O pessoal da campanha da Marina está apostando forte no aumento no tempo de TV que ela terá, se eventualmente passar para o segundo turno. Mas isso fará diferença?
Bernardo da Silveira e João Manoel Pinho de Mello têm um paper (Restud, 2011) que estima o impacto de mudanças desse tipo sobre o resultado de eleições (um sumário legal do trabalho pode ser lido aqui). Basicamente, no primeiro turno a distribuição de tempo na TV é determinada pela força dos partidos da coligação do candidato. Candidatos que vêm de partidos maiores e contam com coligações vastas têm mais tempo. Mas no segundo turno a divisão é igual.
Bernardo e João Manoel estimam o efeito da redução na diferença de tempo (que ocorre entre o primeiro e segundo turno) sobre a distância entre os dois candidatos, utilizando dados de eleições para governador no Brasil. Em particular, a variável dependente é: variação na distância entre os dois primeiros colocados, ocorrida entre primeiro e segundo turno; e a principal explicativa é: variação na diferença de share de tempo de TV entre os dois candidatos, ocorrida entre o primeiro e segundo turno.
Os resultados apontam que o aumento de 1 ponto percentual no share de tempo de TV leva em média a um aumento de 0.272 pontos percentuais no share de votos de um candidato (na especificação preferida dos autores).
Bruno Giovannetti já tinha comentado esse resultado em outro post. Outro dia estávamos nos perguntando qual o impacto quantitativo disso para a eleição atual. Então resolvi fazer as contas.
Nessa primeira fase da eleição, Marina teve 2 minutos e 3 segundos de TV, o que equivale a 8.2% do tempo total; Dilma teve 11 minutos e 24 segundos (45.6%). Se houver segundo turno, ambas ficarão com 50%. Isso geraria uma redução média de (45.6 - 8.2)*0.272 = 10.17 pontos percentuais na distância entre as candidatas.
O efeito estimado é de fato substancial. Na última pesquisa Ibope, a diferença entre Dilma e Marina era de 16 pontos. Ou seja, a estimativa sugere uma redução em mais de 60% na diferença, em média, por conta da variação no tempo de TV.
Ressalto aqui que esse é um efeito médio. Ainda que estimado com precisão (é estatisticamente significante a 1%), o resultado não é exato, isto é, tem uma distribuição. Se eu tivesse que chutar, diria que o beta da Marina está na cauda inferior da distribuição.
E se Aécio for para o segundo turno? Como ele tem mais tempo de TV, sua variação seria menor. Mas o ganho esperado não seria pequeno: nesse primeiro estágio da campanha, ele teve 4 minutos e 35 segundos (18.33%). Isso implica uma redução média de (45.6 - 18.33)*0.272 = 7.42 pontos percentuais na diferença para Dilma, em um eventual segundo turno contra a presidenta.
Mas isso tudo se de fato houver segundo turno.
O efeito estimado é de fato substancial. Na última pesquisa Ibope, a diferença entre Dilma e Marina era de 16 pontos. Ou seja, a estimativa sugere uma redução em mais de 60% na diferença, em média, por conta da variação no tempo de TV.
Ressalto aqui que esse é um efeito médio. Ainda que estimado com precisão (é estatisticamente significante a 1%), o resultado não é exato, isto é, tem uma distribuição. Se eu tivesse que chutar, diria que o beta da Marina está na cauda inferior da distribuição.
E se Aécio for para o segundo turno? Como ele tem mais tempo de TV, sua variação seria menor. Mas o ganho esperado não seria pequeno: nesse primeiro estágio da campanha, ele teve 4 minutos e 35 segundos (18.33%). Isso implica uma redução média de (45.6 - 18.33)*0.272 = 7.42 pontos percentuais na diferença para Dilma, em um eventual segundo turno contra a presidenta.
Mas isso tudo se de fato houver segundo turno.
Excelente post Mauro! Melhor blog do Brasil!
ResponderExcluirObrigado!
ExcluirConvém ressaltar que mesmo se o artigo tiver validade interna (o artigo é muito bom), o estudo não diz nada sobre tempo de TV para candidatos à presidência, e sim tempo de TV de governadores. Visto que a visibilidade de candidatos à presidência é muito maior em noticiários e jornais, o efeito segundo turno, imagino, tende a ser menor.
ResponderExcluirVerdade, o estudo é para governadores. Mas não tenho tanta certeza assim se o efeito do tempo é maior ou menor nesse caso.
ExcluirOi Mauro!
ResponderExcluirBeleza? Tentei postar e pareceu haver um problema. Se esse for o terceiro post, me desculpe.
Primeiramente obrigado pelo post: ficou ótimo!
É certo que validade externa é problema. Além de governador v. presidente, o período é diferente. Tinha menos TV, menos TV a cabo, menos internet, etc. Mas dizer que não informa nada é bem exagerado.
A questão mais delicada é as possíveis não-linearidades. A gente não tem muita alavancagem para estimar nem um parâmetro quadrático porque não há variações enormes de tempo de TV(estilo o que seria Marina) entre turnos. Eu suspeito concavidade, mas não sabemos. É por isso que eu seria um pouquinho mais conservador na previsão do efeito. Diga-se de passagem, disse isso ao jornalista do Valor quando ele me entrevistou.
Bom, é isso. De novo, obrigado pelo post.
abs
João
Fala João. Obrigado pelo comentário. Bom, agora a variação do tempo de TV (Aécio) é menor. O problema ficou um pouco atenuado.
ExcluirVou aproveitar que vc escreveu para tirar uma dúvida. O share de votos que vcs usam: são votos válidos ou não? Para vcs não importa nada, pois só afeta o valor do coeficiente. Mas para fazer previsão muda tudo.
Oi Mauro, É sempre o share de votos entre eles. Se no 1o turno, A teve 40% e B teve 25%, fazemos share A = 40/65, B = 25/65. No segundo turno é a mesma coisa.
ResponderExcluirabs