quinta-feira, 10 de outubro de 2013

"A vida é curta: divorcie-se! "

Não; esse post não é uma apologia do divórcio. Há aliás uma longa literatura sobre os efeitos do divórcio -- nada agradáveis -- no então casal e nos filhos (uma resumo da literatura pode ser achado aqui). O título na verdade faz alusão à uma campanha de marketing de um escritório de advocacia. Veja a foto aqui. Ah, o que esses advogados não fazem por dinheiro! Enfim..

Casamento e divórcio são decisões importantes e de interesse para os economistas.
As características desses eventos tem implicações sobre o padrão reprodutivo das mulheres (logo sobre a taxa de crescimento populacional), a participação delas no mercado de trabalho, e sobre uma série de características da família.

Abaixo apresento dois gráficos que me parecem interessantes. Eles mostram o número de divórcios no Brasil em 2007 e 2011 por tempo de união.



Dois aspectos saltam aos olhos quando se compara as duas figuras:
  • Há mais casais se separando nos primeiros cinco anos da união. Nos dados desagregados ano a ano, são os divórcios com 1 e menos de 1 ano de união que cresceram relativamente mais nesse período;
  • Mesmo excluindo a coluna mais à direita, que envolve um intervalo de mais de 5 anos, parece haver uma relação mais ou menos em formato de U entre divórcio e tempo de união. 
Perguntas:

1. Aumento do divórcio: Quanto do aumento no número de divórcios seria explicado pela desburocratização do divórcio introduzida em 2010? Pra quem não acha que há uma série de cálculos e contas nas decisões que tomamos (tão rápidos e inatos (second-nature) que nem os percebemos), deve ser difícil entender como uma mudança no custo do divórcio parece ter contribuído para "destravar" o divórcio entre milhares de casais: o divórcio aumentou de cerca de 28 mil para cerca de 80 mil em alguns anos. É muito.

Sidenote: Esse "efeito-preço" no divórcio é consistente com os resultados que Martin Farnham, Lucie Schmidt e Purvi Sevak acharam quando analisaram, com dados dos EUA, o efeito do preço das casas na taxa de divórcio (o preço tem efeito nas duas direções dependendo se você é proprietário ou vive de aluguel: no primeiro caso (proprietário), se o preço aumenta, isso ajuda a aumentar as taxas de divórcio. Se diminui, ajuda a diminuir as taxas de divórcio). O artigo foi publicado em 2011 na American Economic Review (uma versão livre está aqui).

2. Relação U-shaped: Por que o número de divórcios parece ter essa relação não linear com o tempo de união?  

3. Mais tarde e mais rápido: Não é meio enigmático (puzzling) que as pessoas estejam se casando mais tarde -- quando supostamente estão mais psicologicamente maduras e preparadas financeiramente -- ao mesmo tempo em que estão se divorciando mais rapidamente, isto é, com menos tempo de união? 

A questão agora é: que modelo de casamento/divórcio poderia oferecer respostas a essas perguntas e explicar outros "fatos estilizados" desse mercado (como por exemplo, o fato de que cerca de 70% dos pedidos de divórcio são feitos pelas esposas)? Prometo voltar em um próximo post com um modelinho que tentará oferecer um explicação unificada dessas questões.


15 comentários:

  1. oh boy, i don't mean to offend you, but stop doing these posts.. maybe its better to do some exercises on stochastic control instead of posting these things

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  2. Oh, X, everybody knows that you wrote this comment. Even the stones in Paulista Ave know...

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  3. Um modelo com 2 tipos de agentes, Progressistas e Conservadores.

    Inventem uma proxy para medir isso .... talvez votos nos partidos progressistas ( todos menos DEM, PP e PR )


    O Conservador tanta manter ao máximo o casamento

    O Progressista adora trair, beber, e se divorcia rápido para casar mais vezes quando enjoa do companheiro.

    A mudança da população de conservadores para progressistas, pelas campanhas feministas e gayzistas da mídia, altera o formato do divórcio.

    Isso também explica o formato em U alias

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    1. Nice try but...

      1. Sua suposiçao - de que progressistas se divorciam e conservadores não - já contém o resutlado.

      2. Mesmo aceitando sua suposição, ela dificilmente explicaria o formato em U. Você teria que mostrar que tais campanhas "feministas" e "gayzistas" afetam mais quem tem muito pouco e muito tempo de união relativo aos que estão no meio desses grupos. Estranho.

