domingo, 17 de novembro de 2013

Consumidores furiosos


Desastres naturais (como terremotos e tsunamis) geram crises de abastecimento por dois motivos: (i) os canais de distribuição ficam comprometidos, e (ii) as pessoas correm às lojas para comprar quantidades grandes de diversos itens, com o objetivo de acumular estoques.

Nessas situações, os preços deveriam disparar. Mas o recente artigo de Alberto Cavallo, Eduardo Cavallo e Roberto Rigobon mostra um quadro diferente, ao analisar dados de preços em grandes supermercados nos meses que sucederam aos terremotos do Chile (2010) e Japão (2011). De fato houve queda na disponibilidade de diversos produtos, porém os preços permaneceram surpreendentemente estáveis.

Uma possível interpretação é que o eventual aumento de preços geraria um custo reputacional para o vendedor. Em particular, consumidores poderiam entender que o lojista está se aproveitando de uma situação de dificuldade para elevar seus lucros. O risco de perder fregueses e prejudicar a imagem da empresa poderia explicar porque produtores não ajustam seus preços, mesmo em face a choques substanciais.

Além disso, nessas condições extremas, governos frequentemente intervêm para coibir aumentos "abusivos" (isso ocorreu durante a última semana nas Filipinas). Na ameaça de punição governamental, vendedores evitariam elevar seus preços. Note que, nesse caso, o governo pode muito bem estar reagindo ao sentimento dos consumidores de que aumentos seriam injustos, ao implementar políticas de combate a reajustes.

Entretanto, toda essa aversão a aumentos pode ser em vão, dado que não há garantia de que os consumidores deixarão de pagar preços mais elevados. Como, aos preços vigentes, a demanda é maior que a oferta, alguns indivíduos podem explorar oportunidades de arbitragem, comprando itens nas lojas e supermercados para vender no mercado negro. Isso geraria escassez no mercado oficial, forçando consumidores a pagar ágio se quiserem adquirir o bem.

Note que os custos de mudar preços para esse pessoal do mercado negro são bem menores do que para vendedores "oficiais". Primeiro, eles não ligam muito para reputação, pois em geral estão se aproveitando de uma situação temporária para lucrar. Além disso, é muito mais difícil para o governo identificar e punir tais indivíduos.

Essa situação é análoga à de finais de campeonatos de futebol, em que a demanda por ingressos aumenta consideravelmente. Ao manter os preços baixos, o clube não desagrada seus torcedores, mas acaba tornando lucrativa a ação de cambistas. Esses indivíduos vendem ao preço que iguala oferta e demanda, e embolsam um excedente que deveria ir para o clube. Volto a esse ponto no futuro.

PS: Os dados da pesquisa aqui citada são resultado do Billion Prices Project, tocado por Roberto Rigobon e Alberto Cavallo, do MIT. Trata-se de um esforço para coletar informações desagregadas de preços em vários países do mundo, por meio de buscas nos websites de grandes empresas varejistas. Mais detalhes aqui.

Um comentário:

  1. Hey Mauro,

    My uncle Antonino referred me to you. As an international trade expert, are you familiar with the textbook by John Mclaren International Trade: http://www.wiley.com/WileyCDA/WileyTitle/productCd-EHEP002495.html?

    If so, what do you think of it?

    Antonino's nephew

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