Já não é mais novidade que a Universidade de São Paulo (USP) está em uma enrascada. Seu orçamento corrente, cerca de R$ 4,3 bilhões, sequer cobre a folha de pagamento de funcionários e inativos, que custa hoje 105% do orçamento corrente. Há pois um déficit, que por ora está sendo financiado com poupança que a universidade reservo ao longo dos anos para enfrentar flutuações adversas no volume de ICMS arrecado pelo estado. Mas o dinheiro nessa poupança está com data para acabar como divulgou o reitor em carta aberta à comunidade recentemente. Não dura nem 1 ano.
Naturalmente, surge a questão: como a USP vai cobrir o rombo na folha salarial, financiar gastos com a simples manutenção e recuperação de seus prédios e instalações e, se desejável for, fazer investimentos?
Escrevi aqui nesse blog um artigo discutindo 10 formas da USP ganhar dinheiro -- na verdade, formas para qualquer outra universidade pública brasileira ganhar dinheiro (clique aqui para ver o artigo). São formas já amplamente utilizadas por praticamente qualquer universidade do hemisfério norte. Nesse artigo volto ao tema para fazer o que realmente interessa: estimar quanto de receita a universidade poderia obter se perseguisse cada uma daquelas dez maneiras de ganhar dinheiro.
Quanto de dinheiro poderia ser obtido?
Abaixo vou colocar a tabela com as estimativas de receita para cada item. Ao todo, estamos falando aí de algo da ordem de 3 bilhões de receita anual. Em seguida descrevo sucintamente como cada valor foi calculado.
Três observações são importantíssimas.
Primeiro: essas estimativas são conservadoras -- eu procurei fazer suposições pessimistas na hora de estimar quanto de dinheiro anualmente cada item poderia trazer para "corrigir" o fato de que são estimativas muito simples. Assim, esses números são provavelmente um "lower bound" do dinheiro que poderia ser obtido.
Segundo: as estimativas são aproximações rudimentares. São, em última instância, um mero "chute educado". Por isso, fiz um esforço em ser conservador e propositalmente subestimar esses números. Mas meus "chutes" podem estar equivocadas, e as cifras de alguns itens podem estar, na verdade, superestimadas -- veja por você mesmo como eu cheguei ao número final de cada item e fique à vontade para me corrigir.
Terceiro: essas são estimativas de receita. Perseguir essas fontes alternativas envolve, em vários casos, fazer alguns gastos -- como, por exemplo, para oferecer instrução on-line --, de modo que o que a universidade de fato teria disponível para gastar com investimento e pagamento de salário é uma fração dessa receita -- que pode ser maior ou menor dependendo da estrutura de custos ao longo do tempo de cada uma dessas atividades.
Dito isto, espero que os números apresentados sejam vistos apenas como uma tentativa de dar um pouco mais de concretude para um debate que parece estar ganhando momentum, a saber: quanto de dinheiro a universidade poderia ganhar por conta própria. Se a universidade decidir perseguir essas fontes de receita, deve e precisa encomendar estimativas mais apuradas.
10 FORMAS DA USP GANHAR DINHEIRO
Primeiro: essas estimativas são conservadoras -- eu procurei fazer suposições pessimistas na hora de estimar quanto de dinheiro anualmente cada item poderia trazer para "corrigir" o fato de que são estimativas muito simples. Assim, esses números são provavelmente um "lower bound" do dinheiro que poderia ser obtido.
Segundo: as estimativas são aproximações rudimentares. São, em última instância, um mero "chute educado". Por isso, fiz um esforço em ser conservador e propositalmente subestimar esses números. Mas meus "chutes" podem estar equivocadas, e as cifras de alguns itens podem estar, na verdade, superestimadas -- veja por você mesmo como eu cheguei ao número final de cada item e fique à vontade para me corrigir.
Terceiro: essas são estimativas de receita. Perseguir essas fontes alternativas envolve, em vários casos, fazer alguns gastos -- como, por exemplo, para oferecer instrução on-line --, de modo que o que a universidade de fato teria disponível para gastar com investimento e pagamento de salário é uma fração dessa receita -- que pode ser maior ou menor dependendo da estrutura de custos ao longo do tempo de cada uma dessas atividades.
Dito isto, espero que os números apresentados sejam vistos apenas como uma tentativa de dar um pouco mais de concretude para um debate que parece estar ganhando momentum, a saber: quanto de dinheiro a universidade poderia ganhar por conta própria. Se a universidade decidir perseguir essas fontes de receita, deve e precisa encomendar estimativas mais apuradas.
10 FORMAS DA USP GANHAR DINHEIRO
Pegamos toda a área do campus do Butantã e considero que 1% dessa área seria licenciada para uso comercial (restaurantes, academias, hotéis, posto de combustível etc) ao preço típico do metro quadrado comercial na região (R$ 2.500). A conta é conservadora por duas razões.
Primeiro porque ignoro a receita de licenças que seriam obtidas com a exploração comercial de áreas de outros campi da USP. Embora seja o maior campus da USP, o campus do Butantã é menos da metade da área de todos os campi (46% para ser preciso).
Segundo porque as vantagens que um negócio dentro do campus oferece ao empresário -- uma demanda regular e uma posição relativamente monopolizada que confere, na ausência de regulações, um certo poder em fixar preços a níveis maiores do que aqueles encontrados em negócios similares fora do campus --, tornaria essas licenças atrativas, o que provavelmente aumentaria a concorrência por elas e, consequentemente, a receita que a universidade arrecadaria em um leilão de venda dessas licenças.
2. Serviços de consultoria e advisory para corporações públicas e privadas: R$ 575 milhões
Usamos as estimativas de receita global anual das três maiores empresas de consultoria do mundo (Bain & Co., BCG e McKinsey) feitas pela Forbes e o número de consultores que cada um possui. Calculo então a receita per capita de cada consultor. Calculo a receita por consultor média. Assumo então que cada professor da universidade traria 10% desse valor, já que essa seria uma atividade que ocuparia apenas um pequeno tempo do docente. Para chegar ao número final, assumo que apenas metade dos docentes se envolveriam na atividade de consultoria & advisory.
Primeiro porque ignoro a receita de licenças que seriam obtidas com a exploração comercial de áreas de outros campi da USP. Embora seja o maior campus da USP, o campus do Butantã é menos da metade da área de todos os campi (46% para ser preciso).
Segundo porque as vantagens que um negócio dentro do campus oferece ao empresário -- uma demanda regular e uma posição relativamente monopolizada que confere, na ausência de regulações, um certo poder em fixar preços a níveis maiores do que aqueles encontrados em negócios similares fora do campus --, tornaria essas licenças atrativas, o que provavelmente aumentaria a concorrência por elas e, consequentemente, a receita que a universidade arrecadaria em um leilão de venda dessas licenças.
