No último domingo, o Estadão publicou um texto interessante sobre o efeito da pirataria digital no mercado editorial (aqui). Para minha surpresa, entre as editoras a reclamação não é geral. Sim, tem aquela galera que argumenta que a pirataria desincentiva a produção de livros, dado que os autores deixam de ser remunerados pelo esforço quando seus trabalhos são distribuídos ilegalmente pela internet.
Minha impressão é que, exceto pelos Paulos Coelhos da vida, poucos autores ficam ricos escrevendo livros no Brasil (talvez o principal payoff seja simplesmente publicar e ter o trabalho lido pelas pessoas). Nesse sentido, não acredito que a pirataria terá um efeito como o descrito acima. Um mecanismo mais plausível pode ser o seguinte: a pirataria reduz a lucratividade no setor editorial e, com isso, provavelmente menos livros serão editados. Com a maior dificuldade para publicar, alguns autores podem desistir da empreitada.
O argumento é justo, mas tem outro lado: o efeito divulgação, o qual contribui para elevar a demanda no setor. Especificamente, a pirataria permite que os leitores tenham acesso mais fácil à obra, e possam ter uma ideia do conteúdo. Isso pode incentivá-los a comprar o livro (convenhamos, a cópia digital e a cópia física não são exatamente substitutos perfeitos). Na matéria do Estadão, Paulo Rocco ilustra bem esse efeito:
Percebo nessa meninada uma adoração pelo livro como objeto de colecionador. Assim, quando eles não resistem e baixam algum arquivo ilegal, é normalmente para ter uma ideia de como é a trama - algo como, em uma livraria, ler a orelha e os primeiros capítulos do volume para ter a certeza da escolha.
O efeito divulgação pode ainda propiciar outras fontes de renda para o autor (por exemplo, palestras). Esse efeito é análogo ao do mercado fonográfico, em que músicos têm seu trabalho divulgado com a ajuda da pirataria, tornado-os mais conhecidos, e estimulando a demanda por shows. Igor Cortez tem um trabalho interessante nesse tema, achando evidências de que acesso a pirataria está associado a uma diminuição na demanda por CDs, mas a um aumento na demanda por shows (aqui).
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