Os economistas há muito se interessam por entender a atitude das pessoas com relação a risco. O interesse de longa data é compreensível: virtualmente todas as decisões econômicas pelas quais se interessam -- que carreira seguimos, quanto investimos em educação, com quem casamos, como gastamos nossa renda e onde investimos, como e qual instrumento de política monetária usar etc etc -- envolvem algum tipo de incerteza mensurável. Entender as escolhas econômicas que as pessoas (numa "capacity" governamental ou não) fazem passa, portanto, por entender como elas lidam com risco e incerteza.
segunda-feira, 28 de abril de 2014
sábado, 26 de abril de 2014
"Esqueça o que ele roubou, mas não esqueça o seu número"
Vídeo do Marcelo Adnet (clique aqui) com um jingle político "que fala a verdade". Hilário. Veja o trecho da letra abaixo:
sexta-feira, 25 de abril de 2014
Programa de (Des)Aceleração do Crescimento?
O Eduardo Zilberman, professor do Departamento de Economia da PUC-Rio, escreveu um artigo em co-autoria com o Julio Mereb dizendo que o Programa de Aceleração do Crescimento, na verdade, pode ter desacelerado o crescimento! O argumento deles é interessante:
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Papel moeda tem maturidade??
Nos EUA, no século 19, cada banco emitia seu papel moeda, que muitas vezes não "tradavam" (se comercializavam) a par, apesar do lastro em Treasuries.
quarta-feira, 23 de abril de 2014
"Por que imposto sobre aeronaves é uma má ideia?" Resposta aos comentários do "Economista X", the founder
O pai fundador deste blog e meu guru intelectual na infância, o Economista X, a quem eu devo toda a minha fama e fortuna, ofereceu gentilmente, e em benefício do debate, alguns contra-argumentos ao post que escrevi ontem sobre o artigo do Professor Vladimir Safatle na Folha. Vou oferecer uma tréplica. Os comentários do Dr. X vão em vermelho e os meus vão em verde-floresta:
Waze Economics
Os economistas, há algum tempo, começaram a considerar que, de uma forma ou de outra, os agentes não sabem de tudo o tempo todo. Há diversas maneiras de incorporar essa "racionalidade limitada" nos modelos. Por exemplo, como Sims (2003, JME) faz, ela pode ser incluída via incerteza sobre o estado da natureza em que a economia se encontra. Outra forma, usada por Mankiw e Reis (2002, QJE), considera que os agentes atualizam seus conjuntos de informação com certa infrequência.
A Racionalidade do crime e "soluções" para a violência
Era uma segunda-feira. Cerca de 8 horas da noite. Dárcio Correia estava na academia; saindo dela na verdade. Dois homens o abordam e, armas em punho, anunciam que o carro dele – um Mitsubishi Pajero -- eles querem. Não se sabe se há resistência, mas os dois homens atiram no peito de Dárcio. Fogem sem que o veículo nem nada material de Dárcio tenha sido subtraído. Dárcio não resiste aos ferimentos balísticos e, algumas horas depois do assalto, é anunciado morto – ironicamente no mesmo hospital em que trabalhava (ver notícia aqui).
terça-feira, 22 de abril de 2014
Por que Imposto sobre aeronaves é uma má ideia?
O Professor Vladimir Safatle, colunista da Folha, publicou um interessante artigo hoje sobre o fato de que helicópteros, jatos e iates não pagam IPVA (o artigo pode ser visto aqui). Coloco abaixo um trecho:
No entanto, a verdade é uma só: helicópteros, jatos particulares e iates não pagam IPVA porque, no Brasil, os ricos definem as leis que protegerão seus rendimentos e desejos de ostentação. Bem-vindo àquilo que economistas como o francês Thomas Piketty chamam de “capitalismo patrimonial”: um capitalismo construído para quem ganha mais continuar a ganhar mais, a não precisar devolver nada para a sociedade, enquanto quem ganha menos é continuamente espoliado e recebe cada vez menos serviços do Estado.
segunda-feira, 21 de abril de 2014
(Sub)Desenvolvimentismo
O pensamento econômico predominante no Brasil é desenvolvimentista, digo, subdesenvolvimentista, basta ver como a economia é conduzida. Nesse ambiente, seria estranho não existir pensadores como Belluzzo.
domingo, 20 de abril de 2014
Belluzo, o gênio da raça
Fonte da caricatura: http://baptistao.zip.net/
Belluzo deu uma longa entrevista para o Estadão. Trechos abaixo:
Repórter: Como se escolhe um campeão nacional?
Luiz Gonzaga Belluzzo: Por exemplo, a Petrobrás é um campeão nacional natural. Ela é uma das grandes empresas petrolíferas do mundo. Não precisou de nenhuma política especial para transformá-la nisso. Quais os setores que você vai escolher? Tem que escolher os setores em que você tem vantagens e pode conduzir a um bom termo. Isso é uma coisa construída porque não há mais vantagens comparativas. Os asiáticos perceberam isso. Hoje está muito mais difícil. Os chineses estão...
Sargent
Além do conteúdo, o bom economista deve comunicar suas ideias de maneira clara, sucinta e ir direto ao ponto. Sem enrolação. Um excelente exemplo é o discurso de Thomas Sargent (Nobel de Economia em 2011) na formatura de Berkeley em 2007, com apenas 335 palavras.
quarta-feira, 16 de abril de 2014
"Ei, juiz, ..."
Os erros de arbitragem no futebol sempre estão na mídia. Depois da final do Campeonato Carioca não se fala em outra coisa. O debate entre os que são a favor do uso da tecnologia para auxílio da arbitragem e os que são contra é quente e constante.
terça-feira, 15 de abril de 2014
I am leaving USA
After 2 years here in MA, USA, I am going back to Terra Papagalis.
Dilma will lose the election, making Brazil a better place.
