domingo, 27 de outubro de 2013

Top 1% e ganho de escala

Antes, esclarecimento importante sobre comentários de alguns leitores.
Não, regulamentar mais estritamente operações no mercado financeiro não gerará mais rent-seeking. Aliás, comportamento oportunista foi o do lobby financeiro nos anos 1990, de demolir regulamentação justo no mercado mais propenso a problemas de assimetria informacional. Aviso: Economistas neoclássicos, se vocês não atentarem mais para falhas de mercado vamos seguir passando por neobobocas e na luta contra a heterodoxia sairemos prejudicados. Alguns mercados falham sim, com destaque para o de crédito.


Não sei quem são os 1%, nem o Stigliz pentelho sabe...mas atentem para o seguinte: o fenômeno do 1% é um fenômeno basicamente norte-americano. E em menor medida, anglo-saxão. Não é geral, então é dificil argumentar que é technological bias.

E é dificil também argumentar que é devido somente à escala (ponto do grande economista, ex-cruspiano, empresário e pai fresco, Rodrigo Celoto). Eu acho que escala é importante, não me entendam mal, mas deveria ter pego mais países...o Celoto tem o modelo correto na cabeça, é o modelo dos salários de super-stars. A ideia é que se eu vendo algum serviço que pode ser consumido a baixo custo marginal, mesmo que eu seja apenas um pouco melhor que o segundo melhor da área, eu capturo quase todo mercado. Ou, se eu gerencio um volume de ativos enorme, e sou capaz de rentabilizá-lo um pouquinho de nada a mais que o segundo melhor, todo mundo vai deixar o ativo nas minhas mãos e eu assim serei muito mais rico que o segundo melhor na minha área.

TV e globalização aumentaram enormemente a escala disponivel para os melhores. Para que vou assistir um jogo do coringão se posso ver o Barcelona?? Só se fosse louco. Daí resulta que o Neymar e o Messi ganhem zilhões e os nobres atletas do coringão não. Mesmo vale para CEOs de grandes empresas que abarcam mercados consumidores enormes. Dos anos 70 pra cá, as empresas, os atletas, os artistas, etc, se tornaram globais, e isso explica eu acho boa parte do aumento da desigualdade. Mas como nos EUA a coisa foi destacadamente mais acentuada, economics of superstar não explica tudo...

25 comentários:

  1. Quem usa a palavra "neoclássico" desse jeito é pessoal da Unicamp

    Cuidado CESG, aqui no Brasil tem uma doença tropical que se chama Sindrome de Cepal

    Economistas bons envelhecem e viram Unicampianos ..... pode ser seu caso ....

    Você tem se consultado com o Dr. Lucas e o Dr. Barro regularmente ?

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    1. O pessoal da unicamp usa essa palavra? Não seria neoliberal o q eles usam?

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    2. Eu estudo numa filial da Unicamp, e usam mais "Neoclássico" do que Neoliberal e Conservador

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    3. Melhor q neoliberal. Gostei de saber.

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    4. Não corro esse risco, gosto de equilíbrio geral e gosto de modelos matemáticos.
      Mas seja você quem for, não seja um neobobo. Estude também falhas de mercado, desigualdade, etc. E não tenha ídolos. Seguramente o Lucas e o Barro tiverem contribuições muito importantes para a Economia, principalmente o Lucas. Mas quem se agarra a ídolos não aprende a pensar direito.

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  2. Dudu, sou seu fã mas tenho que discordar em alguns pontos.

    Concordo sobre a regulamentação do mercado financeiro por motivos diferentes. Acho que a desregulamentação ajudou a intensificar a bolha. No entanto, não acho que o mercado financeiro mal regulado tenha algo a ver com a enorme concentração de riqueza observada nos EUA recentemente.

    QUEM lidera a criação de uma nova indústria tem a capacidade de concentrar renda e riqueza, seja de trabalho ou de capital, devido ao poder de mercado decorrente da liderança.

