quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O trânsito no Brasil: custos para obtenção da carteira de motorista

Uma das maiores mazelas no Brasil é a morte por acidente de trânsito. São mais de 40 mil por ano (dado de 2011), com especial concentração nas camadas mais jovens dos motoristas. Os custos com acidentes de trânsito são enormes. Os custos decorrentes das mortes dos seres queridos são incalculáveis.

Para fins de comparação o número de mortes por acidentes de carros nos EUA, onde a frota de veículos é cinco vezes maior que a brasileira, é de menos de 36 mil (dado de 2009) e, mais importante e impressionante, vem diminuindo desde 1990, quando eram de 47 mil.

Claramente, as políticas públicas contra essa mazela são ineficazes. Não conseguem reduzir significativamente o número de acidentes, nem o de mortes. Assim, o propósito deste post e dos seguintes é discutir esse problema, procurando entender por que as políticas públicas atuais não funcionam, e sugerir políticas que poderiam funcionar.

Entre as políticas públicas que vimos sendo aplicadas nos últimos anos, recordo-me das seguintes:

a. Aumento do custo para obter a carteiras de motorista;
b. Propagandas e políticas educacionais alertando para as consequências do desrespeito às leis de trânsito;
c. Redução da velocidade máxima em vias rápidas das grandes cidades, especialmente São Paulo;
d. Proliferação de radares eletrônicos;
e.  Endurecimento da lei para casos de embriaguez.

Este post discute rapidamente as duas primeiras políticas. No futuro, discutirei as demais.

Tirar uma carteira de motorista no Brasil é um verdadeiro inferno. É preciso fazer várias aulas práticas, inclusive noturnas com o risco de ser assaltado, afinal dirige-se devagar. Isso é tão grave, que algumas cidades proibiram aulas noturnas para evitar os assaltos. Obviamente, é preciso pagar por essas aulas. Há uma quantidade mínima de aulas teóricas, depois as provas, exame médico, psicotécnico, etc. Aos custos de tempo, adicione-se o custo pecuniário que chega a R$ 1.200 em set./2013 (+ 50% caso se desejem facilidades).

Para fins de comparação, morei em Chicago, Il. Tirar uma carteira de motorista custou-me US$ 10,00 em 1999 e uma manhã. Hoje é mais difícil por causa do Patriot Act, porém ainda mais acessível que no Brasil.

Tenho várias perguntas sobre isso.

Quantos acidentes foram evitados ou são evitados encarecendo a obtenção da carteira de motorista e prejudicando as pessoas menos favorecidas?

Por que as autoridades e especialistas de trânsito nunca mencionam que a obtenção de carteira de motorista nos EUA é muito mais barata e fácil, sendo que há mais veículos trafegando, e, ainda assim, lá há menos mortes por acidente de carros que no Brasil?

Por que as autoridades de trânsito não apresentam os fundamentos das decisões que tomam?

Por que não conseguimos acessar nenhum estudo das autoridades de trânsito mostrando o efeitos dessas políticas?

Com relação as propagandas educacionais, eu acho que são importantes. Mas, a falta de dados para avaliar sua eficácia me incomoda deveras.

11 comentários:

  1. "Por que as autoridades de trânsito não apresentam os fundamentos das decisões que tomam?"

    Por três razões. Uma, porque isso aqui não é a Noruega. Dois, porque esses fundamentos ou não existem ou são meros achismos impublicáveis da cabeça dos retardados que desenham esses sistemas. Três, porque ainda que existessem fundamentos baseados em alguma ciência, nunca houve nem há qualquer accountability das autoridades, de trânsito ou o que quer que seja.

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    1. Não pode ser. Confio em nossas autoridades. Os estudos estão esquecidos em alguma gaveta.

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  2. acho que um ponto não considerado é o investimento em infra de transporte.
    Com as estradas de mão-única, sem acostamento e com sinalização horrível, podemos investir muita grana nas 5 políticas que você citou e muito pouco deve mudar.

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    1. Gabriel, estradas ruins certamente aumentam a chance de acidentes. Por outro lado, devido à sensação maior de insegurança os motoristas dirigem mais devagar e com mais atenção nessas rodovias, reduzindo a chance de acidentes. Como os efeitos têm sentidos opostos, trata-se de uma questão empírica, de sorte que não estou certo de que tais investimentos iriam reduzir significativamente o número de mortes.

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    2. Bom ponto, apesar de minha intuição ainda dizer q o net fica pra mais acidente em estrada ruim.
      Será que dados de acidentes em estrada são por trecho, ou só diz em que estrada foi? E como será que é decidida duplicação de trecho, alguma ideia?
      Seria legal um estudo vendo se infra da estrada diminui acidente, ainda mais agora que (espera-se que) irão começar a duplicar um bando de rodovia.

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  3. Pra retomar o debate, Rodrigo... Não acho que seja só isso, mas já é um começo pra (re)aquecer o debate.
    http://dinheiropublico.blogfolha.uol.com.br/2013/09/13/no-governo-dilma-investimentos-caem-e-estado-das-rodovias-federais-piora/

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  4. Rodrigo, se me permite, existe mais uma política pública para esse problema, ainda que seja bem "obvia":

    f. exigência de melhorias tecnológicas nos novos modelos de carros a serem vendidos


    acho que isso também é relevante pra salvar pelo menos algumas vidas.

    abs.

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    1. É verdade, mas a mesma resposta que dei para o Gabriel vale aqui. É só trocar "estradas ruins" por "carros tecnologicamente defasados".

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  5. Ao falar que obter uma CNH custa "+ 50% caso se desejem facilidades" não identifiquei sua opinião sobre esta prática...

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