Why she will lose?
High inflation
Low growth
People detest her in her own party
Politicians hate her
Lula said to be in favor of media control
Petrobras scandals are looming large
Power cuts will surely happen
People want change
Eduardo and Aécio are still unknown, but this will be reversed during the campaign
God is brazilian
Messi will win the W.Cup
I am packing...
segunda-feira, 14 de abril de 2014
Política industrial
O Estadão de domingo estava recheado. Além da coluna do Pastore (comentada pelo Cesg), teve também entrevistas com Armínio Fraga e Mauro Borges (ministro do Desenvolvimento). Esta última chamou minha atenção, de maneira negativa (veja aqui).
O ministro faz uma defesa da política industrial do governo, mas com uma justificativa bem estranha. Abaixo trechos em que ele fala sobre o assunto:
Em momentos ruins para a indústria, o governo sempre deu algum tipo de ajuda. Acabou essa mamata?Acabou de forma nenhuma. Vamos dar o apoio à indústria como todos os países avançados industrialmente. Temos um parque fabril que poucos países têm. O governo vai estar o tempo inteiro do lado da indústria dando todos os apoios. A política industrial é efetiva no Brasil, como é nos Estados Unidos, na Alemanha, na China, no Japão. Os países desenvolvidos sempre fizeram política de desenvolvimento regional. No dia em que o País que veio de um mundo subdesenvolvido se propõe a fazer uma política de conteúdo nacional até a nossa imprensa vem contra a gente.
O sr. está se referindo aos questionamentos na OMC, como o do Japão?Do questionamento geral. Os economistas liberais brasileiros são contra a política de conteúdo nacional. Qualquer política industrial no mundo tem uma natureza de defesa da sua indústria. Eu queria desafiar qualquer economista liberal brasileiro para dizer que não tem política industrial nos países desenvolvidos. Tem uma capa ideológica escamoteando a discussão. O governo brasileiro vai continuar fazendo política industrial, sim, em defesa da sua indústria, como todos os países fazem.
Qual será defesa do Brasil na OMC?A defesa é que temos o direito de ter política industrial como eles têm. Política industrial é política de desenvolvimento tecnológico. Isso eles têm abertamente. Por que o Brasil não tem o direito de ter sua política de desenvolvimento industrial se os países desenvolvidos praticam essa política há mais de 200 anos? É uma defesa do direito da soberania brasileira de ter uma política de desenvolvimento tecnológico.
Minha leitura é que o argumento é: vamos fazer política industrial porque os outros fazem. Uma possível forma de racionalizar isso é imaginar que a indústria tem economias de escala e, se o tamanho do setor se reduzir muito, haverá perda de produtividade. Como outros países subsidiam suas indústrias, eles podem roubar espaço do Brasil no mercado internacional, impedindo assim que nossa indústria cresça e ganhe produtividade. Por isso seria importante subsidiar nossa indústria também.
Ou seja, trata-se de um equilíbrio de Nash ruim, em que todo mundo gasta recursos para subsidiar seu setor industrial só para evitar que outro país ganhe mercado. Em equilíbrio, o gasto é em grande medida inútil, pois não muda muito a posição relativa dos países. O melhor seria buscar mecanismos de coordenação internacional para evitar tais subsídios.
Mas há algo mais importante nessa discussão: países desenvolvidos possuem outros fatores que elevam sua produtividade, como infra-estrutura, educação, saúde e serviços públicos de melhor qualidade, menos barreiras burocráticas, etc. Se adotamos políticas públicas só porque os outros o fazem, por que não atacar esses aspectos?
domingo, 13 de abril de 2014
São Pedro
São Paulo, sábado, oito e meia da noite, chove forte. Aquela chuva que foi rara no último verão paulistano. A luz de casa começou a piscar. Daqui a pouco, muito provavelmente, a minha conexão com a internet cairá. Certamente muitos semáforos não estão funcionando na cidade. Vários pontos de alagamento já devem ter surgido.
Apesar disso, a chuva é bem-vinda. Fez calor nos últimos dias e a represa precisa encher para não virar de vez açude nordestino em época de seca. Se eu estou contente com a chegada da chuva, imagino a felicidade de Geraldo Alckmin. O governador de São Paulo já deve ter acendido muitas velas para São Pedro, colocado sal grosso no telhado do Palácio dos Bandeirantes, baixado na internet os passos da dança da chuva etc. Dilma também deve estar apelando a todas as mandingas para que chova muito, torrencialmente, em todo o país.
Pois é, PSDB e PT finalmente estão aliados. Aliados na torcida para que São Pedro mande água aqui para baixo. Disso pode depender o sucesso eleitoral dos políticos que ocupam os cargos executivos mais importantes do país, a Presidência da República e o governo de São Paulo. Algo saiu errado quando o futuro político dos principais governantes do PSDB e do PT depende de São Pedro. Não pode ter sido apenas falta de sorte.
Quem pagará a conta pela incúria tucana e petista, financeiramente ou via racionamento de água ou energia, somos nós consumidores e eleitores. O pior é que os especialistas estão convergindo para a previsão de que o racionamento de água e de energia é inevitável. A dúvida é saber quando ocorrerão, quando as torneiras secarão e quando as televisões – ou as máquinas da indústria – deixarão de funcionar por falta de energia. A torneira secará primeiro, ou a televisão parará de funcionar antes? Será em 2014 ou em 2015? Antes ou depois de 5 de outubro?
Seja como for, se os especialistas estiverem certos, também haverá uma conta política a ser paga por Alckmin e Dilma. Será mais salgada se chegar antes de outubro. Mas pesará no bolso dos dois mesmo se for cobrada depois disso, especialmente se eles se reelegerem. Em 1999, depois da desvalorização cambial de janeiro, a popularidade de FHC despencou e nunca mais se aprumou para valer. Pode ser que ocorra o mesmo com Alckmin e Dilma em 2015, se sobreviverem a 2014.
