quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Você roubaria se pudesse? O caso das máquinas de auto-pagamento



Circulou nos últimos dias no noticiário britânico a seguinte notícia: uma enquete com 2.500 pessoas revelou que 1 em cada 5 admitiam já ter praticado algum tipo de roubo quando utilizando as máquinas de "auto-pagamento" (self-checkout). Veja a matéria aqui. O prejuízo causado seria da ordem de 1.6 bilhões de libras esterlinas (uns R$ 6.5 bilhões). 

Para quem não conhece, essas máquinas de self-checkout funcionam assim: você escaneia seus produtos, coloca-os logo em seguida numa "área de sacola" (que é uma balança), finaliza a compra, seleciona método de pagamento, recebe recibo/troco e dá o fora. Essas máquinas tem várias vantagens: (1) elas aumentam a velocidade com que você faz suas compras (sobretudo em lugares onde os caixas tradicionais estão apinhados de gente em longas filas), (2) ocupam menos espaço e, ao dispensar empregados, (3) melhoram a margem de lucro dos supermercados (o que, dependendo do grau de concorrência no setor, abre potencial espaço para redução de preço final ao consumidor) e liberam mão-de-obra para atividades onde ela, espera-se, pode ser mais produtiva. 

O uso dessas máquinas de auto-pagamento está em crescimento vertiginoso, pelo menos na Inglaterra e nos EUA. Fala-se no setor em um crescimento de 8 a 10 por cento ao ano. É difícil entrar em um supermercado, farmácia, estação de trem/metrô/ônibus nesses lugares que não tenha um bom número dessas maquininhas. E a julgar pela expansão no uso dessas máquinas, um argumento de preferência revelada nos diz que a economia com folha salarial deve mais do que compensar, ao menos no agregado, as perdas causadas pelos furtos.

Enquanto isso, em Gotham City...
Obviamente isto soa como uma realidade distante do Brasil. Afinal, ainda existem um número considerável de postos de trabalho de eficiência econômica duvidosa -- cobradores de ônibus, porteiros de prédio, recepcionistas de porta de restaurante, frentistas de posto de combustível, caixa de supermercado, "chamador" de táxi de aeroporto, sem falar nos restaurantes/lojas com 500 funcionários para fazer a tarefa que 1/3 daria conta. A introdução desses "self-checkouts" no Brasil dificilmente vai acontecer antes de se fazerem completamente obsoletas esses postos de trabalho, devendo inclusive sofrer do mesmo tipo de oposição que a tentativa de acabar com esse tipo de emprego já sofreu (no caso do frentista, há inclusive barreiras legais).


Ladrões na margem
Mas o ponto interessante da matéria é menos a obsolescência do emprego de caixa de supermercado que a tecnologia de self-checkout causa (donde emana, me parece, a atitude cética e desconfiada das pessoas com o progresso tecnológico...como se o progresso tecnológico experimentado ao longo dos últimos 100 anos não tivesse feito a vida da vasta maioria das pessoas melhor) e mais o efeito dessa máquina nos números de roubos em supermercado e afins. Fica a dúvida: será que as máquinas, com suas brechas para a malandragem, estaria induzindo pessoas a cometerem pequenos furtos que de outro modo elas não cometeriam? Isto é, será que a oportunidade faz o ladrão? Talvez melhor ficar com a variação dessa frase proferida por Machado de Assis: "a ocasião faz o furto, o ladrão nasce feito".

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