2. Serviços de consultoria e advisory para corporações públicas e privadas: R$ 575 milhões
Usamos as estimativas de receita global anual das três maiores empresas de consultoria do mundo (Bain & Co., BCG e McKinsey) feitas pela Forbes e o número de consultores que cada um possui. Calculo então a receita per capita de cada consultor. Calculo a receita por consultor média. Assumo então que cada professor da universidade traria 10% desse valor, já que essa seria uma atividade que ocuparia apenas um pequeno tempo do docente. Para chegar ao número final, assumo que apenas metade dos docentes se envolveriam na atividade de consultoria & advisory.
3. Cursos de curta duração de treinamento profissional (presencial e à distância): R$ 1.7 bilhões
Essa conta é a soma de dois componentes. Um componente são os cursos presenciais de curta e média duração visando aperfeiçoamento profissional -- coisas como "Programação em Java", "Matemática financeira", "Economia para jornalistas", "Radiologia odontológica", "Jornalismo científico", "Liderança estratégica", "AutoCad" entre centenas de outros. Usamos a receita esperada dos cursos presenciais de curta duração oferecidos por três unidades (para as quais alguns números estão disponíveis nos sites das escolas) como valor de referência. Estimamos a receita a ser obtida pelos demais cursos simplesmente como uma fração da receita esperada desses cursos de referência proporcional ao tamanho relativo do corpo docente. O segundo, e o maior, componente dessa conta são os cursos de ensino à distância oferecido on-line. Para os cursos profissionalizantes, usamos como referência o número médio de alunos por curso segundo dados da Associação Brasileira de Ensino à Distância. Consideramos aí que cada curso da USP ofereceria em média 20 de tais cursos, cobrando R$ 500. Por fim, consideramos também a receita que poderia ser obtida com cursos à distância de pós-graduação latu sensu (MBAs, especialização e mestrados profissionalizantes em geral). Consideramos que cada curso da USP ofereceria em média 1 curso por ano com uma turma de vinte alunos, cobrando um valor médio de R$ 20 mil -- valor cobrando por muitos cursos similares pelas melhores instituições privadas do país.
Essa receita provém essencialmente da venda de estandes para as empresas que desejassem participar do evento. Usamos o valor que costuma-se cobrar por um estande na feira da Escola Politécnica (R$ 16.000) e o tamanho médio dessas feiras (60 estandes) segundo alunos que participaram da organização dessas feiras no passado recente. Essas feiras já existem hoje na USP mas abrangem carreiras cujos estudantes representam menos de 20% da população estudantil. Há portanto espaço para mais do que dobrar o tamanho dessas feiras e do número de estandes vendidos.
5. Cursos presenciais de pós-graduação latu sensu (MBAs): R$ 240 milhões
Aqui consideramos o número de unidades da USP que oferecem cursos de pós-graduação e assumimos que cada unidade ofereceria em média cinco de tais cursos por ano. Consideramos aí como estimativa do valor a ser cobrado, o preço médio de um MBA em são Paulo (cerca de R$ 33 mil) e turma com um número médio de cinquenta alunos.
5. Cursos presenciais de pós-graduação latu sensu (MBAs): R$ 240 milhões
Aqui consideramos o número de unidades da USP que oferecem cursos de pós-graduação e assumimos que cada unidade ofereceria em média cinco de tais cursos por ano. Consideramos aí como estimativa do valor a ser cobrado, o preço médio de um MBA em são Paulo (cerca de R$ 33 mil) e turma com um número médio de cinquenta alunos.
Primeiro assumimos que uma pequena fração da área do campus (2.5%) seria utilizada para estacionamento de veículos. Calculamos o número de vagas que isso criaria (pouco mais de 15 mil). Assumimos então que essas vagas arrecadariam em média R$ 150 por mês. É claro que haveria usuários mensalistas e usuários esporádicos, mas esse valor, relativamente baixo para a região, já "corrigiria" pela distorção que não separar a receita de mensalistas e visitantes esporádicos possa talvez criar.
7. Aluguel de espaço e serviços de buffet para conferências: R$ 1.2 milhões
7. Aluguel de espaço e serviços de buffet para conferências: R$ 1.2 milhões
Conta simples: usamos 20% do número de cursos da universidade (49) como aproximação do número de sociedades profissionais e órgãos de classe que teriam interesse em alugar as instalações da universidade para conferências e eventos de interesse da área. Consideramos aí um público médio de 500 pessoas, com a universidade cobrando o equivalente à R$ 50 por pessoa. Estão excluídos dessa conta, por exemplo, as receitas provenientes do aluguel das instalações esportivas da universidade (piscina, campos de futebol, quadras de tênis, ginásios etc).
Consideramos aqui apenas as doações de grandes empresas. Grandes empresas são empresas que faturam anualmente mais de R$ 48 milhões (critério do IBPT). Pegamos então o número de grandes empresas no estado de São Paulo. Consideramos aí que 5% dessas empresas doariam o equivalente à 1% desse faturamento mínimo necessário para ser classificado como grande empresa -- o equivalente a R$ 480 mil anuais. Doações de pequenas e médias empresas estão excluídas dessas conta.
9. USP Talks: R$ 900 mil
9. USP Talks: R$ 900 mil
A ideia aqui é que a universidade crie uma série de palestras (um por mês acadêmico, o que dá umas nove por ano) oferecidas por seus pesquisadores para falar das pesquisas de ponta mais impactantes e temas de interesse geral. Assumimos aí um público de mil pessoas pagando aí R$ 100. A receita é obviamente pequena, mas o importante desse evento é (1) a divulgação das pesquisas de maior impacto feitas dentro da universidade e (2) a possibilidade de network com empresas e instituições que podem adquirir outros serviços e fechar parcerias de interesse da universidade.
10. Campanhas de fundraising junto aos ex-alunos: R$ 30 milhões
Pegamos o estoque de alunos formados pela USP entre 1989 e 2012 -- cerca de 126 mil. Tomamos a renda média do pessoal assalariado com nível superior no Brasil (pouco mais de R$ 4 mil) como aproximação da renda anual desses egressos. Assumo então que em média cada aluno doaria 1% dessa renda, o que dá pouco mais R$ 200.
10. Campanhas de fundraising junto aos ex-alunos: R$ 30 milhões
Pegamos o estoque de alunos formados pela USP entre 1989 e 2012 -- cerca de 126 mil. Tomamos a renda média do pessoal assalariado com nível superior no Brasil (pouco mais de R$ 4 mil) como aproximação da renda anual desses egressos. Assumo então que em média cada aluno doaria 1% dessa renda, o que dá pouco mais R$ 200.
MAS E A COBRANÇA DE MENSALIDADES?
É óbvio que a cobrança de mensalidades ainda que de apenas metade de um universo de mais de 70 mil alunos, traria uma receita bilionária para a universidade. É um "no brainer", e uma matéria recente da Folha fez essas contas (ver aqui). Por que então que não incluir isto na conta?
Cobrar ou não cobrar, eis a questão?
