sexta-feira, 27 de junho de 2014

Novo livro de Microeconomia


Surgiu um novo livro de Micro na praça*. A julgar pela expertise de seus autores (Acemoglu, Laibson e List, todos com um registro estelar de publicações que combinam teoria e evidência para atacar questões relevantes), o livro tem tudo para ser um "turning point" no material de ensino de microeconomia na graduação -- para cursos avançados de graduação e cursos introdutórios de pós, Mass-Colell e amigos, Kreps e Jehle & Reny continuam sendo os três principais manuais do mercado.

Estado-da-arte
Há bons livros no mercado. Mas muitos alunos reclamam do enfoque excessivamente teórico de uns (e.g. Nicholson e Snyder), da superficial concisão de outros (e.g. Varian) e até da verborragia e extensão de exemplos motivacionais "do mundo real" de outros (e.g. Hubbard & Green).

Teoria e evidência
Aguardo o lançamento para avaliar o livro do trio (no prelo). Mas suspeito que ele combinará o melhor desses enfoques e será um dos manuais mais ricos na área -- como nada é de graça, o rigor e amplitude nas duas frentes farão um curso por esse manual provavelmente mais "puxado". Os alunos vão obviamente adorar.

O livro será publicado no dia 25 de julho e está com preço sugerido pela editora de US$ 225. O vídeo promocional do livro pode ser visto aqui.

Abaixo, a descrição com a qual o livro está "se vendendo" na Amazon:
This fresh approach to the Principles of Microeconomics course uses real data to tackle real issues, helping students to take economics beyond the classroom. The author team of Daron Acemoglu, David Laibson, and John List is committed to showing students how economic concepts are personally relevant to them. Through practical content, including Evidence-based Economics features in each chapter that explore real-world scenarios, the authors give students the knowledge they need to apply economic principles to guide the decisions they make in their own lives.
Definitivamente uma ciência
A julgar por essa descrição, o livro será um excelente demonstração de como a economia é hoje uma área disciplinada pela evidência empírica e fiel praticante do método científico. A "inveja da física", que dizem termos, no final valeu a pena.

Update:
Segue abaixo a estrutura do livro retirada do site da Pearson (micro em azul e macro em vermelho):

PART I: INTRODUCTION TO ECONOMICS
1. The Principles and Practice of Economics
2. Economic Methods and Economic Questions
Appendix: Constructing and Interpreting Graphs
3. Optimization: Doing the Best You Can
4. Demand, Supply, and Equilibrium
PART II: FOUNDATIONS OF MICROECONOMICS
5. Consumers and Incentives
6. Sellers and Incentives
7. Perfect Competition and the Invisible Hand
8. Trade
9. Externalities and Public Goods
10. The Government in the Economy: Taxation and Regulation
11. Markets for Factors of Production
PART III: MARKET STRUCTURE
12. Monopoly
13. Game Theory and Strategic Play
14. Monopolistic Competition and Oligopoly
Appendix: The Nuts and Bolts Behind Oligopoly Pricing with Differentiated Goods
PART IV: EXTENDING THE MICROECONOMIC TOOLBOX
15. Tradeoffs Involving Time and Risk
16. The Economics of Information
17. Auctions and Bargaining
18. Social Economics
PART V: INTRODUCTION TO MACROECONOMICS
19. Measuring Aggregate Economic Activity
20. Aggregate Incomes
Appendix: The Mathematics of Aggregate Production Functions
PART VI: GROWTH AND DEVELOPMENT
21. Economic Growth
Appendix: The Solow Growth Model
22. Why Isn't the Whole World Developed?
PART VII: SHORT-RUN MACROECONOMICS
23. Employment and Unemployment
24. Credit Markets
25. The Monetary System
PART VIII: SHORT-RUN FLUCTUATIONS IN MACROECONOMIC EQUILIBRIUM
26. Economic Fluctuations
27. Macroeconomic Policy
PART IX: OPEN ECONOMY
28. International Trade and Macroeconomics
29. International Finance and Open Economy Macroeconomics
PART X: EXTENDING THE MACROECONOMIC TOOLBOX
30. Financial Decision Making
31. Economics of Life, Health, and the Environment
32. Political Economy
* Dica do Marcos Nakaguma. Valeu!

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Disputa de pênaltis II: estratégias mistas


No post anterior discuti o trabalho de José Apesteguia e Ignacio Palacios-Huerta sobre a vantagem da equipe que inicia uma disputa de pênaltis. Na verdade, sobre esse mesmo tópico tem um paper mais antigo, porém bem mais interessante, de autoria de Pierre Chiappori, Steven Levitt e Tim Groseclose (AER, 2002). A ideia é usar pênaltis para testar equilíbrios em estratégias mistas.

