É possível ser alguém "do bem" sem ser altruísta? Altruísmo é a ação desinteressada pelo bem-estar alheio. É a ação que beneficia outra pessoa mas traz apenas custos para o sujeito que a pratica. Logo, para ser genuinamente altruísta a ação não pode estar motivada por qualquer tipo de benefício pessoal, nem no curto nem no longo prazo.
É natural então se perguntar: existe altruísmo?
Enigma evolucionário
Atos altruístas e de cooperação colocam desafios para série de concepções sobre o comportamento humano e a própria evolução da espécie. Se somos criaturas egoístas preocupadas com nossa sobrevivência, pergunta-se: por que nos importaríamos em gastar nossos recursos ajudando estranhos quando isso é apenas custoso e, portanto, conspira contra nosso próprio sucesso reprodutivo? A questão até hoje intriga biólogos evolucionistas mas também economistas, matemáticos, sociólogos e antropólogos.
É natural então se perguntar: existe altruísmo?
Enigma evolucionário
Atos altruístas e de cooperação colocam desafios para série de concepções sobre o comportamento humano e a própria evolução da espécie. Se somos criaturas egoístas preocupadas com nossa sobrevivência, pergunta-se: por que nos importaríamos em gastar nossos recursos ajudando estranhos quando isso é apenas custoso e, portanto, conspira contra nosso próprio sucesso reprodutivo? A questão até hoje intriga biólogos evolucionistas mas também economistas, matemáticos, sociólogos e antropólogos.
Explicação dos biológos
Duas explicações na verdade estão entre as mais influentes entre os biólogos: "kin selection" e reciprocidade.
Segundo a teoria de "kin selection": ajudamos outras pessoas, particularmente aqueles com os quais temos alguma relação de parentesco, porque, em alguma medida, compartilhamos genes comuns com eles. Ajudá-las aumentaria a chance de sobrevivência dos nossos genes jeito mesmo que não vivêssemos o suficiente para procriar e ter algum sucesso reprodutivo. Aí estariam as raízes, por exemplo, do nepotismo.
É razoável pensar que em vários contextos, seria muito difícil avaliar o quanto de laços consaguíneos teríamos com o outro. Mesmo neste caso, diz a teoria, aspectos como a baixa dispersão espacial do grupo populacional, poderiam garantir o funcionamento desse mecanismo na "criação" de altruísmo. Isso explicaria em alguma medida, por exemplo, a coesão social em países etnicamente homogêneos.
De qualquer forma, note que atos de generosidade dentro desse framework nada tem de altruístas. Eles estão contaminados pelo nosso interesse em prolongar nossa existência; ao menos geneticamente.
Outra explicação popular é a de reciprocidade. A ideia é simples: se existe a certeza, ou mesmo expectativa, de que interagiremos com um grupo de pessoas um número suficientemente grande de vezes, um ato unilateral de cooperação pode disparar e sustentar uma sequência de atos mútuos de cooperação entre essas pessoas. As condições exatas para esse tipo de resultado em versões "estilizadas" do problema (com horizonte infinito de interação e para certos tipos de "punição") são formalmente demosntradas nos chamados "Folk Theorems" de teoria dos jogos.
Há o caso da reciprocidade indireta também. Mesmo com estranhos e sem a expectativa de interagir com eles no futuro, ainda assim dispensaríamos bondade pelo receio de que agir de outro modo traria danos à nossa reputação. A reciprocidade (direta ou indireta) explicaria, por exemplo, o chamado corporativismo dentro de classes profissionais.
Veja que num caso ou noutro, o altruísmo e cooperação para com terceiros que floresce é, também, produto de uma conta de custo/benefício individual.
Duas explicações na verdade estão entre as mais influentes entre os biólogos: "kin selection" e reciprocidade.
Segundo a teoria de "kin selection": ajudamos outras pessoas, particularmente aqueles com os quais temos alguma relação de parentesco, porque, em alguma medida, compartilhamos genes comuns com eles. Ajudá-las aumentaria a chance de sobrevivência dos nossos genes jeito mesmo que não vivêssemos o suficiente para procriar e ter algum sucesso reprodutivo. Aí estariam as raízes, por exemplo, do nepotismo.
É razoável pensar que em vários contextos, seria muito difícil avaliar o quanto de laços consaguíneos teríamos com o outro. Mesmo neste caso, diz a teoria, aspectos como a baixa dispersão espacial do grupo populacional, poderiam garantir o funcionamento desse mecanismo na "criação" de altruísmo. Isso explicaria em alguma medida, por exemplo, a coesão social em países etnicamente homogêneos.
De qualquer forma, note que atos de generosidade dentro desse framework nada tem de altruístas. Eles estão contaminados pelo nosso interesse em prolongar nossa existência; ao menos geneticamente.
