Não é nenhuma novidade que o jornalismo esportivo é uma espécie de terceira divisão do mundo jornalístico: as análises são rasas, cheias de clichês e pouco objetivas.
Less "gut feelings", more science
É uma pena e até curioso.
Uma pena porque o tópico está provavelmente entre os mais lidos e análises mais "técnicas" e "data-based" seriam certamente mais informativas.
Curioso porque o tema é propício a análises mais rigorosoas. Há inclusive uma rica literatura acadêmica focada na análise estatística dos mais variados esportes; há inclusive "journals" dedicados exclusivamente ao tema, como o Journal of Sports Science e o Journal of Sports Economics. Mergulhando nessa literatura é possível descobrir, por exemplo, que há bastante evidência empírica de que a "vantagem de jogar em casa" surge da influência da torcida no comportamento dos juízes do jogo -- o que já foi documentado em esportes tão distintos quanto o baseball, o basquete, o rugby e o futebol. Ou seja: ainda que os jornalistas esportivos não produzam suas próprias análises, eles bem que poderiam consumir mais dessa literatura para ilustrar o que escrevem. Wishiful thinking? Em grande parte sim. Mas o site FiveThirtyEight, uma divisão da ESPN, oferece análises baseada em dados não apenas de esportes, mas também de política, economia e tópicos mundanos. Vejam por exemplo aqui as previsões que o algoritmo que eles criaram fazem para a copa do mundo no Brasil.
Frequentistas vs bayesianos
Em época de copa, uma das características mais comuns -- e irritantes-- do que a imprensa esportiva local escreve são as insinuações de que o presente reproduzirá o passado. Hoje, por exemplo, leio a insinuação de que o Uruguai dificilmente ganhará da Inglaterra (toc, toc) porque "Há 44 anos a seleção [uruguaia] não derrota uma equipe europeia em Copas do Mundo." "Há um tabu a ser superado", diz o repórter.
Esses argumentos frequentistas são comuns no jornalismo esportivo; e há até quem veja na demonstração de "cultura esportiva" que essas análises demonstram (admiro quem alocou tempo e memória para hoje saber que times jogaram, onde e qual foi o placar na, digamos, semi-final na copa do mundo de 1786) uma sinalização de erudição e maior qualidade jornalística esportiva.
Quem viu os primeiros jogos de equipes como o Brasil, Espanha e Holanda, Alemanha e Argentina, certamente que tem uma distribuição posterior de resultados para essa copa muito diferentes do que uma projeção do passado recente sugeriria. No final, somos mais Bayesianos do que imaginamos.
Muito interessante. Mas se nem nossa política econômica é evidence-based, pedir que o jornalismo esportivo o seja é wishful thinking mesmo.
ResponderExcluirhttp://two-minutewarning.blogspot.com.br/
ResponderExcluirBlog afiliado ao Esporte Interativo que tenta fazer uma análise mais séria e fundamentada do esporte (basquete, baseball e futebol americano, principalmente), em linha com muito do que se faz nos EUA. Recomendo!