Em teoria dos jogos, um jogador utiliza estratégias puras quando, em determinada situação, faz sempre a mesma coisa. Por exemplo, se Messi bate um pênalti contra Casillas, ele jogaria estratégias puras se sempre escolhesse o canto esquerdo. Por outro lado, em estratégias mistas, o indivíduo joga probabilisticamente. No caso, Messi escolheria o canto esquerdo com, por exemplo, 70% de chance, e o canto direito com 30% de chance. Isto equivale a dizer que ele bate 70% dos pênaltis do lado esquerdo, e 30% do lado direito. Da mesma forma, Casillas joga estratégias mistas se não cai sempre para o mesmo canto.

O interessante do caso de cobranças de pênaltis é que nunca é vantajoso jogar estratégias puras. Por exemplo, se Messi sempre escolhe o lado esquerdo, Casillas acertaria o canto e a chance de conversão seria pequena. Por outro lado, se Casillas sempre caísse para o lado direito, Messi faria o gol pois chutaria no lado oposto. Sócrates, na Copa do Mundo de 1986, fornece um exemplo interessante da ineficiência das estratégias puras neste caso. No jogo contra a Polônia, durante a fase de grupos, Sócrates converteu um pênalti em que não tomou distância, colocando a bola no lado direito do goleiro.



Entretanto, nas quartas de final contra a França, em que o Brasil foi eliminado nas cobranças de pênaltis, Sócrates basicamente repetiu o movimento, sinalizando ao goleiro que faria a mesma coisa que antes. O resultado: o pênalti foi defendido.



Na verdade, o artigo de Chiappori, Levitt e Groseclose mostra que o comportamento de Sócrates não se encaixa no padrão: nas cobranças observadas nos campeonatos espanhol e italiano, tanto cobradores como goleiros tendem a utilizar estratégias mistas, ou seja, estão constantemente alterando os lados.

A vantagem da estratégia mista é que se coloca dúvida na cabeça do oponente. Ao alterar sistematicamente os lados que chuta, o cobrador não dá ao goleiro a certeza de que canto pular. Da mesma forma, o chutador também não saberá exatamente qual canto escolher, se não tem certeza do que o goleiro fará.

As proporções observadas, no entanto, revelam uma preferência dos batedores pelo canto oposto (isto é, destros tendem a chutar mais no lado esquerdo, e canhotos mais no lado direito). Isso porque conseguem chutar com mais força quando batem cruzado. Obviamente, os goleiros se adaptam a isso, e tendem a escolher mais esse mesmo canto.

Em seu novo livro (Think like a freak), Levitt volta a esse ponto e nota algo peculiar em cobranças de pênaltis: goleiros quase nunca escolhem permanecer no meio do gol. Isso daria uma vantagem para batedores que optassem por mandar a bola para o centro da meta (de acordo com o autor, a chance de conversão é 7 pontos percentuais mais elevada do que quando o pênalti é batido nos cantos). Contudo, os cobradores não exploram isso, dado que o número de penalidades batidas no meio do gol é baixa.

Na interpretação de Levitt, isso acontece porque batedores temem a humilhação de cobrar o pênalti no centro e ver o goleiro encaixar a bola sem nenhum esforço. E os goleiros, sabendo disso, quase nunca optam por ficar no meio do gol.

Picture yourself standing over the ball. You have just mentally committed to aiming for the center. But wait a minute— what if the goalkeeper doesn’t dive? What if for some reason he stays at home and you kick the ball straight into his gut, and he saves his country without even having to budge? How pathetic you will seem! Now the keeper is the hero and you must move your family abroad to avoid assassination.
So you reconsider.
You think about going the traditional route, toward a corner. If the keeper does guess correctly and stops the ball— well, you will have made a valiant effort even if it was bested by a more valiant one. No, you won’t become a hero, but nor will you have to flee the country.
If you follow this selfish incentive— protecting your own reputation by not doing something potentially foolish— you are more likely to kick toward a corner.

Alexandre Pato que o diga!



O trecho de Think like freak acima citado está disponível online. Veja aqui.

(Partes deste texto foram retirados de um post antigo meu, publicado no extinto blog Sob a Lupa do Economista).

O método científico


Um parecer da CAPES está causando certo frisson na área de humanidades. Um projeto solicitando quase meio milhão de reais ao conselho foi rejeitado sob o argumento de que o trabalho proposto está fundamentado no "método dialético-materialista histórico" que não teria qualquer mérito científico. Veja um resumo do acontecimento em matéria do Conselho de Serviço Social do RJ:
O parecer negativo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) ao projeto “Crise do capital e fundo público: implicações para o trabalho, os direitos e as políticas sociais” faz vir à tona uma questão crucial para as ciências humanas no Brasil. Não pela recusa em si, mas principalmente pela justificativa utilizada pelo parecerista responsável. Nele está escrito que o projeto não tem mérito técnico-científico porque é fundamentado no método dialético-materialista histórico, e este, segundo tal parecerista, não é científico. E, partindo dessa premissa, todos os demais quesitos foram desqualificados.
A matértia completa pode ser vista aqui. O parecer pode ser visto aqui

Qual o método científico?
Já tive a oportunidade de conhecer um pouco, em curso de pós, sobre metodologia da ciência. É um tópico com uma literatura volumosa, que pode até sugerir que existe muita controvérsia sobre o que seria o método científico. Mas não há. O método científico se resume mais ou menos ao seguinte:

(1) Uma hipótese: bole uma teoria sobre algum aspecto do mundo; um "chute educado" que seja.