Antes de justificar porque eu decidir deixar a questão da cobrança de lado, penso que vale à pena discutir brevemente a racionalidade econômica de ter ou não dinheiro público no financiamento da educação superior (eu sei que há restrições constitucionais, mas quero discutir a rationale econômica dessas escolhas.
Por que não cobrar?
Existem dois argumentos principais em favor da provisão pública de educação (superior e em geral) financiado através de impostos.
Primeiro, o argumento de que a educação gera uma "externalidade positiva" -- um benefício que outras partes que não o estudante usufruem. A ideia aí é que a educação torna o sujeito mais produtivo, com potencial de criar inovações e contribuir com o desenvolvimento de outras áreas e, também, cria um cidadão e um eleitor "melhor". A ideia então é que o benefício social da educação é maior do que o benefício estritamente privado do qual se beneficia o estudante -- essencialmente, a renda maior que auferirá como resultado dos postos de trabalho de melhor remuneração que em geral ocupará (relativo ao que ocuparia sem essa educação). Segundo, o argumento de igualdade, de que a provisão gratuita ao estudante de educação nivela o "playing field", criando condições iniciais, pelo menos no que tange à instrução escolar, de relativa igualdade.
Há, todavia, dois problemas com esses argumentos. Primeiro que a existência de uma " externalidade positiva" justifica que o governo ofereça subsídios mas não que incorra no total financiamento da educação. Há uma muito provavelmente externalidade positiva, mas ela dificilmente será muito grande e, de qualquer forma, será apenas uma fração do benefício do qual se apropriará inteiramente o estudante. Segundo que o risco de tornar a educação inacessível para os indivíduos mais pobres que a cobrança de mensalidades traria é algo cujo "tecnologia de solução" já é amplamente conhecida e utilizada em outros países: bolsas e esquemas de crédito com repagamento de longo prazo após conclusão e obtenção de um emprego.
Por que cobrar?
Os argumentos em favor da cobrança do ensino superior são muito mais fortes. Vejamos se não.
Primeiro, que alocar recursos tributários para custear o ensino superior tem um enorme custo de oportunidade, a saber: os investimentos (e seus respectivos benefícios) em outras áreas que deixaram de ser feitos. No caso, estou pensando exatamente nos investimentos que poderiam ter sido feitos no ensino básico (infantil, fundamental e ensino médio) com os recursos alocados no ensino superior. Não se trata de preferência pessoal: há evidência empíricas de que a " externalidade positiva" da educação básica são maiores do que a da educação superior. Veja: o argumento aqui não é o de que o ensino superior não importa (dizer isso seria um bobagem), mas o de que a alocação de recursos públicos (que são escassos e que tirá-los de um lugar para por em outro tem um "custo de oportunidade"; infelizmente o pessoal mais de esquerda não entende nenhum desses conceitos, e acabam falando de um m) deveria priorizar o ensino básico. Alguns anos atrás vi dados do INEP mostrando que o gasto com ensino superior por aluno é da ordem de 11-12 vezes maior do que o gasto médio com o aluno do ensino básico.
Segundo, e esse é para mim o principal, que esse esquema de financiamento é absolutamente regressivo: extrai-se recursos de todos, sobretudo dos mais pobres (em termos proporcionais à renda que possuem), e se transfere isso para financiar a educação dos mais ricos que são os que acabam tendo acesso às universidades de públicas (que são, no Brasil, as universidades "de elite"). Será que não é óbvio o mecanismo de concentração de renda que esse modelo de financiamento de ensino superior opera? Como é possível que essas pessoas que supostamente são preocupadas com a (in) justiça distributiva do país e a dificuldade em sair da condição de pobreza sejam os primeiros a defender a manutenção e até maiores transferências de impostos para as universidades públicas? Isso é hipocrisia, ignorância ou puro auto-interesse? Provavelmente uma mistura de tudo.
Mas por que não incluir a cobrança de anualidades dos estudantes?
Como eu disse, é óbvio que isso seria uma fonte arrecadatória de peso considerável. Ninguém duvida disso. Mas eu evitei propositalmente elencar isso como uma fonte de recursos financeiros por duas razões.
Primeiro porque o assunto alienaria muita gente -- estudantes, professores, políticos, etc -- que poderia ser simpática à dezenas de outras formas de financiamento que podem ser exploradas pela universidade. Infelizmente há uma mentalidade anti-negócios em certos segmentos da universidade. É importante que ao perseguir fontes alternativas de financiamento -- prerrogativa da autonomia que a USP goza -- a universidade conte com o apoio das pessoas dentro e fora da universidade.
Segundo porque a cobrança de mensalidade esbarra em restrições legais cujo remoção envolveriam talvez um complicado -- e talvez não politicamente factível -- processo de emenda constitucional. Eu digo talvez porque é possível imaginar que o STJ pudesse criar um entendimento de que o artigo 206 (Inciso IV) da Constituição Federal que trata da gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais -- invocado para vedar a cobrança de mensalidade -- refere-se apenas à educação básica, e não a cursos de nível superior nem muito menos a qualquer curso oferecido por uma universidade -- hoje a universidade não pode cobrar por MBAs nem por curso algum.
Como as estimativas de receita acima sugerem, não há necessidade de vampirizar ainda mais o bolso do contribuinte, nem de vender patrimônio, nem muito menos de tirar dinheiro da escola do sujeito que mora lá na periferia ou da educação ou da segurança) para resolver o desequilíbrio financeiro que a USP enfrenta. Basta fazer o que qualquer universidade do primeiro mundo já faz: adotar uma postura mais empreendedora e usar os recursos físicos e humanos que já possui.
A aplicação de boa parte dessas ideias seria impossível com os preceitos constitucionais atuais, que proíbem, nas universidades públicas, a cobrança de taxas na graduação, pós-graduação (lato e strictu sensu) e quaisquer cursos de especialização.
ResponderExcluirQuanto a uma possível interpretação do artigo 206 (Inciso IV) da Constituição Federal, é importante lembrar que há jurisprudência proibindo a cobrança de quaisquer taxas: em 2012, a Justiça Federal concedeu liminar em uma Ação Civil Pública e proibiu a Universidade Federal de Uberlândia de cobrar taxas referentes a cursos de especialização (mais detalhes aqui: http://mpf.jusbrasil.com.br/noticias/100121193/mpf-mg-universidade-publica-nao-pode-cobrar-matricula-nem-mensalidade-em-cursos-de-pos-graduacao )
A ação que você mencionou trata de cursos de pós. O ponto 3 trata de cursos de curto duração de capacitação/aperfeiçoamento profissional -- não são "degrees".
ExcluirHá evidência anedótica de que alguns cursos em algumas universidades já oferecem e cobram por cursos desse tipo (procure e achará). É uma questão de saber qual seria o posicionamento da justiça se a universidade fosse desafiada a justificar a cobrança por esses cursos.
