segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Miopias


FFLCH e mercado financeiro, dois mundos distantes. Por razões profissionais e acadêmicas, circulo por ambos. Para ilustrar o abismo entre eles, lembro-me de uma ocasião, em dia de mercado tenso com a tumultuada situação política da Grécia e o futuro do Euro, no qual deixei às pressas o trabalho para ir à FFLCH e me deparei com uma assembleia estudantil – acho que do pessoal das Letras. O orador, exaltado, falava justamente da situação grega. Animado, via a confusão no país mediterrâneo como prenúncio da grande crise do capitalismo global. Claro, o exemplo é extremo. Nem todo mundo da FFLCH deseja o fim do capitalismo ou acha que esse é um evento possível. Mas o fefelechiano mediano está bem à esquerda do mercadista mediano.

A convivência com esses dois mundos me facilita o acesso a visões mais à esquerda e mais à direta da realidade brasileira e, creio, me permite perceber certas miopias que ambas carregam. 

Cito duas que considero das mais agudas. Muita gente da FFLCH não percebe que a grande maioria do povão quer mesmo é se integrar ao mercado de consumo. Ou se percebe, encara isso de forma depreciativa, decorrente da falta de consciência política dos menos favorecidos.

Já o pessoal do mercado financeiro, em geral, ignora o fato – e as consequências políticas e econômicas decorrentes – de o Brasil ser um país de enorme desigualdade social no qual ainda vive um contingente expressivo de miseráveis ou quase miseráveis.

Tome-se como exemplo a discussão a respeito dos rolezinhos. É difícil atribuir ao fenômeno algum conteúdo contestatório à ordem capitalista, como se esforçam alguns à esquerda, quando o que a molecada deseja de fato é ficar com umas mina e uns mano e comprar um sanduiche no McDonald´s. Por outro lado, nega o óbvio quem desconhece que os rolezinhos somente despertaram tanta atenção – e pavor em alguns segmentos – porque aglutinam na sua maioria jovens pobres e da classe média baixa. Nesse sentido, são sim expressão da desigualdade social que marca o Brasil.

24 comentários:

  1. Coloca 400 jovens cantando funk na sua orelha, dai você me diz se gosta.

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    1. Text-comprehension challenged boy....o que ele disse que pode ser interpretado como uma negação do que você disse?!?

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    2. Esse moleque não se cansa de falar bobagem...

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    3. Alguém tem que dar chá de simancol pra ele.

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    4. " Por outro lado, nega o óbvio quem desconhece que os rolezinhos somente despertaram tanta atenção – e pavor em alguns segmentos – porque aglutinam na sua maioria jovens pobres e da classe média baixa. Nesse sentido, são sim expressão da desigualdade social que marca o Brasil. "

      Essa é a discordância, não posso fazer nada se vocês não a captam rapidamente.

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    5. Ele disse que se não fossem pobres não seria tão grande a repercussão. Não que ele curte 400 jovens cantando funk na orelha dele.

      É miopia ou só má interpretação de texto?

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    6. 400 jovens, ricos ou pobres, depredando e cantando funk SEMPRE vão causar muita repercussão e não venha me falar que é por ser pobre.

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  2. 400 não. 6 mil estavam em Itaquera...

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  3. Como estudante de Economia da FEA e marxista, debati muito a questão nos últimos tempos com diversos colegas. Havia feito um post no facebook que pode servir pro debate, reproduzo-o abaixo:

    Uma coisa importante sobre o rolezinho: a esquerda nunca ou quase nunca fez sua lição de casa. Sempre disse trabalhar junto as massas oprimidas, mas quando muito disputou trabalhador sindicalizado ou estudante organizado. E agora tem gente querendo classificar o movimento como um foco de resistência da periferia contra o racismo, querem dar um tom emancipatório num mero rolezinho. Eu acho de um mau caratismo imenso! É querer pintar os jovens como se eles fossem militantes por uma causa consciente, isso é cooptação! É claro que há um tom de crítica ao uso do espaço, seja ele público ou privado, porque quem serve de régua separadora para saber quem entra e quem sai é a cor da pele e a "cara de pobre". Mas daí a querer pintar o rolezinho como algo politizado é tirar sarro da cara do pobre da periferia. Nunca a esquerda foi lá fazer seu papel,sua lição de casa e aí quando eles aparecem e são reprimidos vamos nós lá abraçá-los?

