sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O trânsito no Brasil: efeitos da redução de velocidade em vias rápidas e estradas

Em post anterior falei que uma das maiores mazelas do Brasil é a morte por acidente de trânsito. Uma infinidade de vidas se perdem nessa estupidez sem tamanho.

Critiquei as autoridades de trânsito por sua omissão em discutir profundamente as questões de trânsito. Em particular, critiquei a falta de dados que justifiquem suas decisões.


O mesmo ocorre quando se reduz a velocidade em vias rápidas, principalmente de cidades grandes como São Paulo. Ano passado, numa alegada readequaçãodo trânsito para evitar mortes por acidente de veículos várias ruas e avenidas em São Paulo tiveram reduzida a velocidade máxima de 70 km/h ou 80 km/h para 60km/h.

Em São Paulo há muitos motoboys, verdadeiros suicidas no trânsito trafegando entre os carros. Há o absurdo de quase duas mortes diárias envolvendo motoboys. Então, as autoridades de trânsito resolveram diminuir a velocidade máxima, alegando que isso reduziria as mortes dos motoboys.

Não há dados que comprovem que isso é verdade. Bem, pelo menos, desconheço.

Na verdade, os motoboys mais se acidentam quando o trânsito está lento. Os carros mudam de uma faixa para outra e os motoboys que estão vindo entre os carros são "pegos de surpresa". Ou acontece de eles descumprirem regras básicas como passar no sinal vermelho. Por isso, não acho que a redução da velocidade máxima terá efeitos sobre os acidentes com veículos, especialmente motoqueiros.

Mas, tenho algumas observações. A se levar esse argumento ao limite, sugiro que a velocidade máxima seja fixada em zero. Aí não vai acontecer acidente algum. Além disso, se a velocidade máxima adequada era menor, quem determinou a máxima maior deveria ser preso. Entretanto, eu acho que a verdade é outra. As velocidades máximas originais é que devem ser adequadas.

Minha hipótese é a seguinte: as velocidade máximas foram reduzidas para aumentar a arrecadação por multas. Isso porque nessas vias há radares eletrônicos. A conferir.

Há, no entanto, um último problema a discutir. Como há radares fixos nessas vias, e presumindo-se que a velocidade máxima correta é maior, a tendência dos motoristas é frear antes desses radares, para não serem multados, e aumentar a velocidade entre os radares superando a máxima, de modo que a velocidade média mantenha-se igual à situação anterior. Esse fenômeno, que nenhuma autoridade de trânsito discutiu, tem o efeito de aumentar o risco de acidentes e mortes, resultando no contrário do efeito inicialmente desejado. Acho que isso ocorre pelo menos até a convergência para o novo equilíbrio, ou talvez o efeito seja permanentemente esse. Outro efeito, quando se diminui a velocidade máxima, é aproximar os carros uns dos outros, aumentando a probabilidade de acidentes, ainda que pequenos. Enfim, trata-se de uma importante questão empírica aqui, a respeito dos efeitos líquidos em termos de acidentes e sua gravidade, quando se aumenta ou reduz a velocidade máxima de circulação da via. Seria importante entender a eficácia de medidas como essa para ajudar a definir uma política de trânsito melhor.

Ideal mesmo era ter um conjunto de dados que pudéssemo usar para testar essas hipóteses.


17 comentários:

  1. por que quando se baixa a velocidade máxima, os carros se aproximam? isso não faz muito sentido para mim

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    1. Quando se corre mais a tendência é que se aumente naturalmente a "distância de segurança"

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    2. Entendi. Mas se a distancia diminui e os carros se aproximam, a "distância de segurança" também diminui. Então, acho que de certa maneira os efeitos acabam se cortando, ou não?

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    3. O que importa não é a distância, mas a quantos segundos você está do carro da frente.

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  2. Esse freia e acelera eh uma merda, mas note que depende da hipotese de se saber onde esta o radar...um radar so eh eficaz se nao nego nao souber onde ele esta, pois tem efeito sim de abaixar a velocidade media. Rodrigo, com radares nao-dectetaveis, voce compra a ideia de radar?
    Outra coisa: se nego freia e acelera antes do radar, o objetivo nao pode ser arrecadar, pois com sua hipotese na verdade os caras nao terminam multados

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    1. Não compro a ideia de radar de forma alguma, mas concordo que radar pela velocidade média é mais eficiente. Basicamente, a invenção do radar fez o agente público de trânsito se acomodar achando que é a panaceia. Mas, vou falar sobre radares outros posts. Neste quero falar sobre a redução da velocidade máxima.

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  3. Reduziram a velocidade na Av. Paulista e não tem radar. Me parece meio conspiratório achar que essa redução de velocidade tem como objetivo apenas aumento de arrecadação com multas.

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  4. Com a diminuição da velocidade, reduz o espaçamento entre os carros. Essa redução do espaçamento não ajuda o trânsito a fluir melhores nos horários de tráfego mais intenso?

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  5. E a razão entre mortes e o número de veículos automotores? O denominador tem aumentado, portanto pode ser que estejamos melhores que nunca. Mesmo sendo os piores ainda.

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  6. "Essa redução do espaçamento não ajuda o trânsito a fluir melhores nos horários de tráfego mais intenso?"
    R. creio que não. acho que quanto menos espaço, maior o "para e anda"
    "E a razão entre mortes e o número de veículos automotores?"
    R. Essa é fácil fazer. Pode ser feita também a conta mortes/km de asfalto, ou mortes/combustivel.

    Quanto ao tema do professor, sempre pensei nisso, que genial é olhar pra relação linear de velocidade/mortes, e concluir que a velocidade máxima pra minimizar as mortes é zero. Creio que em breve estaremos andando na Av. Paulista a 40km/h. E ai de quem falar mal, deve ser um assassino de motoqueiros.