    Mudanças tecnológicas tem enorme poder de criar concentração de riqueza para os pioneiros de uma determinada indústria: veja ferrovia, siderurgia, petróleo, automobilística etc. Esta concentração NÃO É IGUALMENTE DISTRIBUÍDA ENTRE PAÍSES, porque alguns países circunstancialmente estão melhores posicionados para explorar o surgimento de uma determinada indústria.

    A indústria que mais criou valor nas últimas décadas é da tecnologia de informação, principalmente software e negócios ligados à internet. Observe na lista da FORBES o percentual de bilionários ligados a tecnologia de informação. Vale também para a renda do trabalho: veja o salário anual de um programador de software no vale do silício.

    Observe também que a esmagadora maioria das enormes empresas de tecnologia foram criadas nos EUA, com uma participação muito significativa de imigrantes ou filhos de imigrantes entre seus fundadores. Os EUA concentram talento e empreendedorismo em relação a outros países desenvolvidos: Inglaterra, Alemanha, Japão etc.

    A natureza do enorme ganho de escala desta nova indústria ajudou a concentrar ainda mais a geração de riqueza desta nova indústria nos EUA. Nenhuma outra revolução criou tantos bilionários em tão pouco tempo, concentradamente nos EUA.

    A liderança dos EUA nesta indústria criou um fenômeno tipicamente americano simplesmente devido ao fato da revolução tecnológica ter sido iniciada lá. Talvez a próxima revolução aconteça em outro lugar.

    A razão de tamanha concentração de renda é tecnológica, de natureza microeconômica, que não tem a ver com a desregulamentação financeira que só gerou um problema macroeconômico.

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    1. Ao contrário do Dudu, não gosto de nenhum dos seus pontos. A concentração de renda vem de uma "política", mais ou menos deliberada, de imobilidade social. Sugiro http://www.thenation.com/article/168265/why-elites-fail

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  3. Gosto dos seus pontos, mas que no mercado financeiro os ganhos se intensificaram com a desregulamentação excessiva dos anos 1990 que gerou tambem desequilíbrios macro e misallocation micro, disso não tenho dúvidas. abs.

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  4. Como você apagou meu post e sua reposta, aqui vai a tréplica:

    o esperto, releia o que eu escrevi, não falei que o mundo deve existir sem regulação, só está subetendido que ela deve ser mínima e é imperativo reconhecer suas limitações. Acreditar que a regulação não está sujeita a rent-seeking é patético.

    "Seguinte bobalhão: claro que regulação onde não precisa gera apenas perdas e rent-seeking. Mas porque existem falhas de mercado, precisa sim ter regulamentação."
    Quando eu disse que falhas de mercado inexistem??

    "Sim, bobalhão, tem essa dificuldade de diferencial de capital humano, mas isso só implica em ausência de regulação no seu mundo, a bobolândia."
    Se chorasse menos e prestasse mais atenção teria percebido que não era esse o meu ponto. E "essa dificuldade de capital humano" é um problema sério, que não pode ser negligenciado. Não apenas abre brechas para erros grotescos, como o baixo custo de oportunidade e capacidade dos reguladores abre espaço para captura regularória.

    "Claro, bobalhão, que o governo nos EUA atrapalhou via FMae e FMac e sua política de crédito pra todo mundo pra esconder as mazelas sociais crescentes, mas isso não invalida o ponto de que os incentivos nos mercados financeiros estavam tortos."
    Aprenda uma coisa, o ÚNICO incentivo do mercado financeiro é o lucro. Quando o governo não permite o mercado se corrigir dos excessos dá merda. A certeza do bailout gerou os incentivos que você gosta de apontar, o bailout apenas cristalizou-os ainda mais.

    Não me entenda mal, eu gosto do senhor, mas tem coisa que não dá pra deixar passar. Achar que a solução é regular pura e simplesmente e que a desregulamentação é um demônio apenas evidencia uma visão etéria e maniqueísta da economia. Claramente meu comentário gerou um incomôdo, como o propósito não é ad hominem peço desculpas se ofendi.

