terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Dilema dos prisioneiros na TV

O game show britânico Golden Balls possui, em seu estágio final, um jogo parecido com o Dilema dos Prisioneiros. Ao longo do programa, os competidores acumulam uma quantidade de dinheiro. No fim sobram dois participantes, os quais precisam optar entre "Split" e "Steal".

Se ambos escolhem "Split", o montante total é dividido igualmente. Se um deles seleciona "Split" e o outro "Steal", esse último fica com toda a grana. Mas se os dois optam por "Steal", ambos terminam com zero. Fazendo a analogia com o Dilema dos Prisioneiros, "Split" corresponde a não confessar (ou cooperar com o outro jogador) e "Steal" corresponde a confessar.

Aqui vai uma explicação rápida do jogo. Quem estiver familiarizado com a ideia pode pular os próximos quatro parágrafos.

Ocorreu um crime. A polícia capturou dois suspeitos (A e B), e os colocou em celas separadas, evitando que eles se comunicassem. Não há provas suficientes, e na ausência de confissão, os comparsas terminam com uma pena relativamente branda (por exemplo, dois anos de cadeia cada um).  

O promotor então oferece separadamente a cada jogador um acordo: aquele que confessar terá uma redução de pena. Por exemplo, quem se declara culpado pega 1 ano de cadeia, e o outro fica com 10 anos. Mas se ambos confessarem, haverá mais evidência para condenação, e os prisioneiros pegam 5 anos de prisão cada.

Individualmente, o melhor para cada jogador é confessar.  Se o jogador A permanece calado, então B preferirá confessar (pega 1 ano ao invés de 2). E se A confessa, também é ótimo para B confessar (5 anos contra 10). Portanto, em qualquer circunstância, o jogador B preferirá confessar (ou seja, confessar é estratégia dominante). Para A, o problema é simétrico, de modo que o ótimo é também confessar. 

Em equilíbrio, ambos os jogadores confessam e pegam 5 anos cada. Seria melhor se eles pudessem se coordenar ficando quietos, o que diminuiria a pena para 2 anos. Mas a tentação de reduzir a própria punição faz com que os dois prisioneiros acabem perdendo.

O problema é semelhante para os envolvidos no Golden Balls. A tentação no caso é ficar com toda a grana, ao invés de dividir com o outro participante. Há uma diferença em relação ao caso dos prisioneiros: se um jogador escolhe "Steal", seu oponente fica com zero, independente de sua ação. Ou seja, a estratégia "Steal" é fracamente dominante para ambos os jogadores. De qualquer forma, a solução cooperativa (em que ambos escolhem "Split") não é um equilíbrio, pois pelo menos um dos jogadores tem incentivo a desviar e ficar com a bolada inteira ao invés de dividir.

Há uma característica importante no Golden Balls: os jogadores têm a oportunidade de conversar antes de tomar a decisão. Dessa forma, podem tentar se coordenar para induzir cooperação.

No Youtube é possível achar alguns desfechos interessantes do Golden Balls. No vídeo a seguir, o jogador da direita adota uma estratégia bem maluca para convencer seu oponente a jogar "Split":


A conversa entre os jogadores, em outras ocasiões, serve para que um engane o outro, ficando com toda a grana. O vídeo abaixo retrata uma situação desse tipo (dessa vez com bastante dinheiro na mesa):



domingo, 29 de dezembro de 2013

Desenho de Mecanismo

Uma área fascinante da teoria micro.
Um exemplo do Kaushik Basu: nos templos religiosos da Índia, eh preciso deixar sapatos do lado de fora. Mas isso gera muito roubo de sapato. Contudo, como há varias entradas, o Basu desenvolveu um mecanismo de proteção. Ele deixa um sapato em cada entrada. Como a restrição de tempo do bandido eh muito apertada, ele nao rouba em duas entradas em busca do outro par.
Basu, mas assim você aumenta as chances de outras pessoas serem roubadas!! Nao eu, que vou na Índia depois de amanha e farei como você!

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Evolutionary murderness

This week I read in Paul Seabright book.

There is ample evidence that hunter gatherers were extremely violent. Seabright argues a pro-murder gene was highly beneficial (in terms of reproductive capacity) back then, mainly as apes became more intelligent. Here is why: two stupid lions or deers fighting for a female or a territory do little physical damage to each other ( u can see this in discovery channel). The weaker quickly acknowledges his inferior conditions, leaves and DOES NOT RETURN.
Now, a shrewd ape could easily quit the fight only to later sneakly return and impregnate the winner's female. That being the case, killing him would entail a good reproductive benefit.
And hence the murder gene passed on...