Pastore no Estadão, Domingo
Ele explica bem a dinâmica cambial recente: juro real elevado com baixo risco de depreciação devido às intervenções do governo tornam os títulos brasileiros apetitosos...
Depois ele vai falar da relação cambio--inflação. E comete um erro teórico assustador, que um bom aluno de introdução à economia não deveria fazer. Ele diz o seguinte: quando câmbio deprecia, sobem os custos dos insumos de produção importados e então os empresários repassam isso para os preços, em parte. Correto! Aí, quase tive uma síncope quando, no parágrafo seguinte, ele afirma -- criticando a estratégia do governo de controlar inflação via câmbio -- que, na direção contrária, isso não vale !! E pior de tudo é a explicação que ele dá: é porque quando caem os custos (depois da apreciação) a maneira de aumentar o lucro não é reduzir preços, e sim mantê-los fixos. Então, nessa direção o câmbio não ajuda, o efeito não vale. Dureza, Pastore...Quando custos caem, é ótimo -- no sentido de maximizar lucros -- reduzir preços. Justamente porque o ganho unitário aumenta no momento imediato que se segue à redução de custos é que preços mais baixos são a decisão ótima para a firma, dado que nesse cenário ela quer produzir e vender mais. Isso é micro muito básica mesmo, daí o meu espanto.
Depois ele cita uma evidência de impacto assimétrico do câmbio sobre a inflação, que eu acredito possa estar correta. Segundas derivadas positivas da função custo marginal podem gerar essas assimetrias, mas isso não invalida o erro crasso de micro.
sábado, 12 de abril de 2014
Copa do Mundo: "Seleção serve como registro vivo do potencial da sociedade"
Belo texto do correspondente da BBC, Tim Vickery, que reproduzo abaixo:
"Não é apenas o valor estético das pinturas nos muros ou das deslumbrantes bandeirinhas verde e amarelas enfeitando as ruas. Muito mais importante do que isso é a questão do que está sendo celebrado.
O clima de festa nas ruas me lembra um pouco uma versão tropical de um Jubilee, uma festa que acontece no meu país de origem para comemorar 25 anos de monarquia ou algum marco político importante lá. Mas a Copa do Mundo não é para celebrar alguma festividade política (apesar de os governos acabarem se aproveitando dela) e nem é uma homenagem para algum aristocrata da família real. Na Copa do Mundo, os brasileiros estão celebrando eles mesmos.
O momento do hino nacional antes dos jogos, quando a câmera passeia pelos jogadores, é sempre um momento mágico. Como uma janela para a alma da nação, o que se vê são legítimos representantes (masculinos) do país. Os rostos são, em sua maioria, de pessoas com origens humildes, com alguns representantes da classe média também. O futebol é uma atividade que não impõe barreiras para quem quiser entrar e isso cria uma verdadeira meritocracia – não importa qual escola essas pessoas frequentaram.
A Copa do Mundo, então, é uma espécie de "Nações Unidas" para o homem comum. Ser o melhor do mundo nessa atividade – o único país a conquistar a taça cinco vezes – é algo que vale a comemoração. A Copa do Mundo é o momento em que o Brasil aparece para todo o planeta por razões positivas: como o país a ser invejado, o país que tem o melhor estilo. E isso coloca uma questão: como o Brasil seria se o mesmo conceito de meritocracia aplicado no futebol fosse aplicado também em outras áreas da sociedade? Nas famosas palavras do cientista social americano Janet Lever, a seleção brasileira serve como um "registro vivo do potencial da sociedade".
Mas, claro, há um enorme abismo entre potencial e realidade. E é exatamente por essa razão que a Copa do Mundo de 2014 está se provando tão "explosiva". Na tensão permanente entre potencial e realidade, o caso típico da Copa do Mundo no Brasil destacaria o primeiro. Mas sediar a versão 2014 está deixando todos os holofotes voltados para a abundância deste último. Se normalmente a competição apresenta razões para o Brasil ser invejado, desta vez - como o mundo inteiro está assistindo atentamente e nervosamente - está fornecendo os motivos para o país ser criticado, temido ou até mesmo ridicularizado. A experiência é algo semelhante a um pontapé no traseiro prolongado da frequentemente frágil auto-estima nacional.
A falta de planejamento, a falta de segurança no trabalho, o fato de deixar as coisas para a última hora, a dificuldade de executar as tarefas de forma coletiva, as promessas não cumpridas, as decisões pouco eficientes, a burocracia excessiva, a infraestrutura precária, o oportunismo de curto prazo, as coisas custando muito mais do que deveriam – tudo isso são componentes diários na vida do brasileiro, que agora estão chamando a atenção do mundo por causa da Copa.
As insatisfações populares com tudo isso provocaram os protestos, que têm atraído o interesse da mídia internacional, que, por sua vez, dá mais cobertura para as causas do descontentamento, aumentando, assim, a vergonha e causando ainda mais insatisfação.
Parece um ciclo vicioso. Mas pode até ser um ciclo virtuoso. Já que todos sabemos que os problemas existem, o que temos a ganhar escondendo todos eles? É muito mais útil reconhecê-los e discutir soluções para eles. O desejo furioso de rejeitar todas as críticas estrangeiras pertence a uma ditadura. A democracia deve ser capaz de algo mais maduro.
Existe um sentimento esquizofrênico conforme a abertura da Copa se aproxima. De um lado, existe o movimento de protesto. Do outro, a venda de ingressos foi excepcional, com os brasileiros comprando muito mais do que qualquer outra nacionalidade.
