Como sou provavelmente
o mais velho participante desse blog, tenho couro curtido pelo festival de
atrocidades que assola os jornais. Não estou, evidentemente, me referindo às
palermices menores como as que costumo expelir, fruto apenas de uma ignorância genética
que não causa dano a ninguém.
Trato aqui dos disparates
grandiosos, universais, perceptíveis a qualquer terráqueo que não esteja mal
intencionado. Aqueles absurdos rococós, coloridos, com apelo intuitivo e
que dão enorme trabalho para corrigir. Falácias proferidas por pessoas cuja
opinião é reverberada e que têm a mais absoluta certeza do que dizem –
aquela certeza típica dos ignorantes desavergonhados e dos grandes vigaristas.
Somos bombardeados por
asneiras colossais desse tipo quase que diariamente. Por dever de ofício,
submeto-me à tortura e estou acostumado a ela. Digo até que me decepciono nos dias
em que, excepcionalmente, aparecem apenas equívocos normais, irrelevantes, da qualidade, por
exemplo, deste texto
Muito bem. Em que pese a
experiência acumulada, foi difícil digerir a notícia de que o IPEA possui uma
filial no exterior, mais precisamente na Venezuela.
O escritório na terra do
Maduro e do Chávez
Passarinho é a única filial do IPEA fora do Brasil. Evidentemente foi aberta
na incrível gestão 2007-12. Dentre os cerca de 200 países disponíveis, a
intelligentsia escolheu a mais grotesca das republiquetas da América Latina.
Se essa paspalhice não fosse trágica, certamente seria cômica.
É óbvio que uma estupidez desse tamanho
não é aleatória, fruto apenas de burrice igual à que tento remediar convivendo com gente bem mais esperta do que eu. Trata-se de coisa perversa, feita para arrebentar. O
pior dos demônios.
Nos últimos anos, como
se sabe, o IPEA transformou-se em aparelho para divulgar um besteirol
conveniente ao governo. Que fique bem claro, conheço muita gente boa que veio
do IPEA, que é do IPEA. Um pessoal sério, que ajuda enormemente corrigindo os vários equívocos que cometo. Uma
moçada que não tem nada a ver com a esculhambação que destruiu a reputação do
IPEA nos últimos anos. Não conheço o atual presidente, mas respeito pessoas que
o respeitam. Torço para que ele arrume parte do estrago.
Voltando à Venezuela,
nossa “missão” no país não produziu nada sobre a tragédia econômica e social que
está arruinando a vida de nossos vizinhos. Ao invés, pariu pérolas para
puxar o saco da canalhada bolivariana e para agradar a corja que
usa esse tipo de imbecilidade para fazer bonito aqui.
Vejam, por exemplo, esta
delícia: “o modelo bolivariano afasta-se, sem dúvidas, da democracia despolitizadora
(?) que predomina ainda hoje no mundo. Supera o modelo idealizado pelos pais
fundadores da república norte-americana”. Esta é a produção que financiamos com
o nosso dinheirinho.
Que capacidade têm
estes embusteiros!
Vale a pena ler o
texto completo, publicado hoje
na página da Folha.
Agradeço ao colega
Marco Laes pelo brinde e aguardo, com ansiedade, a bobagem de amanhã.
Apesar de surreal, vejo que há um potencial sentido nessa filial: se conseguíssemos mandar o Pochmann e a sua turma para lá, pra ficarem falando da Economia da Venezuela seria uma ajuda ao país.
ResponderExcluirTem hora que dá vontade de mandar os princípios de honestidade, seriedade e decência pro inferno e virar o mais canalha, o mais picareta e o mais safado, bandido e escroque que há nessas terras. Brasil: um país de b...com gente de m...merecemos essas canalhices todas!
ResponderExcluirCelso, que belo texto. A FSP ou quiçá a Piauí deveriam te convidar para colunista genérico, se o mundo fosse justo e eficiente.
ResponderExcluirSou técnico de planejamento e pesquisa no IPEA em Brasília. Vocês estão certos em criticar esse escritório de um homem só em Caracas. O erro está em achar que Macondo fica na Venezuela. Macondo é aqui. Divago. Porém, discordo do diagnóstico de aparelhamento.
ResponderExcluirO IPEA bolivariano é a herança maldita dos tempos do Pokemon, que o Neri não quis, ou não pode, resolver. Não obstante, há certa justiça na bomba explodir no seu colo.
O erro de interpretação do blog está em achar que o IPEA é uma coisa só. Existem comunas, campineiros, austríacos-conservadores e malucos em geral. Tal como em qualquer departamento de economia. Contudo, são o extremo da distribuição. A distribuição ideológica parece normal, com o centro no PSDB, ou petista pallociana.
Os doidões tendem a ser mais barulhentos.Alem disso, o IPEA tem mais de trezentos técnicos Dessa feita, a visão pública da Casa é distinta da realidade. A maior parte faz o seu trabalho e não está preocupada com essas brigas.
A gestão Neri herdou o amor pelos holofotes, mas os diretores atuais são técnicos de qualidade e não indicações políticas. Isso deixou parte da esquerda aloprada raivosa tal como mostrou o Pravda (Carta Capital). Sugiro a leitura do post do Mansueto Almeida sobre a reportagem.
Como o IPEA está na grande Sucupira, está cheio de defeitos. Todavia, a minha visão atual é um órgão bem pouco aparelhado.
Cordialmente, economista xyz
Caro XYZ, bom saber. Concordo que Macondo é aqui.
ResponderExcluirA deterioração institucional brasileira não tem limites. Veja o IBGE: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/04/1439151-diretora-do-ibge-pede-demissao-apos-interrupcao-de-pesquisa.shtml
ResponderExcluirO bacana é ver de qual universidade de fundo de quintal saiu o autor da pérola.
ResponderExcluirThe best lack all conviction, while the worst
ResponderExcluirAre full of passionate intensity