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A tragédia dos acidentes de trânsito


Domingo passado, 22/12/13, ocorreu mais um trágico acidente da estrada que liga Curitiba a São Paulo, Régis Bittencourt. O motorista do ônibus provavelmente dormiu, passou reto numa curva, e o veículo caiu numa ribanceira. Morreram, pelo menos, 15 passageiros, outros 17 foram hospitalizados.

O acidente é uma tragédia em si. Mas, observei outra, assistindo à entrevista de um policial rodoviário federal que atendeu a ocorrência.

Com a privatização, a estrada está praticamente duplicada em quase toda sua extensão (falta um pequeno trecho, Serra do Café, acho). Além disso, dizia o policial, o asfalto estava bem melhor, a estrada estava mais bem sinalizada, etc. e mesmo assim - estupefato e incrédulo - o número de acidentes com vítimas e mortes não caía! Ele dizia que só podia atribuir isso ao fato de os motorista serem mais imprudentes.

Você entende agora nas mãos de quem está o destino de nossas políticas de trânsito? Você acha que conseguiremos reduzir o número de mortes no trânsito?

Não é uma tragédia anunciada?

Por que os shoppings cobram pelo estacionamento?

Nesses tempos de natal, parece fazer ainda mais sentido cobrar pelo estacionamento dos shoppings. Porém, a questão é mais antiga para mim. Já discuti isso com o Mauro e com o Dudu, mas não convenci nem fui convencido.

Eles me disseram que era custo oportunidade. Tenho dificuldade com essa explicação porque não vislumbro um shopping existindo sem estacionamento. Tenho outras objeções que vou explicitar a seguir. Eu acho que é poder de monopólio, entretanto as mesmas objeções se aplicam. Outra explicação plausível, é regular o estacionamento para evitar free-rider. Também tenho objeções.

A questão voltou-me à mente quando estava no fraldário de um shopping. É um espaço enorme, com salas para trocar os bebês, sala de amamentação e, às vezes, até uma pequena cozinha e refeitório. Lá, são disponibilizadas fraldas descartáveis, lenços higiênicos e outros apetrechos usuais para o caso. Ocorre que o fraldário ocupa, não raro, o espaço de uma loja média, tem custos materiais observáveis, mas não há cobrança, contradizendo as explicações de custo oportunidade ou de monopólio.

Vamos aos pontos que me incomodam, e quem sabe alguém faz a caridade de esclarecer este comentarista.

Primeiro, estacionamentos, em geral, não eram pagos até meados da década de 90. Há ainda vários na cidade de São Paulo que também não cobram pelo estacionamento. Ora, por que não cobravam antes e cobram agora? E por que há shoppings que não cobram pelo estacionamento?

Qualquer que seja a explicação, por que os lojistas não pagam pelo estacionamento de seus clientes e aumentam a concorrência entre os shoppings?

Ainda, se é custo de oportunidade ou poder de monopólio, por que não se cobra pelo uso do fraldário, particularmente porque o público é bem mais restrito?

Por outro lado, por que os supermercados em shoppings, em geral, contrastando com outros lojistas, pagam pelo estacionamento de seus clientes?

Finalmente, qualquer que seja a explicação, o que faz dos hipermercados tão diferentes de shoppings que eles não cobram pelo estacionamento? Ou será que está embutido no preço e isso não é possível no shopping? Mas, se é este o caso, o que explica eles pagarem o estacionamento no shopping? Os hipermercados não têm problema de free-rider também?

E aí, alguém tem alguma explicação para esse fenômeno tão importante de ser pensado no dia de Natal?


segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A "ineficiência" do Natal


A teoria do consumidor pressupõe que cada pessoa faz a melhor escolha para si própria, dadas as restrições. Nesse sentido, trocar presentes é ineficiente. Se você dá um presente a alguém, no máximo você conseguirá replicar a escolha ótima da pessoa. Como não conhece perfeitamente as preferências dele ou dela, é bem provável que seu presente não maximize o bem estar do indivíduo.

Para obter o resultado eficiente, você deveria dar o valor em dinheiro correspondente a seu presente. Dessa forma, o indivíduo faria o melhor uso desses recursos, maximizando seu próprio bem estar.

Um paper antigo de Joel Waldfogel estima o peso morto associado às trocas de presentes no Natal. Para um conjunto de alunos de graduação, o autor pergunta quais os presentes recebidos no Natal, e que valor subjetivo os indivíduos atribuem a eles. Sua estimativa mais conservadora indica que esse valor subjetivo é em média 10% menor do que o valor de mercado dos presentes.

Há duas possíveis explicações para esse resultado: (i) a troca de presentes é de fato uma convenção social inútil, que se eliminada elevaria o bem estar da sociedade, ou (ii) existe um benefício nessa atividade que vai além do valor subjetivo dos presentes, mais que compensando o peso morto acima referido. Como não acredito em maluquices coletivas que duram para sempre, fico com a segunda opção.