De qualquer modo, sabemos que existem potenciais barreiras legais a implementação desas coisas -- isso já foi mencionado ad nauseam em outro post aqui sobre o tema. Digo potenciais porque as leis não são claras e deixam muita coisa à interpretação dos juízes, logo não dá pra saber. De uma forma ou outra, o post deve ser visto como um exercício, afinal ninguém aqui tem poder de decidir essas coisas.
Obg pela comentário e pelo link.
Sérgio,
ResponderExcluirEstou no mercado de consultoria há alguns anos e creio que a sua conta para essa fonte de recurso está ruim.
É um mercado saturado: para comandar as boletas das firmas que você menciona, as consultorias devem ser prestadas para empresas que faturem mais de 200 milhões de reais.
Hoje, cada vez mais, consultores são demandados para executar o que propõem.
É um mercado saturado.
As atuações de um professor universitário em uma empresa são muito específicas.
Creio que a preferência entre alguém com experiência acadêmica somente e alguém com experiência aplicada seria pelo último.
A consultoria que um professor pode prestar, grosso modo, seria mais barata (muito mais), o que diminuiria significativamente a sua estimativa.
Quanto a FGV fatura com consultoria? Alguém sabe? Acho que seria um benchmark mais adequado que McKinsey, BCG e etc.
ExcluirEu "corrijo" para essas coisas todas (soft skills que esses caras têm e a usp não, especialização que eles tem e a usp não teria, o fato de que nem todo professor faria isso, etc, etc, etc) assumindo que comandaríamos 10% da receita per capita média deles. Se isso não é uma hipótese conservadora (quem são os consultores da McKinsey e similares? Egressos da USP e similares, a vasta maioria deles com 1/3 de treinamento!) então não sei o que é.
ExcluirProfessor, eles podem ser egressos, mas entram absolutamente crus. O treinamento on the job é massacrante, os skills que se aprendem na faculdade são fraquíssimos. Fora que todos que sobrevivem aos primeiros dois anos vão para MBA no exterior. O MBA nas top universities americanas conta mais - muitíssimo mais - do que ter se formado na USP...
ExcluirOutra: um partner Mckinsey, ou mesmo um gerente de projetos, que hoje tem seus 30 anos e tem dois de MBA em Wharton coloca qualquer professor da FEA-Admin, qualquer um, no chinelo em termos de business sense.
ExcluirEconomia/Finanças têm mais vantagens, principalmente em consultoria pra bancos. Tem mais demanda. O Eid, lá da GV, era bem mais ou menos e vendia consultoria pra bancos.
Agora, consultoria é um peopelo business: a relação é com o próprio consultor. O que impede um professor oferecer o serviço mais barato do que cobraria sem a "marca" USP, dado que ele vai fazer o projeto? O que a USP agrega ao consultor que já não está, por assim dizer, "agregado"?
Quando se contrata uma BCG, você compra muitas vezes a chancela da empresa, a marca. Por isso que não importa quem vem - mas a visão de que vem recém formados é errada. O gerente fez MBA na Booth, em Chicago, o associate está indo pra lá etc.
Na USP, você não compraria a marca USP - você vai atrás do professor X, que manja tudo da rebimboca da parafuseta do assunto Y. Empresário vai contratar se tiver esse problema específico. Ou se precisar de "parecer". E isso ele já faz.
Então, duas perguntas:
a) por que a receita incremental com a marca USP num serviço que já é prestado seria maior?
b) como a USP iria se apoderar dessa receita, dado que professor que quer fazer consultoria já faz, por um preço menor?
Lá em cima é "people business".
ExcluirPor fim: seu raciocínio faria sentido se você pegasse 10% do faturamento desses caras (de qualquer um deles, mas não deles somados) no Brasil.
Querer comandar um faturamento de 10% no mundo, quando Brasil não chega a isso, é querer ser melhor que eles por aqui.
Argumentos do Anônimo acima são definitivos. Realmente, como é que a USP ia se tornar 10% de todo o mercado de consultoria mundial, se os professores já ganham o que conseguem com consultoria?
Excluir"a) por que a receita incremental com a marca USP num serviço que já é prestado seria maior?"
Excluir- Por duas razões: (1) porque a USP poderia operar em centenas de áreas do conhecimento (ela tem 249 cursos -- tome isso com uma proxy para número de áreas), coisa que nenhuma outra consultoria faz. (2) porque a USP teria a reputação que a vasta maioria das empresas nesse mercado (com excessão das Big 4), não tem.
"b) como a USP iria se apoderar dessa receita, dado que professor que quer fazer consultoria já faz, por um preço menor?"
- A USP não faz consultoria. Não existe essa marca (as fundações não vendem serviços em nome da USP). E de onde vvc tirou essa de "quem quer já faz?" Nos 249 cursos da USP? E fazem tanto quanto poderiam/querem? A receita que usei foi de 10% do valor MÉDIO da receita por consultor de 3 grandes consultorias (o equivalente à R$ 9.5 mil/mês...não é nenhuma fortuna FFS). Coloquei só 10% já pra capturar essas coisas todas.
Sergio, essa receita por consultor exige bastante trabalho. Não é só dar os areas da graça exibindo a marca.
ExcluirPara fazer esse trabalho todo, a USP precisaria de muito mais gente. Isso custaria dinheiro. Ou então desviar pessoas dos serviços que fazem atualmente para os trabalhos de consultoria. E teria que ser gente que entende bem como funciona cada negócio em cada umas dessas 249 áreas.
Você está falando sobre o mercado de consultoria em geral, não sobre algo que a USP tenha a vocação ou habilidade para executar.
Não fui claro.
ExcluirProfessores já fazem consultoria: precisando de uma resposta específica, o empresário procura o departamento, ou acha o professor. O professor cobra o quanto acha que deve cobrar. Por que ele precisa da marca USP pra isso, se ele já tem a marca USP, pois é professor da USP? Consultoria é relacionamento. Por isso quando a Mckinsey perde um partner pra BCG, ou quando a ATKearney deixa um diretor ir pra Booz, ele perde cliente. O cliente vai junto. O cliente vai ser do professor, não da USP.
Uma consultoria como a Galeazzi, que é rentabilíssima e em algumas situações tem a marca mais forte que as Big4 (daí a sua análise ser fraca: há consultorias especializadas que colocariam a USP no chinelo: eu não confiaria num professor da USP pra fazer turnaround numa empresa, em alguém que só conhece fábrica pelo livro), tem boletas médias de 400 mil por mês, para equipes de 6 consultores, em média. De 5 a 10 projetos rodando em paralelo, no máximo. Mas são problemas a) abrangentes e b) de grandes empresas. O alvo são empresas com faturamento acima de 200 milhões/ano pra aguentar essas boletas.
Professor só vai ser procurado pra problema específico. E, dos 249 cursos, quantos você acha que são realmente relevantes pra empresas? Eu te respondo: FEA e Poli. E só.