Mas não há nenhuma necessidade de ver isso como uma contradição absurda. É completamente possível manter as duas posições ao mesmo tempo. Torcer pelo time comandado por Luiz Felipe Scolari em uma comemoração pela seleção brasileira e pelo potencial do país – e, ao mesmo tempo, desejar que os protestos e o processo democrático possam melhorar a realidade nacional."
Fonte: UOL
Gotas de Sabedoria Marxista
"A relação entre educação e desenvolvimento econômico não é, de forma alguma, linear e para discuti-la cabe tecer algumas considerações preliminares. Quando Marx analisa a circulação e a reprodução do capital, no volume II de sua obra O Capital, ele nos mostra como essa reprodução envolve também a reprodução das classes sociais. No que se refere à classe trabalhadora, reproduzi-la implica manter em condições de trabalhar não só os que estão na ativa, mas aqueles que se encontram no exército de reserva, e mais, implica produzir as novas gerações para que o circuito do capital não se interrompa."Fonte: "Educação e desenvolvimento econômico no Brasil", Revista Brasileira de Educação (v. 16, n.48, 2011).
PS: Gostei bastante da técnica de introdução. Você diz que a relação que está examinando (entre X e Y digamos) não é linear (quando vai ser né?) e que, portanto, pra discutí-la precisará tecer considerações preliminares. E aí manda bala no lero-lero resto do texto. Clever stuff!
quinta-feira, 10 de abril de 2014
IPEA em Macondo
Como sou provavelmente
o mais velho participante desse blog, tenho couro curtido pelo festival de
atrocidades que assola os jornais. Não estou, evidentemente, me referindo às
palermices menores como as que costumo expelir, fruto apenas de uma ignorância genética
que não causa dano a ninguém.
Trato aqui dos disparates
grandiosos, universais, perceptíveis a qualquer terráqueo que não esteja mal
intencionado. Aqueles absurdos rococós, coloridos, com apelo intuitivo e
que dão enorme trabalho para corrigir. Falácias proferidas por pessoas cuja
opinião é reverberada e que têm a mais absoluta certeza do que dizem –
aquela certeza típica dos ignorantes desavergonhados e dos grandes vigaristas.
Somos bombardeados por
asneiras colossais desse tipo quase que diariamente. Por dever de ofício,
submeto-me à tortura e estou acostumado a ela. Digo até que me decepciono nos dias
em que, excepcionalmente, aparecem apenas equívocos normais, irrelevantes, da qualidade, por
exemplo, deste texto
Muito bem. Em que pese a
experiência acumulada, foi difícil digerir a notícia de que o IPEA possui uma
filial no exterior, mais precisamente na Venezuela.
O escritório na terra do
Maduro e do Chávez
Passarinho é a única filial do IPEA fora do Brasil. Evidentemente foi aberta
na incrível gestão 2007-12. Dentre os cerca de 200 países disponíveis, a
intelligentsia escolheu a mais grotesca das republiquetas da América Latina.
Se essa paspalhice não fosse trágica, certamente seria cômica.
É óbvio que uma estupidez desse tamanho
não é aleatória, fruto apenas de burrice igual à que tento remediar convivendo com gente bem mais esperta do que eu. Trata-se de coisa perversa, feita para arrebentar. O
pior dos demônios.
Nos últimos anos, como
se sabe, o IPEA transformou-se em aparelho para divulgar um besteirol
conveniente ao governo. Que fique bem claro, conheço muita gente boa que veio
do IPEA, que é do IPEA. Um pessoal sério, que ajuda enormemente corrigindo os vários equívocos que cometo. Uma
moçada que não tem nada a ver com a esculhambação que destruiu a reputação do
IPEA nos últimos anos. Não conheço o atual presidente, mas respeito pessoas que
o respeitam. Torço para que ele arrume parte do estrago.
Voltando à Venezuela,
nossa “missão” no país não produziu nada sobre a tragédia econômica e social que
está arruinando a vida de nossos vizinhos. Ao invés, pariu pérolas para
puxar o saco da canalhada bolivariana e para agradar a corja que
usa esse tipo de imbecilidade para fazer bonito aqui.
Vejam, por exemplo, esta
delícia: “o modelo bolivariano afasta-se, sem dúvidas, da democracia despolitizadora
(?) que predomina ainda hoje no mundo. Supera o modelo idealizado pelos pais
fundadores da república norte-americana”. Esta é a produção que financiamos com
o nosso dinheirinho.
Que capacidade têm
estes embusteiros!
Vale a pena ler o
texto completo, publicado hoje
na página da Folha.
Agradeço ao colega
Marco Laes pelo brinde e aguardo, com ansiedade, a bobagem de amanhã.
Assim não dá
Exagero se chamo isso de desfaçatez? Refiro-me, claro, ao argumento do Tombini de que essa inflaçãozinha aí de 0,92% em março foi alimentos e que tudo está bem?
A inflação de serviços está em 9% acumulada em 12 meses.
NOVE POR CENTO.
O IPCA tá aí acima de 6% de novo, e isso com o câmbio derretendo, que segura bem os tradables.
Não está bom, Tombini. Mas, ok, você está certo, na verdade eu deveria estar endereçando a queixa a outro lugar. Concordo, mas quem ouve críticas lá no ministério da fazenda?
quarta-feira, 9 de abril de 2014
terça-feira, 8 de abril de 2014
Questões de provas
A questão abaixo apareceu em uma prova de Filosofia para alunos de ensino médio de uma escola de Taguatinga (DF). A foto foi tirada por um aluno e está circulando nas redes sociais.
Ainda há bastante especulação sobre os motivos do professor em incluir essa questão. Uma história (que me parece plausível) é que era uma brincadeira, para aliviar a tensão da prova. Não tinha ideia da resposta, mas pesquisei a letra da música na internet e, de fato, o aluno acima acertou.