Nessa linha, uma história possível é a seguinte: ao procurar por um presente adequado para a ocasião e para o presenteado, você faz esforço e gasta tempo, os quais demonstram que você se importa com a pessoa. É muito mais difícil comunicar esse sentimento com dinheiro.

Tal aspecto não está refletido no valor subjetivo do presente, e acaba ficando de fora da conta de bem estar acima. Mas é potencialmente relevante, e sua contabilização pode virar o cálculo de bem estar para o lado positivo, racionalizando a atividade de troca de presentes.

O trecho abaixo do Seinfeld ilustra essa discussão:



(veja também artigo da The Economist sobre o tópico)

domingo, 22 de dezembro de 2013

CARIOCAS E GRINGOS DISCORDAM SOBRE O BRASIL

(Esse é um texto velho meu, que já saiu em uma revista de moda. O Antoninho me disse que como este blog está uma bosta, eu devia começar a publicar esse tipo de coisa aqui.)

A atual visão sobre a economia brasileira e seu futuro depende crucialmente da posição geográfica do analista.  Cariocas e gringos apresentam os dois extremos da discórdia. Quem será que está certo? (Por favor note que não emprego o termo “gringo” com sentido pejorativo - pelo menos não mais do que o termo “carioca”).
Ponto de vista carioca: “poço sem fundo”
De acordo com os cariocas, a economia brasileira seguirá tendência de piora, sem reversão no horizonte relevante. Os erros de política começaram no início do Governo Dilma e se tornaram mais graves com o tempo. A lista é conhecida: (i) a falta de liberdade para Banco Central de subir livremente os juros, (ii) a expansão descuidada do crédito público mesmo após o fim da crise, (iii) a desoneração de impostos visando o controle artificial da inflação, (iv) a maquiagem sobre operações fiscais e elevação do déficit público, (v) a tentativa absurda de fixar o câmbio em patamar predeterminado, (vi) a escolha arbitrária dos setores e empresas vencedores, e assim por diante.
Comparando o Brasil de hoje com o do Governo FHC ou Lula é difícil encontrar pontos positivos. E a situação externa é ainda pior. Conforme o preço de commodities cai, devido ao rebalanceamento da China, e a política monetária americana deixa de ser tão estimulativa, o mundo deixará de ajudar o Brasil. E sem esse amparo externo, vamos continuar caindo, e cometendo mais erros.
A única coisa sensata é apostar que o câmbio e inflação só vão subir. Os juros nominais também vão subir, ainda que atrasados. E a bolsa de valores vai sofrer. Em suma, venda Brasil
Percepção do gringo: “relativamente bem”
Em contraste, os Gringos veem o Brasil com olhos bem mais positivos. De acordo com eles, os países emergentes continuarão a crescer mais do que os desenvolvidos, até porque são mais pobres. Sendo assim, faz sentido espalhar seus investimentos pelo mundo afora. Dessa forma, a comparação relevante não é se o Brasil de hoje é pior do que o de ontem. Mas sim se o Brasil está melhor do que seus pares, os outros países em desenvolvimento.
Quando comparamos o Brasil com outros Emergentes importantes, não saímos tão mal na foto. É verdade que o México está em um bom momento, fazendo muitas reformas. Mas, por outro lado, a Índia, Turquia e África do Sul, três países com tamanho relevante, vêm apresentando desempenhos sofríveis, muito piores que o nosso. Instabilidade política, inflação elevada, inconsistências na condução política econômica que deixariam nosso ministro orgulhoso.
Nesse sentido, o Brasil continua sendo uma boa escolha. Os juros aqui ainda são tão elevados quando comparados ao resto do mundo, que vale colocar recursos em renda fixa. Várias empresas brasileiras não estão caras, e também justificam alguma alocação. A conclusão é diametralmente oposta à dos cariocas: compre Brasil.
Só eu tenho razão: “correndo à beira do abismo”
Tanto cariocas quanto gringos têm bons argumentos. Mas tenho uma forma diferente de abordar o problema, que me faz parecer mais esperto do que todos os outros. É assim:
O correto é pensar no Brasil como um investimento que terá bons retornos a menos que algo dê errado. Como alguém correndo à beira do abismo, que não se afasta dele mesmo se pudesse. Se não houver alguma nova crise internacional, ou uma surpresa ingrata como inflação nos EUA, os retornos do Brasil serão bons quando comparados aos dos países desenvolvidos. Isto é, os cariocas estão errados.
Contudo, se houver qualquer choque negativo, que perturbe esse frágil equilíbrio, a economia do Brasil sofrerá muito. Se bater um vento forte, caímos no desfiladeiro. Daí o Real vai apanhar perante o Dólar, a inflação vai subir, a Bolsa vai afundar, e o gringo é que está errado. Que tal?