Dou de barato o seguinte: se houver um trabalho bom de atenção a ex-aluno que virou dirigente de empresa ou empresário (maioria de FEA e Poli, de novo), eventualmente esse cara queira contratar a Consultoria USP. Mas vai ser muito difícil alguém dizer "vou contratar a USP pra me fazer consultoria". Quem pensa isso contrata parecer dos economistas, contrata estudo, vai no IPT, vai falar lá na Poli...de novo, o cara já faz, o serviço já existe, e a marca USP é irrelevante "stand alone", porque já está incorporada no CV do professor.
Então, pegue metade dos professores da Poli+FEA, a uma boleta de 10 conto/mês, e aí teremos um número crível.
ExcluirPra pagar 10 mil por mês, uma empresa tem que faturar acima de 4 milhões por ano...e tem que ver muito valor no trabalho, não quer só conselho e estudo. Quer ver negócio implementado e rodando.
Professor Pait toca num ponto importante: equipe.
ExcluirPra cada "especialista" (diretor, engagement manager, e outros títulos bonitos), que seria o equivalente ao professor, tem uma equipe de 5 atrás, dois mais espertos, 3 pica-paus, trabalhando 14 horas por dia e fazendo o excel cantar, pra entregar projeto em 4 meses.
Vender "conselho" não é modelo de negócio....
Anônimo, você devia se logar e identificar pelo nome, porque ao contrário de outros anônimos que comentaram aí embaixo até que você não está dizendo muita besteira ;-)
Excluir(Isso é meu jeito informalmente elogioso de dizer que você parece ter boa noção do trabalho de consultoria.)
"Então, pegue metade dos professores da Poli+FEA, a uma boleta de 10 conto/mês, e aí teremos um número crível."
Excluir- Porque deixar de fora os serviços de consultoria/advisory da medicina, da farmácia, da bioquímica, da matemática, da estatística, da ciência da computação, das ciências agrárias, do design, do direito, da matemática aplicada e computacional, da geofísica, da geologia, da gestão ambiental, da veterinária, da psicologia, da odontologia, dos sistemas de informaçào, de moda, de engenharia naval? Enfim, acho que vc entendeu o ponto...espero.
Odonto? Really?
ExcluirDesign? Já assistiu a uma aula de design na FAU?
Esalq ok. IME, ok.
Mas esse nem é o ponto mais importante - afinal, quanto mais conservadora uma estimativa, melhor. Eu, do ponto de vista do business, iria projetar como lhe disse: FEA+POLI, 50%, O que vier é lucro. Se pára de pé com Fea e Poli, pára de pé com qualquer coisa.
Mas meu ponto principal aqui é: a força da "marca" USP é irrelevante. Porque essa força já está difundida na figura dos consultores, dos professores. Eu já fiz projeto em uma farmacêutica e entre os advisors estava uma professora da Farma. A boleta dela não era maior que a minha, que sou um simples undergraduated, porque o escopo dela era de advisor...empresário não compra esse intangível, professor Sérgio. Mas fugi do ponto: veja que não há uma "Harvard Consulting". Há a consultoria do professor Michael Porter, a Monitor. O que permitiu que ele fosse consultor renomado é dar aula em Harvard, mas isso não reverte a Harvard. Creio que é o que vocês economistas chamam de "externalidade positiva", não? A Universidade não captura o valor da marca nesse serviço.
Obrigado pelo elogio, professor Pait. Não me identifiquei por preguiça.
Alexandre, é isso. No final o que rende para a consultoria é o trabalho dos consultores. A marca ajuda a vender, mas não existe uma massa de dinheiro por aí só esperando a marca USP se materializar para ser gasta na universidade.
ExcluirPara a USP ganhar muito dinheiro com outras atividades, teria que se reinventar. O que não é seu papel nem, como vemos pela presente discussão, sua competência.
Sergio,
ExcluirO seu artigo é bem interessante porque apresenta estimativas de faturamento em diversas frentes, algo que me parece pioneiro nessa discussão. Mas em relação as consultorias, concordo com os comentários sobre o benchmark com Mck/BCG/Bain ser inadequado. Acho que o mais correto seria comparar com a FGV. Eu trabalhei no BCG e a USP teria dificuldades em competir por algumas razões: (i) a falta de uma base de conhecimento acumulado no Brasil e exterior em diversas indústrias e nos mais diversos tipos de problema, (ii) a dedicação quase que integral que os consultores fazem ao projeto (manhã, tarde, noite, fim de semana etc.), (iii) a falta de networking para vender projetos, (iv) o perfil dos consultores, essas consultorias selecionam os melhores alunos de graduação que depois fazem mba no exterior; existem poucos professores da FEA com perfil parecido, talvez so alguns com PhD do departamento de economia, mas no curso de administração, por exemplo, eu não acho que existam professores com esse perfil.
É isso. Ficar aguardando que o telefone toque e do outro lado esteja um empresário ávido por contratar a sabedoria infinita dos professores da USP, por rios de dinheiro, não é plano de negócios.
ExcluirSergio,
ResponderExcluirSugiro um post de 10 formas da USP ECONOMIZAR dinheiro
Concordo. O problema é gasto. Não receita.
ExcluirO grosso do custo atual é folha salarial de ativos e aposentados. E mudar a lei para permitir demissões e se livrar da folha de inativos é infinitamente mais difícil do que mudar os estatutos da universidade para, no uso da autonomia que goza, explorar várias dessas outras fontes de receita. É por isso que não perco tempo com corte de custo.
ExcluirMudar a lei pra demitir? Pelo que me consta, a maioria dos novos funcionários contratados é CLTista. Não demite porque não tem culhão pra demitir e enfrentar o sindicato. Também não sei porque não oferecem um plano de demissão voluntária e usam a reserva pra pagar os direitos.
ExcluirPrimeiro,
ResponderExcluira Monica Waldvolgel é um docinho... Segundo, o antagonista na entrevista fez uso doos argumentos centrais do super hiper best seller do Thomas Piketty... Me refiro a parte em que ele apregoa o aumento da taxação sobre heranças... No mais, a despeito do nervosismo inicial, a mensagem foi bem passada... Parabéns.
O endownment do MIT é de US$ 10bi...
ResponderExcluir1. O argumento do cara era taxar mais/tirar imposto de outras áreas e transferir mais pra usp. É a velha ladainha hobin-hoodiana socialista de tirar dos ricos pra dar pros pobres. Só que nunca vai pros pobres, e o caso em tela -- ensino superior -- é um exemplo disso. Mas não adianta falar que o retorno da educação básica é maior e que por isso o foco no investimento dos recursos disponíveis para a área (que ao contrário do que ele pensa, não são infinitos) deve ser lá, e não no ensino superior. O compromisso desse pessoal é com uma visão de mundo, e não em ponderar custos e benefícios das opções de escolhas que podem ser feitas. De modo que esse papo de taxar mais só faz sentido aos Safatles da vida e aos ouvidos dos que comungam dessa ideologia. Para o resto das pessoas o argumento é simplesmente tosco e irrazoável (mais transferência de renda, na forma de imposto, pro estado brasileiro? Really?)
