quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Quanto vale um bom professor?


Sempre que o estado vexaminoso da educação brasileira é destacado na imprensa, ouvimos que é preciso investir em professores de qualidade. Mas como se mede a qualidade de um(a) professor(a)? Um método frequentemente utilizado na literatura da área de Economia da Educação é o chamado "método do valor adicionado" -- a ideia é que a qualidade do professor é medida (aproximadamente) pelo impacto do professor no score dos estudantes, controlando-se, obviamente, para níveis individuais de habilidade acadêmica e outras variávies observáveis que possam influenciar os "test scores" dos estudantes.

Essas medidas de "valor adicionado" (VA) dos professores já são utilizadas em escolas de alguns estados americanos para avaliar e selecionar professores. Há quem diga que a medida beneficiará estudantes; outros falam que a medida não captura a qualidade do professor. 

Variação e notas medem qualidade?
Uma objeção natural a medir a qualidade do professor por seu impacto na nota dos estudantes é que as notas observadas em uma turma podem ser consideravelmente influenciadas pela qualidade dos estudantes. O professor que ensinasse turmas com um número desproporcional de alunos academicamente mais fracos seria penalizado -- por simetria, o professor de escolas que, por alguma razão, recebem um número proporcionalmente maior de bons alunos seria imerecidamente bem avaliado por esse tipo de métrica. A questão ainda está em aberto.

Impacto no teste ou na vida?
Uma outra questão, talvez até mais interessante, é se esse "valor adicionado" pelo professor se restringe à performance dos alunos nos testes ou seu impacto causal é mais duradouro, indo além da performance nos testes e se estendendo pela vida adulta do aluno.

Há portanto duas questões interessantes: será que o "VA" do professor é uma medida enviesada de sua qualidade? Será que o professor "de qualidade" tem impacto de longo prazo na vida do estudante?

Quanto vale um bom professor?



Um estudo publicado na última edição da American Economic Review oferece resposta para essas duas perguntas. Raj Chetty (Harvard University), John N. Friedman (Harvard University) e Jonah E. Rockoff (Columbia University) analisaram dados sobre notas em testes de matemática e inglês de mais de dois milhões de crianças da 3ª a 8ª série de um distrito escolar americano no período entre 1989 e 2009. Eles combinaram esses dados com dados da receita federal americana para descobrir informações sobre renda, educação superior  e uma série de dados dos pais (renda, instrução, poupança etc). A combinação desses dados permitiu aos autores construir um gigantesco painel de dados que acompanha mais de dois milhões de pessoas do ensino infantil até a fase adulta.

Dois achados desse estudo merecem destaque.

O primeiro é o de que não é encontrada evidência de que as estimativas para o valor adicionado do professor são enviesadas por um possível agrupamento de estudantes com base em características observáveis (habilidade acadêmica, renda, cor, sexo etc). E as estimativas encontradas sugerem que essas medidas de qualidade do professor de fato impactam positivamente a performance dos estudantes nos testes -- um aumento médio de 0.1 desvio-padrão na nota do teste por desvio-padrão do "valor adicionado" do professor acima da média.

O segundo é o de que ter sido ensinado por um professor de "alta qualidade" tem impacto duradouro sobre a trajetória de renda dos estudantes. Utilizando um modelo dinâmico da função de produção de educação onde é especificado a relação entre o insumo "professor" e seu impacto, via uma série de outros canais (performance no ensino fundamental/médio/probabilidade de fazer curso superior etc), nos rendimentos futuros, os autores estimam que um aumento de um desvio-padrão na qualidade do professor eleva os ganhos anuais em cerca de 1% -- algo que, sob certas hipóteses, seria equivalente a um aumento bruto (não descontado) de 25 mil dólares no seu fluxo total de renda em vida.

O trecho abaixo, extraído da conclusão do artigo, dá um bom resumo de um dos principais resultados do trabalho e, como é comum, chama atenção para algumas possíveis implicações para o desenho de políticas: 
Whether or not VA should be used as a policy tool, our results suggest that parents would place great value on having their child in the classroom of a high value-added teacher. Consider a teacher whose true VA is 1 SD above the median who is contemplating leaving a school. Each child would gain approximately $25,000 in total (undiscounted) lifetime earnings from having this teacher instead of the median teacher. With an annual discount rate of 5%, the parents of a classroom of average size should be willing to pool resources and pay this teacher approximately $130,000 ($4,600 per parent) to stay and teach their children during the next school year. Our analysis of teacher entry and exit directly conÖrms that retaining such a high-VA teacher would improve students' outcomes.
While these calculations show that good teachers have great value, they do not by themselves have implications for optimal teacher salaries or merit pay policies. The most important lesson of this study is that finding policies to raise the quality of teaching -- whether via the use of value-added measures, changes in salary structure, or teacher training -- is likely to have substantial economic and social benefits in the long run.

O artigo pode ser encontrado aqui.

4 comentários:

  1. O Prof. Sergio sempre posta textos muito bons, sempre bem escritos e que aplicam a economia ao dia-a-dia. E melhor é que ele não é arrogante e prepotente como outros professores do blog. Ou seja, cada vez mais ganha admiração e respeito!

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    1. Que injusto. Fui aluno de todos e não acho que sejam arrogantes. São apenas tímidos. E essa timidez acaba se traduzindo em um comportamento meio anti-social. Mas são todos caras gentis se você conseguir passar da barreira inicial.

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