quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Temperatura, crescimento e o experimento do meu colega


Qual é o impacto do clima no desenvolvimento econômico? Alguns acadêmicos de ponta têm trazido novas evidências sobre questão. Veja, por exemplo, esse paper da Melissa Dell e co-autores que saiu no American Economic Journal: Macroeconomics.

Um colega meu, professor universitário, fez, sem querer, um belo experimento sobre o assunto. Ele dá o mesmo curso para duas turmas distintas. Cada turma tem um pouco mais do que 50 alunos. No dia da prova, ele colocou cada turma em uma sala diferente, na mesma hora, e aplicou a mesma prova para todos. Acontece que o ar-condicionado da sala da turma 1 estava quebrado e, de acordo com ele, ficou um calor dos diabos durante a prova. Já, na sala da turma 2, o ar estava "no ponto".

O que ele encontrou quando corrigiu a prova? Pois é, a média da turma 1 ficou quase 0,5 ponto abaixo da média da turma 2. Ele me mandou as notas de cada turma e eu confirmei a significância estatística da diferença (p-valor quase zero). Além disso fiz um gráfico com a distribuição das notas em cada sala. Veja:


O paper citado acima encontra três resultados:

  • Temperaturas mais elevadas reduzem o crescimento econômico em países pobres;
  • Temperaturas mais elevadas parecem reduzir as taxas de crescimento; não apenas o nível do produto;
  • Temperaturas mais elevadas tem uma ampla variedade de efeitos: reduzem produção agrícola, produção industrial e estabilidade política.

Não li o paper, e não sei qual foi a estratégia de identificação usada para entender os canais. Lerei. Quero muito saber se foi tão limpa quanto a do meu colega!

22 comentários:

  1. The tails are sort of funny. Do good students perform better under heat? (no pun intended)

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    1. acho que na parte das direita da distribuição a diferença não é significante.

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  2. On a private note, I am very angry about the treatment my niece received here. I am enraged and this will have consequences. Be on alert.

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    1. She has a poor grasp of economics and is not hot at all. What did you expect?

      Tell her to finish grad school and attend a gym -- the first part is not really mandatory. Then we may be nice to her.

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    2. VOLTA, MARIAZINHA!

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  3. Mas o CO2 tem um efeito positivo sobre a agricultura. Qual o líquido ?

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  4. bacana o artigo. e sacanagem mesmo com a sobrinha do x.

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  5. Interessante, mas não acho que a estratégia é limpa. O n é 2 (n deve ser definido no nível de treatment assignment. Aqui o grupo é classe, e não aluno). E as médias das classes podem ser distintas por uma grande quantidade de fatores, já que foram separadas muito antes do ar-condicionado. Veja que o treatment assignment é dado no início do semestre, e não depois quando uma turma é encaminhada para a sala quente e a outra pra sala fria. Tudo o que acontece do início do semestre até a prova é post-treatment e contamina o desenho. Se o professor em questao houvesse separado os alunos de uma mesma turma aleatoriamente entre sala quente e sala fria o n seria maior, e o treatment assignment mais crível.

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  6. Chutaria que este experimento foi realizado na P2 de Microeconomia II de 2012. A sala da Congregação estava um inferno!

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  7. Concordo com o anônimo acima, pode ser algo relacionado ao post-treatment... por exemplo, o professor dá aula para a turma 2 logo após a turma 1. Como ele acaba de "experimentar" com a turma 1, a aula para a turma 2 acaba sendo melhor, pois ele já sacou onde a turma teve mais dificuldade e assim por diante.

    Uma outra explicação possível (e plausível) é que o cara que tomou conta da turma 2 foi um pouco menos diligente para evitar cola do que o que estava tomando conta da turma 1...

    Seria interessante comparar o desempenho das 2 turmas em outras avaliações, se possível até em disciplinas diferentes dessa em particular (desde que o mesmo professor dê a disciplina para as turmas 1 e 2 e as provas tenham sido feitas em condições de temperatura parecidas). Se nessas outras avaliações os grupos têm médias parecidas, o argumento ganha força, pois é mais crível que a separação turma 1 x turma 2 é aleatória.