ResponderExcluir2. Vendo o que a Mônica faz ao vivo é mais impressionante -- pra ela não deve ser nada mas para um newbie.... E sim, ela é de uma simpatia e de uma polidez que eu vi poucas vezes na minha vida.
Obrigado!
Mostre alguma universidade do mundo que arranja 700 contos de doação de empresas por ano, daí o argumento começa a pensar em deixar de ser fantástico.....
ResponderExcluirOi Felipe.
ExcluirNão se apegue aos números. Já disse que um ou outro pode estar superestimado. Foque no conceito -- que aqui é o de que a universidade pode explorar as opções de "rebate" tributário para captar doações de empresas (supondo que não há nenhuma empresa "genuinamente" interessada em doar para a USP, fazendo-o apenas porque receberam desconto tributário).
De qualquer modo, acho que dá pra encontrar várias universidades que receberam doações dessa monta. De qualquer forma, lembre que você precisa controlar por número de alunos (ou outra medida que capture o tamanho dainstituição).
Oxford por exemplo recebeu cerca de R$ 443 mihões de reais no ano fiscal 2012-2013 (link abaixo). Isso dá uns R$ 19 mil por aluno. Mas ok, corte isso, digamos, pela metade porque Brasil não é UK... Mesmo com essa correção (rudimentar, eu sei), dado que a USP tem 90 mil alunos, estaríamos falando de R$ 909 milhões.
http://www.ox.ac.uk/about/organisation/finance-and-funding/financial-statements-of-the-Oxford-Colleges-2012-13
Em suma: há evidências de que esse padrão de doação é menos fantástico do que parece. Mas insito: foque na ideia -- que seja 20% desse valor; Ainda é algo a ser perseguido.
Escrevi ontem mas parece que o comentário se perdeu, tento repetir.
ExcluirMe parece que você interpretou erroneamente "Resources from generated funds: Legacies and donations" de Oxford como sendo doações de empresas. Não conheço as finanças de Oxford mas doações a fundo perdido de empresas, se houver, são uma quantia minúscula.
Para concorrer com grandes empresas de consultoria como BCG e Bain, os professores da USP teriam que adquirir soft skills que estão longe de ter. Na verdade muitos deles seriam alvo de chacota no mundo corporativo...
ResponderExcluirOutro número fantástico são os mil e quinhentos contos em cursos de treinamento. Ensinar a pilotar software não é uma atividade na qual a universidade tenha qualquer vantagem comparativa. Qualquer um pode abrir uma empresa e dar aulas de Java ou português. Não é um mercado enorme, lucrativo, e aberto para o momento em que a USP decidir criar. Pode dar uns trocados aqui ou ali, a custa de desviar a dedicação dos professores para atividades que não são aquelas para as quais a universidade está mais qualificada, mas nunca vai render uma fração apreciável do orçamento.
ResponderExcluirAcorda pra vida filho! Se a USP entrar nesse mercado de curso ela destrói com essas porcarias que existem hoje. Ou você acha que alguém vai preferir a certificação da Wizard ou do IPED ao invés da USP?!?
ExcluirHonestamente, não sei. A USP não gere muito bem o ramo no qual ela se especializa, ensino superior. Não tenho motivos para acreditar que seria tão eficiente fora de sua especialidade.
ExcluirE se mudasse de ramo, não seria mais o caso de receber subsídio público.
Ai meu deus...meu amor, a usp gasta com a manutenção de um centro poliesportivo, e nem por isso dizemos que ela mudou para o ramo esportivo. Dar aconselhamento e consultoria para empresas (sob restrições de tempo porque como vc disse não é a atividade principal), não mudaria o ramo da usp.
ExcluirE sim: no limite imagino que é exatamente essa: diminuir a dependência das transferências do estado e liberar esse dinheiro para a educação básica. Desejável não?
Anônimo, se você conhecesse a USP saberia que isso já é feito. Muitos docentes dedicam uma fração de seu salário a consultoria. Aos honestos, rende um complemente salarial que permite viver com mais conforto numa cidade cara como S Paulo, sem prejuízo da dedicação primordial ao ensino e pesquisa.
ExcluirNão é uma fração grande do orçamento da USP nem nunca vai ser.
Outros itens grandes da sua lista, como consultoria e cursos informativos de duração um pouco maior, também sofreriam concorrência de outras organizações mais especializadas nesse tipo de serviço. A universidade só tem vantagens concorrenciais em consultorias muito especiais, onde o conhecimento não está disponível no mercado - são setores especializados e reduzidos.
ResponderExcluirMeu, que monte de bobagens! A USP tem mais de 200 especialidades. Você realmente acha que existe alguma empresa de consultoria (que empregam um bando de graduados e um ou outro cara mais tecnicamente senior), que vai competir com uma instituição desse tamanho (9 mil professores, 17 mil funcionários e 90 mil alunos), com essa reputação e com um bando de gente com muito mais treinamento (seus professores têm em geral cerca de 12 anos de formação, e não 4) e com essa diversidade de know-how? Ok, a USP não vai comandar a receita bilionária de uma BCG, até porque consultoria não será a atividade-fim, mas daí a dizer que isso não pode gerar alguns bilhões de R$ (advinha quando a GV consultoria fatura?) é pura descrença boba.
ExcluirUns bilhões aqui, uns bilhões ali, logo você está falando em dinheiro de verdade.
ExcluirBem maior que um grupo de consultoria, quiçá.
Falando sério, dar consultoria, junto com emprego integral de professor pesquisador e didata, é bem trabalhoso. Consome tempo. Não vou competir com meus ex-alunos que trabalham na McKinsey na especialidade deles, porque seria desperdício do meu tempo e do $ do contribuinte.
Por mim formar gente que vai ter carreira bem sucedida está bom, e consultar se for algo que eu sei e eles não. É para isso que quero continuar a receber o apoio do contribuinte.
Creio que o professor Pait tenha razão no caso da consultoria - achar que vai concorrer com Mckinsey, BCG etc é "viajar", basta comparar os powerpoints dos professores com qualquer coisa inteligível...- mas, com relação aos cursos, não vejo bem assim: e os cursos da Fundação Vanzolini, por exemplo? O pessoal coloca nos curricula como "Poli-USP"...não precisa "prostituir" a marca como a GV, que tem cursos FGV em todos os lugares, até em cima de padaria, e o mercado já dá o devido desconto, mas creio que tenha espaço sim. Guardadas as devidas proporções, a FEA pode inspirar-se nos cursos de Executive Education de Harvard, ou os da NYU, que são inúmeros, por exemplo.
ResponderExcluirEsses cursos tipo Vanzolini, PECE da Poli, já existem. São uma forma de escapar das amarras do funcionalismo público e complementar salário, desviando um pouco das atribuições normais da universidade. Sem ser purista demais, aceitáveis. Se alguém tiver a pachorra de correr atrás dos números, nem duvido que já rendam algo comparável à Harvard, proporcionalmente.