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    1. Você é austriaco ?

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    2. repete o ad hominem e pede desculpas!
      "patético" é não entender que time-inconsistency (promessa de deixar quebrar é sempre revista expost) nesse caso torna obviamente subotimo não regular. isso sim é patético.
      é por causa de gente como esse anônimo, que não entende as condições necessárias para que valha o primeiro teorema do bem-estar, que os neoclássicos são vistos como bobalhões por muita gente na sociedade.

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    3. Há tempos nao comento no blog. Concordo que a desregulamentaçao aumentou o rent-seeking no mercado financeiro. No entanto, efoi benéfica inclusive para aqueles que não se encontram entre os 1%.

      Deste modo, melhor ter concentração de renda do que restringir o crédito.

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    4. É, olha que maravilha que foi dar crédito indiscriminado pra pobraiada nos EUA!

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  5. não apenas time-inconsistency impede de deixar os bancos, ou você acredita que as pessoas que buscam apenas o lucro quando trabalham em banco de invesimento ao passarem pro posto de reguladores mudam suas prioidades? Além de, claro, incompetência e pressões políticas

    você continua achando que meu ponto é que tem que abolir regulação, continua errado... apenas tenha senso crítico e saiba que o mundo não é cor de rosa e que pessoas, (quem diria!) são pessoas, portanto sujeitas a diversas pressões e deficiências quando estão no posto de reguladoras

    seja realista ao analisar o mundo onde você vive e pare de achar que as coisas são maniqueístas, aí sim você deixa a Poli pra trás e começa a ser economista

    pra citar Keynes, um bom economista precisa ser “as aloof and incorruptible as an artist, yet sometimes as near the earth as a politician.”

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  6. Falhas de mercado? Alguém ainda acredita nisso?

    Ah lembrei, os esquerdistas. Por isso sempre querem mais regulamentação, afinal eles sempre sabem qual "a coisa certa a se fazer".

    Patético mesmo.

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    1. Como é que é, amigo??? Por favor elabore "não existem falhas de mercado".

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    2. Acho que ele quis dizer:

      "Não existem falhas de mercado"

      Deu para entender?

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    3. Depende do que vc quer dizer com "entender". Eu entendo que ele falou isso, não pq ele falou isso. Quando alguém fala algo tão inverossímil, ainda mais com o comentário "patético", achei que a elaboração seria tipo "não acredito nisso não, só estou zuando, tem que ter uma cabecinha beeeeem estreita pra acreditar em algo assim!! Espero que vc esteja zuando tb, amigo!

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  7. Sugestão: ao invés de usarem "Anônimo" coloquem um nome fictício: tipo "Zé", "João", qualquer coisa. Senão fica difícil de acompanhar um diálogo entre "Anônimo" e "Anônimo".

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  8. Professor, entendo que existam sim falhas de mercado. Entretanto, o mercado não tenderia a criar produtos pra corrigir essas falhas, invalidando a necessidade de regulamentações, em alguns casos ?

    Por exemplo ( bem bobo ), quando vamos comprar carro usado, sabemos que se trata de um lemon market. Então geralmente levamos alguém manjador de automóvel conosco, ou levamos o carro ao mecanico antes de fechar o negócio. Procuramos de alguma forma nos proteger dessa assimetria de informação, por que sabemos da existencia desta falha.

    Mercado de divida é algo parecido...o banco ou vende parte da sua divida, ou faz algum tipo de seguro contra default por que eles sabem que possivelmente parte dos caras pra qual ele emprestou é malaco e vai dar calote. Ou seja, ele procura soluções no próprio mercado, e não necessariamente em regulações. Obvio que isto acarreta um custo a mais, mas é um custo do próprio banco e não dividido socialmente e evitaria qualquer tipo de rent-seeking por incentivos criados a partir de tais regulações.

    Mr. Catra

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    1. Estaria certo, se não estivesse errado. Vide EUA, 2008 ("não dividido socialmente", rsrsrsrs).