Lembrei de outra questão para a qual não tenho ideia da resposta. Caiu em um concurso do Ipea, durante a gestão Pochmann (o candidato tinha que indicar verdadeiro ou falso):
"O termo neoliberalismo designa uma corrente de organização de atividade econômica que capciosamente ecoa um movimento histórico com o qual em realidade e na prática não compartilha fundamentos e princípios."
Não entendo nada do que está escrito acima. Meu chute é que a afirmação é verdadeira. Afinal, neoliberalismo só pode ser coisa do demo.
Margareth Thatcher
De Filha do Quitandeiro a Primeira-Ministra do Reino Unido. Esse é, em tradução livre, o subtítulo de uma das melhores biografias de Margareth Thatcher no mercado (livro aqui).
É difícil não empatizar com Thatcher. Nem digo por sua atuação reformista no front político-econômico britânico durante o período de 11 anos e meio em que foi primeira-ministra -- pelo que ela continua colecionando odiadores, mesmo não mais em vida. Mas por sua história pessoal: o contexto de sua ascensão politica e sua obstinação e perseverança que são o "hallmark" de sua história rumo a Downing Street. É uma história inpisradora, de alguém que claramente nunca duvidou que iria "stand out" na vida.
Abaixo, um pequeno vídeo com uma de suas melhores participações no PMQ (Prime Minister Questions) no Parlamento Britânico já no fim de sua premiership. Diz ela, no vídeo, sobre as "políticas socialistas": "They´d would rather have the poor poorer provided the rich were less rich". Certeira...
domingo, 6 de abril de 2014
Samuel no Estadão Domingo
O Samuel foi muito claro e preciso: há duas questões importantes, duas agendas, (i) a do tipo de Estado que queremos ter: o atual, meio gordinho, com altos impostos e transferências parrudas; ou um mais enxuto com menos impostos e menos gastos e (ii) a agenda da ineficiência, misallocation, seleção de vencedores, BNDES gigante. Essa, segundo o Samuel, é coisa nova, do PT pós 2010, uma volta sinistra aos anos 70, "trem fantasma". O Samuel não comentou muito da nova matriz macro, mas acho que ela se encaixa nessa segunda bizarrice heterodoxa, a da coisa sem pé nem cabeça, onde tudo é pior.
Eu só não acho que a linha divisória traçada pelo Samuca seja assim tão bem demarcada. Parte do inchaço das transferências é ineficiência também, misturado com a discussão legítima do tamanho do Estado. E esse debate precisa entrar na pauta, sim, urgentemente. Isso porque há modos mais e menos eficientes (olha a palavra aí) de se diminuir desigualdade, de se aumentar proteção social, etc e tal. Por exemplo, o bolsa família é muito mais eficiente que aumentos do mínimo para combate de pobreza. Então por que não investir mais num e menos no outro, que é muito mais custoso? Poderíamos via essa senda ter mais eficiência e menos G -- a linha divisória nublou-se. Outro exemplo: tem muita gente mamando anos a fio nas pensões públicas, sem justificativa. Um funcionário morre e deixa uma esposa de 25 anos que recebe pensão até morrer ela mesma, aos 70 anos. Isso é uma discussão legítima sobre tamanho de Estado? Não, não, não me parece. Parece mais captura por grupo de interesse, rent-seeking pure and simple.
sexta-feira, 4 de abril de 2014
"Estratégia IPEA" para virar celebridade
É assim. Você divulga um estudo com um resultado exagerado; algo com potencial de gerar polêmica. Preferencialmente sobre percepção e valores. Tipo assim: "85% dos brasileiros acreditam que quem põe Hellmann's no sanduíche vai queimar no fogo do inferno". Vai ser um frenesi. Seu nome vai cair na boca do povo. Aí, uma semana depois, você divulga uma errata falando que trocou os números e que não era exatamente o que você falou -- apenas 25% acreditam nisso. Não importa que será meio vexaminoso. Falarão de você de novo. Mal, mas que falem - como diz a máxima.
Posi foi praticamente isso o que o IPEA fez nos últimos dias.
Segundo nota divulgada pelo instituto, por conta de uma troca nos gráficos da pesquisa divulgada, o resultado divulgado recentemente está errado. Os percentuais corretos são 26% concordam com a afirmação de que "mulheres gostosas que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". 70% discorda total ou parcialmente (?).
Nem adianta falar que os resultados qualitativos permanecem verdadeiros e que o resto da pesquisa continua válido...a credibilidade foi pro saco e junto com ela a confiabilidade de qualquer coisa que sai desse estudo, e provavelmente de tudo que o IPEA divulgue nos próximos meses, anos....
A boa notícia é que o diretor da área social do IPEA (será que é o cara encarregado de organizar os "happy hours" do IPEA? Just asking...) pediu a sua exoneração do cargo assim que o erro foi detectado. Isso mostra que ainda há gente séria e decente no mundo...
As mulheres podem ficar tranquilas agora com o novo resultado. Pois ele sugere que a probabilidade de ser estuprada por usar roupas curtas é bem menor do que o número inicial divulgado sugeria. Minha esposa (foto abaixo) agradece!
As mulheres podem ficar tranquilas agora com o novo resultado. Pois ele sugere que a probabilidade de ser estuprada por usar roupas curtas é bem menor do que o número inicial divulgado sugeria. Minha esposa (foto abaixo) agradece!
Alunos brasileiros são desonestos?
A coluna do Gustavo Ioschpe na Veja da semana passada trouxe uma discussão sobre desonestidade na escola, e principalmente sobre o papel da "cola". Ioschpe argumenta que alunos brasileiros colam mais que alunos de países desenvolvidos, em boa parte por causa da conivência das escolas e dos professores. Esse comportamento é particularmente danoso, dado que os alunos de hoje ocuparão cargos nos setores privado e público no futuro, em que terão o mesmo tipo de atitude desonesta.
