A pesquisa de Keith Chen sugere que sim.
O autor considera dois tipos de idioma: aqueles em que é necessário identificar gramaticalmente o futuro, e aqueles em que essa distinção não é obrigatória. Por exemplo, em português, é estranho falar "Chove amanhã". É preciso ajustar o tempo verbal, e não apenas indicar "amanhã" para fazer referência ao futuro. Já em alemão ou mandarim, é perfeitamente aceitável falar o equivalente a "Chove amanhã".
Chen chama o primeiro tipo de linguagem de strong-FTR e o segundo de weak-FTR, em que FTR quer dizer future-time reference.
O autor encontra que pessoas que falam línguas com weak-FTR apresentam uma tendência maior a poupar. Esse resultado é forte e sobrevive a uma bateria de testes de robustez. Vale não apenas no nível individual, mas também no agregado: a taxa de poupança é em média mais elevada nos países com uma parcela maior de pessoas falando idiomas com weak-FTR.
A interpretação é que o idioma afeta nossa percepção de quão "próximo" é o futuro. Em particular, nas línguas com strong-FTR, como há necessidade de realizar a distinção gramatical, tem-se a impressão que o futuro está relativamente distante. Como poupança envolve um sacrifício de consumo hoje para aumentar o consumo mais tarde, quanto maior o tempo percebido para usufruir do benefício, menor o incentivo a poupar.
Em suma, a língua parece afetar a taxa de desconto subjetiva.
O incrível é que o idioma tem a ver com outros tipos de comportamento associados ao tradeoff entre presente e futuro. Por exemplo, atividades como fumar, comer junk food e transar sem camisinha envolvem um benefício imediato em troca de perdas possíveis no futuro. Chen também encontra que pessoas que falam línguas com weak-FTR tendem a apresentar melhores indicadores de saúde, praticar sexo seguro, além de terem menores chances de serem fumantes ou obesas.
O paper saiu no AER do ano passado (link). Vale a pena também dar uma olhada no TED Talk de Chen (abaixo).
(para a versão com legendas em português do vídeo, veja aqui).