Motivado pela discussão "cientistas políticos e economistas" ocorrida há um tempo neste blog, vou escrever um pouco sobre o teorema de Arrow, fundamental em economia e em ciência política. Ele é o principal resultado na teoria da escolha social. Nesse sentido, assemelha-se ao teorema de existência de equilíbrio de Nash, pedra fundamental da teoria dos jogos. Mais especificamente, vou indicar algumas referências sobre formas possíveis de demonstrar o teorema.
O teorema de Arrow estabelece que
nenhuma regra de escolha social que leva um conjunto de preferências dos
indivíduos que compõem a sociedade a uma preferência social completa e transitiva pode satisfazer quatro
postulados de caráter normativo simples, quando existirem três ou mais
alternativas a serem escolhidas pela sociedade. O primeiro, domínio irrestrito,
diz que a regra se aplica a qualquer conjunto de preferências possível, por
mais estranhas ou extremas que essas preferências sejam. O segundo, critério de Pareto,
impõe que a regra satisfaça um critério de unanimidade: se todos os membros da
sociedade preferem x a y, então a preferência social resultante
diz que x é socialmente preferível a y. O terceiro, independência das
alternativas irrelevantes, estabelece que para definir a escolha social entre
duas alternativas x e y quaisquer, apenas o ordenamento entre x e y
dos indivíduos importa (por isso o nome do postulado). Finalmente, a regra deve
ser não-ditadorial, ou seja, não deve sempre definir um ditador para a
sociedade, quaisquer que sejam as preferências dos indivíduos. O teorema também estabelece que a única regra de escolha social
que satisfaz os três primeiros postulados é a ditadorial. Esses postulados são
de caráter normativo, mas não é difícil argumentar em defesa deles.
O teorema, formulado por Kenneth
Arrow em sua tese de doutorado, foi publicado com o título “A Difficulty in the
Concept of Social Welfare”, no Journal of Political Economy em 1950, e
transformado no livro “Social Choice and Individual Values” editado pela Cowles
Foundation em 1951. Originalmente, Arrow não impunha o critério de
Pareto e sim dois outros postulados: que a regra de escolha social fosse monótona e sobrejetiva (qualquer preferência social pode ser obtida por meio de algum conjunto de preferências individuais). Em
1963, Arrow acrescenta um novo capítulo ao livro, chamado
"Notes on the Theory of Social Choice”, onde discute a literatura que se
seguiu à publicação da sua tese, reformula o teorema e discute o critério de
Pareto, além de outras coisas.
O livro virou referência
fundamental em economia. Elegante e conciso, discute a teoria de escolha social
e demonstra o teorema, discutindo as suas implicações. A demonstração original usa
o conceito de conjuntos decisivos. Outras demonstrações do teorema surgiram ao longo dos anos. Entre elas, a prova de Barberá, “Pivotal
Rules: A New proof of Arrow´s Theorem” publicada na Economic Letters em 1980, desenvolve e utiliza o conceito de eleitor pivotal. Geanakoplos, em artigo
publicado na revista Economic Theory
em 2005, mas que já havia circulado por alguns anos, fornece três formas elegantes
e concisas de se provar o teorema (daí o título do artigo, “Three brief proofs
of Arrow´s impossiblity Theorem”). Recentemente, Yu publicou uma prova que
simplifica o método de eleitor pivotal de Geanakoplos (“A One-Shot Proof of
Arrow´s Impossibility Theorem, Economic
Theory, 2012).
Reny (“Arrow´s Theorem and the
gibbard-Satterthwaite Theorem: a Unified Approach”, Economic Letters, 2001) oferece uma demonstração do Teorema de
Arrow lado a lado com uma demonstração do Teorema de Gibbard e Satterthwaite,
outro resultado fundamental em economia, que relaciona escolha social com
comportamento estratégico e desenho de mecanismos (como essa nota saiu já bem
maior do que eu desejava, deixo para discutir esse resultado em uma outra
ocasião). Yu (“A One-Shot
Proof of Arrow´s Theorem and the Gibbard-Satterthwaite Theorem, Economic Theory Bulletin, 2013)
demonstra, de modo simples e unificado, os dois teoremas.
Esses artigos são leitura
obrigatória para qualquer pessoa que deseja se especializar em teoria
da escolha social. No Brasil, Danilo Santa Cruz Coelho, orientando de Salvador
Barberá na Universidade Autônoma de Barcelona e atualmente pesquisador do
IPEA, é um importante pesquisador brasileiro nesse campo tão
nobre mas árido da economia.
Belo texto cara
ResponderExcluirBem vindo ao blog, Zé!
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