A ascensão da China à nova potência mundial tem transformado
o panorama geopolítico. A seguir uma cadeia de ações e reações no jogo pelo
poder militar e controle energético durante a próxima década.
1) A economia chinesa se tornou a segunda maior do mundo.
Nos próximos anos ela continuará convergindo e eventualmente atingirá o tamanho
da economia americana. Nada mais natural, a China vai querer exercer poder
político condizente com sua força econômica. Devido à proximidade geográfica, a
primeira região desejável como zona de influência é o Sudeste Asiático. A
discórdia sobre a posse japonesa das duas pequenas ilhas e a recente criação da
zona de defesa aérea são exemplos das intenções chinesas.
2) Como reação aos avanços chineses, os países do sudeste
asiático pedem mais presença militar americana na sua região. Contudo, para
manter sua superioridade e consequente poderio, os EUA têm de deslocar recursos
que atualmente se encontram no Oriente Médio. Foi-se o tempo em que a
quantidade de armamentos convencionais e recursos financeiros eram suficientes
para lutar várias guerras. Além disso, a revolução do gás de xisto americana em
muito diminuiu sua dependência energética. Sendo assim, para os EUA, tornou-se
conveniente chegar a algum acordo no Oriente médio, que permita sua gradual
saída. O recente acordo nuclear com Irã deve ser visto como consequência dessa
motivação.
3) Com o fim das sanções comerciais o Irã voltará a se
estabilizar sua economia, e tornar-se mais estável politicamente. O efeito
disso sobre a oferta de petróleo é pouco importante, já que o Irã tem produzido
e vendido praticamente toda sua capacidade. Por outro lado, a possibilidade de
que as gigantescas reservas de gás natural iranianas possam finalmente ser exploradas
é um sonho europeu. Com a construção de uma tubulação através da Turquia, a
Europa poderia finalmente se ver livre das intempéries da Rússia, atualmente seu
primordial fornecedor de energia. Talvez o único país europeu que continue a
diplomaticamente aturar os abusos do Governo russo seja a França, que com
matriz energética predominante nuclear, não tem tanto a ganhar com o gás
iraniano.
4) Outra consequência da recuperação do Irã é a oferta de
petróleo originária do Iraque. O Governo xiita iraniano teria todos os
incentivos a ajudar a atual liderança xiita iraquiana a se estabilizar no
poder, e também organizar sua economia. Se isso vier a acontecer, o Iraque
poderá passar a produzir imensa quantidade de petróleo, e com isso atrapalhar o
controle de volume e preços dessa commodity, atualmente realizado pela Arábia
Saudita.
5) As constantes críticas e ameaças de Israel ao
reerguimento do Irã não devem preocupar. Já passou o tempo em que um bombardeio
israelense era alternativa efetiva contra o desenvolvimento nuclear iraniano.
Por outro lado, há riscos significativos de confrontos militares no Iraque. Para
evitar a soberania xiita e a produção de petróleo iraquiano, o Governo sunita
da Arábia Saudita tem todos os incentivos para financiar os militantes (também
sunitas) no Iraque. Este país será o principal palco para o teatro geopolítico
durante o próximo ano, com possível eclosão de guerra civil e total descontrole
político.
Esqueceu de levar em conta o projeto comunista para criar o Caos no Oriente Médio a qualquer custo, e a emergência de regimes totalitários em antigas democracias economicamente falidas.
ResponderExcluirAnalise interessante. Acho que a solução nao bélica dada à crise Síria do ano passado é outra evidencia do gradual crescimento da preferencia yankee por intervenções diplomáticas no Oriente médio, em detrimento da participação de longas, irracionais e sangrentas guerras
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