Uma das maiores mazelas no Brasil é a morte por acidente de trânsito. São mais de 40 mil por ano (dado de 2011), com especial concentração nas camadas mais jovens dos motoristas. Os custos com acidentes de trânsito são enormes. Os custos decorrentes das mortes dos seres queridos são incalculáveis.
Para fins de comparação o número de mortes por acidentes de carros nos EUA, onde a frota de veículos é cinco vezes maior que a brasileira, é de menos de 36 mil (dado de 2009) e, mais importante e impressionante, vem diminuindo desde 1990, quando eram de 47 mil.
Claramente, as políticas públicas contra essa mazela são ineficazes. Não conseguem reduzir significativamente o número de acidentes, nem o de mortes. Assim, o propósito deste post e dos seguintes é discutir esse problema, procurando entender por que as políticas públicas atuais não funcionam, e sugerir políticas que poderiam funcionar.
Entre as políticas públicas que vimos sendo aplicadas nos últimos anos, recordo-me das seguintes:
a. Aumento do custo para obter a carteiras de motorista;
b. Propagandas e políticas educacionais alertando para as consequências do desrespeito às leis de trânsito;
c. Redução da velocidade máxima em vias rápidas das grandes cidades, especialmente São Paulo;
d. Proliferação de radares eletrônicos;
e. Endurecimento da lei para casos de embriaguez.
Este post discute rapidamente as duas primeiras políticas. No futuro, discutirei as demais.
Tirar uma carteira de motorista no Brasil é um verdadeiro inferno. É preciso fazer várias aulas práticas, inclusive noturnas com o risco de ser assaltado, afinal dirige-se devagar. Isso é tão grave, que algumas cidades proibiram aulas noturnas para evitar os assaltos. Obviamente, é preciso pagar por essas aulas. Há uma quantidade mínima de aulas teóricas, depois as provas, exame médico, psicotécnico, etc. Aos custos de tempo, adicione-se o custo pecuniário que chega a R$ 1.200 em set./2013 (+ 50% caso se desejem facilidades).
Para fins de comparação, morei em Chicago, Il. Tirar uma carteira de motorista custou-me US$ 10,00 em 1999 e uma manhã. Hoje é mais difícil por causa do Patriot Act, porém ainda mais acessível que no Brasil.
Tenho várias perguntas sobre isso.
Quantos acidentes foram evitados ou são evitados encarecendo a obtenção da carteira de motorista e prejudicando as pessoas menos favorecidas?
Por que as autoridades e especialistas de trânsito nunca mencionam que a obtenção de carteira de motorista nos EUA é muito mais barata e fácil, sendo que há mais veículos trafegando, e, ainda assim, lá há menos mortes por acidente de carros que no Brasil?
Por que as autoridades de trânsito não apresentam os fundamentos das decisões que tomam?
Por que não conseguimos acessar nenhum estudo das autoridades de trânsito mostrando o efeitos dessas políticas?
Com relação as propagandas educacionais, eu acho que são importantes. Mas, a falta de dados para avaliar sua eficácia me incomoda deveras.