No Estadao hoje

O almir k disse que a única saída pro Brasil eh baixar juro e depreciar cambio!!! Mas nao foi justamente isso que fizemos nos últimos anos?

O ze Roberto alertou pra questão da petrobras: como investir sem fundos? Nao investir? Detonar mais o tesouro? Aumentar divida própria? Ou ajustar gasolina mais pesado?

O Gustavo hbf falou de história e abertura e etc, nao cheguei ao fim! Deu sono.

O Lara rezende reeditou a tese do patrimonialismo do Faoro...meio extemporâneo, nao parece?

O ilan ficou muito em cima do muro

O eichengreen falou uma coisa interessante: como já teve uma bela correção de preços de ativos nos emergentes após o papo de tapering, talvez o ajuste que vira agora nao seja aquela sangria desatada

Pronto, você nao precisa mais gastar os 33 minutos que eu gastei

Feliz natal

sábado, 21 de dezembro de 2013

E se o mundo ficar menos consumista?


Minha mãe perguntou se isso afetaria a economia. Tem muita gente que nao gosta de um mundo "consumista" demais. Imaginemos que então de repente todos fossem convencidos a comprar menos coisas, o que resultaria? Haveria um colapso da economia?

Em equilíbrio as pessoas trabalhariam menos horas e todos estariam felizes. Sim, o pib seria menor, mas o pib por horas trabalhadas poderia seguir subindo. O bem estar econômico nao cairia ( a mudança parte de uma mudança nas preferencias!)!

Os economistas nao acham que devem interferir se as pessoas de repente compram menos carne e mais soja ( eu odeio soja). E tampouco deveria ser uma preocupação se as pessoas querem menos C (consumo). Sobra mais tempo pra fazer caminhadas e ler livros longos.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Friedman e o valor da vida

O vídeo abaixo foi sugerido por um de nossos leitores, em um comentário sobre o post anterior do Celso. Achei sensacional. Uma aula de economia.

Ponto principal: o valor de uma vida não pode ser infinito. Caso contrário, seria ótimo para a sociedade deslocar uma quantidade arbitrariamente grande de recursos para salvar um único indivíduo. Ou seja, todo mundo morreria de fome para que uma pessoa permanecesse viva.


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Precisamos proibir o uso de guitarras em banheiras

Vamos supor que existe evidência dizendo que freios ABS reduzem inequivocamente a chance de acidentes. A Wikipedia diz que não. Como sói ocorrer, o apetrecho traz benefícios em alguns casos, mas não em todos. Por exemplo, um estudo australiano diz que a chance de batida em estrada não asfaltada aumenta 35% quando o veículo tem freios ABS.

Voltando ao ponto, vamos supor que a evidência seja inequívoca: ponha um ABS no carro e a chance de acidente se reduzirá de forma significativa. Como reagir a esta evidência?

Bryan Caplan ensina que as duas reações típicas – cruzada e negação – não são desejáveis. A seguir reproduzo ipsis litteris o argumento, com adaptação para o problema em tela.
Cruzada: freios ABS reduzem acidentes, acidentes são ruins logo freios ABS devem ser obrigatórios. Discordar disso é negar a ciência.
Negação: Freios ABS não devem ser obrigatórios, logo de duas uma: ou eles não reduzem acidentes ou acidentes não são ruins.
Ao invés da Cruzada ou Negação, há uma terceira via, que pode ser chamada de:
Tolerância Cautelosa: freios ABS reduzem acidentes e acidentes são ruins. Mas também é verdade que carros sem ABS têm vantagens. A mais óbvia é a de serem mais acessíveis. Há também estudos mostrando que eles incentivam direção defensiva, com externalidades positivas. Não é evidente que os custos sejam maiores do que os benefícios. É possível que os motoristas que dirigem carros sem freios ABS subestimem o risco de acidentes. Sendo assim, o governo deve publicar a evidência sobre os riscos de acidentes em carros sem freios ABS e deixar os indivíduos escolherem entre carros com ou sem freios ABS.
Antes de concluir que o argumento baseia-se em dogma liberal, o antiliberal deve lembrar que ele faz uso de Tolerância Cautelosa a maior parte do tempo, muitas vezes em escolhas que são mais perigosas do que dirigir carros sem freios ABS, por exemplo, voar de asa delta, comer gordura ou, talvez a mais perigosa de todas as atividades, simplesmente ficar em casa.

