Pense no modelo canônico de ciclos reais (RBC): agente representativo que vive para sempre; valoriza consumo e lazer não só hoje, mas em todos os momentos futuros até o infinito; e escolhe sequências de consumo, horas trabalhadas e investimento ao longo do tempo. Os agentes são donos do capital e do trabalho, e os alugam às firmas. O capital pode ser alterado no tempo via investimento.
As firmas contratam capital e trabalho, e os combinam para gerar produto utilizando uma tecnologia que satisfaz retornos constantes de escala. Elas operam em concorrência perfeita, ou seja, pagam aos consumidores os produtos marginais de seus insumos. A função de produção é ainda sujeita a choques tecnológicos aleatórios, que levam a flutuações nessa economia. Esses choques são temporários, mas apresentam persistência considerável.
Um choque positivo então eleva os produtos marginais dos insumos hoje e no futuro, aumentando a renda permanente dos agentes, o que os leva a consumir mais. E como o choque é relativamente persistente, os indivíduos investem mais com vistas a ter mais capital no futuro próximo para aproveitar o estado bom da economia. Eles também trabalham mais para aproveitar esse choque -- isto é, eles trocam lazer hoje por lazer amanhã.
Esse raciocínio gera co-movimentos nos principais agregados: consumo, investimento, produto e horas trabalhadas todos sobem quando a economia está bombando. E quando o choque tecnológico é adverso, tudo vai no sentido contrário: consumo, investimento, produto e horas embicam para baixo conjuntamente.
E tudo isso é ótimo (no sentido de Pareto): essa é uma economia sem nenhuma fricção -- concorrência perfeita, sem externalidades, rigidez de preços, problemas de informação etc. -- de modo que valem os Teoremas do Bem Estar. Intervenções do governo não conseguem melhorar a vida dos indivíduos.
Isso já é antigo (década de 1980). Inclusive rendeu Prêmio Nobel para Ed Prescott e Finn Kydland. Ao longo do tempo acadêmicos consideraram variações dessa estrutura, em particular incluindo outros choques. É o caso dos choques de preferências. Um choque adverso seria uma elevação na preferência por lazer: há flutuação negativa no produto pois os agentes optam por mais lazer hoje, e portanto cortam horas trabalhadas. Da mesma forma que antes, o choque é temporário, ou seja, os agentes trocam mais lazer hoje por menos lazer no futuro. De novo, esse movimento é ótimo no sentido de Pareto.
Fernando Nogueira da Costa (Unicamp), em entrevista ao Estadão de ontem, parece usar um raciocínio muito parecido para explicar porque o Brasil está em recessão:
O PIB trimestral que estamos vendo é um problema que acontece uma vez e não se repete. A Copa praticamente paralisou a produção no País. As empresas praticamente pararam. Todo mundo aproveitou, descansou. Agora, não dá para reclamar.
Será que estão ensinando RBC na Unicamp?
ha ha ha
ResponderExcluirEssa foi boa, Mauro.
Ué, não entendi. Uma das conclusões do modelo RBC não valem para o modelo pós-keynesiano? Claro que valem, no modelo pós-keynesiano também tem oferta. Essa você mandou pra torcida.
ResponderExcluirCara, não falei nada de modelo pós-keynesiano no texto. Aliás, eu não entendo nada disso, então prefiro não comentar.
ExcluirRealmente. Deu para perceber que você não conhece nada de pós-keynesiano!
Excluirtirando tudo que está errado, rbc é lindo, diria caetano.
ResponderExcluirboa! mas isso vale para qualquer coisa, certo?
ExcluirNa Unicamp, começaram um curso de Introdução à Contabilidade Criativa nesse semestre.
ResponderExcluirSeja pós-keynesiano, pré-colombiano, pós-pós-moderno, a verdade é que em todos os modelos tem oferta. Se você ler com cuidado os textos pós-keynesianos, verá que eles caracterizam a abordagem por "ênfase na demanda". Não é um modelo que "só tem demanda". O Nogueira da Costa é um pós-keynesiano.
ResponderExcluirEu faço questão de fazer esse comentário porque eu acho que você pode achar correta a abordagem que quiser, mas não pode achar que seu adversário é burro. Vá ao debate, não para fora dele.
A única coisa que eu quis enfatizar é: a frase dele é consistente com um modelo RBC com choques de preferência. Só isso. Nem sabia que o cara era pós-keynesiano. Nem chamei ninguém de burro, o que seria no mínimo leviano. Isso não está em nenhum lugar do post.
ExcluirBoa Mauro! O cara não sabe interpretar texto..ô loco meu! Foi legal no entanto vê-lo revelar seus medinhos (o de ser considerado burro. Sim, aposto que foi o tal de Nogueira que escreveu o comentário acima).
ExcluirAham, os textos nunca têm contexto, a intenção nunca tem relação com o contexto e seu autor. Que argumento lastimável. Seu defensor aí em cima precisa saber mais sobre textos, um pouquinho mais.
ExcluirEntão digo eu: Nogueira da Costa é um pós-keynesiano, ou seja, UM BOBOCA! 99% destes caras tbm o são. O único heterodoxo de respeito no Brasil é o Giba.
ExcluirE o Oreiro
ExcluirMacro é interessante. Uma construção intelectual notável e tal. Mas quando quero ler ficção ainda prefiro um bom romance...
ResponderExcluirHeheh
eae Sunshine
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