quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Economia do trânsito: quando menos informação é mais


Informação importa. E faz tempos que economistas dão tremenda importância a ela -- uma agenda que começou nos anos 70 com os trabalhos de George Akerlof, Michael Spence e Joseph Stiglitz e que cresceu enormemente nos 30 anos seguintes.

Sabe-se hoje que entender os processos de divulgação e aquisição de informação é requisito crucial para compreender como os mercados funcionam do jeito que funcionam e para avaliar o impacto de intervenções governamentais. Os mercados quase sempre funcionam de forma distinta do "benchmark" desejável (pelas propriedades alocativas que têm) mas irreal de concorrência perfeita que os economistas usam como referência. Mas se a disponibilidade de certas informações influencia como os mercados funcionam, entender a estrutura informacional "por trás" do funcionamento do mercado nos permite ter uma medida de quanto dessa distância entre o funcionamento ideal e o de fato do mercado pode ser encurtada pela introdução de mecanismos que aumentam a informação disponível aos participantes do mercado.


Informação imperfeita bagunça mercados

De fato, em grande parte das construções teóricas "canônicas" da economia é comum chegar a um resultado no qual demonstra-se que a introdução de qualquer impedimento ao fluxo "suave" e simétrico de informações para os participantes do mercado (produtores e consumidores em geral) produz algum tipo de ineficiência.

A ausência de informações sobre o risco de calote que cada tomador de empréstimo oferece, por exemplo, pode dificultar a precificação "customizada" de um contrato de empréstimo e forçar o banco a definir taxas de juros mais altas, o que, por sua vez, pode atrair apenas emprestadores de pior qualidade (o que os economistas chama de "seleção adversa"), um processo que pode em última instância levar ao colapso de tal mercado de crédito.

Quando menos (informação) é mais
À luz dessas construções teóricas, é natural acreditar então que a provisão de mais informação vai, em geral, melhorar os resultados obtidos no mercado. Um artigo publicado no último número do American Economic Journal: Economic Policy mostra uma situação onde a provisão de informação piora o  bem-estar das pessoas.

Os autores, Sacha Kapoor (Erasmus University Rotterdam, Holanda) e Arvind Magesan (University of Calgary, Canada), olham para o efeito dos contadores eletrônicos instalados nos semáforos de trânsito na cidade de Toronto. A função dos contadores é fornecer informação aos pedestres para que eles saibam quando as luzes do semáforo mudaram e possam, consequentemente, ajustar a velocidade com que cruzam a rua. A intenção é ótima. O problema é que essa informação fica também disponível para os motoristas parados no sinal. E, como seria esperado, os motoristas também responderão à nova informação disponibilizada. O paper pode ser visto aqui.

O efeito da provisão de informação foi muito distinto do que as autoridades de tráfego esperavam: os contadores aumentaram o número de acidentes. Embora os contadores tenham de fato reduzido o número de atropelamentos de pedestres, aumentaram em cerca de 5% o número de colisões entre veículos. Os acidentes aumentaram basicamente porque os motoristas faziam mais "tailgating" (o ato de "colar" no carro adiante), o que sugere que, por saberem quando o sinal abriria, se comportavam de forma mais agressiva.

O resultado não deixa de ser uma ilustração de resultados de alguns dos modelos seminais de assimetria informacional de Stiglitz (cf., e.g., esse aqui). Esses modelos mostram que, às vezes e em certos contextos, mais informação pode produzir um resultado inferior (ou, como se diz no jargão econômico, pode levar a um resultado de equilíbrio "Pareto inferior").

2 comentários:

  1. Muito estranho mesmo é o paradoxo de Braess: maior capacidade na rede pode aumentar o congestionamento, mesmo que o número de carros seja mantido: http://en.wikipedia.org/wiki/Braess's_paradox

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  2. Bem legal, Sérgio. Seus posts são sempre muito interessantes, de verdade, sem ironia.


    MAS CADE O ANTONINHO, CADE O ECONOMISTA X?

    SE O ANTONINHO NAO VOLTAR, OLE OLE, OLA, O PAU VAI QUEBRAR !!!!!!!!!!!!!

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