segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A grama do vizinho


Muita gente, acadêmicos, colunistas, políticos ou outros participantes do debate público, atribui as mazelas da política contemporânea – a incapacidade do governo de resolver problemas cruciais do país e a apatia, desconfiança e alienação dos cidadãos em relação à política – às debilidades de nossos partidos políticos. Congressistas estão tão interessados na própria reeleição que não cuidam nem são capazes de pensar no bem público. O governante, mais preocupado com a sua popularidade pessoal, reserva pouco tempo para lidar com os problemas da nação, enfrenta dificuldade para formar maiorias congressuais necessárias à aprovação dos projetos encaminhados ao parlamento ou à construção de acordos construtivos com o Congresso.
As eleições giram em torno dos candidatos, suas personalidades e imagens, ou da propaganda mais criativa exibida na televisão. Os programas dos partidos são apenas meras formalidades para entreter os militantes partidários e dar alguma satisfação à mídia. E os principais culpados por essa situação são os partidos.

Brasil? Não, essa é a política nos Estados Unidos, segundo a descrição do cientista político John Aldrich, em tradução livre. O parágrafo acima foi retirado do início do primeiro capítulo do seu livro Why Parties. A Second Look (li no Kindle e não consigo localizar a página referente à versão impressa para passar a referência exata). Aldrich, é importante esclarecer, não concorda com essa visão negativa a respeito dos partidos políticos nos Estados Unidos. O ponto principal do livro é justamente mostrar que os partidos foram uma invenção institucional importante para resolver problemas de escolha coletiva nas arenas parlamentar e eleitoral. Mas a citação é interessante para mostrar as convergências a respeito de como a opinião pública aqui e nos Estados Unidos – e em diversas outras democracias também – enxerga a política e os partidos políticos.

Falar mal da política americana virou arroz com feijão. Ainda assim, é útil usar os Estados Unidos para mostrar que o sistema majoritário operado por dois partidos ideologizados pode funcionar pior – ou no mínimo tem tantos problemas, alguns até muito semelhantes – que o sistema proporcional pluripartidário de partidos não programáticos como o brasileiro. Às vezes, a grama do vizinho mais rico apenas parece ser mais verde.

11 comentários:

  1. Muita gente (...) atribui

    ResponderExcluir
  2. Boa Ricardo. Eu me lembro que no boom do último ciclo de crescimento o sistema bipartidário americano era elogiadíssimo por criar o ambiente do sucesso econômico de então. No ciclo atual, o sistema bipartidário é responsável por todas as mazelas...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não, Rodrigo. Estamos aqui discutindo sistemas eleitorais. E o sistema eleitoral proporcional gera muito mais dificuldade de se chegar a acordos. Usar o caso dos EUA agora, ou dos EUA nos anos 20 não vale! Tem que olhar pra evidência mais geral, e ela atesta a absoluta superioridade do sistema distrital, em virtualmente todas as dimensões. Principalmente, é verdade, na comparacao com o proporcional de lista FECHADA

      Excluir
    2. Dudu, o meu ponto é exatamente este: não se pode usar um caso específico no meio de um ciclo (crescimento ou recessão) para inferir sobre o sistema como um todo. Não me referia ao sistema americano dos anos 20 mas ao de menos de 20 anos atrás, no final dos anos 90.

      Uma dúvida, quando se compara sistemas eleitorais, qual a métrica que é utilizada?

      Excluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Esse é o processual da atividade política, é independente da zoeira partidária. Deve ser assim no Brasil, EUA e em qualquer parlamento. Mas se cada parlamentar luta por sua função objetivo, a arena parlamentar é o espaço capaz de gerar um resultado de debate, que seria a escolha social.
    A diferença entre nós e the americans é que eles conhecem um pouco melhor seus parlamentares, de tal forma a escolher aqueles que têm um conjunto de objetivos privados mais parecidos. O eleitor controla de perto e pode trocar quando vê que as funções objetivo estão desalinhadas. O cara sabe que o parlamentar dele não vai defender aumento de imposto e quer menos gasto do governo. Aqui ninguém sabe quem elegeu, nem os nomes dos deputados que o Tiririca arrastou pra dentro. E tem um monte de suplente lá tomando café, não estão ligados a eleitor algum. Não sabemos nem quem absolveu o deputado condenado que continua cumprindo o mandato da cadeia.

    ResponderExcluir
  5. Discordo imensamente. O sistema distrital é absolutamente superior ao proporcional em locais onde não há fragmentações sociais muito importantes. Ele está associado, acima de tudo, a menos corrupção. Sugiro que se estude com cuidado "The Economic Effects of Constitutions", do Persson e Tabellini.
    Adiciono que os cientistas políticos, inclusive os bons como o Ricardo ou como o Carlos Pereira, têm forte viés a favor do proporcional (e nós economistas somos pró-distrital, é verdade). Não entendo direito porque, dado que a evidência (a séria, não as correlações que normalmente os cientistas políticos chamam de causalidade) é totalmente desfavorável. Parece-me que eles dão peso demais à questão da representatividade, e pouco peso para a questão da corrupção. Mas qual delas parece mais importante para o caso brasileiro???
    Distrital: menores gastos de campanha; voce conhece mais os candidatos, dado que eles raramente passam de tres por distrito; você pode mais facilmente cobrar o candidato, pois ele vai na padaria perto da sua casa; nao existe essa história de que voto distrital nao elege politicos de envergadura nacional, isso é uma mentira; no distrito do Tony Blair, ele se elegeu; no distrito da Marina, ela provavelmente se elegeria, assim como o Lula, como o Aécio e como o FHC se elegeriam nos seus.
    Desculpem-me, mas um economista fica tenso quando alguém defende o sistema eleitoral proporcional!
    Por fim, num regime distrital nunca teríamos eleito um tiririca da vida...só por essa, já vale a pena

    ResponderExcluir
  6. pluralista o sistema Brasileiro? na teoria pode ate ser, mas na pratica parece mais dualista principalmente nos centros principais. PSDB, PT e PMDB dominam nao?

    ResponderExcluir
  7. nao eh exatamente esse o ponto, o ponto eh que com proporcional o numero endogeno de partidos aumenta, tornando necessario comprar mais gente pra aprovar qquer coisa.
    mas o mais importante eh que o distrital gera menos corrupcao, tem muito mais accountability e tem campanhas eleitorais muito menores dado que sao geograficamente limitadas

    ResponderExcluir