segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Dilma e o vendedor de coco


Feriadão. São Paulo meio vazia. Dia quente e bonito. Toca ir passear na praça com a família. Praça de bacana. Limpa, árvores grandes e frondosas, gramado bem cuidado, parquinho com brinquedos seguros e intactos, em tudo diferente das praças da periferia da cidade.

Aqui e ali, vestígios da São Paulo dos não bacanas: babás de branco, cuidadores de idosos, vigilantes, seguranças, passeadores de cachorro e o indefectível vendedor de água de coco e sua Kombi meio surrada. Almir é o nome dele, fiquei sabendo depois. Almir e a Kombi, me dizem, são presenças constantes na praça aos finais de semana e feriados.

De repente, Almir recolhe apressadamente seus apetrechos, sobe na Kombi e vai embora. Era a fiscalização da prefeitura também a bordo de uma Kombi, mais nova do que a do Almir. Pena, ficaremos sem a água de coco gelada desta vez. 

Pouco tempo depois, contudo, Almir reaparece. Estaciona a Kombi na esquina de sempre e rapidamente a transforma de novo em ponto de venda de coco gelado para os endinheirados frequentadores da praça. Cinco reais cada coco. Cinco reais e cinquenta, na garrafinha de plástico.

A freguesia começa a voltar. Decidimos matar a sede antes de o Almir ser obrigado novamente a deixar a praça. O assunto na rodinha que cerca a Kombi são os problemas do Almir com a fiscalização e a guarda municipal. Almir reclama. Diz que já chegou a ser preso com algemas, por vender coco. Conta que já procurou a prefeitura várias vezes para tentar se regularizar e obter uma autorização e não consegue. 

Todos são solidários. É realmente absurdo que ele não consiga regularizar o seu pequeno negócio. Não há motivo razoável para impedi-lo de vender coco na praça. Não atrapalha ninguém. Não trabalha com produto imediatamente perecível. Recolhe o lixo quando vai embora. A vizinhança, ao que parece, gosta dele, com exceção, relata Almir, de uma senhora meio ranzinza. E o pessoal da praça é sedento por coco gelado.

De repente, um senhor bem apessoado, 60 a 70 anos, comenta: “e a Dilma parece que ainda vai ficar mais quatro anos”. Dilma? O que ela tem a ver com os apuros do Almir? Alguém lembra o escândalo dos fiscais do ISS de São Paulo, algo mais próximo ao caso. Mas Dilma?

A declaração só pode ser entendida como manifestação da profunda rejeição a Dilma entre os eleitores mais abastados. Não é novidade. A classe média tradicional se afastou do PT desde 2006. Mas chegou a flertar com Dilma, quando ela construiu a imagem de gerentona eficiente e de xerife contra os desmandos da administração federal.

Em março deste ano, por exemplo, segundo o Datafolha, Dilma era aprovada por 67% dos eleitores com renda familiar abaixo de dois salários mínimos. Conseguia o mesmíssimo percentual entre os de renda superior a dez salários. Contudo, em outubro, ainda de acordo com o Datafolha, a avaliação positiva caiu para 44% entre os mais pobres e para 27% entre os mais ricos, formidável queda de 40 pontos em oito meses. Talvez em março, esse mesmo senhor que maldisse a possibilidade de reeleição de Dilma tivesse escolhido outro responsável pelas dificuldades do Almir. Hoje, não tem dúvida, se o Almir for pego pelo rapa, a culpa certamente será da presidente.

3 comentários:

  1. Quem é a mãe do Interventionismo voluntarista no Brasil, se não é a Dilma ?

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  2. "É realmente absurdo que ele não consiga regularizar o seu pequeno negócio. Não há motivo razoável para impedi-lo de vender coco na praça. Não atrapalha ninguém."

    Opa lá! Como assim não tem motivo meu chapa? Te dou dois:

    1. O espaço público não pode ser usado como bem entedermos.

    Não importa a finalidade ou existência de dano.

    2. O tratamento tributário deve ser isonômico.

    Duvido que mesmo autorizado pela prefeitura, o Almir fosse arcar com o ônus tributário que os vendedores de coco em estabelecimentos imovéis se deparam. autorizá-lo violaria um dos princípios do direito tributário.

    Dito isto, sou a favor da regulação do espaço público pra fins comerciais como esse. Mas duvido que a burrocracia brasileira fizesse isso, se tudo fosse obedecido, de um jeito que não tornasse o negócio economicamente inviável.


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  3. A queda de 40 pontos pode significar que a classe média ou estava ou está errada a respeito da Dilma. É um ponto interessante. Acho que o centro da questão é o peso que se coloca em uma figura neste nosso presidencialismo de bananas. O chefão gerentão vai lá resolver tudo, parece que somos seus amigos e vamos ser felizes, então 60% de oks. Ou então: a chefa ignorante e medíocre é culpada pela poluição na China porque favorece o investimento e o aquecimento global lá exportando commodities...
    Parece claro a essa altura que não temos aquela gerente que a propaganda inventou. Mas é assustador, do ponto de vista da sociedade, que tanta culpa se concentre sobre uma única figura. É meio infantil, revela certo primitivismo democrático. Pior, ao ler as pesquisas eleitorais para 2014, parece até que a queda de popularidade é mesmo uma raivinha pueril. O gigante bobo voltou a roncar.

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