Na última semana, The Economist trouxe uma reportagem especial sobre o Brasil. Entre os temas está o elevado custo de vida no país (veja matéria aqui).
Minha impressão é que o fenômeno é recente, e pode estar ligado à subida nos preços das commodities. O clássico efeito Balassa-Samuelson ajuda a entender isso.
A ideia do Balassa-Samuelson é a seguinte: há dois setores -- tradeable e non-tradeable. O primeiro tem seu preço determinado pelo mercado externo. Já no setor nontradeable, custos de transporte são elevados (caso típico de serviços), prevenindo arbitragem internacional. Isso faz com que, nesse setor, o preço seja determinado pela interação de oferta e demanda domésticas.
Se o preço internacional do tradeable sobe (como nas commodities brasileiras), esse setor terá incentivos a se expandir, pressionando a demanda por insumos escassos (como trabalho e terra). Isso eleva a remuneração desses insumos e, portanto, os custos no setor nontradeable, que são repassados para o preço final. Como parte substancial da cesta de consumo é composta por bens nontradeable, o custo de vida acaba subindo.
Mauro, bacana o post. Eu não entendo nada do assunto, mas mesmo assim tenho algumas dúvidas.
ResponderExcluirEsse argumento Balassa-Samuelson, junto com outros fatores apontados pela matéria (imposto, infraestrutura precária, etc), formariam o custo Brasil, correto? Mas explicar que os preços aqui são mais altos só por causa disso não é um argumento que olha só pra oferta? As firmas vão lá, produzem, vêem o custo unitário e colocam um a mais pra ter lucro. Por esse canal é bem claro que maior custo de produção -> maior o custo de vida aqui.
Agora, não teria um lado do quanto os consumidores estão dispostos a engolir esse repasse (elasticidade-preço)? Por que será que os brasileiros aceitam pagar X num carro Y, sendo que um mexicano pagaria no máximo 0,7X? Menor competição (volta pra oferta), parcelamentos infinitos? Não sei. Alguma coisa com a elasticidade-preço aqui?
Me parece que em muitos lugares, se os custos de produção fossem iguais aos do Brasil, a empresa decidiria não produzir, pois com o preço a ser cobrado não haveria demanda. Mas no Brasil não, o povo ainda compra.
Resumindo, o argumento de que preço no Brasil é mais alto por conta de repasse de custo não seria incompleto? Alguma coisa falta pra fechar a história de que a galera pode repassar custo a vontade.
Abs
Oh Gabriel, tá chamando nóis de trouxa???????
ResponderExcluirElasticidade claro que influencia, mas não gosto da ideia de ser mais trouxa que os mexicanos. A gente seria mais inelástico em virtualmente todos os bens?
É custo, nesse nível agregado de discussão, tem que ser custo
Oi Gabriel,
ResponderExcluirO Balassa-Samuelson é apenas um mecanismo. Aqui tentei tratar não só do nível alto do custo de vida, mas também da variação ao longo do tempo (com o aumento dos preços das commodities nos últimos anos). Com certeza tem mais coisa. Pretendo falar sobre isso em posts futuros.
Com o aumento do custo, alguma coisa vai ser repassada. A não ser que a demanda seja perfeitamente elástica. A questão é: quanto disso vai para o preço. Ou seja, esse mecanismo é quantitativamente relevante? Isso eu não consigo te responder.
Gabriel, voce acha q um americano ou alemao paga mais barato porque as empresas la sao menos "gananciosas" ou os consumidores mais inteligentes? ? Isso nao faz sentido em economia. Primeiro essas economias sao mais abertas que a brasileira e por tanto tem uma competicao maior. Segundo, elas apresentam renda per capita e distribuicao melhor de renda o que permite um ganho de escala do produtor. Um terceiro fator importante é preço de frete e imposto dob produto (importacao, IPI, ICMS....). Quando voce coloca todos esses fatores no preço vai ver que o capitalista brasileiro e o consumidor não são tão diferentes que o de outros paises.
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ExcluirIsso, isso mesmo que eu quis dizer.
ExcluirVc entendeu direitinho.
Pelo menos para carros, eu chutaria que o argumento de que a gente é trouxa tem um pouco de verdade:
ResponderExcluir"Manufacturers earn a 10 percent profit on Brazilian-made cars, compared with 3 percent in the U.S. and a global average of 5 percent, according to IHS Automotive, an industry consulting firm"
A fonte é essa aqui http://bigstory.ap.org/article/ap-impact-cars-made-brazil-are-deadly
Não faço idéia se é confiável. Eu já procurei os balanços das montadoras no Brasil, mas não encontrei nada. Também procurei o breakdown de lucratividade por país nos relatórios anuais das matrizes e nada.
Mas pra mim a maior bizarrice do país é a arbitragem que tem entre o preço do pf nos botecos e nos restaurantes de são paulo...
entao, voce nao acha que se do dia p noite o imposto de importacao fosse p/ zero isso nao acabaria? Qual a opcao que o consumidor tem no brasil se o carro é caro porque o mercado é fechado e o transporte publico nao é bom? Dado as opcoes o consumidor faz o que tem de melhor. Tem pessoas que admiram carro e pagam a mais por isso? com certeza tem mas nao acho que eles sejam a explicacao. Melhora drasticamente o transporte publico e abre o mercado de carros e voce vai ver o consumidor brasileiro e asr margens de lucro serem igual ao padrao internacional.
ResponderExcluirMargem de Lucro só tem que ser igual se a relação receita por patrimônio liquido e a taxa de juros for a mesma em todos os países
ResponderExcluirImagina se no Brasil os preços de carro fosse iguais aos dos EUA... O cara que anda com um Corolla 2.0 de 70 mil ia andar num Hummer 6.2. Todo dono de CB 125 ia ter no mínimo um 1.0.
ResponderExcluirDeixem as montadoras em paz coitadas! Elas fazem um bem ao Brasil e são compensadas por evitar a externalidade que nós iríamos gerar.
O governo é nosso melhor amigo e apenas está cuidando do nosso bem estar de uma maneira melhor que nós conseguiríamos!
A lei da informática, se ainda existisse, por exemplo, impediria uma quantidade absurda de bobagem ser escrita na internet!
O efeito riqueza é relevante? (o efeito do aumento de grana no bolso dos exportadores, sem esquecer o aumento dos impostos recolhidos que se traduzem normalmente em maiores gastos púbicos). Se bem entendi você falou da pressão de custos dos insumos, eu pergunto se na demanda por produtos também não ocorreria um incremento tão relevante quanto. Seriam efeitos diferentes ou somente pontos de vista diferentes?
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