segunda-feira, 21 de julho de 2014

Neymar e a produtividade brasileira


As diferenças de produtividade entre países são gigantescas. Isto é, com uma mesma quantidade de insumo, países ricos geram muito mais produto que países pobres.

Mas o que está por trás disso? Uma possibilidade é que as quantidades observadas de insumo não reflitam exatamente as quantidades efetivamente empregadas na produção. Por exemplo, nos países ricos, o sistema de incentivos é tal que, para uma mesma hora de trabalho, as pessoas fazem mais esforço e portanto produzem mais.

Em uma entrevista recente, Neymar fornece uma pista disso para o caso do futebol brasileiro:
Todos os treinos lá [na Europa] são levados sempre a sério. No Brasil, é diferente. Você treina mais, mas, às vezes, você treina de corpo mole. O brasileiro é assim.
A frase "brasileiro é assim", contudo, é meio estranha. O esforço mais baixo parece ser resultado de um fator intrínseco local, e não da nacionalidade das pessoas. Afinal, quando jogam na Europa, os brasileiros tendem a se adaptar ao regime de menos treinos, porém mais intensos.

Em outra entrevista, Neymar ressalta outra possibilidade para tais diferenças de produtividade, ainda no contexto do futebol: formação deficiente da mão de obra (o equivalente a baixa qualidade da educação):
Quando se está na base… eu aprendi os fundamentos, e eu fazia coisas em casa que no treino não fazia, ou aprendia de maneira errada. Estava conversando com meu pai hoje até, e comentei: "lembra como eu fazia no campinho de casa, de fundamentos e tal", e ele falou: "lembro". Ele foi um dos caras mais importantes da minha vida, melhor que muitos treinadores que tive, aprendi mais com ele em casa do que com muito treinador. A gente acaba aprendendo de forma errada.
Claro, essa discussão não toca na questão fundamental: o que explica essas diferenças de esforço e qualidade educacional (tanto no futebol, como de forma geral)? Não tenho uma resposta para essa pergunta, mais sei que não é "porque o brasileiro é assim".

Fontes: Folha e UOL 

4 comentários:

  1. Por incrível que pareça, apesar de ser um graduando em economia acredito que o problema na base são os incentivos e o método de pagamento dos treinadores. Em categorias de base, os treinadores recebem um variavel de acordo com os campeonatos ganhos (pelo menos funcionava assim comigo quando jogava basquete), o que incentiva os treinadores a buscarem o resultado mais rápido. Um exemplo desse incentivo é encontrado na mesma entrevista do Neymar aonde ele fala que os treinadores mandavam ele puxar para a perna direita antes de finalizar (o que aumenta a assertividade dele no curto prazo, mas no longo prazo o torna um jogador débil com a perna esquerda). Outro problema que vejo na base é a peneira de escolinhas, os treinadores e olheiros acabam optando por jogadores que nasceram perto do começo do ano. Apesar de serem apenas meses mais velhos do que os jogadores do final de ano, a pequena diferença absoluta de idade se transforma em uma grande diferença percentual nessa faixa etária.

    A base tem que ser pensada como a formação do clube e não como um fim, o sistema de incentivos de curto prazo a um ambiente que visa o longo prazo é extremamente danoso. O equivalente macroeconomico do assunto seria o aumento de consumo no curto prazo que acaba por reduzir a poupança e futuramente os níveis de investimento.

    Abç

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    1. Nobile,
      Excelente comentário! Faz todo sentido do mundo. A pergunta é: por que os clubes adotam esse tipo de estratégia? Não seria mais rentável mudar os incentivos dos técnicos de base? Uma possibilidade é que eles não têm garantia de que lucrarão com o jogador. Como não podem firmar contrato até os 16 anos, é muito provável que perderão o jogador para outro clube. Isso desincentiva on the job training.
      Daí a melhor estratégia é ganhar títulos na base (e não formar jogadores). Pelo menos traz alguma grana, alegria para o torcedor, e reputação;
      Abs,
      Mauro.

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    2. Concordo com os seus argumentos sobre o porque os clubes insistem nesse modelo. Como podemos resolvê-lo?

      Não acredito que diminuir a idade em que o clube possa firmar contrato com o jogador seja a solução, apesar de achar a solução economica mais prática (entrega pro mercado e deixa ele se acertar), não consigo aceitar as consequências éticas, afinal falamos de um jovem que não consegue ter as suas próprias convicções sobre a determinação da sua vida. Permitir que seus país consolidem um contrato que mudará sua vida pelos próximos anos me deixa receoso.

      Acredito que por essas razões éticas, seja mais aceitável conviver com esse problema, no entanto podemos minimizá-lo se aumentarmos a proporção dos atuais 5% por transferência para o clube formador para algo entre 25%~50% (mero achismo, não tenho como pensar em algum jeito racional para estipular um valor).

      Isso incentivaria os clubes a formarem bons jogadores, afinal, supondo que o time receberá 50% de cada transação do futuro jogador, quanto melhor formado ele for, melhores resultados financeiros ele trará para o clube no longo prazo e não no curto.

      Resolvendo assim o nosso problema inicial, o que acha?

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  2. O que faz o brasileiro ser assim? Sindicatos, leis trabalhistas que tratam o empresário como um criminoso e o empregado como um pobre coitado. Essa cultura começa lá de cima, com o país sendo governado pelas crias de um torneiro mecânico que cortou o próprio dedo para poder parar de trabalhar. Nos EUA, em geral (alguns estados são exceções), se o cara faz corpo mole no trabalho e não é parte de um sindicato, ele é posto na rua. Ele tem fortes incentivos para trabalhar de acordo com o que se espera dele.

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