A evidência de que alunos colam mais aqui vem do estudo de Maria Fátima Rocha e Aurora Teixeira (aqui), que analisa dados de estudantes de Economia e Business em 21 países. O estudo é baseado em um questionário com perguntas sobre as atitudes da pessoa com relação a cola, e se já testemunhou outros colando. Em seu argumento, Ioschpe contrasta Brasil e Nova Zelândia.
No artigo, entretanto, as amostras por país são bem pequenas (para o Brasil são 100 respostas de alunos de apenas uma universidade), é tudo auto-reportado e com problema sério de seleção (com algumas exceções, os questionários foram enviados para alunos pela internet; quem respondeu se seleciona automaticamente). As próprias autoras dizem que os números não são representativos no nível de país. Não entendi por que o Gustavo Ioschpe está comparando Brasil com Nova Zelândia.
No artigo, entretanto, as amostras por país são bem pequenas (para o Brasil são 100 respostas de alunos de apenas uma universidade), é tudo auto-reportado e com problema sério de seleção (com algumas exceções, os questionários foram enviados para alunos pela internet; quem respondeu se seleciona automaticamente). As próprias autoras dizem que os números não são representativos no nível de país. Não entendi por que o Gustavo Ioschpe está comparando Brasil com Nova Zelândia.
Vou contar um pouco da minha experiência como monitor em uma universidade americana (UCLA) e como professor da USP. Em ambos os casos para alunos do curso de macroeconomia na graduação. Sim, é uma evidência baseada em percepções e em uma amostra minúscula e selecionada. Mas não acho que estou fazendo muito pior que o estudo acima.
Tem cola tanto na USP como na UCLA, mas não tenho razão nenhuma para acreditar que os brasileiros da minha amostra são mais desonestos que os americanos. Na UCLA havia uma grande preocupação em desenhar mecanismos para evitar cola. Por exemplo, em um exame de múltipla escolha havia vários tipos de prova em que se mudava a ordem das questões e/ou das alternativas (para diminuir o retorno de copiar do vizinho). Mas o mecanismo mais usado era a colocação de diversas pessoas tomando conta da provas. Por exemplo, em uma turma de 300 alunos, havia cerca de 8 monitores, os quais eram instruídos a ficar o tempo todo observando os alunos submetidos ao exame (não era permitido ler um livro ou mexer no celular para passar o tempo).
Esses mecanismos se justificam somente se a escola e/ou o professor entenderem que os alunos não são super honestos, e que precisam ser vigiados para não colarem.
Concordo com o Gustavo Ioschpe que aqui somos mais coniventes com a cola. Nas universidades americanas, o comportamento desonesto é tratado com rigor. Caso o aluno seja pego, ele pode ser suspenso por um semestre ou até ser expulso (o que é ainda mais custoso para quem já pagou muito dinheiro para estudar em uma boa escola). O problema é que os alunos punidos pela universidade acabam entrando na justiça para reverter a decisão, e com isso arrastam para o tribunal os professores e monitores responsáveis pela denúncia. O resultado é que poucos casos são de fato denunciados.
Na UCLA, uma vez disse a um professor que um aluno estava colando, e perguntei se deveria tomar uma atitude. Ele me disse para apenas chamar atenção do aluno e no máximo mudá-lo de lugar, pois o custo seria elevado para mim se uma atitude mais drástica fosse tomada. É exatamente o que fazemos aqui nos casos de cola!
quinta-feira, 3 de abril de 2014
Gasto e Qualidade: As Universidades Brasileiras na Fossa
Periodicamente instituições internacionais de pesquisa produzem e divulgam rankings de universidades. Apesar da variação nos quesitos, pesos dos quesitos, metodologia para a obtenção de informações, etc. estes rankings contam estórias consistentes (e óbvias) sobre a nata e a fossa da academia no mundo. Duas observações de interesse particular são bastante claras independente do ranking para o qual a gente olha: (i) Existe correlação forte entre gasto por aluno e posicionamento no ranking e (ii) as universidades brasileiras estão chafurdando na fossa.
Ricos e pobres: Os gastos da universidades por estudante
Para ilustrar estes pontos eu fui analisar os dados* do ranking da Times Higher Education (THE) – talvez o mais conhecido destes rankings de universidades (veja o ranking da THE aqui e o de Shangai aqui) – com dados sobre despesas totais das universidades e número de alunos (as duas últimas variáveis coletados na internet). Daí eu fiz um gráfico de dispersão para mostrar a correlação do gasto por aluno das universidades com a posição no ranking do THE. O gasto por aluno nada mais é do que a despesa total da universidade em moeda corrente do país em 2013 convertida em dólares e dividida pelo estoque de estudantes de graduação e de pós graduação matriculados na universidade. A tal figura está logo abaixo. Coloquei na figura uma curva de regressão (y, a posição no ranking, contra ln(x), o logaritmo natural do gasto per capita) e o negócio parece não linear mesmo, o que também faz bastante sentido (essa curva tá carregada de endogeneidade, logo nada de causalidade aqui, ok?).
O gráfico acima mostra que a correlação entre gasto e ranking é forte (é também estatisticamente significante a 1%) e sugere que se a gente quiser explicar o sucesso e o fracasso de alguma universidade a gente tem de olhar para o quanto esta universidade gasta por aluno. De fato, como você já deve ter notado, os caras que gastam mais com seus alunos ficam lá em cima no ranking; os caras que gastam pouco ficam para trás. Outra coisa que dá para dizer é o seguinte: Este é um mundo bem caro – e cheio de investimento a fundo perdido. Só para se ter uma ideia, tem universidade por aí gastando algo como US$300 mil por aluno, como é o caso, por exemplo, do M.I.T (Massachusetts Institute of Technology). Isso é mais ou menos R$700 mil por ano por cabeça matriculada naquela escola ou um apartamento de dois quartos em um bairro decente aqui em SP (por cabeça e por ano).