Diante da evidência de que ficar em casa pode causar a morte, parece errada a recomendação de proibir as pessoas de ficar em casa.

Simplesmente ignorar o fato também pode ensejar acidentes que poderiam ser evitados.

O correto é informar as pessoas sobre os riscos e deixá-las escolher.

O guitarrista do Yardbirds poderia estar vivo se alguém explicasse a ele o risco de tocar seu instrumento na banheira. Mas se o governo tivesse proibido a prática, talvez não fosse possível a mim parar de escrever este post e ouvir Heart Full of Soul.

O poder do monitoramento



terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A expansão do Walmart - parte 2

No post anterior discuti a ideia do paper de Thomas Holmes, que estuda a estratégia de expansão do Walmart nos Estados Unidos nas últimas décadas. Basicamente, o autor nota que novas lojas tendem a ser instaladas proximamente a unidades já estabelecidas. A interpretação é que, ao se adensarem no espaço, várias lojas podem ser atendidas por um único centro de distribuição, o que reduz custos médios.

Acho que uma história de learning também pode ser consistente com esse fenômeno de adensamento. Especificamente, ao se instalar em determinado local, a firma passa aos poucos a conhecer seus consumidores, podendo ajustar suas ações de acordo com as preferências dos indivíduos. Por exemplo, se o lojista aprende que há uma preferência forte por Coca-Cola em determinado local, ele se ajusta mantendo uma quantidade maior desse produto. 

Suponha agora que a companhia esteja considerando expansão, colocando uma loja em outra localidade. Se locais mais próximos tendem a possuir consumidores com preferências semelhantes (por exemplo, por conta de laços culturais ou composição étnica parecida), será menos custoso para a firma colocar a nova loja perto da antiga. Isso porque a informação obtida ao longo do tempo com a loja antiga é útil para o estabelecimento da nova.

Se a empresa colocar a filial em um lugar mais distante, a informação adquirida até o momento pouco contribuirá para entender os gostos dos consumidores na nova localidade. Como resultado, será necessário gastar muito tempo aprendendo sobre as preferências locais, o que pode ser custoso.

Ou seja, se a proximidade física está correlacionada com proximidade de gostos dos consumidores, é possível gerar um padrão de difusão de lojas como no caso do Walmart. Não coloquei em um modelo (e não vou fazer, pois entendo pouco de IO), mas imagino que funcione.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A expansão do Walmart


A primeira loja do Walmart foi inaugurada em 1962, na cidade de Rogers (Arkansas). Cinco décadas mais tarde, a companhia conta com mais de 10 mil unidades, situadas em diversos países.

O vídeo abaixo mostra como foi a expansão do Walmart nos Estados Unidos, desde a inauguração da primeira loja até 2004.



O vídeo faz parte da pesquisa de Thomas Holmes, de Minnesota. Note que a expansão do Walmart segue um padrão geográfico interessante: as novas lojas tendem a se estabelecer proximamente às lojas existentes. Isso não necessariamente é ótimo, pois lojas próximas podem se canibalizar, ao roubar mercado umas das outras.

Na interpretação de Holmes, a vantagem dessa estratégia é que ela reduz custos de distribuição. Em particular, os centros de distribuição do Walmart são estabelecidos de modo a servir um número grande de lojas, o que é facilitado pelo adensamento dessas unidades no espaço. A proximidade entre lojas e centros de distribuição também permite respostas rápidas a choques de demanda (reduzindo, por exemplo, problemas de escassez de produtos).

O paper de Thomas Holmes mostra mapas com os centros de distribuição. Veja aqui (páginas 254-255).  

domingo, 15 de dezembro de 2013

Guido

Read his interview to the Big State today.

Guido said no more creative accounting. Said they did nothing wrong but wont repeat things people may inadvertenly judge wrong! Conclusion: people are dumb, cannot grasp simple accounting, but instead of fighting unlimited and widespread idiocy he will yield and follow a dumbproof fiscal policy. Thanks, guido, tks for respecting our incapacity to understand you.

Guido also mentioned brazil is performing poorly because of the international scenario. Guido, how do you reconcile that sort of demand driven explanation with persistently high domestic inflation? Could u clarify that to me? And how come other countries are not doing as bad as Brazil?

You know what? Never mind answering.

sábado, 14 de dezembro de 2013

O poder da Caixinha de Natal


Dezembro. Época das famosas caixinhas de Natal -- frequentemente, um fascinante instrumento de coerção. Na portaria do meu prédio uma foi colocada. Bonitinha. Em letras garrafais, lá nela está: "Contribua com nossa caixinha. Feliz Natal". 