Outra explicação popular é a de reciprocidade. A ideia é simples: se existe a certeza, ou mesmo expectativa, de que interagiremos com um grupo de pessoas um número suficientemente grande de vezes, um ato unilateral de cooperação pode disparar e sustentar uma sequência de atos mútuos de cooperação entre essas pessoas. As condições exatas para esse tipo de resultado em versões "estilizadas" do problema (com horizonte infinito de interação e para certos tipos de "punição") são formalmente demosntradas nos chamados "Folk Theorems" de teoria dos jogos.
Há o caso da reciprocidade indireta também. Mesmo com estranhos e sem a expectativa de interagir com eles no futuro, ainda assim dispensaríamos bondade pelo receio de que agir de outro modo traria danos à nossa reputação. A reciprocidade (direta ou indireta) explicaria, por exemplo, o chamado corporativismo dentro de classes profissionais.
Veja que num caso ou noutro, o altruísmo e cooperação para com terceiros que floresce é, também, produto de uma conta de custo/benefício individual.
Explicação dos economistas
Há um problema claro com essas historinhas acima. Nenhuma delas consegue explicar a cooperação que se observa entre desconhecidos entre os quais não há qualquer preocupação de natureza reputacional. É o caso quando sabemos/esperamos nunca mais encontrar a outra pessoa na vida. Os economistas -- e aí se destacam nessa gigantesca literatura Ernst Fehr, Samuel Bowles, Robert Axelrod e Herbert Gintis -- saíram com uma explicação para esses casos, claramente os mais desafiadores: punição altruística.
Através de uma combinação de experimentos em laboratório e modelagem, esses economistas demonstram que as pessoas estão dispostas a pagar do próprio bolso para punir indivíduos que não cooperam e querem apenas pegar carona nos frutos da cooperação alheia. Quem já fez trabalho em grupo deve estar familiar com o problema. Pois bem. A punição seria altruística porque é custosa e não trará nenhum benefício: as interações são com desconhecidos e não há incentivos para se preocupar com reputação. Quem pune não se beneficia de nada que o sujeito punido venha a fazer no futuro.
Na presença desses "punidores altruísticos", surgiria (e se manteria) comportamento cooperativo entre as pessoas. Em prosa comum, é como se diséssemos que o que sustenta a "norma" de ajudar os mais idosos a atravessar a rua é a existência de pessoas que estão dispostas a incorrer no custo de xingá-lo por não o fazê-lo.
Bom, é verdade que isso não chega a ser exatamente altruísmo como definido láááááá em cima. Mas o que sempre me chamou a atenção aqui nessa literatura -- um dos ensaios da minha tese é sobre cooperação na presença de incerteza punitiva -- é a alcunha "altruística" dada 'a esse tipo de de punição. Sempre me perguntava: como era possível saber se isso era de fato um comportamento altruístico? Afinal de contas, a definição de altruísmo nunca se restringiu aos ganhos materiais, observáveis e sob os quais temos controle ao menos no laboratório.
O prazer de punir
Foi então que cruzei com um um paper de uns psiquiatras, neurologistas e economistas mostrando algo revelador: o ato de punir os malandros racionais que não cooperam em um "jogo de confiança" (um jogo no qual você envia R$ X para o outro jogador, o dinheiro é multiplicado, e esse outro jogador então decide quanto devolver pra você e quanto manter pra si) fez ativar mais intensamente a "área de prazer" do cérebro dos sujeitos. Ou seja: mesmo que custoso, os "punidores altruísticos" estavam derivando enorme satisfação em se vingar dos free-riders. Como eu imaginava.
Ou seja: até evidência em contrário, altruísmo nada mais é do que egoísmo disfarçado. Vida longa ao egoísmo então!
Há um problema claro com essas historinhas acima. Nenhuma delas consegue explicar a cooperação que se observa entre desconhecidos entre os quais não há qualquer preocupação de natureza reputacional. É o caso quando sabemos/esperamos nunca mais encontrar a outra pessoa na vida. Os economistas -- e aí se destacam nessa gigantesca literatura Ernst Fehr, Samuel Bowles, Robert Axelrod e Herbert Gintis -- saíram com uma explicação para esses casos, claramente os mais desafiadores: punição altruística.
Através de uma combinação de experimentos em laboratório e modelagem, esses economistas demonstram que as pessoas estão dispostas a pagar do próprio bolso para punir indivíduos que não cooperam e querem apenas pegar carona nos frutos da cooperação alheia. Quem já fez trabalho em grupo deve estar familiar com o problema. Pois bem. A punição seria altruística porque é custosa e não trará nenhum benefício: as interações são com desconhecidos e não há incentivos para se preocupar com reputação. Quem pune não se beneficia de nada que o sujeito punido venha a fazer no futuro.