USP e Unicamp
A segunda observação importante está relacionada ao pontinho vermelho e o pontinho laranja do gráfico. O pontinho vermelho é a USP; o pontinho laranja é a UNICAMP. A USP, melhor universidade brasileira neste ranking e em qualquer ranking que se olhe, está na posição 226-250; A UNICAMP figura bem mais abaixo, na faixa 301-350. Basicamente isso diz que, de acordo com o THE (e com outros rankings que se queira olhar), constituímos a escória da academia no mundo.
Com estes números na cabeça a gente é então tentado a dizer: “Bem, ok, a academia brasileira está na zona do rebaixamento porque gastamos pouco com educação superior”. Verdade. Ou, pelo menos, meia verdade. Enquanto as dez melhores universidades no THE estão gastando em média US$170 mil por aluno/ano a USP gasta aproximadamente US$ 27 mil (ou algo como R$62 mil) por aluno/ano e a UNICAMP aproximadamente US$43 mil (ou algo como R$99 mil) por aluno/ano. Vendo a coisa desta forma, parece que se esse pessoal das universidades brasileiras for até o governo e pedir mais uns trocos a gente vai galgando posições na tabela e começa a brigar por uma vaga na libertadores. Chegando na libertadores, a gente pede mais um pouco aqui, outro ali, e no final do ano estamos todos lá no mundial. Aí é só comemorar.
Brasil: Gastando muito na carroça e pouco no burro
Entretanto, a metade mentirosa desta meia verdade tem duas facetas. A primeira delas eu vou colocar na tabela abaixo. A segunda eu conto no final do post.
A tabela logo acima eu tirei do livro do Armando Castelar Pinheiro e do Fabio Giambiagi (“Rompendo o Marasmo: A Retomada do Desenvolvimento no Brasil”). Os números estão desatualizados, eu sei, – o que não significa que a coisa tenha mudado; muito pelo contrário, apostaria 100 cruzeiros que ficou pior – mas estão falando que a gente, diferentemente do resto do mundo e, em particular, muito diferentemente do mundo desenvolvido, gasta os tubos com educação superior vis-à-vis educação média e fundamental. Colocando o negócio de uma forma bem grosseira, este é o resultado de algumas décadas de escolhas “peculiares” que fizemos e que continuamos a fazer: Enquanto o mundo desenvolvido criou um burro bom (educação básica e fundamental) e depois colocou a carroça (educação superior) atrás dele, nós resolvemos montar uma carroça chinfrim e colocar na frente de um burro mais chinfrim ainda. Por isso, e não mais do que por isso, é que não dá para chegar lá no governo e pedir mais para as universidades. Se alguém precisa de dinheiro aqui este alguém é o burro e não a carroça.
E agora José?
Fazer o que então? Como melhorar sem pedir dinheiro ao bom e velho governo? Bom, voltamos ao gráfico. Nota que os dois pontinhos gordos estão bem acima da curva. Nota também que, neste gráfico, ser um ponto acima da curva não é bom. Se você pegar o pontinho vermelho (USP) e traçar uma reta paralela ao eixo vertical você vai ver que tem um monte de caras gastando coisa parecida (ou menos) com o que gastamos mas que estão numa posição bem melhor na tabela. O caso da UNICAMP é mais grave: Tem gente fazendo muito mais com muito menos grana. Ou seja, parece que dá para melhorar sem pedir nenhum troco extra para o governo.
É justo notar finalmente que os dados sobre alunos que usei para construir o gasto per capita referem-se ao estoque de matriculados. Se levarmos em consideração o número de formados (ao invés do estoque) é provável que o grau de ineficiência sugerido pelo gráfico acima seja exacerbado uma vez que a evasão nas universidades brasileiras (especialmente nas públicas) é muito maior do que se observa por aí.
As possíveis soluções do imbróglio remete aos posts recentes do Dr. Sérgio Almeida (aqui e aqui). Eu volto para falar mais sobre isso assim que der.
*Agradeço ao João Moraes de Abreu pelo excelente trabalho de coleta dos dados. Valeu João!
Como eu previ...
Daniel, eu acertei !
Ok, é verdade que errei outras tantas vezes.
Mas quero fazer um ponto teórico aqui, de viés informacional : se eu não lembrar as pessoas das vezes que acerto, e se elas sempre lembrarem (ou forem lembradas pelo Daniel) das vezes que erro, vira common knowledge que eu erro mais do que acerto, quando na verdade eu erro tanto quanto acerto.
Ouvi outro dia a seguinte frase: na Europa muitas mulheres estão tendo filhos com mais de quarenta anos. Não sei o que meu interlocutor queria dizer com "muitas", mas claramente aqui temos o mesmo tipo de viés: de cada 100 mulheres que tentam engravidar com mais de 40, apenas 10 conseguem. E essas todas vão para as ruas barrigudas e com seus quarenta anos, ou seja, aparecem para o público. Mas e as 90 outras? Essas ninguém sabe nas ruas que não conseguiram engravidar. E mais: elas, por motivos óbvios, pouco comentam o assunto.
Muito mais interessante esse viés do que a decisão do BC.
quarta-feira, 2 de abril de 2014
Professora vende doces para financiar reforma em escola
Professora vende doces para financiar reforma em escola. Ver matéria do G1 aqui. Trechos:
"Vendendo biscoitos a base de trigo e manteiga com cobertura de chocolate, conhecidos por 'Monteiro Lopes', a professora aposentada Elba Rosa, de 62 anos, que atualmente é diretora da escola Nilton Balieiro, Zona Oeste de Macapá, comprou 16 centrais de ar-condicionado para refrigerar as salas de aula do colégio e ainda adquiriu, recentemente, 105 instrumentos musicais para formar uma banda marcial na escola."
