segunda-feira, 1 de setembro de 2014

RBC na Unicamp


Pense no modelo canônico de ciclos reais (RBC): agente representativo que vive para sempre; valoriza consumo e lazer não só hoje, mas em todos os momentos futuros até o infinito; e escolhe sequências de consumo, horas trabalhadas e investimento ao longo do tempo. Os agentes são donos do capital e do trabalho, e os alugam às firmas. O capital pode ser alterado no tempo via investimento.

As firmas contratam capital e trabalho, e os combinam para gerar produto utilizando uma tecnologia que satisfaz retornos constantes de escala. Elas operam em concorrência perfeita, ou seja, pagam aos consumidores os produtos marginais de seus insumos. A função de produção é ainda sujeita a choques tecnológicos aleatórios, que levam a flutuações nessa economia. Esses choques são temporários, mas apresentam persistência considerável.

Um choque positivo então eleva os produtos marginais dos insumos hoje e no futuro, aumentando a renda permanente dos agentes, o que os leva a consumir mais. E como o choque é relativamente persistente, os indivíduos investem mais com vistas a ter mais capital no futuro próximo para aproveitar o estado bom da economia. Eles também trabalham mais para aproveitar esse choque -- isto é, eles trocam lazer hoje por lazer amanhã.

Esse raciocínio gera co-movimentos nos principais agregados: consumo, investimento, produto e horas trabalhadas todos sobem quando a economia está bombando. E quando o choque tecnológico é adverso, tudo vai no sentido contrário: consumo, investimento, produto e horas embicam para baixo conjuntamente.

E tudo isso é ótimo (no sentido de Pareto): essa é uma economia sem nenhuma fricção -- concorrência perfeita, sem externalidades, rigidez de preços, problemas de informação etc. -- de modo que valem os Teoremas do Bem Estar. Intervenções do governo não conseguem melhorar a vida dos indivíduos.

Isso já é antigo (década de 1980). Inclusive rendeu Prêmio Nobel para Ed Prescott e Finn Kydland. Ao longo do tempo acadêmicos consideraram variações dessa estrutura, em particular incluindo outros choques. É o caso dos choques de preferências. Um choque adverso seria uma elevação na preferência por lazer: há flutuação negativa no produto pois os agentes optam por mais lazer hoje, e portanto cortam horas trabalhadas. Da mesma forma que antes, o choque é temporário, ou seja, os agentes trocam mais lazer hoje por menos lazer no futuro. De novo, esse movimento é ótimo no sentido de Pareto.

Fernando Nogueira da Costa (Unicamp), em entrevista ao Estadão de ontem, parece usar um raciocínio muito parecido para explicar porque o Brasil está em recessão:

O PIB trimestral que estamos vendo é um problema que acontece uma vez e não se repete. A Copa praticamente paralisou a produção no País. As empresas praticamente pararam. Todo mundo aproveitou, descansou. Agora, não dá para reclamar. 

Será que estão ensinando RBC na Unicamp?

15 comentários:

  1. ha ha ha

    Essa foi boa, Mauro.

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  2. Ué, não entendi. Uma das conclusões do modelo RBC não valem para o modelo pós-keynesiano? Claro que valem, no modelo pós-keynesiano também tem oferta. Essa você mandou pra torcida.

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    1. Cara, não falei nada de modelo pós-keynesiano no texto. Aliás, eu não entendo nada disso, então prefiro não comentar.

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    2. Realmente. Deu para perceber que você não conhece nada de pós-keynesiano!

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  3. tirando tudo que está errado, rbc é lindo, diria caetano.

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  4. Na Unicamp, começaram um curso de Introdução à Contabilidade Criativa nesse semestre.

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  5. Seja pós-keynesiano, pré-colombiano, pós-pós-moderno, a verdade é que em todos os modelos tem oferta. Se você ler com cuidado os textos pós-keynesianos, verá que eles caracterizam a abordagem por "ênfase na demanda". Não é um modelo que "só tem demanda". O Nogueira da Costa é um pós-keynesiano.

    Eu faço questão de fazer esse comentário porque eu acho que você pode achar correta a abordagem que quiser, mas não pode achar que seu adversário é burro. Vá ao debate, não para fora dele.

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    1. A única coisa que eu quis enfatizar é: a frase dele é consistente com um modelo RBC com choques de preferência. Só isso. Nem sabia que o cara era pós-keynesiano. Nem chamei ninguém de burro, o que seria no mínimo leviano. Isso não está em nenhum lugar do post.

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    2. Boa Mauro! O cara não sabe interpretar texto..ô loco meu! Foi legal no entanto vê-lo revelar seus medinhos (o de ser considerado burro. Sim, aposto que foi o tal de Nogueira que escreveu o comentário acima).

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    3. Aham, os textos nunca têm contexto, a intenção nunca tem relação com o contexto e seu autor. Que argumento lastimável. Seu defensor aí em cima precisa saber mais sobre textos, um pouquinho mais.

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    4. Então digo eu: Nogueira da Costa é um pós-keynesiano, ou seja, UM BOBOCA! 99% destes caras tbm o são. O único heterodoxo de respeito no Brasil é o Giba.

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  6. Macro é interessante. Uma construção intelectual notável e tal. Mas quando quero ler ficção ainda prefiro um bom romance...

    Heheh

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