quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Pode regulação governamental causar abstinência sexual? O caso do Japão


Uma olhada nas análises dos dados demográficas de países desenvolvidos e até os subde..oops, digo "em desenvolvimento" revela a existência de ao menos três tendências:

  • As pessoas estão casando menos e mais tarde;
  • As taxas de fertilidade estão diminuindo;
  • O número de domicílio com apenas um único ocupante está aumentando. 

No Japão essas tendências são particularmente acentuadas. Em excelente artigo publicado esse fim de semana pelo jornal Britânico The GuardianAbigail Haworth analisa o que o próprio governo japonês vem chamando de "síndrome de celibato": a falta de sexo e de envolvimento em qualquer tipo de relação romântica por uma enorme fração da população abaixo dos 40 anos. O artigo está aqui.

Um survey feito em 2011, citado na reportagem, fala que cerca de 61% dos homens solteiros e 49% das mulheres entre 18 e 34 anos não estavam em nenhum tipo tipo de relação (imagino que isso exclui também"ficadas" e "tico-tico-no-fubá").

O fenômeno é intrigante.

Primeiro porque a população Japonesa (cerca de 126 mi) está sabidamente encolhendo. E as previsões são alarmistas: em 2060 a população, dizem os demógrafos, será apenas 2/3 do que é hoje

Nota para economistas: uma taxa de crescimento populacional menor pode não ser necessariamente ruim do ponto de vista econômico. Pelo menos desde o modelo de crescimento econômico de Solow, sabe-se que, tudo mais constante (tecnologia, depreciação do estoque de capital etc) e sob uma longa lista de suposições, a redução da taxa de crescimento aumentaria o nível estacionário de produto per capita. Todavia, se não houver ajuste na taxa de poupança, a redução na taxa de crescimento demográfico pode levar a um uso intenso do estoque de capital da economia (sobreinvestimento) para além do que é considerado ótimo, tal como definido pela "regra de ouro" do modelo. Fim da nota.

O fenômeno é intrigante também porque as causas parecem ser um mix de regulação governamental ruim: de um lado, o governo parece criar todo tipo de dificuldade para regulamentar o chamado concubinato. De outro, e esse parece um aspecto central nessa história de abstinência sexual/romântica, o Japão é famoso por fornecer condições nada amigáveis para mulheres no ambiente de trabalho (veja o que diz esse relatório do Fórum Econômico Mundial aqui). Talvez essa falta de friendliness no ambiente de trabalho para com mulheres ajude a explicar o porquê de 70% delas deixarem o emprego depois do primeiro filho. Resultado: as mulheres evitam casar para não prejudicarem suas carreiras. Falando sobre as perspectivas de trabalho para as mulheres casadas, uma entrevistada na reportagem diz:
"The bosses assume you will get pregnant." Once a woman does have a child, she adds, the long, inflexible hours become unmanageable. "You have to resign. You end up being a housewife with no independent income. It's not an option for women like me."
É menos claro qual mecanismo por trás da abstinência masculina. Fala-se em rejeição de valores tradicionais, de papeis tradicionais e até de avanços tecnológicos que estariam criando "substitutos" parciais para  a interação entre as pessoas -- sexual e social em geral.

Entender as motivações masculinas pode ser sociologicamente importante mas talvez irrelevante para os desafios demográficos que as dificuldades por parte das mulheres em conciliar carreira e família -- com consequente "celibato romântico" -- criam. Afinal, uma andorinha só não faz verão. 

Um comentário:

  1. "que estariam criando "substitutos" parciais para a interação entre as pessoas -- sexual e social em geral"

    reminds me of an article I read couple of weeks ago that goes on internet porn, called "your brain on porn". no kidding, it seems reliable. perhaps japanese lads are swaping human interaction for it.

    ResponderExcluir