segunda-feira, 10 de março de 2014

Puzzles das Finanças (hard)

Equity premium puzzle: as ações no longo prazo apresentam taxa de retorno muito mais alta que títulos (uns 6% ao ano, em média)

Como explicar isso?

Aversão ao risco bizarramente alta --- mas as pessoas não são tão avessas assim...

Risco de dar merda muito alto --- será? o Barro e uns amiguinhos colocam eventos catastróficos nos modelos e aí a coisa funciona, pois o risco da renda variável bomba. Mas parece forçado, dado que catástrofe é algo muito raro. Sabe o que eles falam? "Ah, mesmo que no passado não tenha acontecido muitos desastres, se as pessoas acharem que no futuro pode acontecer meu modelo é bom!"

Persistência no consumo --- essa explicação eu gosto: a utilidade marginal do sujeito varia muito com variações no consumo quando o consumo passado é importante para felicidade Daí a correlação entre a utilidade marginal e a taxa de retorno dos ativos cresce muito nos momentos bons e nos momentos ruins; mas isso é sinônimo de que o ativo faz uma bosta de serviço de hedge, e então cobra-se mais caro para ficar com ele em carteira

Excess Volatility Puzzle: os preços das ações variam montes...mas não deveriam variar tanto assim, pois os dividendos não são nem de perto tão voláteis. Mistério...para explicar isso é preciso que a taxa de desconto estocástica varie pracaralhos. Essa parece ser a agenda dos amiguinhos do Bruno Cara.

Mas como?

Persistência no consumo ajuda --- pois a utilidade marginal pula como uma cabrita com oscilações do consumo, gerando a necessária oscilação na taxa de desconto estocástica.

de novo a coisa do desastre do Barro --- pense num modelo que as probabilidades de cenários de desastre agora além de tudo vão mudando no tempo (sei lá porque)! Aí, claro, a taxa de desconto estocástica vai pular também e mesmo com dividendos estáveis teremos muita oscilação no preço dos ativos (gostou?)

Bom, tudo isso pra dizer que saiu no NBER dessa semana um paper do Farmer no qual a taxa de desconto estocástica fica pulando por conta de uns choques exóticos de não fundamentos e aí ele diz que explica todos os puzzles. OH ! OH!

Mas pelo que entendi, faltou explicar os choques exóticos...

23 comentários:

  1. Que eu me lembre, o paper do Barro considera uma probabilidade de desastre entre 3 e 4% por ano. Não me parece muito alta. No século passado foram duas guerras mundiais, mais a grande depressão.

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    1. Momento puxa saco: Por que o Barro é tão foda e tão genial?

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    2. O QI dele é bizarro. Nasceu assim.

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    3. Entre Barro e Lucas quem vcs pagam mais pau? N vale dizer Sicsu

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    4. Barro: overrated

      Sim, ele tem alto nível de energia e criatividade... Mas quantos artigos dele sobreviveram o teste dos anos?

      A pesquisa dele sobre determinantes do crescimento hoje é chamada de kitchen sink regressions. Foi altamente influente por anos, mas não aprendemos quase nada e desaprendemos um bocado.

      Não vou nem falar de equivalência ricardiana, que é um resultado bobo alegre...

      Barro << Lucas

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    5. true, irineu. mas na relacao c lucas quase todo mundo eh << !
      alias, existe <<<<< ?

      eu vi barro em seminario algumas vezes, ele eh muito rapido...

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    6. Ele é nova-iorquino, daí fala rápido. Mas eu não sou muito impressionado pelo conjunto da obra dele.

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    7. Bom, não tenho o que responder ao Irineu. Quando eu conhecer a fundo macroeconomia e pesquisador de ponta vou ter uma opinião precisa sobre o Barro.

      No que sei até agora, as idéias dele em crescimento e ciclo são muito legais, inclusive as equivalências ricardianas.

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    8. Quando vejo alguém falar no Keynes como economista do século XX eu fico ofendido, Samuelson, Arrow, Lucas, Sargent, Stiglitz são tão tão tão melhores.....

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    9. Mas o que tem de legal em equivalência ricardiana? É um resultado teórico claramente rejeitado pelos dados. Não chega nem a ser um puzzle porque é um resultado que só vale sob condições extremas e irreais.

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    10. Irineu eu não vejo nem as equivalências ricardianas nem os modelos de ciclo real nem a reação de expectativas racionais a política monetária e etc... (pra ser bem abrangente) como descrições milimétricas da realidade e nem acho que teoria serve pra isso.

      A questão é que eles levantaram muitas questões importantes sobre política econômica / escolhas dos agentes que simplesmente eram ignoradas.

      Mesmo que uma queda nos impostos aumente o consumo ao invés de apenas produzir mais poupança, o importante é que nossa compreensão sobre a relação entre déficit fiscal e poupança privada é MUITO diferente graças a grandes questões levantadas pelo Barro e por uma porrada de outros novo-classicos.

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    11. Não vamos misturar gatos com sapatos.

      A hipótese de expectativas racionais é útil para entendermos política monetária.

      O mesmo não pode ser dito sobre a equivalência ricardiana (que não passa de uma curiosidade teórica). Esta contribuiu para uma deterioração de nosso entendimento de política fiscal ao sugerir que o timing dos gastos e tributos não importa.

      Seu último ponto está batendo em um espantalho. É óbvio que existem baciadas de contribuições úteis dos novos clássicos. O próprio Barro tem um resultado interessante/relevante de política fiscal (tax smoothing), o Prescott introduziu o conceito de inconsistência dinâmica etc.

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  2. Em geral, distância entre hipótese e resultado dos papers do Farmer parecem quase zero.

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  3. Eu acho que um pedaço do puzzle é a forma geralmente errada de como se calcula o prêmio médio, que tende a superestimar o prêmio.

    Se utilizar a forma que eu acho correta que é calcular a IRR implícita no preço das ações, o prêmio histórico médio fica em torno de 4%. O Damodaram faz esta martelada para quem pratica valuation http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/

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  4. Acabei de ler o longo CV do Barro. Se não deixei passar algo, o único resultado dele que acho realmente interessante, relevante e que sobreviveu à passagem do tempo foi o modelo de Barro-Gordon.

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    1. e esse resultado ai NEM É DELE; só simplificou o modelo de time inconsistency do Prescott de 1977

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    2. O negócio da convergência condicional é interessante, e acho que sobreviveu ao tempo. Indica que o modelo neoclássico serve para entender diferenças de renda entre países. Agora, aquele negócio de jogar tudo na regressão de crescimento, concordo que é inútil.

      Já equivalência ricardiana útil para pensar em impactos intertemporais de política fiscal (não para levá-la a ferro e fogo). Mas isso já meio que tava no Friedman e Modigliani.

      Ah, e esse negócio de desastres e asset prices não é do Barro. Ele pegou de um paper esquecido do JME na década de 90 e trouxe de volta para a discussão.

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    3. Mauro expressou o que eu tentei dizer sobre a equivalência barro ricardiana.

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    4. Irineu tá parecendo um ressentimento com o querido Barro.

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    5. Apenas o vi uma vez, em um seminário, mais de 10 anos atrás.

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  5. Momento puxa saco:

    Lucas me parece um cara que consegue ver muito a frente e indica os caminhos futuros da ciência econômica, ele mesmo ajudando a desbrava-los. Quando a coisa perde um pouco o caminho ele faz questões relevantes que colocam novamente nos eixos, como a implicância dele durante os anos 90 com os modelos novo-keynesianos mal micro fundamentados.

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