"A venda de ‘Monteiro Lopes’ também serviu para o investimento em forros nas salas de aula. Assim, os espaços ficam isolados do calor, segundo a diretora."
“Tínhamos uma verba disponível para forrar as salas, mas não iria adiantar a gente fazer o serviço sem a central de ar. Então decidi fazer os ‘Monteiro Lopes’ para verificar se daria para comprar as centrais. Vi que era possível pagar as prestações e comprei no meu nome”, contou.
Por conta -- em boa parte, provavelmente -- do maior conforto térmico nas salas, a evasão na escola caiu 30%.
Lição para as universidades?
Se a moda (admirável) pega, logo veremos as universidades públicas brasileiras -- todas praticamente sem um tostão para custear a simples depreciação do patrimônio físico, que dirá investir em modernização -- vendendo seus "docinhos" nos seus campi (veja aqui, por exemplo, uma lista dos "docinhos" da USP).
Se a moda (admirável) pega, logo veremos as universidades públicas brasileiras -- todas praticamente sem um tostão para custear a simples depreciação do patrimônio físico, que dirá investir em modernização -- vendendo seus "docinhos" nos seus campi (veja aqui, por exemplo, uma lista dos "docinhos" da USP).
Kanitz, não é nada disso não
Isso aqui é só uma notinha de esclarecimento.
O S.Kanitz aparentemente ficou bravo com meu ultimo post, no qual eu disse que o Sérgio Lazzarini, apesar de ser da área de ADM, era um excelente economista.
Kanitz e pessoal da ADM, com isso eu não quis dizer que mesmo sendo da ADM o cara era bom. Nada disso, apenas quis enfatizar que um cara acadêmico da ADM tinha trabalhos excelentes na área de economia. That simple, Stephan...
Um mundo insólito
Segundo matéria da Folha de S. Paulo (01/4), o deputado André Vargas do PT do Paraná, vice-presidente da Câmara dos Deputados, foi de Londrina a João Pessoa a bordo de um jatinho fretado por Alberto Youssef. De acordo com a Polícia Federal, Youssef é doleiro bastante ativo na lavagem de dinheiro. Ele foi preso pela PF na operação “Lava a Jato”. Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, envolvido no negócio de Pasadena, também foi preso na mesma operação. Costa entrou no radar da PF porque os investigadores descobriram que Yussef lhe deu de presente um carro de luxo.
O jornal foi ouvir o deputado. Vargas não contestou a informação. Sim, voou no jatinho de Youssef, um empresário com vários negócios em Londrina seu conhecido há vinte anos por serem da mesma cidade. Não sabia com quem estava lidando, afirmou Vargas, e não tem nada a ver com eventuais ilícitos cometidos pelo empresário, esclareceu. Mas porque usou o jatinho dele? É que as passagens áreas comerciais estavam muito caras e então ele se lembrou que Youssef costuma andar de jatinho e pediu uma carona até João Pessoa, onde passaria férias. Mas pagou o combustível, garantiu o deputado.
Como assim? A passagem estava muito cara então eu peço para o doleiro da cidade um jatinho emprestado? Em que mundo essa explicação soa razoável? Só mesmo no mundo da política de Brasília.
terça-feira, 1 de abril de 2014
Primeiro de abril
No primeiro de abril as pessoas brincam de contar mentiras.
Pensei: mentiras => informações desencontradas => maior volatilidade no mercado financeiro?
Sim! Rodei a volatilidade diária (Brasil e EUA) numa dummy de primeiro de abril e dá bem significante.
Cool!
Ditadura vs Ditadura
Acho deplorável alguém defender a ditadura. Mas essa é apenas minha opinião. E, numa democracia, quem defende a ditadura também tem direito a sua opinião.
Hoje um professor do Faculdade de Direito da USP fez um discurso em prol do golpe de 1964. Foi interrompido por um grupo de alunos que invadiram sua aula. Chamou minha atenção o que um dos manifestantes disse à Folha (matéria aqui):
"No dia em que a gente está fazendo atos de memória pela
resistência à ditadura, não podemos deixar um professor falar sobre um regime
que infringiu os direitos humanos comprovadamente." (itálicos inseridos por mim)
Ou seja, uma pessoa com opinião contrária não tem direito de se expressar. Não é justamente isso o que ditaduras fazem?
PS: Acho também errado professores usarem a sala de aula para fazerem discurso político. Realmente tem uns caras que tentam "catequizar" alunos, transformando uma particular visão de mundo em fato. Mas, de novo, essa é apenas minha opinião.
Artigo do Sérgio Lazzarini -- ESTADAO, HOJE
O Sérgio é um acadêmico da área de ADM. Apesar disso, ele é um dos melhores ECONOMISTAS aplicados do Brasil.
Pois bem, em dito isso queria complementar o artigo no ESTADAO que ele escreveu hoje com um argumento macro que não apareceu lá. O Sérgio basicamente nos lembra que existe grande variância de produtividade entre as firmas, mesmo dentro do mesmo setor. E daí conclui que produtividade então não depende só do ambiente macro, das policy macro, pois essas coisas são meio que iguais para todos. Aí depois ele fala de estratégias e tal...
O que eu queria acrescentar é o seguinte: a coisa macro não é tão irrelevante assim, pois a cara da dispersão de produtividade é endógena justamente a politicas macroeconômicas. Por quê? Porque se você, via politicas macro, torna mercados de capital e trabalho mais eficientes e fluidos, e além disso facilita entrada nos mercados de bens e serviços de novas empresas, o que ocorre é que as firmas menos produtivas vão sumir mais rapidamente, via competição ou fusão/aquisição.
Endogenamente então, a função distribuição das produtividades fica mais apertada em torno da média. E além disso a média sobe, pela margem extensiva (saem as empresas ruins).
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