Na presença desses "punidores altruísticos", surgiria (e se manteria) comportamento cooperativo entre as pessoas. Em prosa comum, é como se diséssemos que o que sustenta a "norma" de ajudar os mais idosos a atravessar a rua é a existência de pessoas que estão dispostas a incorrer no custo de xingá-lo por não o fazê-lo.
Bom, é verdade que isso não chega a ser exatamente altruísmo como definido láááááá em cima. Mas o que sempre me chamou a atenção aqui nessa literatura -- um dos ensaios da minha tese é sobre cooperação na presença de incerteza punitiva -- é a alcunha "altruística" dada 'a esse tipo de de punição. Sempre me perguntava: como era possível saber se isso era de fato um comportamento altruístico? Afinal de contas, a definição de altruísmo nunca se restringiu aos ganhos materiais, observáveis e sob os quais temos controle ao menos no laboratório.
O prazer de punir
Foi então que cruzei com um um paper de uns psiquiatras, neurologistas e economistas mostrando algo revelador: o ato de punir os malandros racionais que não cooperam em um "jogo de confiança" (um jogo no qual você envia R$ X para o outro jogador, o dinheiro é multiplicado, e esse outro jogador então decide quanto devolver pra você e quanto manter pra si) fez ativar mais intensamente a "área de prazer" do cérebro dos sujeitos. Ou seja: mesmo que custoso, os "punidores altruísticos" estavam derivando enorme satisfação em se vingar dos free-riders. Como eu imaginava.
Ou seja: até evidência em contrário, altruísmo nada mais é do que egoísmo disfarçado. Vida longa ao egoísmo então!
Acho que a natureza do problema reside na sua definição de altruísmo. Ela é muito utópica e desprovida de sentido.
ResponderExcluirSeria melhor dizer que egoísmo e altruísmo não se diferenciam nos métodos mas sim nos fins. Altruísmo é expandir para fora de si o ego e portanto fazer o bem ao outro e a si mesmo vão se misturar.
Tirando isso, o post é legal.
Ficaria melhor com mais gostosas na foto
Concordo com o utopismo da definição. Mas ela não é minha, e sim dos dicionários e artigos sobre o tema.
ExcluirSe você define altruísmo só, e somente só, pelo recipiente da ação (outros), aí eu me pergunto: existe egoísmo? Sim, porque por essa definição não seria todas as relações de troca um ato de altruísmo? Just food for thought...
Talvez você goste de saber que na literatura de psicologia social, os caras tentam fazer uma distinção entre altruísmo "fraco" e "forte" (eles não chama assim, mas é algo to this effect). Mas como eu disse, ao jogar fora os motivos de quem perpetra a ação, a definição fraca não mepárece servir pra distinguir muita coisa.
No mais, obg pelo compliment.
PS: Quem ou o que não ficaria melhor com "mais gostosas" na foto? Dito isto, nosso blog não é de humor nem quer competir com playboy e afins - a despeito do que as bobagens do X, A do B e essas fotos do meu post ou outra com "piadas internas" no cabeçalho do blog possam ter sugerido.
Ok sr. aplicações não convencionais da microeconomia kkkk
ExcluirMas dê um bom motivo para não comer market share dos outros blogs de sexo e humor.
O custo marginal em ofertar esses produtos é zero, pois humor, sexo e economia são uma produção conjunta .... na verdade existe custo em separa-los.
Vocês estão em competição monopolista e se recusam a disputar mercados de custo zero ?
"humor, sexo e economia são uma produção conjunta .... na verdade existe custo em separa-los"
ExcluirImagino que você esteja se referindo a textos/blogs e não às referidas atividades.
Mesmo assim, acho que nunca vi a última decisão do copom sendo discutida em um blog/site de sexo.
Está sendo rotineiro entrar nesse blog e ver um ótimo post seu.
ResponderExcluirMais uma vez, Parabéns
Gostei muito do post, meu bem!
ResponderExcluirSe a definição de altruísmo vem de dicionários e artigos, por favor escreva a fonte. No mais, legal o post!
ResponderExcluirDesculpe a "ignorância" talvez, mas se é para chamar algo de deus, que seja essas coisas que realmente não conseguimos explicar, ou melhor, não conseguimos explicar com nossas ferramentas convencionais.
ResponderExcluirE só pra reforçar, sabemos de onde vem o ar, a água, a excitação, os bebês... Mas de onde sera que vem o altruísmo, a pena, a vontade de querer saber..?
ExcluirTenho uma pergunta, qual termo melhor explicaria alguém que faz o bem, recebe pelo bem para alimentar primeiramente a si (de forma honesta e equilibrada), com o restante potencializar o bem a um numero maior de pessoas?
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