ExcluirRendem uns trocados. Imagine que de repente vão aumentar 50% o orçamento da universidade..... que o mercado existe aí, lucrativo, sem concorrência, inexplorado porque ninguém na universidade pensou nisso antes, e a iniciativa privada não tem competência de fazer.....
Nos Estados Unidos as universidades que são privadas recebem doações de ex-alunos, aqui os alunos das universidades que são públicas consomem todos os recursos que lhe são oferecidos , quando lá fazem uma greve ou protesto inútil e depredam o patrimônio da universidade e quando se formam virão as costas pra quem o ajudou em sua formação.
ResponderExcluirConcordo com quem disse que comparar uma eventual consultoria da USP com McKinsey, Bain, BCG é exagero. O empresariado optaria pela USP se fosse uma opção de baixo custo. No médio-longo prazo talvez chegasse a outro patamar. Aliás, nesse caso, o que seria observado seria um grande repasse à USP ou professores querendo faturar fortunas em consultorias utilizando a infraestrutura da Universidade?
ResponderExcluirA consultoria da USP pode ser competitiva se for em algo muito especializado, que a universidade conhece mas não é dominado pela indústria. Existem coisas assim, mas é um mercado limitado. Se for para competir com McKinsey no que a McKinsey sabe fazer, teria que ser no preço e qualidade mesmo.
ExcluirHonestamente, difícil não deve ser - esse tipo de organização tem custos altíssimos. Mas implicaria desviar a universidade da função para a qual o contribuinte destina os recursos. Daí faria mais sentido professores e alunos montarem um empresa de consultoria ou treinamento. Usar os recursos públicos para competir com empresas privadas é um disparate.
Existe algum incentivo fiscal a pessoa física ou a empresas a doarem para universidades? Se houvesse alguma dedução do IR, eu certamente doaria até o limite dedutível. Ou se há, por favor, me informem.
ResponderExcluirEm relação às doações, existe uma dificuldade nos ex-alunos de doarem para a USP por 2 motivos: i) faltam canais transparentes para que sejam destinados os recursos; e ii) não existe a cultura de vínculo da USP com o alumni. Quando o aluno se forma, ele é quase expulso a pontapés da universidade e jamais volta a ter contato com ela. Não existe um esforço de vínculo, orgulho e aproximação de quem se formou à instituição. Daí se nota o porquê de ninguém querer doar recursos à USP.
ResponderExcluirInfelizmente, o mais comum é que o último contato do aluno com a universidade seja burocrático, com o serviço de expedição de diplomas, onde ele busca algum comprovante de conclusão de curso e comumente é recebido com cara feia e tratado com indiferença.
ExcluirO licenciamento de áreas para uso comercial é uma coisa que há tempos me pergunto porque não é feito. Há alguma coisa de ilegal? Imaginem construir uma praça de alimentação alí dentro.
ResponderExcluirTem um montão de restaurantes terceirizados no campus. Ninguém vai cobrir o orçamento da USP com isso, quem gasta são professores e alunos mesmo..... Mas poderia ser desburocratizado, diminuindo custos e aumentando receitas.
ResponderExcluirMontão não tem mesmo. E os poucos que existem, com um par de excessões, são um lixo -- coisa nível "beira de estrada".
ExcluirDito isto, é óbvio que nenhuma fonte potencial de receita própria vai ser suficiente para "cobrir" o orçamento da USP. Mas e daí? O que importa é a soma delas.
Não são tão ruins assim, embora possam melhorar. Os números grandes que você escreveu são absolutamente fantásticos.
ExcluirFelipe,
ExcluirPegue o item que quiser. Olha então a descrição de como cheguei no número. Aí me fala o que está superestimado ali. Fica mais fácil assim eu, e todo mundo, entender com o que exatamente você está descrente; é mais claro do que ficar gritando "fantástico".
Sinceramente, Sérgio, 2 mil contos em doações de empresas e cursos informativos é um número tão irreal que a responsabilidade é sua de justificar. Estão errados em muitas ordens de grandeza. Nenhuma universidade no mundo ganha tanto dessa forma. Não é o caso de ficar verificando se sobraram ou faltaram 10% aqui ou ali.
ExcluirEu já justifiquei Felipe. Convidei você a olhar a conta e dizer o que está superfaturado ali. Vc simplesmente diz que estão errados sem dizer o porquê. Não tem debate assim.
ExcluirSérgio, como escrevi acima, no comentário que sumiu ontem e que tentei reproduzir hoje, o número sobre doações de empresas a Oxford está errado. Sua interpretação dos documentos da universidade está incorreta. Qual o erro que o levou a supor que empresas doariam centenas de milhões à USP, quando isso não acontece com universidades onde as doações são parte da cultura? Não sei. Talvez você tenha superestimado a generosidade e desprendimento dos administradores e proprietários de empresas.
ExcluirNo caso dos cursos, seu cálculo é muito vago. Talvez você tenha superestimado o tamanho do mercado de cursos caros e fáceis de ministrar.
No geral, a responsabilidade é sua de escrever algo que valha a pena discutir. Esmiuçar e corrigir um raciocínio que conduz a afirmações contrafactuais não é um exercício atraente.
Pensando de outra forma. 1.7 bilhões divididos por 6 mil professores dá quase 300 mi em médial. Se eu soubesse dar um curso de programação em Java ou coisa assim, algo facilzinho que rendesse 300 mil-réis por ano, e não me desse tanto trabalho que fosse me afastar da atividade de ensino e pesquisa, eu faria. Os outros 6 mil também.
Se não fazemos, é porque com certeza ensinar tais cursos não é nem tão fácil nem tão lucrativo.
Felipe,
ExcluirSobre as doações:
Peguei apenas as grandes empresas (faturamento > 48 mi) que estão localizadas em SP. Considerei que 5 em cada 100 doaria o equivalente a 1% do limite inferior de faturamento dessa classe de empresa (i.e., 480 mil).
A conta está subestimada por duas razões:
(1) excluí empresas médias, pequenas e micro.
(2) excluí empresas fora de SP
(3) a alíquota de doação pode ser maior do que 1% -- existe uma lei que permite que doações de PJs sejam deduzidas do imposto de renda até 2% do lucro operacional (ver Lei/Norma - Lei 9.249/95, Art. 13, Inc III, item a).
Sobre os cursos:
Fiz uma aproximação usando dados de (a) cursos já oferecidos por certas faculdades/fundações dentro da USP e (b) dados de matrícula e preço de cursos on-line do censo da ABED de 2012. Veja as hipóteses que fiz sobre número e tamanho das turmas -- cursos à distância de pós-graduação por exemplo, assumi que seria um único curso em média (veja que a GV tem uns 30 desses cursos, a FIA uma dezena, etc ) e que o valor seria a média do mercado.
A conta está subestimada por duas razões:
(1) Os preços dos cursos à distância estão claramente defasados e ignoram o "prêmio" que a USP comandaria pela "credibilidade" que sua certificação teria vis à vis as outras certificaçòes no mercado.