      3. Ao menos nos EUA, sua suposição de que conservadores e progressistas são diferentes em relação a casamento/divórcio é aparentemente falsa. Você pode achar artigos mostrando que as taxas de divórcio e traição são maiores nos estados republicanos do que nos estados democratas. Tem um artigo do John sides (no Monkey Cage) fazendo isso melhor com dados desagregados. Não parece haver diferenças significativas entre conservadores e progressistas.

      Enfim, não acho que o caminho é por aí...

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    2. Você não entendeu. Imagina duas populações distintas com uma distribuição dos divórcios segundo uma normal e com média do ano de divórcio diferente

      Chama de conservadores e progressistas, ou tradicionais e modernistas

      Quando você agrega, você tem a forma de U (mais precisamente de M ) ..... uma distribuição bimodal.

      A idéia é de que as pessoas se comportam de modo diferente quanto ao casamento e migram de um grupo para o outro.

      Assim, você pode estimar via algumas proxy como apoio a casamento gay, usuário de drogas ou filiação a partidos de esquerda, um modo de estimar como a população se divide entre esses dois grupos.

      Chama o X ou o Antoninho que ele explica pra você

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  4. Só conversar com a futura esposa bêbado faz com que a descoberta do primeiro ano seja terrível. Após 25 anos, os filhos estão saindo de casa e o tempo urge...

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    1. Vc poderia desenvolver isso mais? Isso é uma história pessoal? Se for, conta aí vai.

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  5. "Pra quem não acha que há uma série de cálculos e contas nas decisões que tomamos (tão rápidos e inatos (second-nature) que nem os percebemos), deve ser difícil entender como uma mudança no custo do divórcio parece ter contribuído para "destravar" o divórcio entre milhares de casais:o divórcio aumentou de cerca de 28 mil para cerca de 80 mil em alguns anos. É muito."

    Este raciocínio não está correto, é justamente o contrário. As pessoas não fazem uma série de cálculos para se casar. E, por isso mesmo, o impacto de variações no preço é grande. Se custa menos casar e custa menos se separar, as pessoas podem se dar ao luxo de, cada vez mais, tomarem essas decisões com base no impulso.

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    1. "Se custa menos casar e custa menos se separar, as pessoas podem se dar ao luxo de, cada vez mais, tomarem essas decisões com base no impulso."

      Não entendi como isso que você disse não é consistente com a história de que as pessoas fazem contas (pra divorciar-se, mas pra casar-se também).

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    2. O que eu quis dizer é que uma variação deste tamanho se explica mais por vieses cognitivos do que por cálculos racionais, o custo abaixou muito pouco para explicar tamanha mudança se os indivíduos realmente fossem mais inteligentes.

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  6. Provavelmente, há uma sequência casa/verifica se é compatível/tem filhos. Provavelmente, os números de divórcios no início são de relações onde não houve compatibilidade no início e cada um foi para o seu lado ou para casais que não seguraram a onda de terem o filho. O índice menor depois pode ser que, uma vez que resistiram ao período do filho bebê, os casais passem a se dedicar mais aos filhos e evitem se divorciar. E o aumento depois pode ser explicado pela "demanda reprimida" de se separarem enquanto os filhos são crianças, e aí fazê-lo quando eles já estão mais independentes/crescidos.

    Para testar, teria que analisar no processo se há filhos envolvidos e quais as idades destes.

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  7. Continuando, poderia verificar algum efeito-placebo, que e´analisar o comportamento dos casais sem filhos. Se ele continuasse com esse formato em U, a hipótese filhos seria enfraquecida.

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  8. Talvez mercado de casamento seja importante para explicar alguns efeitos demográficos e algo no mercado de trabalho. A gente tá interessado no mercado de casamento como variável dependente ou explicativa nessa história? Mais, mercado de casamento é um componente suficientemente relevante para explicar produtividade? Ou é só uma aplicação curiosa do ferramental da economia... (just some random thoughs I have when I read stuff on marriage markets)

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  9. Não seria interessante desconsiderar divórcios posteriores ao primeiro? Caso a pessoa seja um Fábio jr. da vida e se case uma vez por ano, os dados de divórcio num período curti não ficar super-estimados?

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  10. Concordo que os filhos podem ser uma explicação para o U invertido. Existe o choque de adaptação inicial (aumento dos divórcios) passado isso vem os filhos e um projeto de vida em comum ( criação dos filhos) e depois com a saída destes de casa, o casal volta a ficar sozinho e as diferenças podem perturbar novamente a vida conjugal. Sim e existem vários estudos mostrando que o casamento tem um efeito positivo sobre a saúde do homem. Homens, não abreviem a sua vida: casem-se!!

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