      Não acho que tenha que regular (quanto mais regra, pior), mas tem que colocar uma exigência de capital lá em cima, e façam o que quiserem com o dinheiro que sobrar.

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    2. Se essa exigencia de capital existir, é regulação. :p

      Não acho muito valido 2008 por que todo mundo comprou os ativos podres por que acreditavam que eram bons. As agencias de rating falavam isso. É como se o nosso mecanico estivesse nos enganando, falando que o carro é bom quando não era. Ou seja, houve a tentativa do mercado solucionar o problema, via proprio mercado, mas deu cagada por que só havia 3 mecanicos pra discutir a qualidade do paranaue. Tipo mecanico de estrada, fala e faz o que quiser...afinal, só tem ele ali mesmo.


      Mr Catra.

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    3. http://www.nytimes.com/2008/09/27/business/27sec.html

      S.E.C. Concedes Oversight Flaws Fueled Collapse

      Also Friday, the S.E.C.’s inspector general released a report strongly criticizing the agency’s performance in monitoring Bear Stearns before it collapsed in March. Christopher Cox, the commission chairman, said he agreed that the oversight program was “fundamentally flawed from the beginning.”

      “The last six months have made it abundantly clear that voluntary regulation does not work,” he said in a statement. The program “was fundamentally flawed from the beginning, because investment banks could opt in or out of supervision voluntarily. The fact that investment bank holding companies could withdraw from this voluntary supervision at their discretion diminished the perceived mandate” of the program, and “weakened its effectiveness,” he added.

      http://www.nytimes.com/2008/10/24/business/economy/24panel.html?adxnnl=1&adxnnlx=1383303732-mqMYvdQyYLf1eSAghDgAcQ

      Greenspan Concedes Error on Regulation

      On a day that brought more bad news about rising home foreclosures and slumping employment, Mr. Greenspan refused to accept blame for the crisis but acknowledged that his belief in deregulation had been shaken.

      He noted that the immense and largely unregulated business of spreading financial risk widely, through the use of exotic financial instruments called derivatives, had gotten out of control and had added to the havoc of today’s crisis.

      "houve a tentativa do mercado solucionar o problema, via proprio mercado" - Rsrsrs

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    4. Mais um pouquinho, e pense antes de falar besteira novamente:

      http://www.rollingstone.com/politics/news/the-people-vs-goldman-sachs-20110511?page=3

      By the end of 2006, Goldman was sitting atop a $6 billion bet on American home loans. The bet was a byproduct of Goldman having helped create a new trading index called the ABX, through which it accumulated huge holdings in mortgage-related securities. But in December 2006, a series of top Goldman executives — including Viniar, mortgage chief Daniel Sparks and senior executive Thomas Montag — came to the conclusion that Goldman was overexposed to mortgages and should get out from under its huge bet as quickly as possible. Internal memos indicate that the executives soon became aware of the host of scams that would crater the global economy: home loans awarded with no documentation, loans with little or no equity in them. On December 14th, Viniar met with Sparks and other executives, and stressed the need to get "closer to home" — i.e., to reduce the bank's giant bet on mortgages.

      By February 2007, two months after the Sparks memo, Goldman had gone from betting $6 billion on mortgages to betting $10 billion against them — a shift of $16 billion.

      How did Goldman sell off its "cats and dogs"? Easy: It assembled new batches of risky mortgage bonds and dumped them on their clients, who took Goldman's word that they were buying a product the bank believed in. The names of the deals Goldman used to "clean" its books — chief among them Hudson and Timberwolf — are now notorious on Wall Street. Each of the deals appears to represent a different and innovative brand of shamelessness and deceit.

      In the marketing materials for the Hudson deal, Goldman claimed that its interests were "aligned" with its clients because it bought a tiny, $6 million slice of the riskiest portion of the offering. But what it left out is that it had shorted the entire deal, to the tune of a $2 billion bet against its own clients.

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