Vamos supor que existe
evidência dizendo que freios ABS reduzem inequivocamente a chance de acidentes. A
Wikipedia diz que não. Como sói ocorrer, o apetrecho traz benefícios em alguns
casos, mas não em todos. Por exemplo, um estudo australiano diz que a chance de batida
em estrada não asfaltada aumenta 35% quando o veículo tem freios ABS.
Voltando ao ponto,
vamos supor que a evidência seja inequívoca: ponha um ABS no carro e a chance
de acidente se reduzirá de forma significativa. Como reagir a esta evidência?
Bryan Caplan ensina
que as duas reações típicas – cruzada e negação – não
são desejáveis. A seguir reproduzo ipsis litteris o argumento, com adaptação para o problema em tela.
Cruzada: freios ABS reduzem acidentes, acidentes são ruins logo freios ABS devem ser obrigatórios. Discordar disso é negar a ciência.
Negação: Freios ABS não devem ser obrigatórios, logo de duas uma: ou eles não reduzem acidentes ou acidentes não são ruins.
Ao invés da Cruzada ou Negação, há uma terceira via, que pode ser chamada de:
Tolerância Cautelosa: freios ABS reduzem acidentes e acidentes são ruins. Mas também é verdade que carros sem ABS têm vantagens. A mais óbvia é a de serem mais acessíveis. Há também estudos mostrando que eles incentivam direção defensiva, com externalidades positivas. Não é evidente que os custos sejam maiores do que os benefícios. É possível que os motoristas que dirigem carros sem freios ABS subestimem o risco de acidentes. Sendo assim, o governo deve publicar a evidência sobre os riscos de acidentes em carros sem freios ABS e deixar os indivíduos escolherem entre carros com ou sem freios ABS.
Antes de concluir que
o argumento baseia-se em dogma liberal, o antiliberal deve lembrar que ele faz
uso de Tolerância Cautelosa a maior parte do tempo, muitas vezes em escolhas
que são mais perigosas do que dirigir carros sem freios ABS, por exemplo, voar
de asa delta, comer gordura ou, talvez a mais perigosa de todas as atividades,
simplesmente ficar em casa.
Diante da evidência de que ficar em casa pode causar a morte, parece errada a recomendação de proibir as pessoas de ficar em casa.
Simplesmente ignorar o fato também pode ensejar acidentes que poderiam ser evitados.
O correto é informar as pessoas sobre os riscos e deixá-las escolher.
O guitarrista do Yardbirds poderia estar vivo se alguém explicasse a ele o risco de tocar seu instrumento na banheira. Mas se o governo tivesse proibido a prática, talvez não fosse possível a mim parar de escrever este post e ouvir Heart Full of Soul.
E do ponto de vista das externalidades dos acidentes? Um argumento a favor da obrigatoriedade, não pode ser a redução dos custos públicos e privados com esses acidentes, sejam na fluidez do tráfego, resgate, saúde pública?
ResponderExcluirFaltou o "Patrocínio: Volkswagen"
ResponderExcluirAs externalidades do álcool são maiores e, nem por isso, a sociedade exige a proibição. A tributação sobre carros, fumo e álcool deveriam dar conta do recado. O Volvo é mais seguro que um Gol com ABS. Vamos obrigar todo mundo a comprar um Volvo? Resolvemos assim todas as suas preocupações (e eu ganho mais uns trocados com o patrocínio da Volvo). Fazer política pública de forma inteligente é pesar custos e benefícios.
ResponderExcluirCara, você tem que aparecer mais por aqui!!
ResponderExcluirmuito foda!
ResponderExcluir1) O contrafactual é o cinto de segurança. 70% da população não usava antes cinto, havia informação assimétrica e as pessoas assim não escolheriam da melhor forma. Custo de informar as pessoas sobre riscos muito maior e menos duradouro do que obrigar ao uso. Da mesma forma que o cinto dfoi benéfico, o ABS tambem o será.
ResponderExcluir2) Um ponto importante não foi considerado. ABS pode além de reduzir acidentes, pode reduzir, DADO o acidente, contusões graves, fraturas, óbitos, etc.
3 ) Wikipedia?
A diferença com o cinto é que o preço dos carros aumentará 8%. Não sei se ficou claro, mas estou falando de custo x benefício. Uma pergunta para quem tiver a resposta que pode nos ajudar: o seguro é mais barato se o carro tiver ABS, tudo mais constante? Acho que as seguradoras fazem a conta direito. O segundo ponto é bobagem; pensa um pouco mais. Qual o problema com a Wikipedia? Melhor do que 99% da informação que circula por aí, não?
ResponderExcluirSe as evidencias disponiveis negam o ABS como instrumento de maior seguranca para os passageiros, nao ha muito o que fazer alem de continuar pesquisando.
ResponderExcluirTrabalho no setor de testes de seguranca de uma multinacional automobilistica e achei seu post horrivel. Sinto muito!
Que comentário de merda.