Somos avisados nas paredes do elevador que a caixinha e o "livro de doações" estão aguardando nossas contribuições. Pois bem. Meu prédio é neurótico com segurança. Dois portões na guarita. E eis que de uns tempos pra cá uma medida obrigou os moradores a abrirem os portões por conta própria com seus cartões magnéticos. Os porteiros ficaram obsoletos. Foram instruídos a não abrirem a porta pra ninguém e assim o fizeram até o começo desse mês. Desde que a caxinha apareceu na portaria, eu, e todos que observo, nunca mais tivemos que sacar nossos cartões do bolso. É só aparecer na frente do portão que, com um largo sorriso, os porteiros sempre o abrem pra você; na entrada e na saída.

"Filhos da mãe", penso eu. Colocando a segurança do prédio em risco por conta de uns trocados. Mas aí nessas horas eu lembro que "people respond to incentives" mas também de Voltaire: "Don´t think money does everything or you are going to end up doing everything for money.”

Malvados

     Fonte: Malvados

Paper do Francesco Caselli e paper da Sylvana Tenreyo

Fui no seminário internacional da EESP na segunda. Muito bom. Falo aqui de dois papers.

Paper do Caselli: mostra que conflito por recursos naturais é mais provável quanto mais próximo da fronteira estão os recursos, controlando para várias coisas e para efeito-fixo do par de países. Quando os poços de petróleo de países vizinhos estão longe da fronteira, a incidência de conflitos é similar a de dois vizinhos sem recursos naturais. Ou seja, geografia importa para entender conflitos. Só os economistas ainda não tinham pensado nisso com cuidado até agora.

Paper da Sylvana: preços dos imóveis são mais altos --- EUA e UK --- no verão. Uma espécie curiosa de não-arbitragem nesse mercado: por que não esperar um pouco mais? A Sylvana calibra um modelo de search-matching no qual a explicação para o aparente puzzle é um thick-mkt effect: mais gente saindo e vendendo suas casas no verão (férias de crianças, tempo mais ameno) gera mercados mais amplos, o que amplia a variedade de casas à disposição e portanto o valor de cada match. Por isso o preço das casas é maior no verão. E é eficiente essa sazonalidade!

Francesco e Sylvana são casados.

uma história real

eu estava na fila de uma espécie de padaria. havia um sujeito na minha frente. eu estava com pressa. o sujeito demorava-se todo. a atendente também era lerda que só ela. ela disse: "voce pode completar os 5 reais pegando oito dessas balinhas aí". o sujeito não se decidia. perguntou: "e quantos desse chiclete?". eu comecei a bufar de nervoso, os sorvetes derretendo. ficaram mais ainda nessa demora toda, analisando contas de chegada. no fim, foram as balinhas mesmo. aí, chegou a hora de pagar. o sujeito lerdeza total pagou com cartão. COM CARTÃO.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

SOBs deleted my posts

I try to be reasonable. I try to come back and give this blog another chance. But it is too much for me to take. Posts still boring. And some Mofo chopped out my posts. Puta merda

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Haddad e o IPTU

O prefeito de São Paulo vem sofrendo por causa das mudanças no IPTU para 2014. Primeiro a alteração foi aprovada em uma sessão estranha da Câmara; depois a Justiça mandou cancelar tudo; por fim, foi obtida liminar para garantir os novos valores.

Em um evento no Dia da Consciência Negra, Haddad chegou a receber vaias, as quais foram atribuídas ao aumento no IPTU. O prefeito se defendeu, argumentando que a mudança prejudica apenas os mais ricos (os pobres teriam inclusive queda no imposto a ser pago). De fato, apesar de na média a medida acarretar elevação no imposto, há uma variância grande entre regiões do município. A alteração vai de um aumento de 19,8% na Vila Mariana, a uma redução de 12,1% no Parque do Carmo.

Alguns críticos acusam a prefeitura de estar punindo os bairros cuja votação de Haddad em 2012 foi baixa. Por exemplo, na Vila Mariana (um dos bairros com maior aumento no IPTU), Haddad recebeu apenas 17,17% dos votos no primeiro turno, e 28,75% no segundo turno. 

Temos então duas possíveis histórias: (i) a mudança no imposto reflete motivações distributivas por parte dos governantes, ao aumentar a carga dos mais ricos e diminuir a dos mais pobres, e (ii) o governante está "retribuindo" a votação expressiva que recebeu em alguns bairros, premiando-os com impostos mais baixos (e consequentemente elevando a taxação nos locais de menor votação).

Peguei então dados da eleição de 2012, renda per capita e variação no IPTU, para analisar essa questão. Uma dificuldade é que a divisão do município de São Paulo em distritos não bate exatamente com as zonas eleitorais. Assim, fiz o matching por nome do local. Isso produziu um total de 51 regiões, para as quais tenho observações das variáveis em questão.