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  8. Com certeza o resultado nao eh verdadeiramente limpo. De repente, por um acaso, as criancas da sala 2 sao mais inteligentes. Por isso deu um post, nao um paper. Agora, soh nao entendi o n=2... Se em cada turma tivesse soh 1 aluno nada mudaria???

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  9. "
    Temperaturas mais elevadas reduzem o crescimento econômico em países pobres;
    Temperaturas mais elevadas parecem reduzir as taxas de crescimento; não apenas o nível do produto;
    Temperaturas mais elevadas tem uma ampla variedade de efeitos: reduzem produção agrícola, produção industrial e estabilidade política."

    Tenho medo deste estudo em algumas mãos...
    No atual governo, os royalties do petróleo serão utilizados para comprar ar condicionado.

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  10. Grande idéia e experimento.
    Os comentaristas acima foram rigorosos demais. Ficou claro no texto que a quebra do ar condicionado aconteceu apenas na hora da prova e o tratamento foi exógeno em relação a tudo mais. Além disso, como é um resultado esperado, a evidência é bastante convincente.
    A minha questão é: o professor embaralhou as provas por turma na hora de corrigir? Se ele já tinha a hipótese na cabeça, isso pode ter influenciado o resultado. (tem papers que mostram o papel dos preconceitos na hora da correção).

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    1. sou o anonimo 20:12. Fiz outro comentário sobre o porquê n=2 mas ele foi apagado. Foi bem respeitoso, mas de qualquer forma interessados podem achar a razão no google. Leonardo, o tratamento foi aleatorio, mas os grupos em questao nao são. Se uma sala é composta de alunos de graduação e a outro de pós, mesmo com tratamento distribuído aleatoriamente não poderíamos comparar os resultados entre as salas. Não é excesso de rigor.

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    2. ? Mas ai o tratamento não é aleatório, certo anônimo? É aleatório condicional ao X. Outra coisa, se a prova for objetiva (resposta em números ou falso ou verdadeiro) ai tem pouca margem para o professor ficar de "self-fulfilling" ou "confirmatory" bias (meio spaghetti monster essa...). Agora, se é para continuar nesse jogo, pq não mostrar a distribuição das notas numa prova passada, dá para fazer isso?

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  11. Se cada turma tivesse 1 aluno o n continuaria sendo 2. Esta é apenas uma das mil razões que fazem com que o experimento não seja científico o suficiente para render uma publicação. Apenas curioso. Na verdade, a falta de rigor não me surpreende, já que o autor do post não tem cacuete de microeconomista aplicado. Pelo jeito, o amigo do autor também não tem. Vale dizer que mundo estaria melhor se autor estivesse dedicando seu precioso tempo para fazer asset pricing...(já deveria ter aprendido isso com o David Ricardo).

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    1. É, o mundo seria melhor se o autor do comentário não tivesse escrito o comentário.

      Pior: se ele acredita no Ricardo, quer dizer que a vantagem comparativa desse cara é escrever comentários. Coitado.

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    2. acho que o anonimo 11:49 tá chamando de n o número de clusters para corrigir o erro-padrão.

      de qq maneira concordo com o anonimo 12:38.

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  12. Conheço um site legal pra quem quer ver experimento com mais rigor:
    http://www.aeaweb.org/aer/index.php

    Como o Bruno falou, isso é um post, não um paper.

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  13. Vejo que o anônimo acima leu D. Ricardo enquanto que o professor, autor do post, não. Interessante. Ah...antes que eu me esqueça, minha vantagem comparativa é de fato amolar blogueiros com comentários. Não perca seu tempo comigo, meu custo de oportunidade em fazer isto é muito baixo. Também não tenha pena de mim, eu me divirto fazendo isso.

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  14. Excelente post! E ainda ficam enchendo o saco do autor e falando coisa incorreta. Como tem uns malas aqui que não se mancam.

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