ExcluirMilton Friedman teve uma discussão similar com o (jovem) Michael Moore. O raciocínio vai na sua linha, Celso. Abs
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=87Dm6g9zH1c
Ei garotada, alguém sabe me dizer por que o Laurence Ball não ganhou o prêmio nobel ? Por que todos os new-classical que ele despreza já ganharam e ele ainda não ......
ResponderExcluirPosta mais caramba! Bem legal. E gosto do seu estilo.
ResponderExcluirA abordagem é excelente, eu só discordo do alvo, pois não vejo os benefícios superarem os custos no caso de carros serem mais baratos. Quer dizer, não entendo porque, em relação a carros especificamente, um preço mais baixo seja socialmente benéfico. Há mais congestionamentos, mais poluição e, ainda que o risco de acidentes não seja necessariamente maior, o número absoluto tende a ser, não? Claro, se pode pensar que em razão do aumento no tráfego, e a consequente redução da velocidade média, o risco de acidentes graves seja menor.
ResponderExcluirVinícius, você captou bem um dos pontos (análise custo benefício), mas dá menos peso à questão da intromissão que pode se tornar excessiva.
ResponderExcluirRealmente acho que há carros demais e faz tempo que o governo deveria ter retirado os estímulos na minha opinião. Dito isso, se o objetivo é reduzir o número de carros com uma abordagem dessas (obrigando airbag), tenho uma proposta que pode ser ainda mais eficiente: permitir apenas a compra de Porsches ou equivalentes a partir de 2014. Os carros serão melhores em todos os sentidos (inclusive segurança) e, provavelmente, haverá redução de congestionamentos.
Será que o bem estar vai aumentar?
Antes de achar que eu estou de sacanagem, veja que na essência é disso que estamos falando. Porque não obrigar os carros a terem tração 4x4? Porque não obrigar os carros a terem motores maiores? O cidadão que compra um Chevette corre risco maior do que aquele que compra um Mercedes. Tenho certeza que proibir o Chevette vai deixar o cara triste. Aliás, vi um Chevette zero hoje a caminho do escritório. Sensacional!
As pessoas têm que ser informadas dos riscos do cotidiano e algumas coisas que gostaríamos de fazer devem ser mesmo proibidas. Agora, obrigar ABS me parece um pouco demais. Aliás, acho que há várias prioridades para melhorar a segurança no trânsito, a começar pelo rigor com que as CNH são emitidas, sem falar ...
Veja, ninguém precisa obrigar a colocar estepe ou farol. As pessoas simplesmente não compram carros sem estes acessórios e as empresas sabem disso (pelo menos a maioria).
É incrível e interessante ver como a moçada entende que sou "contra o ABS" ou que na minha opinião "ABS não aumenta segurança". ABS é bom. Ele apenas não precisa ser obrigatório.
Obrigado a todos, inclusive ao amigo que achou o post "horrível". Tentarei escrever mais.
Se é pra melhorar a segurança, o governo podia começar acabando com essa coisa absurda de o sujeito poder transferir os pontos de sua habilitação para um terceiro. O cara comete uma infração e recebe uma punição que não lhe impõe um custo. Pra mim não faz nenhum sentido.
ExcluirOi Celso, eu concordo que uma vez que se crie uma restrição é sempre possível encontrar um benefício que a justifique, o exemplo do Porche é perfeito, e isso pode não ter fim, é sempre arbitrário. Não interpretei que você seja contra o ABS, e nem mesmo tenho posição firmada a respeito do uso, apenas extrapolei que a lei pode causar para uma externalidade adicional: a de ter menos carros nas ruas.
ResponderExcluirAbs,
Concordo
ResponderExcluirEmbora não seja esta a essência do post, mobilidade urbana tem sido uma discussão frequente no blog. Poderíamos considerar que a péssima mobilidade seja um dos motivos do alto valor dos imóveis?
ResponderExcluirNão possuo dados, mas me parece evidente que as pessoas tentam reduzir o tempo de deslocamento até o trabalho, inflando o valor de imóveis bem localizados. Caso houvesse alternativas de transporte mais humanas, as pessoas afastariam suas moradias do centro, reduzindo a demanda por imóveis centrais e elevando a oferta dos mesmos nas periferias.
quando você diz que ficar em casa é a mais perigosa das atividades, está controlando pelo tempo gasto em cada atividade?
ResponderExcluirAcho que se esqueceu de analisar a questão do "se apoderar do excedente do consumidor" por parte da montadora. Ao tornar o ABS/Airbag obrigatório até mesmo no modelo mais básico a montadora será obrigada a ofertá-lo por um menor preço do que se fosse opcional. Como o uso desses acessórios gera externalidades positivas é justificável o governo intervir para aumentar sua oferta.
ResponderExcluirComo comparativo cito o caso do ar condicionado no carro, que tem um custo para a montadora de R$300 (foi-me relatado por um executivo da indústria) mas é repassado ao consumidor por até R$5.000. Obviamente o a/c não é questão de segurança e não deve ser item obrigatório, mas em mercados mais maduros sequer fabrica-se carro sem a/c.