(2) Derive quais seriam as consequências práticas da sua hipótese se ela estivesse certa.



(3) Use dados -- experimentais ou não -- para checar se o que se observa no mundo "obedece" o que sua hipótese, se correta, prevê acontecer.



Se bem lembro, Popper criticou duramente o método materialista-dialético, chamando-o inclusive de pseudociência, não por sua incapacidade em criar teorias sobre o mundo e estabelecer suas implicações. Mas por seu desinteresse em testar, com dados, suas teorias. 

Pouco importa portanto quem criou e endossou o tal método dialético-materialista. Se não segue diligentemente (1), (2) e (3), há que se reconhecer que a CAPES tem boas razões para decidir pela rejeição do projeto. Há de se reconhecer também que foi, por parte da CAPES, uma decisão de grande "sabedoria econômica" focar os recursos no financiamento de projetos de pesquisa nas áreas de ciência e engenharia.

Cut the money for pseudoscience, marxist or not
Está mesmo mais do que na hora das agências de financiamento serem mais rigorosas na concessão de recursos para os projetos das áreas de humanidades. Olhando os artigos publicados nas revistas nacionais de primeira linha (A1) da área (e.g. "Educação e Sociedade", "Revista Brasileira de Ciências Sociais", "Lua Nova"), chega a ser chocante o parco número de trabalhos que contemplem os itens 1, 2 e 3 acima. Na maioria dos casos, são discussões "sob uma perspectiva histórica" e enfadonhas revisões bibliográficas quase que invariavelmente em torno de um enfoque marxista. Há um completo desprezo em testar as visões de mundo que se propagam nesses trabalhos.

Não é surpreendente pois que a economia -- que graças aos avanços em tecnologia e a maior disponibilidade de dados, é hoje uma área enormemente disciplinada pelos dados -- venha paulatinamente "colonizando" essas áreas, tamanha é a  carência de análises mais "científicas" (i.e. que seguem 1-3) que ensinem uma ou duas coisas sobre os objetos de estudo dessas áreas. Respostas a questões relevantes na área de educação, como, por exemplo, qual o efeito do tamanho de uma sala de aula e de esquemas de bonificação de professores na performance dos estudantes, têm sido dadas (não exclusivamente claro) nas páginas das revistas de economia, e não nas melhores revistas nacionais de educação como alguém esperaria.

Árvores versus floresta
Para ser justo com os postulantes do projeto rejeitado, vale reconhecer que é possível que um campo de estudo siga o método científico sem que cada projeto individual de pesquisa necessariamente se ocupe dos três elementos mencionados acima. Essa seria, me parece, a melhor linha de defesa. Mas infelizmente o pessoal da área escolheu gritar chavões e tentar reverter a decisão no grito, falando em autoritarismo e em tentativas de estabelecer o "pensamento único".

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Disputa de pênaltis: leva vantagem quem começa batendo



Esse blog está meio devagar, claramente por causa da Copa. O evento tem afetado tanto o lado da demanda (o número de acessos diários é cerca da metade do usual), dado que as pessoas estão mais interessadas em futebol do que em Economia; como o lado da oferta, dado que os autores estão mais interessados em assistir aos jogos do que em escrever. Confesso que nem li direito os posts recentes dos meus colegas. E o fim do semestre também afeta o lado da oferta, por conta do pico de trabalho associado à correção de provas (somos majoritariamente professores universitários).

Vou aproveitar a Copa para abordar assuntos que misturem futebol e economia (e em vários momentos só futebol). Agora vai ficar mais fácil, pois o número de jogos diminui bastante. Começo pelo paper de José Apesteguia e Ignacio Palacios-Huerta (AER, 2010), que analisa 129 decisões em pênaltis, entre 1970 e 2003, utilizando dados de diversos campeonatos de clubes e seleções. O resultado: o time que bate a primeira penalidade tem uma chance desproporcional de terminar vencedor. Mais precisamente, em cerca de 60% das observações, quem inicia a disputa acaba vencendo. Esta vantagem é de fato considerável quando levamos em conta que campeonatos importantes (em particular, a Copa do Mundo) podem ser decididos por pênaltis.

A interpretação dos autores é que, ao bater o primeiro pênalti, um time joga a pressão sobre seu adversário para converter, elevando assim as chances de erro (ou seja, a motivação vem da Economia Comportamental, como na grande maioria dos papers em Economia que usam dados de futebol). Técnicos e jogadores parecem estar cientes desta vantagem. Em entrevistas com mais de 200 profissionais, constatou-se que 96% prefeririam bater o primeiro pênalti se pudessem escolher. A grande maioria justificou esta opção pela pressão que se coloca sobre o adversário.

