terça-feira, 9 de setembro de 2014

Dilma e o contrafactual

Na campanha eleitoral vale tudo: desde argumentos sofisticados, até coisas super toscas. Abaixo uma seleção da presidenta Dilma. O primeiro trecho reflete o uso adequado de um raciocínio contrafactutal. Sim, a indústria está patinando. Mas só isso não é suficiente para afirmar que a culpa é do governo. É preciso saber qual seria o contrafactual, isto é, o que aconteceria com a indústria caso as políticas do setor não tivessem sido implentadas?
A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) voltou a defender nesta quarta-feira, 3, em Belo Horizonte todas as realizações de seu governo na área industrial. Ela reconheceu que tem muito ainda a ser feito, porque o País enfrenta um momento difícil, mas alertou para os problemas que o país teria caso seu governo "não tivesse feito uma política industrial". (Fonte: Exame)
Mas no trecho abaixo (extraído do perfil de Dilma no Facebook) o contrafactual foi para o saco. Dilma e Lula criaram milhões de empregos e ponto. Não interessa se os mesmos (ou até mais) empregos teriam sido gerados, caso o PT não estivesse no poder:
Enquanto isso, no Brasil, os governos Dilma e Lula criaram mais de 11 milhões de empregos.
Por fim, nessa mesma postagem no perfil da Dilma, tem um argumento ridículo contra a independência do Banco Central: 
A autonomia do Banco Central, medida defendida por Marina Silva, é um perigo para o País.
A medida tira do presidente da República e do Congresso, eleitos pelo povo, o controle sobre a política econômica do País e entrega para os bancos.
Aí, banqueiros passam a decidir sobre juros, preços, salários, política externa e orçamento.
Importante lembrar: o poder sem limites dado aos bancos levou à crise que fez evaporar 60 milhões de empregos no mundo.
Aí, banqueiros passam a decidir sobre juros, preços, salários, política externa e orçamento.
Importante lembrar: o poder sem limites dado aos bancos levou à crise que fez evaporar 60 milhões de empregos no mundo.
Quer dizer que é mais fácil comprar um banqueiro central (se independente) do que um político?

Aliás, o PT está investindo forte nesse ponto. Tem até um vídeo no site da Dilma, abusando da famosa politics of fear:


(Agradeço a Fernando Botelho e a um comentarista anônimo pelas sugestões).

6 comentários:

  1. O que acho mais complicado da campanha da Dilma é que eles claramente não pretendem mudar nada na política econômica, caso vençam. É o que eu entendo quando vejo declarações como essa primeira.
    Para quem esteve no evento promovido pelo CAVC com representantes dos candidatos isso também deve ter ficado bem claro. Pelo que falou o Marcio Pochmann, em nome da candidatura governista, eles parecem pretender (sinceramente, e não só no discurso) fazer mais do mesmo, e em maior intensidade.

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  2. "eles parecem pretender (sinceramente, e não só no discurso) fazer mais do mesmo, e em maior intensidade."

    Acho muito improvavel. Eles podem ateh tentar, mas o mundo nao vai deixar. Vem um aperto monetario no Norte malvado e perda de investment grade. Daih eles vao ter que escolher entre um ajuste recessivo que vai ser brutal ou aprofundar o modelo bolivariano.

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    1. Acabou o espaço! Qualquer medida do mantegonomics, o dólar bate R$3,2 e o caldo entorna, Ainda bem que temos um ambiente mais restritivo e o exemplo argentino-venezuelano. Não deu tempo para quebrarem o país. Mas ficou bem danificado.

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  3. E esse quadro do Mondrian na sala dos banqueiros hem... como vcs me explicam isso?

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  4. Ao invés de comparar a política industrial feita com o fazer nada, seria interessante se Dilma se perguntasse o que teria acontecido se tivesse adotado uma outra política industrial...

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