terça-feira, 3 de setembro de 2013

Andando de moto em São Paulo e o mecanismo de correção de erros

Considere a figura abaixo, que representa, estilizadamente, uma situação vivida diariamente por milhares de motoristas e motociclistas em grandes cidades do país, como São Paulo.




Para aqueles não familiarizados com a situação (ou que não reconheceram a arte brilhante), ela representa um motociclista (em vermelho) tentando ultrapassar veículos (em azul) pela faixa central (em pontilhado). Na figura à esquerda ocorre uma situação em que os veículos transitam mais afastados da faixa e, assim, há um espaço confortável para o motociclista fazer sua ultrapassagem. A figura à direita representa um caso em que os veículos estão muito próximos da faixa central e, portanto, há pouco espaço para o motociclista fazer sua ousada manobra.

Sendo um motoboy circulando pelas avenidas paulistanas, que situação você preferiria, a da esquerda ou a da direita? A resposta parece tão óbvia que nem mereceria um blog. É claro que o caso da esquerda representa uma ultrapassagem muito mais segura e, portanto, seria escolhida por 100% dos nossos motociclistas.

Ocorre que, em economia, há um troço que chamamos de mecanismo de correção de erros. A ideia, grosso modo, é que existe um certo caminho ou trajetória para alguma variável que as pessoas consideram como sendo ‘de equilíbrio’ e do qual os agentes procuram não se afastar muito. Por exemplo, se imagino que o preço de um ativo é governado por ‘fundamentos’ e que não existam bolhas, se o preço começa a aumentar muito relativamente a tais fundamentos, imagino que, em algum momento, ele vai cair e retornar aos fundamentos.

Imagine então nosso motorista circulando por São Paulo. Suponha que sua trajetória de equilíbrio é manter o carro o mais central possível entre as faixas (ou entre a faixa e a calçada) e que, caso ele se afaste dessa trajetória de equilíbrio, ele vai procurar corrigir e retornar ao centro. Nesse caso, os motoristas da ilustração à esquerda, percebendo que estão muito afastados da faixa, vão corrigir sua trajetória voltando para o centro e, portanto, em direção ao motociclista. Os motoristas da ilustração à direita, por sua vez, ao corrigir sua trajetória, vão também se direcionar mais ao centro da faixa e, assim, se afastar do motociclista.

Ou seja, se o motociclista levar em consideração a reação dos motoristas ao volante segundo a ideia de correção de erros, pode ser que o caso da ilustração à esquerda já não pareça mais tão seguro em relação à ultrapassagem da figura à direita.


Conclusão: Sim, eu sei. Nunca andei de moto na minha vida.

2 comentários:

  1. Olá Prof., sou motociclista, ando diariamente em SP, na prática não funciona, o motorista da direita, tende a andar à sua esquerda, ele sente conforto em andar próximo a faixa, ele tem mais controle de espaço, assim como o motorista que está à esquerda. No trânsito não funciona a correção de erros, os agentes não são racionais.

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    1. Valeu pelo feedback. Pela quantidade de acidentes de trânsito envolvendo motos, imagino que racionalidade dos agentes realmente seja um item escasso.

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