Além disso, até 2003, a definição de quem iniciaria a disputa era aleatória (deteminada por cara ou coroa). A partir desta data, o capitão do time vencedor do cara ou coroa poderia escolher se bateria primeiro ou depois. Entre 2003 e 2008, em 20 partidas foi possível identificar quem foi favorecido pela moeda (utilizando os vídeos dos jogos). Em 19 destas, o capitão optou por bater o primeiro pênalti.

sábado, 21 de junho de 2014

Politica Monetária e dívida e crises

Se a politica monetária reage fortemente a crises, e não tenta deter os movimentos de altas dos preços de ativos que precedem as quedas que levam a recessões, o juro fica assimétrico, e sua média distorcidamente baixa. Por sua vez, isso estimula emissão de dívida que financia a compra de ativos, o que alimenta a bolha. Está descrito o ciclo.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Pacotinho de m**


Desesperado com a má performance da economia, o governo anunciou um pacotinho ontem, um pacotinho de m*. O que mais me irritou foi a generalização da claúsula de que em licitações públicas, o produtor nacional sai vencedor ainda que cobre preço 25% mais alto. Mais uma medida besta de distribuição de renda as avessas, pois claro, quem arca com a diferença eh o bom e velho (e pobre) contribuinte mediano.

Previsões futebolísticas do jornalismo esportivo


Não é nenhuma novidade que o jornalismo esportivo é uma espécie de terceira divisão do mundo jornalístico: as análises são rasas, cheias de clichês e pouco objetivas.

Less "gut feelings", more science
É uma pena e até curioso. 

Uma pena porque o tópico está provavelmente entre os mais lidos e análises mais "técnicas" e "data-based" seriam certamente mais informativas.

Curioso porque o tema é propício a análises mais rigorosoas. Há inclusive uma rica literatura acadêmica focada na análise estatística dos mais variados esportes; há inclusive "journals" dedicados exclusivamente ao tema, como o  Journal of Sports Science e o Journal of Sports Economics. Mergulhando nessa literatura é possível descobrir, por exemplo, que há bastante evidência empírica de que a "vantagem de jogar em casa" surge da influência da torcida no comportamento dos juízes do jogo -- o que já foi documentado em esportes tão distintos quanto o baseball, o basquete, o rugby e o futebol. Ou seja: ainda que os jornalistas esportivos não produzam suas próprias análises, eles bem que poderiam consumir mais dessa literatura para ilustrar o que escrevem. Wishiful thinking? Em grande parte sim. Mas o site FiveThirtyEight, uma divisão da ESPN, oferece análises baseada em dados não apenas de esportes, mas também de política, economia e tópicos mundanos. Vejam por exemplo aqui as previsões que o algoritmo que eles criaram fazem para a copa do mundo no Brasil.

Frequentistas vs bayesianos
Em época de copa, uma das características mais comuns -- e irritantes-- do que a imprensa esportiva  local escreve são as insinuações de que o presente reproduzirá o passado. Hoje, por exemplo, leio a insinuação de que o Uruguai dificilmente ganhará da Inglaterra (toc, toc) porque "Há 44 anos a seleção [uruguaia] não derrota uma equipe europeia em Copas do Mundo." "Há um tabu a ser superado", diz o repórter

Esses argumentos frequentistas são comuns no jornalismo esportivo; e há até quem veja na demonstração de "cultura esportiva" que essas análises demonstram (admiro quem alocou tempo e memória para hoje saber que times jogaram, onde e qual foi o placar na, digamos,  semi-final na copa do mundo de 1786) uma sinalização de erudição e maior qualidade jornalística esportiva. 

Quem viu os primeiros jogos de equipes como o Brasil, Espanha e Holanda, Alemanha e Argentina, certamente que tem uma distribuição posterior de resultados para essa copa muito diferentes do que uma projeção do passado recente sugeriria. No final, somos mais Bayesianos do que imaginamos.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Hinos

No Estadão de hoje, Veríssimo levanta uma hipótese interessante:
Não é uma regra fixa, mas acontece muito: quanto menor o país, mais feroz o seu hino. Hinos de antigas colônias costumam ser marciais e sanguinários, em contraste com hinos como, por exemplo, o da Inglaterra, velha e criminosa potência colonialista, que é apenas um plangente pedido para que Deus cuide de sua graciosa rainha. Há hinos pastorais e hinos furiosos e você geralmente pode adivinhar o tamanho e a história do país pelo andamento do seu hino. Os antigos subjugadores fazem hinos curtos e tranquilos, os antigos subjugados fazem hinos longos e ressentidos.
Acho que dá para testar usando regressão. Link para o artigo completo aqui.

domingo, 15 de junho de 2014

House of Debt



Piketty fez estrondo, mas o grande livro recente pra mim é esse. Tem teoria e parte empírica muito boas. Primeiro documenta a queda de net worth nos condados americanos no pós-crise, mostrando a virulência nos com mais endividamento pré 2007. Mostra que a queda do consumo que vem com a destruição do patrimônio causada pela associação dívida + redução abrupta dos preços das casas foi bem heterogênea. Aí liga isso a aumento do desemprego, mostrando o tombo no emprego dos setores mais nontradables dos condados onde o patrimônio mais declinou. Chama a atenção para o fato de que as pessoas com menor patrimônio (as que tem dívida imobiliária) são justamente as que mais apanham na hora que os preços caem (pois a divida não é contingente) e que isso gera forte contração na demanda.