Rodei então a seguinte regressão:

IPTU = a + b.RPC + c.VOT + u

Em que IPTU é a variação no imposto para 2014 (em %; fonte), RPC é a renda per capita da região em milhares de R$ (dados de 2010; fonte); VOT é a fração de votos para Fernando Haddad na eleição municipal de 2012 (em %; fonte). Os dados estão no nível da região. 

Os resultados estão na tabela abaixo. Na coluna (1), os dados de votação referem-se ao primeiro turno, enquanto que na coluna (2) dizem respeito ao segundo turno.



A regressão sugere que ambas as histórias fazem sentido nesse caso. Em particular, o coeficiente da renda per capita é positivo, indicando que locais mais pobres terão variações menores no IPTU, em média. Por outro lado, o coeficiente negativo da variável eleitoral revela que locais com menor votação para Haddad em 2012 observarão em média incrementos mais elevados no imposto.

Note que esses efeitos são condicionais.  Em outras palavras, se compararmos dois locais com votação semelhante para Haddad, mas com renda per capita diferente, podemos concluir que a região mais rica terá maior aumento de imposto. De maneira análoga, para dois locais em que a renda é semelhante, mas onde há diferenças na votação, aquele com mais votos para Haddad terá menor elevação no IPTU.

Os efeitos são estatisticamente significantes, sobretudo para renda per capita. O efeito da renda per capita possui também magnitude mais elevada: tomando como referência a coluna (2), uma elevação em 0,1 desvios-padrão nessa variável está associada a um aumento de 0,05 desvios-padrão no IPTU. Para a votação, uma redução de 0,1 desvios-padrão está associada a 0,03 desvios-padrão a mais de imposto.

Ressalto, por fim, que o exercício acima é bastante preliminar. Afinal, este texto é um post de blog, e não um paper acadêmico. Dá para melhorar muito, principalmente fazendo um matching mais adequado dos locais de votação com os dados do IPTU. De qualquer forma, acho que tem alguma coisa interessante aí. Fica a dica para quem estiver procurando tópico de monografia ou tese.

Ata do Copom

30. O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos doze meses, persistam no horizonte relevante para a política monetária. Ao mesmo tempo, o Comitê pondera que a transmissão dos efeitos das ações de política monetária para a inflação ocorre com defasagens.

A passagem em preto é a novidade. Parece dica que vão parar. Acho que podem parar abruptamente sim. Lembrem-se: esse é o Copom que deu cavalo de pau no meio de 2011.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Non-Stationary Nairu (não wonkish)

Minha proposição é que queda de desemprego no Brasil não implica em mercado de trabalho apertado, no sentido de forçar a inflação para cima. Dessa vez, a ideia foi olhar latam (sem México, onde série tem quebra recente).
Vejam gráficos de desemprego e inflação abaixo. Note que desemprego oscila (na alta frequência) mas cai (na baixa frequência) em todos. Enquanto isso inflação pula para lá e para cá (na alta frequência), é influenciada por choque de commodities e crise, mas não parece ter tendência de alta (na baixa frequência).
O caso da Colômbia é o mais legal. Lá o desemprego caiu de 18% para menos de 11%, e a inflação também caiu, de 8% para 2%.
Dito de outra forma, a proposição é que a NAIRU (taxa de desemprego não inflacionária) pode cair no longo prazo, e não dá para ficar olhando o desemprego na baixa frequência como indicador de pressão inflacionária.



Resultados do PISA 2012: Como o Brasil se saiu?



About PISA
"Since 2000, the OECD has attempted to evaluate the knowledge and skills of 15-year olds across the world through its Pisa test. More than 510,000 students in 65 economies took part in the latest test, which covered maths, reading and science, with the main focus on maths - which the OECD state is a "strong predictor of participation in post-secondary education and future success." Fonte (texto e gráfico): The Guardian.


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

PIB fraquinho

PIB caiu 0,5% no terceiro trimestre.
Quem arrastou ladeira abaixo foi o investimento, do lado da demanda.
Do lado da oferta, indústria e serviços pararam no zero.
E o PIB do primeiro semestre foi recalculado pra baixo.
Será que o governo ainda assim vai insistir na estratégia de desmontagem da estrutura macro construída no período 2000-2007?

Pemedebismo, uma tese boa, mas equivocada

Marcos Nobre, professor de filosofia na Unicamp e pesquisador do Cebrap, escreve muito bem textos interessantes sobre política brasileira. Vale a pena lê-los. Lançou um livro recentemente: Imobilismo em Movimento (Companhia das Letras). Ainda não li. Estou guardando para as férias. Mas sei basicamente do que se trata, porque Marcos Nobre vem tratando do tema faz tempo e já expos suas teses e interpretações em outros textos.

