    http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/blog/eleicao-em-numeros/post/dilma-superou-votacao-de-aecio-19h32-veja-grafico.html

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  7. Apesar de interessante, analisar que "Aécio liderava até 19h30" parece algo ilusório. Ver por esse lado faria sentido se às 19h30 o Aécio pudesse fazer alguma coisa para administrar sua vantagem. Isso faz sentido numa corrida, mas não numa apuração, em que o fato está dado, faltando apenas sua identificação.

    Dependendo da velocidade com que cada estado faz sua apuração, a manchete poderia ser "Aécio sempre esteve atrás na apuração". A única coisa a ser dita seria que os estados em que o Aécio venceu teve uma apuração mais ágil.

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  8. "Não faltou também gente bisonhamente defendendo a divisão do país em dois quase que seguindo a distribuição binária de estados em que venceu cada candidato". Tirando a parte preconceituosa do assunto, não seria muito mais eficiente se o Brasil fosse fragmentado? Acredito que seria muito mais facil combater a corrupção e melhorar os servições públicos. Por que é bizarro cada região ser governado por quem ela quer e não por um imperialismo centrado em brasilia?

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    1. Mano, as regiões já são governadas por quem as pessoas querem. Prefeitos adm. as cidades e governadores os estados.

      Separar só faria sentido se houvesse de fato grandes diferenças culturais entre as regiões, como é o caso da região de Quebec no Canadá e a região sul da Bélgica. Mas de norte a sul, os brasileiros são rigorosamente os mesmos. Tem todos os mesmo vícios. Dividir criaria apenas outro lugar disfuncional, outro ou outros brasilzinhos. O que talvez se ganhasee nessas coisas que vc mencinou, se perderia em outras. O custo fixo de certas coisas é o mesmo, e agora seriam divididos por menos pessoas.

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    2. não são não; estude a constituição, a divisão dos recursos tributários e o funcionamento básico das leis do país para ver que a Federação brasileira é uma piada - de mal gosto.

      César

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  9. Muito bom o post, só uma observação quanto ao quinto ponto. Sem discutir a hipótese de que são todos racionais e auto-interessados, talvez tenha sido importante para o resultado das eleições, as simplificações que as pessoas fazem quando confrontadas com escolhas complexas para as quais não há uma alternativa claramente preferível. O modelo micro tradicional não dá conta disso, mas há muita pesquisa na área.
    Nessas eleições, acredito que havia uma parcela grande de pessoas que não é diretamente beneficiada por programas sociais, mas viu a vida melhorar recentemente, está vendo as coisas um pouco estranhas agora, mas não tem certeza se isso é culpa do governo atual, se é melhor mudar e, mesmo prestando atenção nas discussões, nos debates e nas propostas dos candidatos, não consegue ter certeza de quais seriam as políticas que melhor atenderiam a seus interesses. Por isso escolhem com base em questões pontuais, detalhes, alguma coisa mais simples.
    Dois exemplos colhidos na minha volta para casa, já que voto em uma cidade diferente da que moro. Na fila do táxi do aeroporto, a moça à minha frente disse que votou na Dilma. Teria votado no candidato do PSDB, se ele fosse o Alckmin, mas o Aécio "dava aqueles risinhos, é arrogante". O taxista me disse que decidiu seu voto na última hora. Pela conversa, dava para perceber que ele acompanhou todos os debates atentamente e, inclusive, me disse que o Aécio venceu o último debate. Mas lembrou do episódio da lei seca, disse que quem quer ser presidente não pode ter o "rabo preso". Eu disse que ele tinha admitido o erro, ele disse que sim, mas que...
    Até fiquei pensando (eu, infeliz - naquele momento - eleitora do Aécio) se o PSDB tinha feito a escolha errada, se o candidato que me entusiasma muito mais que as demais alternativas do partido não seria capaz de entusiasmar os de "fora". Acho que não. Fosse outro, apareceriam outros defeitos que não desagradariam os dois, mas desagradariam outros.

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    1. "Sem discutir a hipótese de que são todos racionais e auto-interessados.."

      - Vamos discutir sim. Pelo que exatamente você acha que deríamos substituit essa hipótese? Que as pessoas incorreram em custos para maximizar o benefício de terceiros, isto é, são "altruístas"?

      "..talvez tenha sido importante para o resultado das eleições, as simplificações que as pessoas fazem quando confrontadas com escolhas complexas para as quais não há uma alternativa claramente preferível. O modelo micro tradicional não dá conta disso, mas há muita pesquisa na área."

      - O modelo micro tradicional seria o modelo do livro-texto? Se sim, então é natural que não dê conta mesmo. Infleizmente, o material de qualquer manual está defasado em relação a fronteira uns 20 anos.

      No mais concordo que as pessoas usam critérios simples de escolha sobre em quem votar. Os cientistas políticos já acumularam um bom tanto de evidência sobre isso.

      Sua tristeza pela derrota do Aécio é minha também. Vamos tomar um café para falar sobre? ;-)

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  10. Não pretendia discutir a hipótese de que os agentes são racionais e auto-interessados porque acho essa uma boa hipótese para a análise do comportamento da maior parte dos eleitores, bem como a acho adequada para estudar a maior parte das questões econômicas. Somente penso que a racionalidade é limitada (a maior parte de nós - eu, inclusa - não é tão inteligente assim).

    Quando escrevi "modelo tradicional", estava me referindo ao modelo de livro-texto, sim. Também acho natural que não dê conta, mas não compartilho do seu "infelizmente" quanto à defasagem dos manuais. Adicionar mais conteúdo seria temerário (sem adicionar aulas), e esse modelo bem aprendido já ajuda enormemente a pensar. Aprenda também micro II e tem-se a base para um bom economista não acadêmico, na minha opinião.

    Por fim, o ápice da tristeza passou e já estou a me divertir com os discursos do ainda ministro, com as fofocas sobre quem fica e quem sai e com as pedras no caminho da sra. Presidente. Está evidente que não sou uma boa pessoa e, se é verdade que julgamos os outros com base no que somos, faz sentido minha "rejeição" à hipótese de comportamento altruísta. Mas o cafezinho para discutir o que passou e o que virá (em 2018, o barba estará de volta), está aceito.

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