Segundo os dados dos autores, entre 2002 e 2005, o endividamento mais cresceu nos condados com piores condições econômicas, o que descarta a tese de maior divida simplesmente seguindo bons fundamentos. E usando medidas exógenas de capacidade de expandir oferta de casas, dada por fatores geográficos, mostra que não foi alta de preços que puxou dívida. A dívida imobiliária cresceu espantosamente até mesmo em lugares onde os preços não subiram muito por conta de fácil expansão da oferta. Ou seja, dívida causou preços, causou a bolha. E dívida acentua a queda, por conta dos foreclosures das casas dos inadimplentes (se não há dívida, não há foreclosure com fire sale prices gerando externalidades -- em forma de quedas extras de preço -- para outros devedores).

Quem quis gerar tanta dívida? Um sistema financeiro que recebia muita grana do resto do mundo (saving glut). Via securitização, uma porção de dívida ruim -- para devedores NINJA -- gerou um monte de ativos "livres de risco". Só daria m**** se os riscos de default fossem correlacionados. Aparentemente, as pessoas comprando esses papéis negligenciaram essa possibilidade. E a dívida foi crescendo, algumas fraudes ocorrendo (bancos não informando aos investidores a real proporção de devedores que efetivamente moravam vis-a-vis que não moravam nas casa (isso é importante porque esses últimos são mais propensos a dar calote)), e a bolha inflando. Até que explodiu...

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Toc, toc, toc


A presidente Dilma anda batendo na madeira e fazendo figa para que tudo dê certo durante a Copa do Mundo. Fez isso quando, ao lado de Cafu, recebeu a taça da Fifa das mãos de Joseph Blatter (aqui). Repetiu o gesto em entrevista à TV Bandeirantes (aqui). Com tantos fios desencapados rondando o evento, faz bem a presidente em bater na madeira e fazer figa, porque é importante para a sua reeleição que a Copa corra bem, fora do campo, mas, estou ficando convencido, também dentro do campo.

É um sinal de anormalidade. Não deveria ser assim. Normal seria se Copa e eleição fossem eventos desconexos. Pensar que as desventuras dos jogadores brasileiros durante as próximas quatro semanas (toc, toc, toc) possam influenciar a decisão de voto dos brasileiros é o supra sumo da anomalia. Mas o brasileiro anda tão mal humorado, tão ensimesmado com a Copa e o clima social está tão agitado que não é absurdo pensar que o desempenho do Brasil em campo poderá ajudar ou atrapalhar o destino da presidente Dilma.

Estamos vivendo tempos estranhos e é provável que esse clima se estenderá até a eleição, talvez com um interregno durante a Copa (toc, toc, toc). Uma situação diversa da desenhada por Cezar Zucco em artigo publicado no Valor (aqui). Para quem não conhece, Zucco é um dos principais nomes da nova geração de cientistas políticos brasileiros. Andou por universidades importantes nos EUA, como aluno e professor. Hoje está na FGV-Rio. Produz bastante, papers que combinam assuntos interessantes, boas discussões teóricas e testes empíricos tecnicamente sofisticados.

No artigo do Valor, Zucco usa justamente um modelo empírico para concluir que Dilma é franca favorita. O modelo, bastante parcimonioso, combina preços de commodities à taxa de juros americano para criar um índice de que ele batizou de “bons ventos econômicos”. Esta é a variável independente que explica a aprovação ao governo, a qual, por sua vez, determina as chances de sucesso da candidatura incumbente. Segundo Zucco, a aprovação de Dilma está abaixo do previsto pelo modelo. Com base no modelo, ele aposta que, apesar da conjuntura desfavorável, fatores estruturais se imporão de modo que, daqui até a eleição, a aprovação do governo, hoje um pouco aquém de 35%, chegará a 45%, nível suficiente para garantir a reeleição de Dilma. Esse é principal ponto do artigo: a subordinação dos aspectos conjunturais aos estruturais.