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  7. Rodrigo,
    O exemplo "no limite absurdo", de colocar o limite a zero eh inapropriado nao so pelo motivo obvio, mas tambem porque assume a linearidade do efeito da reducao da velocidade no numero e fatalidade dos acidentes, o ponto otimo depende do valor que nossa sociedade atribui a um acidente/fatalidade e dessa relacao nao linear. Pode ser que um dos efeitos da mudanca seja incrementar a arrecadacao de multas, mas me parece conspiratorio argumentar que essa eh a funcao objetivo do legislador quando implementa as mudancas.
    Com relacao aos dados, deve ser possivel obter dados de tempo de deslocamento em trajetos comums coletados pelo CET, kilometros de engarrafamento, acidentes e fatalidades. Obviamente voce precisa achar alguem com o custo de oportunidade mais baixo que o seu para coletar, e no limite, voce sempre pode simular o efeito num modelo simplificado calibrando o DGP. De qualquer forma, eu so postei esse comentario para te azucrinar e colocar em cheque a hipotese que meu custo de oportunidade eh tao alto quanto meu ego acredita.

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    1. Caro Otávio, sugiro reduzir a velocidade a zero, porque dizer que a redução da velocidade máxima permitida reduzirá o número de acidentes e mortes é um tanto simplista, para dizer o mínimo. Quero, com isso, evidenciar certos absurdos a que somos submetidos pelas autoridades de trânsito, e quero também suscitar um debate racional sobre o tema, afinal é evidente o fracasso das políticas de trânsito. A discussão restrita a engenheiros de trânsito me parece muito limitada. Por exemplo, por que junto com a informação da redução da velocidade máxima não vem uma nota dizendo quantas vidas serão poupadas?

      Multas talvez nem sejam tão importantes no orçamento das esferas governamentais, mas, se não é função objetivo, pelo menos é certo que a arrecadação delas e a quantidade delas não param de aumentar.

      Quanto aos dados, seriam realmente muito bom tê-los para testar várias hipóteses e responder uma série de perguntas.

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    2. Otávio, fiquei pensando depois com meus botões. Será que é o excesso de velocidade que responde pelo absurdo número de acidentes que existem no Brasil? Você sabe, se não for, não adianta controlar a velocidade. As reportagens a que assisto dizem que é motorista embriagado, ultrapassagens proibidas, desrespeitar sinal vermelho, conversões proibidas. Ora, é preciso diagnosticar bem o problema para saber o que fazer. Nesse sentido, parece que vivemos na escuridão.

      Obviamente, um acidente em alta velocidade é mais grave e certamente resulta em mais mortes, mas não sei se são quantitativamente tão importantes assim. Além disso, ouço, também pelas reportagens, que nos acidentes de alta velocidade estão envolvidos motoristas embriagados. Esses motoristas têm que ser parados, e não apenas multados.

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  8. Srs, a Economia ainda nem conseguiu ser uma ciencia seria e de fato eficaz no seu proprio campo cientifoco e voces agora ainda querem dar uma de engenheiro de transito..,menos vai

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    1. Um experimento repetido várias vezes sob as mesmas condições costuma dar o mesmo resultado. Isso é ciência. Então, a situação lamentável atual do trânsito é resultado de...

      grandes engenheiros-cientistas de trânsito, expertos no assunto e que só vislumbram reduzir a velocidade máxima e colocar mais radares...

      E a situação... não melhora, incrivelmente. O que será que está errado?

      Engenheiro pode entender de asfalto, brita, pedra, resistência dos materiais, mas acho difícil dizer que entendam de comportamento dos motoristas. Chutaria que não têm ideia do que é um contrafactual para produzir um estudo confiável.

      Se reza resolver o problema do trânsito criado pelos atuais competentíssimos engenheiros-cientistas do trânsito, é melhor não usar, porque não é ciência. Excelente... e mais de 40 mil pessoas morrem por acidente de trânsito no Brasil.

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    2. sinceramente, daqui a pouco essa discussao vai ficar obsoleta. Do jeito que anda o transito em sao paulo naturalmente a velocidade media esta tendendo a zero. O grande incentivo que o governo poderia fazer seria tirar os carros das ruas , mas isso somente poderia ocorrer no longo prazo (mais metro e planejamento urbano). Mas o que acontece no curto prazo é exatamente o contrario, mais incentivos para se usar o carro (financiamento e IPI). Por exemplo, olha o que acontece no novo centro financeiro de sao paulo, a Faria Lima. Nao tem corredor de onibus e muito menos metro e acada ano mais empresas se instalam na regiao. Ou seja mais carro, mais motorista estressado e motoboy kamikaze.

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  9. Somos todos ignorantes, por óbvio a redução do limite de velocidade aumenta o tempo de reação e diminui o espaço de frenagem, quer correr vá para o autódromo!!! Deveriam reduzir o limite de velocidade nas estradas federais de faixa simples! Sabes o que é um caminhão carregado a 120 KM!!!! É isso que temos aqui!!! Desrespeito e descaso com a vida dos outros!!!, E os brasileiros de acham ases!!!!, São um bando de ignorantes!!!! O nº de mortos está aí para confirmar!!!! Quem dirige tranquilo chega em qualquer lugar com segurança, se não topar um ignorante F1 pela frente para fazer merda e depois dizer que foi sem intenção!!! Ficam chorando arrependidos eu não queria que isso acontecesse, eu não estava nem tão veloz, só 30 KM a mais que o limite da estrada!!!! Seus burros ignorantes!!! Acima do limite de velocidade vc assume o risco por suas atitudes!!!! Parabéns!!! Ases!!!! Eu prezo a vida!!! Querem correr, se matem, mas deixem os inocentes vivos!!!!

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