domingo, 13 de outubro de 2013

Os dois equívocos do Nilson Teixeira (ESTADÃO, DOMINGO)

O Nilson é um economista de qualidade, e tem acertado bastante o cenário, além de levantar críticas pertinentes. Mas todos erramos...

O primeiro erro que ele comete na entrevista é defender uma meta de inflação na casa dos 2,5% a 3%.
Por que a ideia é ruim? Porque (i) os ganhos de bem-estar medidos por qualquer modelo padrão de equilíbrio geral associados a variações dessa magnitude (de 4,5% p/ 3%) são praticamente nulos; (ii) não há qualquer evidência empírica que 3% ao invés de 4,5% ajude no crescimento medido como variação do PIB real (apenas inflações muito altas são ruins pra crescimento); (iii) seria um lance politicamente custoso, que demandaria energias muito melhor empregadas em outras áreas, como no esforço para ajeitar o lado fiscal, por exemplo; (iv) aprendemos recentemente que inflação muito baixa aumenta a chance de tocarmos no zero-bound de juro nominal, um lugar desconfortável -- vários economistas de peso, como o Blanchard, passaram a defender metas de inflação de 4% (no caso do Brasil, isso parece menos relevante dado que nosso juro real de estado estacionário é mais alto, mas ainda assim a inflação muito baixa atrapalharia o ajuste dos salários reais em tempos de recessão dada a rigidez dos salários nominais); (v) a dificuldade de comunicar essa nova meta de modo crível geraria, se ela fosse de fato perseguida, um enorme custo de produto no processo de transição; e caso não fosse, uma perda adicional de reputação do BC. Para mim, se o BC perseguisse a meta oficial de 4,5%, já daríamos um grande passo.

Segundo erro: o Nilton fala que o governo deveria diminuir o estoque de dívida indexada à inflação no esforço para reduzir a inflação. Isso está errado. Primeiro, a dívida indexada à inflação é boa em si! Sua característica de proteger contra inflação provê um hedge importante pra muita gente que, por isso mesmo, aceita comprá-la a um retorno esperado médio menor que o de outros papéis (asset-pricing basic model). E para o governo, ela significa previsibilidade de fluxo de pagamentos em termos reais.  Por fim, na coisa da escolha estratégica de tipo de dívida daqueles modelos legais dos anos 1990, a lógica é a contrária da do Nilson: se você tem algo como time-inconsistency na cabeça (um modelo tipo Barro-Gordon mas com endividamento público no lugar do crescimento) a dívida indexada a inflação é o que você deveria pedir! Como não dá pra desvalorizá-la com surpresas inflacionárias, essa dívida indexada à inflação AUMENTA a credibilidade da política monetária, torna-a mais crível ao fechar o canal de time-inconsistency ligando o monetário ao fiscal.

11 comentários:

  1. Vai, Carlos! ser gauche na vida.

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    1. Pode soar heresia, mas não curto Drummond. De poeta, fico com Keats e Mallarmé.

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  2. Não tem custo em fazer a transição da pseudo meta de 4,5% para a meta de 3%

    Se a Dilma e o Mantega falar, haveria um custo mas eles jamais fariam isso .... até abaixo de 6% eles reclamam em manter ..... o mercado está certo

    Se o Aécio for eleito, der independência judicial pro BCB e colocar o Mago Meirelles no comando e a meta virar 3% para 2015 ou 2016, os agentes confiarão na política e reajustarão as expectativas e as trajetórias das variáveis nominais.

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  3. CESG, ainda que não haja qualquer evidência de que uma inflação de 3% ao invés de 4,5% proporcione qualquer benefício real, governo e, ultimamente, Bacen, parecem considerar que a meta é o intervalo de 2,5% a 6,5%. Com este panorama, não seria benéfica a redução da meta e, consequentemente, do intervalo de tolerância, respectivamente em (hipótese) 1,5% e 0,5%, e assim reduzir, ainda que marginalmente, a amplitude das expectativas?

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    1. esse governo, creio, só conseguiria reduzir expectativas acertando a desordem fiscal que ele criou
      abaixar simplesmente a meta não traz automática mudança na percepção quanto à credibilidade do BC

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  4. Acho melhor reduzir a banda. Mas não vejo p q a redução paulatina da dívida e anunciada c antecedência seja tão custosa assim. Seria uma coisa boa p melhorar as expectativas.

    Com respeito à dívida, concordo. Mas acho q seu raciocínio só vale se s inflação estiver sob controle, certo?

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    1. No primeiro parágrafo, dívida= meta.

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    2. Expectativas se ancoram com BC independente e fiscal mais sólido; o resto é mágica. É como falar pra um gordinho de 130kg que ele agora ao invés de perder 50 kg vai precisar perder 70kg. Primeiro: não precisa; segundo: não é crivel

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  5. O Nilson é um economista competente, que lidera uma equipe qualificada. Mas quanto a ter acertado o cenário, mais ou menos. No ano passado, sim. Colocou sua projeção abaixo de todo mundo e, como consequência, chegou mais perto da realidade. Contou com a sorte de ter sido confrontado pelo Mantega (essa sorte não é pra todo mundo...). Neste ano, vale lembrar, quando o consenso para o PIB estava em 3,5%, o Nilson cravou 4,0%. Ou seja, fez movimento semelhante ao do ano passado, mas no sentido contrário. E errou. Pra sorte dele, o Mantega não apareceu pra elogiar a projeção, então ninguém lembra. Mas que era 4,0%, era.

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  6. Não era o Fernando de Holanda Barbosa que dizia que divida indexada era jabuticaba brasileira? Tinha até um modelo pra isso e tals . . .

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    1. Ter dívida indexada a inflação é admitir que não consegue segurar a dita cuja.

      E é um mau negócio se você é fã de imprimir bastante.... mas é só um pensamento de mau gosto, não me chamem de argentino.

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