Em condições normais, Zucco estaria certo. Mas será que a eleição presidencial deste ano ocorrerá em condições normais? Será que a avaliação do governo está seguindo seu padrão histórico detectado pelo modelo? Talvez não. E nem é preciso usar estatística sofisticada para levantar essa hipótese. Basta olhar o gráfico da avaliação positiva do governo  para perceber que as manifestações de junho passado provocaram uma quebra abrupta da série (despencou de 65% para 30% em um mês) impossível de explicar por intermédio de modelos estatísticos de tipo série de tempo. Qualquer modelo, pois todos têm a normalidade do passado como guia. E se o passado perdeu capacidade de explicar o presente e, mais ainda, de prever o futuro, a conjuntura se sobressai, não sendo desprezível a possibilidade de se sobrepor à estrutura.

Além disso, esse clima de estranheza, de mal estar, de incerteza quanto ao futuro, está contribuindo para enfraquecer – mas certamente não para extinguir – a influência do cenário econômico externo sobre o doméstico. A queda da confiança do empresariado e do consumidor, por exemplo, a qual foi contaminada, por assim dizer, por esse clima estranho, parece ter, no mínimo, contribuído para o recente esfriamento da economia, ilustrado por números divulgados nas últimas semanas.

Se é assim, se estamos em um momento no qual, usando uma expressão bem a gosto dos políticos do passado, vaca está estranhando bezerro, é mesmo hora de Dilma bater na madeira e torcer como nunca pela seleção. Toc, toc, toc, que a bola vai rolar daqui a pouco.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Drogas: proibir ou não proibir? O que é melhor?


O consumo de drogas tem efeitos perversos: devastam a saúde física e mental de seus usuários, diminuem a produtividade e frequentemente levam ao desemprego, degradam a vida social dos usuários e causam sofrimento nas pessoas próximas e até em terceiros. 

Mas a proibição do consumo, venda e produção de drogas -- política comum na vasta maioria dos países -- tem seus custos também: as disputas nesse mercado matam milhares, o tráfico corrompe e se infiltra  na força policial, no sistema penitenciário e no sistema político, os locais onde o tráfico se instala frequentemente se degrada e tudo isso contribui para solapar a credibilidade das instituições de uma sociedade aberta e democrática.

É natural então se perguntar: se proibir ou legalizar esse mercado de drogas possui custos e benefícios, qual seria o "arranjo institucional" regulatório preferível? Quais as consequências econômicas da proibição desses mercados versus uma situação onde esse mercado operaria "livremente" sob regulações similares que hoje se aplicam ao mercado de drogas legais (farmacêuticas)?

Jeffrey A. Miron (Boston University) e Jeffrey Zwiebel (Stanford University) têm um artigo publicado no Journal of Econoic Perspectives, intitulado "The Economic Case Against Drug Prohibition" onde eles procurem fazer uma análise positiva dessas questões. A conclusão é que a descriminalização desse mercado seria uma política superior ao arranjo corrente. 

Sobre a importância desse debate, dizem eles: 
The resolution of this debate matters. Almost a third of the population aged 12 and older claims to have used marijuana at least once, and more than 10 percent claims to have tried cocaine (U.S. Department of Justice, 1994, pp. 335-36). Revenues in the illegal drug industry almost certainly exceed $10 billion and by some estimates surpass $50 billion (WEFA, 1986, pp. 413-94). Federal, state and local governments currently spend more than $20 billion per year on drug enforcement (U.S. Department ofJustice, 1994, pp. 22-3), and in 1992 law enforcement officials made more than one million arrests for drug law violations (U.S. Department of Justice, 1994, p. 418). More than 20 percent of the 700,000 state prisoners in 1991 and almost 60 percent of the 77,000 federal prisoners in 1993 were incarcerated for drug law violations (U.S. Department ofJustice, 1994, pp. 612, 630). Rightly or wrongly, the enforcement of drug prohibition affects tens of millions of Americans, involves substantial amounts of resources and has a profound influence on the criminal justice system.
O artigo faz uma análise detalhada dos vários prós e contras para então concluir:
The existing evidence relevant to drug policy is far from complete. Given the evidence, however, our conclusion is that a free market in drugs is likely to be a far superior policy to current policies of drug prohibition. A free market might lead to a substantial increase in the number of persons who use drugs and possibly to a significant increase in the total amount of drugs consumed. But that policy would also produce substantial reductions in the harmful effects of drug use on third parties through reduced violence, reduced property crime and a number of other channels. On net, the existing evidence suggests the social costs of drug prohibition are vastly greater than its benefits.
É uma leitura didática e informativa que quem se interessa pelo tema (independente da visão que possui sobre o tema) certamente apreciará. O artigo completo pode ser visto aqui.

PS: Agradeço ao Marcos Nakaguma pela dica.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A Mediocridade é Possível


Há uma percepção geral no país que o ano de 2015 será um ano de duros ajustes na economia brasileira. Esta percepção vem do fato óbvio e inegável de que o Brasil precisa destes ajustes. Entretanto, entre precisar e implementar há uma grande distância e nada indica que que as reformas aparentemente necessárias serão feitas. 