(2) A variedade de áreas (entre cursos e dentro de cada curso) permitiria que o número de cursos oferecidos fosse maior do que o que fio assumido.
(3) Os preços dos cursos de especialização e pós-graduação latu sensu em geral estão subestimados pelo mesmo argumento em (1) logo acima.
Sergio, supondo que sua conta sobre a capacidade de doações das empresas está correta, então sua estimativa sobre a generosidade das empresas está incorreta.
ExcluirSupondo que sua conta sobre o valor dos cursos está correta, então ou sua estimativa do tamanho do mercado está incorreta, ou então sua estimativa sobre a capacidade dos professores da USP de oferecerem cursinho informativos sem prejudicarem a dedicação ao ensino superior e à pesquisa está incorreta.
Como business plan, acho que sua proposta está furada. Eu não investiria meu tempo nem meu dinheiro num negócio montado conforme suas sugestões.
"sua estimativa sobre a generosidade das empresas está incorreta."
Excluir- Não preciso de generosidade. A lei permite que as empresas deduzam doações de até 2% do lucro operacional.
"Supondo que sua conta sobre o valor dos cursos está correta, então ou sua estimativa do tamanho do mercado está incorreta"
- 1 curso de pós a distância com 20 alunos por ano e 20 cursos de curta duração on-line com 580 alunos POR ANO cobrando R$ 500 é superestimação? Sério? Ok.
"sua estimativa sobre a capacidade dos professores da USP de oferecerem cursinho informativos sem prejudicarem a dedicação ao ensino superior e à pesquisa está incorreta."
- Sei lá. Estou dentro da USP e duvido que isso seja verdade (cursos são custos fixos: uma vez montado, o tempo adicional necessário para preparação é próximo de zero). De qualquer forma é uma questão empírica: tem que ver se ao se envolver com a criação e adm. desses cursos ensino e pesquisa seriam afetados. Mesmo que seja, teria que ver o que se perde e comparar com o que se ganharia (a receita extra pode bem servir para contratar pessoal extra em contratos temporários/regime parcial).
A lei permite, mas as empresas não dão. Adicionalmente, sua afirmação sobre doações de empresas a Oxford está errada.
ExcluirPara dar cursos é preciso trabalhar. Me parece que você comete nesse item a mesma falácia que sobre consultorias: imagina que a USP possa se transformar numa imensa empresa de treinamento técnico, que não é a especialidade da instituição, sem contratar mais gente nem desviar o pessoal de suas funções atuais.
Nenhuma universidade do mundo recebe 40% de suas receitas dando cursivos de assuntos elementares (vou ficar no exemplo de Java e Autocad que são mais próximos à minha área). Não existe dinheiro por aí esperando que a universidade dê o ar de sua graça para ser gasto.
e a cobrança de mensalidade, assim por cima, num esquema bem suavemente progressivo e com alta concessão de bolsas por critérios socioeconômicos, quanto poderia gerar? se fosse uma média de 500 reais por alunos já daria 540 milhões/ano. pensando um pouco mais vcs podem chegar numa proposta mais viável. realmente nao consigo entender como a esquerda nao engole cobrança de mensalidade para quem pode pagar. tão defendendo o privilégio dos ricos de ter ensino superior bom de graça?
ResponderExcluiroutra coisa legal e útil seria fazer um post sobre o tamanho do buraco na usp. de onde vem o rombo? como é o gasto hj? onde falta transparência no orçamento? tem alguma notícia/post recente sobre isso?
parabéns pela iniciativa de fomentar essa discussão.
Compreendo e acho válidas as discussões de médio-longo prazo. Mas e no curto prazo, o que será feito? Quanto tempo dura as reservas da USP? E em seguida? Existe algo tramitando?
ResponderExcluir"No curto prazo estaremos mortos"
Excluir- Kurt Cobain
Acho que um bom benchmark para o potencial de ganhos é a FGV, uma instituição privada de renome sem as amarras da universidade publica para ganhar dinheiro. E o que vejo é que, por mais que a FGV se esforce para angariar fundos, ainda depende primordialmente das mensalidades dos alunos para se manter.
ResponderExcluirFalam sobre consultorias. Acho que se tomarmos qualquer consultoria econômica "top" do mercado, a USP, com seus professores poderia facilmente concorrer, ao menos restringindo a análise quanto à qualificação analítica dos profissionais. Mesma coisa na área de finanças. Acho que a USP pode bater facilmente uma NERA...que dirá de uma Monitor ou Galleazi...hehehe. Go USP! Sem considerar POLI, IME, IQ, ICB, IF...
ResponderExcluirNão é questão de competência. Tem professor tão bom na área de atuação como os melhores consultores; e não duvido que tem consultores tão picaretas como o mais mixuruco doa acadêmicos, e mesmo assim ganha dinheiro.
ResponderExcluirMas como é que os professores vão transformar a USP numa imensa e lucrativa empresa de consultoria? Sem para de fazer seu trabalho, que é bem diferente do que as empresas precisam no dia a dia?
Vamos supor como hipótese de absurdo que é possível. Então a USP não faz isso por pura inércia e preguiça, garanto que não é por falta de amor ao dinheiro porque mesmo os mais radicais anticapitalistas não têm esse desprendimento. E com toda essa inºercia e preguiça, vão ser bons consultores? Claro que não! Contradição.
E porque é que os consultores precisam trabalhar sei lá quantas horas por semana para montar uma carreira de consultoria, enquanto os professores poderiam fazer isso em tempo parcial sem deixar de dar aulas, fazer pesquisa, e ainda oferecer lucrativos cursos de treinamento? Tem que ser porque os consultores não manjam lá grande coisa. É um trabalho simples, sem barreiras à entrada além de um diploma da USP, e portanto mal remunerado. Contradição 2.
Vai dormir seu mala! Se vc e outros ceticos boboes soubessem quanto as fundacoes faturam hoje, sem fazer esforco algum, vc nao ficava falando essas m...
ExcluirAgradeço sua fineza e boa educação, Anônimo.
ExcluirTenho uma noção razoável de quanto um professor que trabalha através de fundações pode receber. De maneira geral, é uma remuneração justa por uma quantidade bem razoável de trabalho.
Se há os que ganham sem fazer esforço algum, decerto são uma minoria, e não fazem parte dos meus círculos.
Artigo muito bom e apesar do que já foi discutido acima, é uma ideia a se pensar (não 100% dela, acredito).
ResponderExcluirNa minha opinião, economizar parece mais viável. Por exemplo.. tem realmente necessidade de 250 cursos? Não poderiam diminuir esse número? Não seria uma outra alternativa?
Sergio: voce realmente acha que existe algum cenario plausivel em que a Bain ou a McKinsey consideraria seu trabalho bom suficiente para eles?
ResponderExcluirVoce realmente acha que existem mais do que 3 professores na FEA que poderiam ser consultores seniores da McKinsey ou BCG?