    Autocrítica, pessoal, autocrítica.

    O rolezinho, se muito, pode ser caracterizado como um movimento de inserção na sociedade do consumo. Classificar o rolezinho como luta socialista é a mesma miopia que chamar as revoltas da Primavera Árabe, visivelmente lutas democráticas e de inserção no capitalismo global de revolução. Não adianta pintar de revolução a reforma. É melhor ser coerente e saber onde errou a ficar com essa autoproclamação infantil de que rolezinho é resistência. Pode até transformar-se em [resistência], mas só depois de um belo trabalho de base. O funk ostentação mostra justamente qual a tábua de valores que norteia a juventude despolitizada, é a sociedade do consumo que a televisão vende diariamente que os move.

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    1. zZz zZz

      Marxista & >19yo --> low IQ

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    2. Seria engraçado o classe média cubanista idiota tentando vender que o anti-capitalismo poderá oferecer para o jovem pobre o que ele, o jovem pobre, realmente quer: pegar geral, uma roupa maneira e um iphone pra causar na rede!

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  4. Ótimo post! Alguns comentaristas porém...

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  5. Gostei do post. Apenas acho que poderia ser melhor explorado. Sei que a intenção não é desenvolver uma tese, mas acredito que o tema poderia ser bem mais explorado. A miopia de ambos pode ser confirmada por uma vastidão de exemplos.

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  6. Este post foi melhor texto que vi sobre o "rolezinho". Parabéns!

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  7. bom post e bons comentários (exceto os dos que se acham donos da verdade e querem só desqualificar os outros"

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  8. Ricardo, sendo eu um cara 85% mercado financeiro, mas com uns bons 15% de vivência entre FFLCH e IRI, gostaria de questionar um ponto seu: é fato que o povo é bem mais capitalista do que supõem os fefelechianos e que a distribuição de renda é ruim e os mercadistas não estão muito preocupados. Mas...
    O indivíduo mediano da FFLCH (aluno, professor, funcionário) não é apenas um cara preocupado com a distribuição de renda. Ele é socialista mesmo. Usando um termo meio em desuso, mas que ainda se aplica, ele é comunista (você discorda?). E como bons socialistas, incomoda-os menos a existência de um grande número de pobres do que a de pequeno número de ricos.
    Tem um componente "marilenachauiano" (ódio dessa classe média que faz compras em Miami e desses emergentes que, ao invés de querer a revolução, queriam ir pra Miami também) que está por trás das leituras que esses caras fazem - não apenas do rolezinho, mas da taxa de juros, da pesquisa Focus, das intenções de investimentos, etc.

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    1. Ótimo ponto! Exemplo disso é o aluno da FEA que se diz "Marxista" (WTF?), muito provavelmente um socialista hippie-chick desses que povoam fefelech e afins que adoram, do conforte de suas casas quentinhas e deeus gadgets elçetrônicos, celebrar Cuba e sua "revolução" e coisas do tipo.

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  9. A desigualdade traz o populismo, custos maiores pra economia, e marginaliza parte da população, fato que por si só reduz a produtividade de um país.

    Mas como o mercado poderia ser responsável por criar isso? (Ou reduzir isso).

    A simples transferência de renda não é solução a longo prazo.

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  10. Por que você acha que os "caras do mercado" são indiferentes com a desigualdade? Você acha que a economia de mercado gera desigualdade e piores condições de vida? Você não está fazendo propaganda de uma idéia errada?
    Você acha que o fim do capitalismo será bom para "o povo", mesmo com TUDO apontando para o outro lado? Você acha que a classe média é o problema?
    Você acha que esse debate entre pessoas que podem estar erradas contra outras pessoas que certamente estão erradas faz sentido?
    Vamos aceitar com mais tranquilidade o rolezinho, pois eles são um sintoma do que a falta de economia de mercado e educação vem fazendo ao Brasil nos últimos 70 anos.

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  11. Uma sugestão para o blog: colocar o sistema de positivações e negativações para comentários. Assim não precisamos responder cada comentario com "gostei" ou "não gostei".

    Concordo com os comentários do Anônimo20 de janeiro de 2014 22:08 e do Dantas.

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  12. http://www.youtube.com/watch?v=X7LtIRj9v68

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  13. Voces deveriam abrir os olhos para algo mais importante:
    http://www.youtube.com/watch?v=w-I6XTVZXww

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