Mantendo a tradição de empurrar com a barriga e evitar decisões mais controversas, o Brasil pode muito bem passar os próximos anos repetindo as políticas atuais, com um remendo aqui e outro ali, sem que nada de mais grave ocorra. Obviamente, nada de muito entusiasmante também ocorreria, e continuaríamos com nossa medíocre performance de crescimento ao mesmo tempo que o ambiente institucional, no que toca seu lado econômico, continuaria descendo ladeira abaixo. Este foi o assunto de artigo que publiquei há duas semanas no Valor em coautoria com o Renato Fragelli (Ajuste? Que Ajuste?). 

Uma pequena discordância entre o Fragelli e eu é por quanto tempo ainda poderemos continuar adiando os ajustes. Eu acho que por muito tempo, o Renato já não iria tão longe. Segundo ele teríamos dois ou três anos para respirar. Meu ponto é que países podem estagnar por anos seguidos ou crescer lentamente sem maiores rupturas, sem que inflação saia do controle ou que se observe algo de muito anormal no ambiente econômico. Por exemplo, entre 1950 e 1980 o produto per capita da Índia cresceu 1,90% ao ano, enquanto que no mesmo período o Brasil crescia a 4.64% (tudo em PPP, dados da Penn-World Table). Em 1950 o PIB per capita indiano era menos de 40% do brasileiro, de modo que tudo mais constante o esperado seria que a Índia crescesse mais rápido. Não foi o que ocorreu. A Índia continuou crescendo lentamente, sem grandes reduções de sua brutal pobreza, mas sem nenhum problema fiscal ou monetário maior. Só foi crescer de forma mais acelerada a partir de meados dos anos 1980 quando introduziu uma série de reformas liberalizantes.

Há inúmeros outros exemplos. A Argentina vem adiando há anos um ajuste inevitável à custa de aumentos de distorções e piora contínua da situação fiscal, das contas externas, da inflação e da pobreza. Mas até agora não virou uma Venezuela, onde as coisas estão claramente fora de controle. Portanto, não há nada que nos diga – e estão aí nossas imensas reservas para garantir – que se o ajuste em nosso país não for feito imediatamente entraremos em uma seríssima crise. Seria bom que fizéssemos as correções necessárias e me parece que esta é uma pré-condição para um crescimento mais robusto. Mas podemos muito bem continuar nesta nossa trajetória medíocre ainda por bastante tempo, sem que a inflação saia muito da meta, sem que nossas contas externas se deteriorem de vez, sem que o déficit público saia de controle, etc., etc.. Acho que isto vai implicar em uma contínua e talvez lenta degradação do ambiente econômico que pode sim nos levar a uma crise futura, mas até lá muitos anos de crescimento pífio passarão. 

Não sei se por miopia, falta de convicção, oportunismo eleitoral ou se estão vendo algo que eu não vejo, o ponto é que do lado do governo não se ouve falar em ajustes. Talvez usem um modelo onde tudo funcionará bem após pequenas correções. Ou talvez estejam satisfeitos com um crescimento da renda per capita de 1% ao ano.

Rodízio vs pedágio urbano


Na semana passada, Samuel Pessôa publicou um excelente artigo na Folha, discutindo possíveis efeitos de diferentes políticas públicas (notadamente rodízio e pedágio urbano) no trânsito de São Paulo. Vale a pena dar uma olhada não só pela discussão profunda, mas também porque tem muita Economia lá.

Em um ponto concordo com o Samuel: rodízio não é uma forma eficiente de reduzir o trânsito, basicamente porque as pessoas compram outro carro (com final de placa diferente) para escapar da restrição. E tem evidência disso. Na Cidade do México, há um programa semelhante ao de São Paulo, porém bem mais agressivo - Hoy no circula. Dependendo do final da placa, o carro não pode circular entre 5 da manhã e 10 da noite. Em São Paulo, isso só vale nos horários de pico: 7:00 às 10:00 e 17:00 às 20:00.

O paper de Lucas Davis (JPE 2008) avalia a introdução do Hoy no circula em 1989. O autor não encontra nenhum efeito sobre a emissão de poluentes. Mas o número de carros registrados na Cidade do México aumentou consideravelmente com a implementação do programa. E isso ocorreu majoritariamente por conta do aumento nos registros de veículos usados (vindos de outras regiões do México e dos Estados Unidos), o que sugere que as pessoas estão comprando carros usados para escapar da restrição. Por serem mais antigos, esses veículos também tendem a poluir mais.

O rodízio tem mais um problema: é difícil fazer ajustes na margem. Por exemplo, em São Paulo, já tem gente falando em estender a restrição para dois dias da semana (ou seja, cada carro não poderia circular por dois dias, dependendo do final da placa). Isso está longe de ser uma mudança na margem. E imagino que o incentivo a adquirir um carro adicional seria enorme nesse caso.