Em resumo, a tese de Marcos Nobre sustenta que a política brasileira caracterizou-se desde a redemocratização pelo predomínio do que ele chama de “pemedebismo”. Trata-se de um pacto entre as elites políticas do país gerador de coligações grandes, amorfas e destituídas de estofo e consistência programática. A prática não se restringe ao PMDB, esclarece o autor. Leva o nome de pemedebismo porque o tal “acordão” carrega a marca do partido – o próprio PMDB. Afinal, desde o fim do regime militar, o PMDB sempre fez parte dessas coligações. Além disso, é quem melhor simboliza o “centrismo invertebrado” característico desse arranjo, para usar uma expressão cunhada pela cientista política Maria do Carmo Campello de Souza nos anos 80 com o objetivo de descrever a velha Aliança Democrática (PMDB+PFL).

O legado do pemedebismo, um acordo essencialmente conservador, de acordo com Nobre, é negativo para o país. Provocou enrijecimento da política nacional e incapacidade de atender às demandas da sociedade. Além disso, os múltiplos participantes criaram vetos cruzados. O resultado é o imobilismo político, termo ressaltado no título do livro. 

A interpretação feita por Marcos Nobre é engenhosa. Porém é, a meu juízo, equivocada. Está amparada em pé de barro: a ideia do imobilismo. Não me parece que essa qualificação descreva de maneira adequada o que ocorreu no país desde o fim do regime militar. Houve avanços significativos. Não vou me ater a minudências. Destaco três macro conquistas importantes e, creio, inquestionáveis: a consolidação da democracia, a estabilidade macroeconômica e a redução da pobreza extrema. Cada uma delas foi protagonizada por diferentes grupos políticos. Todas exigiram bastante do sistema político brasileiro. Para que ocorressem foi necessário mudar muita legislação, da Constituição a leis ordinárias, tarefa impossível sem o apoio de governantes, parlamentares, líderes e partidos políticos. 

O país poderia ter avançado mais? Talvez. Imobilizado, porém, não ficou. Alguém pode argumentar que tais conquistas foram obtidas a despeito das disfunções do nosso sistema político. Ou ainda, que este atrasou e limitou o alcance dessas macro reformas. Pode ser. Mas quem poderá afirmar honesta e convictamente que o país teria avançado mais se o sistema político fosse outro?

A questão relevante a discutir, a meu ver, não é se o sistema político brasileiro nos últimos 20 ou 30 anos paralisou o país ou se virou às costas aos anseios fundamentais da sociedade. Quanto a isso, a resposta, a meu ver, é solidamente negativa. A política não bloqueou o avanço institucional, econômico e social do país.

Mais interessante – e obviamente mais complicado – é discutir se as inconsistências e os inegáveis problemas do sistema político brasileiro o estão tornando disfuncional. Talvez as características negativas vislumbradas por Nobre estejam começando a sobrepujar as qualidades não vistas, ou não valorizadas, por ele. É por isso – além do bom texto e argumentos – que recomendo a leitura dos escritos de Marcos Nobre. Sua interpretação do passado é incorreta mas ela pode dar pistas sobre o que nos reserva o futuro.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Pingu, o trapaceiro

Pingu é uma série de TV para crianças pequenas. No Brasil, é exibida pela Discovery Kids. Minha sobrinha (de 4 anos) está em minha casa nesses dias, e pede insistentemente para assistir ao Pingu. Confesso que achei a série interessante (conta inclusive com alguns prêmios da mídia internacional).

Nessa manhã vi uma cena intrigante (abaixo). Na escola, o professor faz uma pergunta ao Pingu. Ele não sabe a resposta, mas acaba recebendo uma ajudinha de um amigo. Estou exagerando, ou o desenho está ensinando as crianças a "colar"? E no fim ele é recompensado!

A parte relevante é do minuto 4:00 em diante.



Jobless recuperação, a explicação do Guillermo Calvo

O Calvo, quando jovem, publicou paper na Econometrica.

Ele é foda.

A explicação dele pra recuperações com pouco emprego é assim: nessas crises que bate um sudden credit reversal o crédito fica muito escasso e os problemas de assimetria informacional acentuam-se. Nesse cenário, só consegue pegar emprestado quem tem muita máquina pra dar de colateral pro banco. Isso, obviamente, é uma desvantagem para as empresas que são mais intensivas em labor. Ocorre então que na saída da crise, quem cresce mais -- porque consegue tomar mais credito -- são as empresas que têm ativos mais tangíveis. As que usam mais gente e menos maquina sofrem pra tomar emprestado e, portanto, crescem menos.