domingo, 20 de outubro de 2013

BC formalmente independente?


Contra ou a favor de uma proposta de reforma que dê independência formal ao BC?

Para os economistas mais liberais como eu, a resposta é "a favor, óbvio".  Mas na verdade não é nada assim tão óbvio,ou não deveria ser. Para começar, a evidência empírica é muito frágil aqui, pois não há como separar direito "BC formalmente independente" de outras variáveis que levam a uma inflação controlada, dado que normalmente uma atitude anti-inflação vem com um monte de coisa misturada, como uma política fiscal mais séria, por exemplo. O tão citado artigo do Alesina e Summers, no JMCB 1993 é apenas uma correlação, nada mais, não prova causalidade.

Mas mesmo concedendo que haja o benefício, e esse é meu ponto principal, a questão continua sendo não-óbvia. Isso porque essa é uma reforma que toma muito capital político, que é uma coisa escassa e precisa ser empregado onde o retorno é maior. Eu tenho aqui uma fila de reformas importantes que deveriam vir na frente: (i) previdência, (ii) fiscal; (iii) ambiente de negócios, (iv) administrativa (para aumentar eficiência do setor público); (v) educação. Tudo isso é muito mais importante que BC independente em termos da lei, principalmente se já existe uma "independência de facto" acoplada a um sistema de Metas.

Confesso, porém, que o que ocorreu com a política monetária na era Dilma me faz duvidar dos meus próprios argumentos. Na época em que "independência de facto" funcionava bem, nos anos FHC-LULA, eu não pestanejaria. Mas agora, com claros sinais de que o BC não tem mais a autonomia do passado e com a inflação de preços livres correndo persistentemente acima de 7%, vou ficando incomodado. A credibilidade de todo o conjunto de policy macro foi machucada demais na era Dilma. Nesse sentido, talvez a proposta de independência de jure pudesse ajudar a recuperar a credibilidade perdida e assim, atrair de novo o investidor que ficou corretamente assustado com a guinada heterodoxa dos últimos anos.

10 comentários:

  1. Dudu, como vc coloca independência do BC lá atrás na sua lista?
    Como que investidor vai colocar dinheiro no Br se ele não tiver a certeza que existe uma instituição que vai fazer de trabalhar manter o nível de preços estável, de forma que a taxa real de retorno dele seja mantida? Manter a estabilidade do nível de preços tb não é um dos fatores pra melhorar o ambiente de negócios?

    Rgds,

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  2. Você precisa de pouco capital político para isso ..... um presidente menos teimoso faria isso com pouco esforço.

    E quanto a Dilma fazer isso, a análise de Capital Político n faz sentido pq ela decide as coisas de supetão e passa por cima da lei o quanto for preciso.

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  3. O centro do debate internacional hoje é outro. Como manter a independência dos BCs se na hora da crise os eles precisam de um cheque em branco dos Tesouros? Hoje os bancos centrais principais estão todos inflados, e os governos ficaram com o custo político de ter ajudado o sistema. Os presidentes de BCs estão de volta à rotina do inflation target, mas ainda tem muita grana dos governos no balance sheet. Como ser independente com essa necessidade latente de muito dinheiro dos tempos de pandemônio? Isso é compatível com a independência desejável do dia-a-dia? Existiria um arranjo ótimo de balanço de banco central que garanta autonomia orçamentária e independência operacional?

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  4. Belos pontos, professor. São os mesmos que justificam uma meta de inflação menor, dada a credibilidade muito machucada ao longo dos últimos anos. Belo post!!!!

    Abs,

    FG

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  5. Dudu,

    As instituições não existem devido às formalizações da lei, mas devido à uma sociedade disposta a defende-las. A inflação está 2% acima do centro da meta, mas a sociedade já reagiu e as pesquisas mostram 80% dos brasileiros estão preocupados com o tema.

    Depois de certo "slack" o Banco Central respondeu à inflação, o governo já respondeu e todos os candidatos à oposição já responderam. Não temos mais uma força política relevante que defenda bobagens macroeconômicas.

    Com ou sem formalização do Banco Central, acho que independência de fato do BC está para ficar. Acho que podemos focar nas outras reformas que você listou.

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    1. Eu pensava assim, mas não penso mais. O governo descarrilou a política macro, Rodrigo.
      Outra coisa: instituições informais importam, claro, mas as formais também.
      De todo modo, as outras reformas são de fato mais relevantes

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  6. "A Fed chairman has to do what the president demands or the central bank would lose its independence." - Arthur F. Burns, a Fed chairman

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  7. Só faltou falar da nova meta "desemprego" do BC americano. É a nova modinha? Ou sempre foi?

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  8. Concordo com o Marcelo que a independecia formal necessita muito menos capital do que as outras reformas citadas, acho ate que o capital da independencia formal é pouco maior que o da informal. Uma dúvida o que aconteceria na regulação bancaria um BC indepedente ou a autonomia seria só para o COPOM?

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