Já o pedágio urbano atua no sentido de desestimular o uso do carro, e permite que se façam esses ajustes na margem. Por exemplo, se a tarifa for R$10 e o trânsito continuar carregado, é só aumentar o preço. E não tem como a pessoa evitar o pagamento comprando outro veículo. Mais uma vantagem: ao contrário do rodízio, o Estado acaba arrecadando recursos nesse caso.

De fato, tem o inconveniente de que os pobres seriam prejudicados pois não poderiam pagar pelo pedágio. Mas a função da política de trânsito não é redistribuir renda (isso pode ser feito com impostos sobre renda/riqueza e programas de transferência de renda, como o Bolsa Família). Além disso, o rodízio também penaliza os mais pobres, uma vez que escapam da restrição apenas aqueles que têm dinheiro suficiente para comprar um veículo adicional.

Meu principal questionamento a essa estratégia é operacional. Muito provavelmente os motoristas adotariam rotas alternativas para escapar dos pedágios. Em uma cidade cheia das "quebradas" como São Paulo (ainda mais com a ajuda do Waze), isso pode ser bem problemático: transfere-se o trânsito de vias rápidas e com bastante espaço para ruas residenciais.  

HELP com R

Alguém ai sabe como restringir hiper-parametros na estimação de Kalman no R, usando o MARSS?

Ao invés disso (default do MARSS)

## Xt = Bt.Xt-1 + ut + Ct.ct+ wt~MVN(0,Qt)
## Yt = Zt.Xt + at + Dt.dt + vt~MVN(0,Rt)

Implementar isso:

## Xt = Bt.Xt-1 + ut + Ct.ct+ wt~MVN(0,Qt)
## Yt =  at + Dt.(dt - Xt) + vt~MVN(0,Rt)

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Jesus, cesg

Boy, i read your piece in The Value EU& today. i liked the final paragraph, boy.
Now, i also read your article in Revista Cult. Fuck, cesg, couldnt they have chosen a different color? Was that your own picking?

quinta-feira, 5 de junho de 2014

BCE: bom, mas suficiente?

Demorou, mas o Mario agiu com firmeza agora. É moeda pra tudo quanto é lado: baixou juro básico, meteu o juro das reservas abaixo de zero, fez um LTRO targeted para quem emprestar para o setor real dentro da zona do Euro e disse que está se preparando para sair comprando títulos do setor privado ele mesmo.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

USP pode obter mais de 3 bilhões de receita por conta própria (sem cobrança de mensalidades)


Já não é mais novidade que a Universidade de São Paulo (USP) está em uma enrascada. Seu orçamento corrente, cerca de R$ 4,3 bilhões, sequer cobre a folha de pagamento de funcionários e inativos, que custa hoje 105% do orçamento corrente. Há pois um déficit, que por ora está sendo financiado com poupança que a universidade reservo ao longo dos anos para enfrentar flutuações adversas no volume de ICMS arrecado pelo estado. Mas o dinheiro nessa poupança está com data para acabar como divulgou o reitor em carta aberta à comunidade recentemente. Não dura nem 1 ano.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

A economia das figurinhas - parte 2

Há algumas semanas escrevi um post sobre o assunto. Entre outras coisas, discuti meio por cima como o tamanho do mercado (isto é, número de pessoas trocando figurinhas) afeta a chance de completar o álbum, e a demanda por figurinhas. Recentemente, The Economist publicou um artigo muito legal sobre o tema, que me motivou a elaborar um pouco mais sobre os efeitos do grau de integração do mercado nesse caso.

Modelo para macroprudencial

a ideia: tem uma externalidade no acumulo de divida externa, por exemplo. cada um não leva em conta que sua decisão de tomar mais dívida externa aumenta a exposição do sistema financeiro como um todo a um sudden stop. aí ele se endivida mais do que o socialmente ótimo.

a externalidade vem de algo assim:

no nível da firma individual, di_max < fcolateral (xi, P)

ou seja, a dívida máxima de cada firma é dada por uma restrição de colateral; e esse colateral depende de coisas específicas à firma (xi) mas também de variáveis de mercado (P), como preço da taxa de câmbio, por exemplo, que transforma o valor de um colateral nontradable em colateral tradable -- que é o que importa para o credor externo.

decisões privadas que afetem, em equilíbrio geral, a variável P, digamos o câmbio, geram externalidade: um câmbio mais depreciado porque a economia privada agregada está muito endividada aumenta as chances da desigualdade ficar "binding" para todas as firmas da economia! O equilíbrio de Nash, claro, é todos tomando P como dado, e muita dívida externa com P alto "demais" (câmbio depreciado). Nesse equilíbrio, pequenos choques atingindo P podem tornar a restrição de empréstimos binding para muita gente, e aí segue-se um credit crunch na economia: o acelerador é assim: choque inicial deprecia cambio, isso faz a restrição binding, a economia desaba, tem defaults, o cambio deprecia mais, a restrição fica mais binding e assim por diante.

policy recommendation: taxar divida externa.

viva o Mantega e o Tombini