quinta-feira, 10 de abril de 2014

IPEA em Macondo

Como sou provavelmente o mais velho participante desse blog, tenho couro curtido pelo festival de atrocidades que assola os jornais. Não estou, evidentemente, me referindo às palermices menores como as que costumo expelir, fruto apenas de uma ignorância genética que não causa dano a ninguém.

Trato aqui dos disparates grandiosos, universais, perceptíveis a qualquer terráqueo que não esteja mal intencionado. Aqueles absurdos rococós, coloridos, com apelo intuitivo e que dão enorme trabalho para corrigir. Falácias proferidas por pessoas cuja opinião é reverberada e que têm a mais absoluta certeza do que dizem – aquela certeza típica dos ignorantes desavergonhados e dos grandes vigaristas.

Somos bombardeados por asneiras colossais desse tipo quase que diariamente. Por dever de ofício, submeto-me à tortura e estou acostumado a ela. Digo até que me decepciono nos dias em que, excepcionalmente, aparecem apenas equívocos normais, irrelevantes, da qualidade, por exemplo, deste texto

Muito bem. Em que pese a experiência acumulada, foi difícil digerir a notícia de que o IPEA possui uma filial no exterior, mais precisamente na Venezuela. 

O escritório na terra do Maduro e do Chávez Passarinho é a única filial do IPEA fora do Brasil. Evidentemente foi aberta na incrível gestão 2007-12. Dentre os cerca de 200 países disponíveis, a intelligentsia escolheu a mais grotesca das republiquetas da América Latina.

Se essa paspalhice não fosse trágica, certamente seria cômica. 

É óbvio que uma estupidez desse tamanho não é aleatória, fruto apenas de burrice igual à que tento remediar convivendo com gente bem mais esperta do que eu. Trata-se de coisa perversa, feita para arrebentar. O pior dos demônios.

Nos últimos anos, como se sabe, o IPEA transformou-se em aparelho para divulgar um besteirol conveniente ao governo. Que fique bem claro, conheço muita gente boa que veio do IPEA, que é do IPEA. Um pessoal sério, que ajuda enormemente corrigindo os vários equívocos que cometo. Uma moçada que não tem nada a ver com a esculhambação que destruiu a reputação do IPEA nos últimos anos. Não conheço o atual presidente, mas respeito pessoas que o respeitam. Torço para que ele arrume parte do estrago.

Voltando à Venezuela, nossa “missão” no país não produziu nada sobre a tragédia econômica e social que está arruinando a vida de nossos vizinhos. Ao invés, pariu pérolas para puxar o saco da canalhada bolivariana e para agradar a corja que usa esse tipo de imbecilidade para fazer bonito aqui. 

Vejam, por exemplo, esta delícia: “o modelo bolivariano afasta-se, sem dúvidas, da democracia despolitizadora (?) que predomina ainda hoje no mundo. Supera o modelo idealizado pelos pais fundadores da república norte-americana”. Esta é a produção que financiamos com o nosso dinheirinho.

Que capacidade têm estes embusteiros!

Vale a pena ler o texto completo, publicado hoje na página da Folha.

Agradeço ao colega Marco Laes pelo brinde e aguardo, com ansiedade, a bobagem de amanhã.

8 comentários:

  1. Apesar de surreal, vejo que há um potencial sentido nessa filial: se conseguíssemos mandar o Pochmann e a sua turma para lá, pra ficarem falando da Economia da Venezuela seria uma ajuda ao país.

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  2. Tem hora que dá vontade de mandar os princípios de honestidade, seriedade e decência pro inferno e virar o mais canalha, o mais picareta e o mais safado, bandido e escroque que há nessas terras. Brasil: um país de b...com gente de m...merecemos essas canalhices todas!

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  3. Celso, que belo texto. A FSP ou quiçá a Piauí deveriam te convidar para colunista genérico, se o mundo fosse justo e eficiente.

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  4. Sou técnico de planejamento e pesquisa no IPEA em Brasília. Vocês estão certos em criticar esse escritório de um homem só em Caracas. O erro está em achar que Macondo fica na Venezuela. Macondo é aqui. Divago. Porém, discordo do diagnóstico de aparelhamento.
    O IPEA bolivariano é a herança maldita dos tempos do Pokemon, que o Neri não quis, ou não pode, resolver. Não obstante, há certa justiça na bomba explodir no seu colo.
    O erro de interpretação do blog está em achar que o IPEA é uma coisa só. Existem comunas, campineiros, austríacos-conservadores e malucos em geral. Tal como em qualquer departamento de economia. Contudo, são o extremo da distribuição. A distribuição ideológica parece normal, com o centro no PSDB, ou petista pallociana.
    Os doidões tendem a ser mais barulhentos.Alem disso, o IPEA tem mais de trezentos técnicos Dessa feita, a visão pública da Casa é distinta da realidade. A maior parte faz o seu trabalho e não está preocupada com essas brigas.
    A gestão Neri herdou o amor pelos holofotes, mas os diretores atuais são técnicos de qualidade e não indicações políticas. Isso deixou parte da esquerda aloprada raivosa tal como mostrou o Pravda (Carta Capital). Sugiro a leitura do post do Mansueto Almeida sobre a reportagem.
    Como o IPEA está na grande Sucupira, está cheio de defeitos. Todavia, a minha visão atual é um órgão bem pouco aparelhado.
    Cordialmente, economista xyz

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  5. Caro XYZ, bom saber. Concordo que Macondo é aqui.

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  6. A deterioração institucional brasileira não tem limites. Veja o IBGE: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/04/1439151-diretora-do-ibge-pede-demissao-apos-interrupcao-de-pesquisa.shtml

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  7. O bacana é ver de qual universidade de fundo de quintal saiu o autor da pérola.

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  8. The best lack all conviction, while the worst

    Are full of passionate intensity

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