(Esse é um texto velho meu, que já saiu em uma revista de moda. O Antoninho me disse que como este blog está uma bosta, eu devia começar a publicar esse tipo de coisa aqui.)
A atual visão sobre a economia brasileira e seu futuro
depende crucialmente da posição geográfica do analista. Cariocas e gringos apresentam os dois
extremos da discórdia. Quem será que está certo? (Por favor note que não
emprego o termo “gringo” com sentido pejorativo - pelo menos não mais do que o
termo “carioca”).
Ponto de vista carioca:
“poço sem fundo”
De acordo com os cariocas, a economia brasileira seguirá
tendência de piora, sem reversão no horizonte relevante. Os erros de política
começaram no início do Governo Dilma e se tornaram mais graves com o tempo. A
lista é conhecida: (i) a falta de liberdade para Banco Central de subir
livremente os juros, (ii) a expansão descuidada do crédito público mesmo após o
fim da crise, (iii) a desoneração de impostos visando o controle artificial da
inflação, (iv) a maquiagem sobre operações fiscais e elevação do déficit
público, (v) a tentativa absurda de fixar o câmbio em patamar predeterminado,
(vi) a escolha arbitrária dos setores e empresas vencedores, e assim por
diante.
Comparando o Brasil de hoje com o do Governo FHC ou Lula é
difícil encontrar pontos positivos. E a situação externa é ainda pior. Conforme
o preço de commodities cai, devido ao rebalanceamento da China, e a política
monetária americana deixa de ser tão estimulativa, o mundo deixará de ajudar o
Brasil. E sem esse amparo externo, vamos continuar caindo, e cometendo mais
erros.
A única coisa sensata é apostar que o câmbio e inflação só
vão subir. Os juros nominais também vão subir, ainda que atrasados. E a bolsa
de valores vai sofrer. Em suma, venda Brasil
Percepção do gringo: “relativamente
bem”
Em contraste, os Gringos veem o Brasil com olhos bem mais
positivos. De acordo com eles, os países emergentes continuarão a crescer mais
do que os desenvolvidos, até porque são mais pobres. Sendo assim, faz sentido espalhar
seus investimentos pelo mundo afora. Dessa forma, a comparação relevante não é
se o Brasil de hoje é pior do que o de ontem. Mas sim se o Brasil está melhor
do que seus pares, os outros países em desenvolvimento.
Quando comparamos o Brasil com outros Emergentes
importantes, não saímos tão mal na foto. É verdade que o México está em um bom
momento, fazendo muitas reformas. Mas, por outro lado, a Índia, Turquia e
África do Sul, três países com tamanho relevante, vêm apresentando desempenhos
sofríveis, muito piores que o nosso. Instabilidade política, inflação elevada,
inconsistências na condução política econômica que deixariam nosso ministro orgulhoso.
Nesse sentido, o Brasil continua sendo uma boa escolha. Os
juros aqui ainda são tão elevados quando comparados ao resto do mundo, que vale
colocar recursos em renda fixa. Várias empresas brasileiras não estão caras, e
também justificam alguma alocação. A conclusão é diametralmente oposta à dos
cariocas: compre Brasil.
Só eu tenho razão: “correndo
à beira do abismo”
Tanto cariocas quanto gringos têm bons argumentos. Mas tenho
uma forma diferente de abordar o problema, que me faz parecer mais esperto do
que todos os outros. É assim:
O correto é pensar no Brasil como um investimento que terá
bons retornos a menos que algo dê errado. Como alguém correndo à beira do
abismo, que não se afasta dele mesmo se pudesse. Se não houver alguma nova
crise internacional, ou uma surpresa ingrata como inflação nos EUA, os retornos
do Brasil serão bons quando comparados aos dos países desenvolvidos. Isto é, os
cariocas estão errados.
Contudo, se houver qualquer choque negativo, que perturbe
esse frágil equilíbrio, a economia do Brasil sofrerá muito. Se bater um vento
forte, caímos no desfiladeiro. Daí o Real vai apanhar perante o Dólar, a
inflação vai subir, a Bolsa vai afundar, e o gringo é que está errado. Que tal?
Good stuff!
ResponderExcluirEsqueceram de olhar a questão ideológica. O governo do PT é contra ações que realizem sucesso.
ResponderExcluirDia desses estava lendo um livrinho do banco mundial sobre as medidas para o Brasil crescer com igualdade social e preservação ambiental. Uma lista imensa de reformas econômicas, sociais e até ambientais.
Quase nada foi feito, e agora muito vai ser desfeito.
Acho que não é alguém correndo a beira do abismo, é alguém louco para pular nele .... quando vai pular ?
Porque os "pares" estão uma bosta, a gente sendo merda não fede tanto.
ResponderExcluirInfelizmente não dá pra concordar...
Finalmente um bom post dessa criatura!
ResponderExcluirConcordo, mas levanto alguns pontos que podem ser relevantes. A primeira questão seria quanta grana entrou comprando o "Brasil de ontem". Como sempre digo, talvez tenhamos sido "salvos" pelo tappering, pois se o USGG10YR andasse por mais alguns anos em 1,7% o acumulado de grana e de cagadas macro seria desastroso. O segundo ponto é que com o ambiente externo claramente diferente, o governo deveria retornar imediatamente à mediocridade anterior e se afastar da imbecilidade atual.
ResponderExcluirQual a probabilidade atribuída a um choque adverso nos próximos anos? Abs
ResponderExcluirProfessor, tá ruim mesmo. Eu estou preocupado com o país. Entro aqui e me deparo só com exercício de econometria. Não estou entendendo.
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